Deteriorando
a Nova Aliança
Um dos
ensinos falsos mais antigos que ressurge periodicamente, na história da igreja,
é o ensino de que Deus não pode saber de antemão as escolhas responsáveis dos
homens. A argumentação é esta: as escolhas são livres, e “livres” significa
criadas pela própria pessoa, e “criadas pela própria pessoa” significa fora da
capacidade de conhecimento, antes de as escolhas serem criadas. Nem mesmo Deus
pode conhecer o “nada”. E “nada” é o que as escolhas são antes de serem
criadas.
As
pressuposições filosóficas nesta argumentação são: 1) liberdade significa
capacidade de criar por si mesmo; 2) as escolhas humanas são livres neste
sentido; 3) um Deus infinito não pode saber aquilo que ainda não foi criado, e
assim por diante. Esse antigo ensino falso parece ser motivado pela filosofia.
Não é prescrito pelas Escrituras. Um recente exponente desse antigo erro falou
sobre as “mudanças doutrinárias que a lógica exigiu e, conforme creio, as
Escrituras me permitiram fazer” (Clark Pinnock, The Grace of God, the Will of
Man: A Case for Arminianism, Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1990, p.
18-19 – ênfase acrescentada). Você percebe a ordem: a lógica exige, e as
Escrituras permitem. Algo está fora de ordem, quando a ordem é o rei exigente e
as Escrituras fornecem o endosso.
Negar a
presciência de Deus acerca das escolhas responsáveis dos homens jamais foi
afirmado pela igreja como parte legítima da ortodoxia cristã histórica. Tanto
calvinistas como arminianos têm afirmado, historicamente, a presciência
exaustiva e específica de Deus. João Calvino escreveu: “[Deus] prevê os acontecimentos
futuros somente devido ao fato de que Ele já decretou que eles aconteçam”
(Institutes of the Christian Religion, III, 23, 6). Jocobus Arminius escreveu:
“[Deus] sabia desde a eternidade que pessoa creria... e que pessoa perseveraria
mediante a graça subseqüente” (Carl Bangs, Arminius, Nashville: Abingdon Press,
1971, p. 219, 352). Negar a presciência de Deus a respeito das escolhas humanas
não tem sido uma parte da ortodoxia cristã.
Entre as
muitas razões para evitar esse erro antigo está o fato de que ele tende a
destruir os fundamentos da nova aliança. A nova aliança foi profetizada por
Moisés, Jeremias e Ezequiel. Foi inaugurada e adquirida pela morte de Jesus
(Lucas 22.20). E Paulo era um ministro da nova aliança (2 Coríntios 3.6).
A essência
da nova aliança é que Deus trabalha para que o povo da aliança cumpra as suas
condições de fé e obediência. Na antiga aliança da Lei, dada no monte Sinai, a
graça foi oferecida (Êxodo 34.6-7) e a obediência que procede da fé foi
exigida. Mas para a maioria das pessoas não foi dada a graça transformadora. “O
senhor não vos deu coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para
ouvir, até ao dia de hoje” (Deuteronômio 29.4).
Na nova
aliança, a promessa é: “O senhor, teu Deus, circuncidará o teu coração... para
amares o senhor, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que
vivas” (Deuteronômio 30.6). “Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei
dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de
carne; para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os
executem... Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus
estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis” (Ezequiel 11.19-20; 36.27).
“Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei”
(Jeremias 31.33). “Porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem
de mim” (Jeremias 32.40).
Em
outras palavras, a nova aliança é a base de nossa esperança de que — frágeis e
instáveis como somos — perseveraremos na fé e seremos salvos. É a base de nossa
segurança de que Deus nos guardará “de tropeços” e nos apresentará “com
exultação, imaculados diante da sua glória” (Judas 24).
Considere,
porém, em que se torna esta precisa esperança da nova aliança, se Deus não
conhece de antemão as escolhas responsáveis dos homens. Toda a estrutura da
nova aliança se desfaz. O seu fundamento se desintegra. A nova aliança é a
promessa de que Deus trabalhará para garantir a santidade de seu povo. Isso
significa que Ele produzirá escolhas santas em seu povo. Ele está agindo em nós
para querermos e realizarmos a sua boa vontade. Deus está trabalhando para
produzir em nós “o que é agradável diante dele” (Hebreus 13.21; Filipenses
2.13). Mas aquele antigo erro destrói esta esperança, por dizer que Deus não
pode fazer isso, pois, se o fizesse, conheceria antecipadamente nossas
escolhas, o que, conforme é afirmado, Ele não pode conhecer.
Portanto,
visto que nossa salvação final depende do cumprimento das promessas da nova
aliança, e visto que o sangue de Jesus obteve o cumpri mento dessas promessas,
a deterioração da nova aliança é uma injúria à cruz de Cristo e um
enfraquecimento da obra do Espírito em nossa vida. Que Deus nos proteja do
ressurgimento desse velho erro e nos ajude a valorizar as pro messas
fortalecedoras e preciosas da nova aliança.
Fonte: Desiring God (em espanhol)