Uma
breve análise da Bíblia e seus princípios mostrarão que ela tem diretrizes para
todas as áreas da vida. Isso inclui o governo civil? Deus está preocupado com a
estrutura e os princípios dos sistemas políticos, assim como está com as
famílias? Ou, Deus deixou a área do sistema político para o homem desenvolver
de acordo com as necessidades de uma era particular, para satisfazer os desejos
de um povo particular? Ou, a Bíblia reivindica “neutralidade” em certas áreas
da vida, deixando o homem criar suas próprias diretrizes?
Por
exemplo, existe um sistema econômico cristão? Ou, o estudo da economia é um
empreendimento neutro? A Bíblia estabelece diretrizes na área da ciência?
Existem certas leis na criação que Deus estabeleceu para ordenar o universo? É
possível desenvolver um sistema educacional a partir da Escritura? Os fatos
educacionais têm algum significado se não estiverem relacionados com Deus e Sua
Palavra? Pode alguém ser realmente “educado” se Cristo não está no centro de
sua vida, dando significado a todos os fatos e experiências? Existem
mandamentos que concernem às questões de negócios?
A Bíblia
ensina claramente que Jesus é Senhor e que Seu senhorio se estende sobre todas
as instituições da sociedade, incluindo a família, economia, ciência, educação,
e para esse tudo, o governo civil. Não existe nenhuma esfera da sociedade onde
o senhorio de Jesus Cristo possa ser ignorado. Quando os sistemas políticos
governam, eles o fazem de acordo com um sistema de lei. Isso é inevitável. Não
pode existir um sistema de lei neutro. “Deve ser reconhecido que em qualquer
cultura, a fonte da lei é o deus dessa sociedade” (R. J. Rushdoony, Institutes
of Biblical Law, p. 4). Se o homem é a fonte das leis da sociedade, então o
homem é o deus dessa sociedade. Se a sociedade ignora os princípios
governamentais que Deus estabelece em Sua Palavra, então esta sociedade está
competindo com o Senhor de toda a criação. Mas a Escritura é clara: Deus não
compete com a sua criação: “E reconhecerão que só tu, cujo nome é
SENHOR, és o Altíssimo sobre toda a terra” (Sl. 83:18). Deus não
compartilha Sua glória com nenhum homem, sociedade ou sistema político. “Eu
sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem,
nem a minha honra, às imagens de escultura” (Isaías 42:8; 48:11).
Existem
muitos que diriam que a Bíblia não tem nada a ver com a assim chamada esfera
secular. A Bíblia é útil para questões espirituais, mas não para questões
independentes de governo civil, lei, economia, política e ciência. Os tempos
mudaram e a Bíblia é um livro antiquado. Assim dizem muitos em nossos dias. Mas
o cristão tem o dever de seguir o único Rei verdadeiro e os mandamentos do Seu
reino. Quando Seus mandamentos falam sobre governo civil, devemos obedecer. A.
A. Hodge, o grande teólogo de Princeton do século XIX, disse o seguinte sobre o
dever cristão de obedecer a Jesus Cristo em todas as áreas da vida, incluindo o
governo civil:
Um cristão tem obrigação de obedecer a vontade de
Deus no mais secular de seus negócios diários, tanto quanto em seu quarto [em
oração], ou na mesa de comunhão. Ele não tem direito de separar sua vida em
duas esferas, e reconhecer códigos morais diferentes em cada uma
respectivamente – dizer que a Bíblia é uma boa regra para o Domingo, mas essa é
uma questão do dia-a-dia semanal; ou que as Escrituras são a regra correta em
questões de religião, mas essa é uma questão de negócios ou política. Deus
reina sobre tudo, em todo lugar. Sua vontade é a lei suprema em todas as
relações e ações. Sua Palavra inspirada, fielmente lida, nos informará de sua
vontade em toda relação e ato da vida secular, bem como religiosa; e o homem é
um traidor que recusa andar nisso com cuidado meticuloso. O reino de Deus
inclui todos os lados da vida humana, e é um reino de justiça absoluta. Ou você
será um súdito leal ou um traidor. Quando o Rei chegar, como te
encontrará? (A. A. Hodge, Evangelical Theology, pp. 280-281).
Negar
que existe um sistema bíblico de governo civil é dizer que Deus não tem nenhum
padrão de retidão e justiça nessa área crucial. Se homens e nações podem
selecionar o sistema de governo civil que desejam, o homem se torna supremo e
Deus se torna subordinado aos desejos do homem. Como um sistema de governo
civil poderia ser avaliado, se o sistema é arbitrário desde o princípio? Se um
grupo de cidadãos desiludidos desejasse derrubar o primeiro governo arbitrário,
que padrão de justiça os proibiria de fazê-lo? Se um sistema de governo criado
pelo homem é legítimo, então se segue que todos os sistemas governamentais
criados pelo homem também o são. Aqueles que têm os meios, o poder e a
influência são os que dominam. Porque tudo da vida deve refletir o caráter de
Deus, devemos esperar que o governo civil reflita o Seu caráter também. Dois
sistemas de governo civil opostos não podem ser corretos. Somente a Bíblia pode
ser o nosso guia em determinar o que é correto. As experiências da história e
os desejos dos homens são de pouca conseqüência, se não têm o apoio ou não
refletem o sistema de governo civil delineado na Escritura. “À lei e ao
testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Isaías
8:19-20).
Sumário
“Todo
governo político, quer no nível local ou municipal, regional ou estatal,
nacional ou federal, deriva em última instância sua autoridade, não do
consentimento do governado (assim diz Jefferson), mas do prazer do Altíssimo
(assim diz a Escritura). Não estamos dizendo que os governos políticos não
devem consultar o povo; mas sim que a autoridade do poder humano em última
análise vem do Deus acima, e não do governo abaixo. Pois ‘o Altíssimo, tem
domínio sobre o reino dos homens e a quem quer constitui sobre ele’ (Daniel
5:21)” (Francis Nigel Lee, “Power, Government and
State”, Man and His Culture, p. 67).