segunda-feira, 11 de março de 2013

Por que Deus Criou o Mal? Por Vincent Cheung




Dizer “criar” ou “causar” o pecado seria simplesmente a mesma coisa em nosso contexto, e ambas as palavras são aplicáveis, assim, eu penso que a pergunta é boa.
Não estamos usando a palavra “criar” no mesmo sentido da criação original de Deus do nada, mas estamos nos referindo ao controle de Deus sobre coisas que Ele já criou. Isto é, embora os maus pensamentos e as inclinações devam ser ativamente causadas na criatura por Deus, e, portanto, Ele deva ativamente causar a má ação correspondente, todavia, Ele não cria um novo material ou substância quando Ele faz isto, visto que Ele está controlando o que Ele já criou.
É verdade que uma pessoa peca segundo a sua natureza má, mas como Lutero escreveu, é Deus quem “cria” esta natureza má em cada pessoa concebida segundo o padrão do Adão caído, cuja queda Deus também causou.
E então, Deus deve ativamente causar esta natureza má para funcionar e a pessoa age de acordo com ela. Lutero escreveu que Deus nunca permite que esta natureza má fique ociosa em Satanás e nas pessoas ímpias, mas Ele continuamente a faz funcionar por seu poder. (Veja The Bondage of the Willde Lutero e meu Chosen in Christ).
Lutero percebeu os absurdos bíblicos e metafísicos de afirmar algo fora do exposto acima; em contraste, a visão fraca (comum aos cristãos reformados de hoje) é uma evasão anti-bíblica, desnecessária, irracional e sofística. Se nossa posição é hiper-calvinismo (e não é!), então, isso simplesmente significaria que o hiper-calvinismo é a visão correta e bíblica. E tachá-la erroneamente de fatalismo não faz diferença alguma é a saída dos fracos e covardes.
Quanto ao propósito de Deus para o pecado, primeiro, ao reconhecer ousadamente a verdade bíblica de que Deus é o soberano e justo “autor do pecado”, podemos notar que até mesmos se fôssemos incapazes de responder a questão do porquê Ele causou o pecado e o mal, isso não proporia um problema para o Cristianismo, nem invalidaria o que eu tenho dito sobre o assunto do “autor do pecado”. Isto é, mesmo que não tenhamos a resposta para a pergunta, não há contradição em nossa visão, nem nossa visão contradiz a Escritura. Seria simplesmente uma questão de falta de informação, e racionalmente falando, isto é tudo o que está em jogo.
Dito isso, temos uma resposta para a questão, e ela está na próxima passagem de Romanos 9 que temos examinado:
Mas algum de vocês me dirá: “Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem resiste à sua vontade?” Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? “Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: ‘Por que me fizeste assim?’” O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso?

E se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os vasos de sua ira, preparados para a destruição? Que dizer, se ele fez isto para tornar conhecidas as riquezas de sua glória aos vasos de sua misericórdia, que preparou de antemão para glória, ou seja, a nós, a quem também chamou, não apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios? (v. 19-24) 
De acordo com Paulo, ao menos uma razão (não precisa ser a única razão) pela qual Deus criou os réprobos (isto é, “criou o pecado”) é providenciar um contexto através do qual Ele possa revelar Sua ira algo que os eleitos de outra forma nunca testemunhariam ou experimentariam. Em outras palavras, os réprobos são para a educação e edificação dos eleitos. Eles mantêm um mundo de lutas e tentações para os eleitos, e, no final, os eleitos testemunharão o derramamento da ira divina contra eles. Tudo isto serve para o avanço da santificação dos eleitos e para a declaração da glória de Deus.
O que se segue foi tirado da minha Systematic Theology (PDF, p. 70, 77):
Um benefício importante, mas negligenciado, que o amor de Deus torna disponível para os cristãos, é a iluminação espiritual:
Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele. (João 14:21)
Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido. (João 15:15)
O conhecimento teológico  isto é, o conhecimento intelectual sobre coisas espirituais é um dos dons de Deus menos apreciados. Mas ser um amigo de Deus significa ter tal conhecimento. O desdém com que muitos cristãos professos consideram os estudos doutrinários mostra que eles não amam verdadeiramente a Deus, embora eles gostem de pensar que eles O amam.
Jeremias 9:23-24 nos diz que a nossa prioridade é obter entendimento e conhecimento sobre Deus:
Assim diz o Senhor: “Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e conhecer-me, pois eu sou o Senhor e ajo com lealdade, com justiça e com retidão sobre a terra, pois é dessas coisas que me agrado”, declara o Senhor. (Jeremias 9:23-24) 
O conhecimento de Deus é o mais valioso tesouro, e tudo o mais é “esterco” (Filipenses 3:8) em comparação. Ao oferecer aos seus eleitos informação sobre Si mesmo, Deus está lhes dando um dos maiores dons que Ele pode lhes dar...
Um propósito dos réprobos os objetos de Sua ira ou aqueles que foram “preparados para a destruição”  é que Deus possa revelar este aspecto de Sua natureza aos “objetos de Sua misericórdia, que preparou de antemão para a glória” (Romanos 9:22-23). Visto que os cristãos foram “salvos da ira de Deus” (Romanos 5:9) através de Cristo, este é um atributo divino que os eleitos nunca experimentarão, e, portanto, ele deve ser demonstrado a eles em outras pessoas. Lembre-se que um dos benefícios que Deus dá aos eleitos é informação ou conhecimento sobre Si mesmo, e isto nos mostra até onde Ele foi para Se fazer conhecido ao Seu povo.
Certamente, as pessoas podem não gostar desta explicação, mas ela é o ensino explícito da Escritura. Tudo que Deus faz é intrinsecamente bom e justo, assim, também é bom e justo que Ele crie os réprobos para o propósito acima. O raciocínio humanista ficará horrorizado com este ensino, visto que ele está mais preocupado com a dignidade e o conforto do homem do que com o propósito e glória de Deus, mas aqueles com a mente de Cristo irromperão em gratidão e reverência, e afirmarão que Deus é justo, e que todas as coisas que Ele faz são boas.