domingo, 16 de dezembro de 2012

Se o Senhor não edificar a casa... - por João Calvino


Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o SENHOR não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela — Salmos 127.1

Ao afirmar que Deus governa o mundo e a vida do homem, o salmista o faz por dois motivos: Primeiro, em todo evento auspicioso que beneficie os homens a ingratidão deles logo se manifesta ao atribuírem-no totalmente a si mesmos; e assim Deus é espoliado da honra que lhe é devida.

Salomão, para corrigir erro tão perverso, declara que nada de próspero nos acontece se Deus não abençoar nossas atividades. Segundo, o propósito do sábio era derrubar a tola presunção dos homens que, pondo Deus de lado, não temem empreender nada, seja o que for, confiando exclusivamente nas próprias sabedoria e poder. Despojando-os desse modo daquilo que sem fundamento arrogam a si mesmos, ele os exorta à modéstia e a recorrerem a Deus.

Entretanto, ele não repudia o trabalho, o empreendimento ou o conselho dos homens; pois é virtude digna de louvor cumprir com diligência os deveres de nosso ofício. Não é a vontade de Deus que sejamos como blocos de madeira nem que cruzemos os braços sem fazer nada, mas que ponhamos em prática todos os talentos e vantagens que ele nos concedeu. É verdade que a maior parte de nossos labores decorre da maldição de Deus, mas ainda que os homens tivessem preservado sua condição primitiva, Deus nos teria empregado de algum modo, exatamente como o vemos pôr Adão no Jardim do Éden para o cultivar e o guardar. Salomão, portanto, não condena a vigilância, algo que Deus aprova; nem também o trabalho dos homens, pelo qual — se realizado solicitamente e segundo o mandamento de Deus — eles lhe oferecem sacrifício aceitável; mas para que, estando cegos pela presunção, não se apropriem à força daquilo que pertence a Deus, ele os admoesta que estarem ocupados demais em nada lhes aproveitará, se Deus não abençoar seus esforços.