1. Na evangelização, temos de ser fiéis à
Palavra de Deus; é pregarmos o Evangelho da graça do nosso Senhor Jesus Cristo,
todo conselho de Deus. Muitas vezes temos um sermão para a igreja e um sermão
evangelístico. Muitos dizem: "Pastor, faça um sermão evangelístico, nós
temos muitos visitantes". O que é um sermão evangelístico? Eles dizem que
é falar do amor de Cristo, que se deve voltar para Ele, e fazer um apelo, etc.
A verdade é que nós achamos que a conversão das pessoas só é possível se
falarmos o que as pessoas querem ouvir, aquilo que satisfaça seus interesses.
Mas Deus converte uma pessoa através da Palavra, pela pregação expositiva da
Palavra de Deus e todo conselho de Deus; exatamente através de uma pregação que
muitos consideram ofensiva às pessoas. Não temos de escolher coisas mais amenas
e pregá-las, mas temos de pregar a Palavra, explicando-a e fazendo a aplicação
devida do texto para os crentes, para os incrédulos e para adultos e jovens. Ou
seja, para os crentes e descrentes que estiverem ouvindo. Uma mensagem fiel às
Escrituras, que mostra o amor de Deus e Sua justiça, mesmo que seja dura muitas
vezes. A mensagem pode ser aguda, mas sempre deve trazer o bálsamo da graça. É
exatamente através dela que o Espírito de Deus trabalha nos corações e não pelo
desempenho do pregador, pelo seu jeito de falar. Isto é teocentrismo: ser fiel
na pregação da Palavra de Deus que exalta a pessoa de Deus e abate o homem e o
coloca no seu lugar devido: "boca no pó". Temos de crer que o
Espírito Santo fará a Sua obra e que a Palavra não volta vazia, mas fará aquilo
para a qual Deus a tem designado.
O pregador precisa orar e pregar com autoridade,
poder e fidelidade à Palavra do Senhor; as consequências estarão com o Senhor,
pois Ele fará a obra.
2. Na liturgia, temos de ter um culto simples que vise
a glória de Deus, sabendo que no culto reformado, a prioridade não são os
cânticos, não é a oração, mas é a pregação e exposição da Palavra; ela tem de
ter lugar central e temos de retomar isto. É ela que exalta a Deus, que exorta
e edifica os crentes e que converte pecadores.
3. Na doutrina, temos de ser reformados e usar a
Bíblia como toda suficiente, autoritativa e inerrante. Temos de usar a
Confissão de Fé, pois é uma arma potente para aferirmos nossos conceitos e
identificarmos os erros que hoje adentram no arraial evangélico. Temos de usar
os catecismos para as crianças, a fim de criarmos uma mentalidade teocêntrica
nas gerações que virão.
4. Vida de santidade. Precisamos de vida santa
mais do que de metodologia, de palavreado, de ser amigável para que as pessoas
venham; o testemunho de uma vida santa é o que fala alto. Disso, estamos
precisando hoje, vida de compromisso, vida pura, irrepreensível diante de Deus.
Fomos eleitos para isso, disse o apóstolo Paulo aos efésios.
Mas eu pergunto: devemos nos interessar pelo
crescimento da igreja em números ou não? Sim, não devemos nos acomodar com o
fato de que só haja cinco pessoas na igreja e o que importa é que estejamos
pregando a Palavra de Deus. Não deve ser assim. Devemos pregar sentindo no
coração o incômodo por ver pecadores caminhando para perdição e crentes que
fraquejam em sua devoção por uma vida de frieza espiritual e na busca de um
viver santo. Precisamos chorar aos pés do Senhor em favor dos perdidos, clamando
a Deus por um genuíno quebrantamento, arrependimento e um verdadeiro
avivamento. No passado, os puritanos derramavam a alma diante de Deus por
avivamento. Lembramos de David Brainerd. Foi um moço de vinte e poucos anos que
foi trabalhar entre os "pele-vermelhas", nos Estados Unidos. Começou
a pregar aos índios, mas era muito difícil, pois ele tinha dificuldades em
falar a língua deles. Muitas vezes, David Brainerd tinha de se utilizar de um
intérprete completamente bêbado, mas mesmo assim pregou um ano, dois anos, e
nada acontecia. Ele conta no seu diário que ficava orando pela alma daqueles
índios indiferentes, de tal forma e em tal agonia que mesmo na neve sua camisa
ficava molhada de suor ao implorar diante de Deus, diante do Seu trono, em
favor daquelas almas. Por que David Brainerd não procurou fazer uma festinha lá
entre os índios para atraí-los, mas insistiu em pregar, pregar e pregar a
Palavra de Deus? Por que ele insistiu em falar da morte de Cristo que nos faz
mais alvos que a neve, se eles não queriam nada com o Evangelho? Mas esta era a
palavra que ele tinha de pregar, era a palavra que Deus estabelecera e a qual
ele foi enviado a anunciar como fiel ministro. Por isso ele insistiu na
pregação até à agonia. Em vista do seu trabalho naquela região fria, David
Brainerd adoeceu de tuberculose por perder suas defesas físicas, mas Deus, por
fim, fendeu os céus e derramou um grande e poderoso avivamento entre aqueles
índios "pele-vermelhas". Numa reunião tão pequena, com algumas
mulheres, de repente a onda do Espírito veio e aquelas índias se prostraram em
choro e quebrantamento pelos seus pecados diante do Senhor. Outros e outros
índios vieram e muitas conversões aconteceram em meio a choro, arrependimento,
quebrantamento, rendição aos pés do Senhor; em meio a um grande avivamento que
atingiu a todos. A Palavra fez isso!
O mesmo aconteceu com Jonathan Edwards, cuja filha
era noiva de David Brainerd e que também morreu de tuberculose cuidando do seu
noivo. Jonathan viu o grande avivamento acontecer na Nova Inglaterra quando
pregou aquele sermão tão rejeitado hoje: Pecadores Nas Mãos De Um Deus Irado.
Se há um sermão que o pragmatismo abomina é este. Um pragmático diz: nunca
pregarei um sermão assim. Mas foi este sermão, essencialmente teocêntrico, que
Deus usou para trazer o grande despertamento, onde milhares se converteram a
Cristo, no século XVIII. Temos de crer no avivamento, devemos desejar
avivamento, quebrantamento, arrependimento nas nossas vidas e na Igreja.
Devemos rejeitar estas práticas mundanas antropocêntricas dentro da Igreja e
lutar por um retorno à verdade para a glória de Deus. Eu desejo este
arrependimento na nossa Igreja no Brasil; desejo que nela haja choro, lamento e
arrependimento genuínos no poder do Espírito Santo atingindo os corações pela
pregação fiel da Palavra de Deus.
Irmãos, desejo intensamente ver, com meus olhos,
esta bênção na minha amada e querida Igreja. Que Deus faça isso! Teocentrismo e
não antropocentrismo. Uma Igreja conforme o padrão de Deus e não conforme o mundo.
Amém!
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Sobre o autor: Josafá Vascocelos é Pastor da
Igreja Presbiteriana da Herança Reformada em Salvador; foi Presidente do
Presbitério da Bahia; conferencista reformado no Brasil e exterior; foi membro
da Comissão de Evangelização da Igreja Presbiteriana do Brasil. Autor e
tradutor de diversos artigos publicados na revista Os Puritanos e dos livros:
"Nada se Acrescentará" e "O Outdoor de Deus".