“Porque em verdade vos digo: até que o céu e a
terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se
cumpra.”
Mateus 5:18.
É dito que aquele que compreende os dois Pactos é
um teólogo, e isto é, sem dúvida, verdadeiro. Posso também afirmar que o homem
conhecedor das posições relativas da Lei e do Evangelho possui as chaves da
situação no que diz respeito à doutrina. O relacionamento da Lei comigo e como
ela me condena; o relacionamento do Evangelho comigo e como ele, se sou um
crente, me justifica – são dois pontos que todo cristão deveria entender com
clareza. Neste aspecto, ele não deve enxergar “homens andando como árvores”,
senão poderá causar a si mesmo grande angústia e cair em erros dolorosos ao seu
coração e prejudiciais à sua vida. Fazer confusão entre a Lei e o Evangelho é
ensinar algo que não é Lei nem Evangelho, mas o oposto de ambos. Que o Espírito
de Deus seja o nosso mestre e Sua Palavra nosso livro de lições, e assim não
nos enganaremos.
Grandes erros têm sido cometidos com respeito à
Lei. Não muito tempo atrás houve aqueles perto de nós afirmando que a lei está
totalmente anulada e abolida. Ensinaram abertamente que os crentes não tinham o
compromisso de tomar a Lei moral como regra de suas vidas. O que teria sido
pecado em outros homens não foi considerado pecado neles. Que Deus nos livre de
tal Antinomianismo! Não estamos sob a Lei como o meio de salvação, mas nos
deleitamos em vê-la na mão de Cristo e desejamos obedecer ao Senhor em todas as
coisas.
Outros se depararam com ensinos sobre a atenuação e
a flexibilização da Lei por Jesus. Alguns, de fato, afirmaram que a Lei
perfeita de Deus era muito árdua para seres humanos imperfeitos e, para tal,
Ele nos deu uma regra mais branda e mais fácil. Estes trilham perigosamente os
limites de um erro terrível, embora acreditamos que possuem muito pouca
consciência deste fato.
Infelizmente, temos encontrado autores os quais
foram muito além deste fato e têm murmurado severamente contra a Lei. Ó, as
duras palavras que às vezes leio contra a sagrada Lei de Deus! Quão distintas
daquelas ditas pelo Apóstolo: “Por conseguinte, a lei é santa; e o
mandamento, santo, e justo, e bom.” Quão diferentes do espírito de
reverência que o impeliu dizer: “Porque, no tocante ao homem interior, tenho
prazer na lei de Deus.” Você sabe como Davi amava a Lei de Deus e como
cantava seus louvores ao longo dos Salmos. O coração de todo cristão verdadeiro
tem completa reverência pela Lei do Senhor. Ela é perfeita, não, é a
própria perfeição! Cremos que nunca teremos alcançado a perfeição até que
estejamos conformados a ela de modo completo. Uma santificação aquém da total
conformidade à Lei não pode, na verdade, ser considerada perfeita santificação,
porque qualquer falta de total conformidade à Lei perfeita é pecado.
Que o Espírito de Deus nos auxilie enquanto,
imitando nosso Senhor Jesus, nos esforçamos para engrandecer a Lei. Com base em
nosso texto, concluo dois fatos sobre os quais discursarei agora. O primeiro é
que a Lei de Deus é eterna—“Até que o céu e a terra passem, nem
um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.” Significa
que, mesmo nos mínimos detalhes, ela deve permanecer até que tudo se cumpra. Em
segundo lugar, percebemos que a Lei de Deus deve ser consumada —
Nem “um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.”
Aquele que veio introduzir a dispensação do Evangelho afirma não ter vindo para
revogar a Lei, mas sim para cumpri-la.
I. Primeiro,
A LEI DE DEUS DEVE SER ETERNA. Não existe nem anulação nem emenda.
Não deve ser abrandada ou ajustada a nossa condição decaída, mas cada um dos
justos juízos do Senhor permanece para sempre. Ressaltarei três razões que irão
alicerçar este ensino. Em primeiro lugar, nosso Senhor Jesus declara
que não veio para abolir a Lei. Suas palavras são totalmente pontuais —“Não
penseis que vim revogar a Lei ou os profetas: não vim para revogar, vim para
cumprir.” E Paulo nos afirma com respeito ao Evangelho: “Anulamos, pois,
a lei pela fé? De maneira nenhuma: Antes, confirmamos a lei.” (Romanos
3:31) O Evangelho é o meio para o firme estabelecimento e vindicação da Lei de
Deus. Jesus não veio para mudar a Lei, mas para explicá-la, e este mero fato
mostra que ela permanece, porque não é necessário explicar algo que está
anulado.
A respeito de uma particularidade sobre a qual
havia um pouco de cerimonialismo envolvido – em outras palavras, guardar o
Sábado – nosso Senhor a ampliou e mostrou que o pensamento judeu não era
verdadeiro. Os fariseus proibiam até mesmo as obras de necessidade e
misericórdia, como debulhar espigas de milho para matar a fome e curar os
enfermos. Nosso Senhor Jesus mostrou que proibir estas atitudes não estava, de
modo algum, em conformidade com a mente de Deus. Ao distorcer a Palavra e levar
uma observância externa ao extremo, perderam o sentido da Lei Sabática, a qual
sugeria obras de misericórdia como verdadeiramente o santificar do dia. Mostrou
que o descanso sabático não era mera inatividade: “Meu Pai trabalha até
agora, e eu trabalho também.” Apontou para os sacerdotes que laboravam com
esforço oferecendo sacrifícios e deles afirmou: “os sacerdotes no templo
violam o Sábado e ficam sem culpa.” Estavam prestando serviço Divino e
estavam dentro da Lei.
Ao fazer frente a uma falha comum, tratou de
realizar no Sábado alguns de Seus mais notáveis milagres ; e embora este fato
tenha instigado enorme ira contra Ele, como se fosse um descumpridor da Lei,
todavia Jesus o fez para que pudessem enxergar que o Sábado foi feito para o
homem e não o homem para o Sábado; que era um dia dedicado a honrar a Deus e a
abençoar os homens! Oh, se estes soubessem como guardar o Sábado espiritual,
aliviando todo o trabalho servil e todo o trabalho realizado para si próprio!
O descanso da fé é o verdadeiro Sábado e o serviço de Deus é a mais
apropriada santificação do dia. Oh, se este dia fosse totalmente dedicado a
servir a Deus e a fazer o bem! A essência do ensino do nosso Senhor era que os
trabalhos de necessidade, de misericórdia e de piedade são permitidos
no Sábado. Explicou a Lei naquela e em outras circunstâncias, ainda que a
explicação não alterou o comando, apenas removeu o ranço da tradição que se
formou sobre ela. Deste modo, por explicar a lei, Ele a confirmou! Não tinha a
intenção de aboli-la, do contrário não precisaria tê-la esclarecido.