sábado, 29 de junho de 2013

Apontamentos sobre os tumultos e manifestações recentes - Por Augustos Nicodemos




Algumas pessoas têm me perguntado o que acho das manifestações e protestos que estão ocorrendo em todo o país. Não me sinto em condição de oferecer uma análise político-social de tudo isto, mas posso ao menos tentar entender o assunto em geral do ponto de vista cristão-reformado.

Para começar, o Deus Altíssimo está acima e governa soberanamente, de acordo com seus propósitos insondáveis, os povos, as nações, as multidões, as massas. É esta a mensagem consistente de toda a Escritura. O Salmo 2 descreve Deus rindo e zombando das manifestações das nações, como se os povos pudessem, com sua fúria e rebelião, frustrar os planos do Senhor (Sl 2.1-5). Isaias se refere ao bramido das nações e dos povos em grande ira e de como o Senhor as dispersa como o vento leva a palha (Is 17.12-13).

Embora as manifestações em São Paulo e outras cidades sejam contra o governo e não contra os cristãos, manifestações populares que geralmente acabavam em tumulto foram usadas pelos inimigos de Deus para tentar destruir a Cristo e a igreja cristã nascente. Contudo, pela providência soberana de Deus, os resultados sempre concorreram para o avanço do Evangelho. As massas em Jerusalém vieram ao palácio de Pilatos se manifestar contra Jesus e pedir a sua crucificação, no que foram atendidos (Mt 27.202-26). Ao fazer isto, estavam cumprindo, sem saber, a mais importante etapa do plano da salvação elaborado por Deus, que era a morte do Filho de Deus na cruz pelos pecados de seu povo.

Em outra ocasião, judeus e gentios se juntaram em Icônio para uma manifestação contra ao apóstolo Paulo, que terminou em tumulto. O resultado foi que Paulo saiu de lá e foi evangelizar Listra e Derbe (At 14.5-7). Noutra ocasião ele também foi alvo de uma manifestação popular, desta feita organizada pelos santeiros de Éfeso, revoltados com a queda das vendas das imagens da deusa Diana. O tumulto acabou envolvendo as autoridades locais. O resultado da manifestação foi a saída de Paulo da cidade (At 19.23-40). Todavia, de lá ele seguiu para a Macedônia pregando e confirmando as igrejas.

Mais tarde, os judeus de Jerusalém organizaram um tumulto contra Paulo, pedindo a sua morte (At 21.27-31 e 22.22-29). Mais uma vez a polícia teve de intervir. Paulo escapou porque era cidadão romano. Mas acabou sendo levado preso para Roma, cumprindo assim o plano de Deus – foi da prisão em Roma que Paulo escreveu várias das suas cartas: Efésios, Colossenses, Filipenses e Filemon.

Ou seja, por mais que as manifestações populares pareçam um poder independente e soberano estão, todavia, debaixo do governo divino. Através delas Deus realiza seu proposito maior, que é promover a sua glória e o bem do seu povo, ainda que, no momento, não percebamos de que forma estas coisas se materializam na história.

Outro ponto a lembrar é que manifestações violentas e tumultos são decorrentes das guerras e contendas que procedem do coração humano, corrompido pelo pecado. Ainda que, por causa da graça comum, existam por vezes motivos justos para estas manifestações, tais motivos são frequentemente misturados com motivações obscuras e impuras (Tg 4.1-3). Elas expressam o caos espiritual que há nos corações sem Deus e a desordem social e civil que entrou na sociedade humana pelo pecado de Adão e pelo nosso próprio. Como parte de seu governo sobre o mundo, Deus por vezes usa as autoridades para reprimir e castigar os baderneiros. As sedições e tumultos contra o império romano no período neo-testamentário eram reprimidos vigorosamente, como no caso de Barrabás que havia sido condenado a morte por causa de liderar uma sedição e ter matado alguém (Lc 23.19,25). Protestos liderados por Teudas e Judas, o galileu, terminaram com a morte deles pelos soldados romanos (At 5.36-37). Os líderes judeus viviam com medo de serem esmagados pelos romanos caso houvesse entre eles quem liderasse tumultos e protestos (At 19.40). Estas manifestações e protestos de judeus insatisfeitos com o domínio romano tinham um fundo escatológico, decorrente de uma interpretação popular e equivocada quanto à natureza do Reino de Deus.  
Por fim, lembremos que as autoridades foram constituídas por Deus. Conforme Paulo nos ensina, elas são ministros de Deus para proteger os bons, castigar os maus e promover o bem da sociedade. Por isto, devem ser respeitadas, temidas e a elas devemos pagar impostos. A palavra que Paulo usa para se referir à autoridade como “ministro” de Deus é a palavra diáconos, bem conhecida dos cristãos (Rm 13.1-7). Pedro vai nesta mesma linha (1Pe 2.13-14). Isso não significa que devamos, como cristãos, obediência absoluta ao Estado. Nossa consciência está cativa à Palavra de Deus como instância última. 
Em casos de conflito – quando o Estado exige de mim aquilo que a Palavra de Deus proíbe – devo obedecer a Deus e não aos homens. Pois ao colocar-se contra os valores e princípios de Deus, o Estado corrompe seu papel dado por Deus e suas leis são meras leis “humanas” em contraste com as divinas.

Em casos assim, cabe aos cristãos o uso dos meios legítimos para discordar, avisar e alertar o Estado e, finalmente, estar prontos para sofrer as consequências da desobediência à estas leis, como os primeiros cristãos fizeram ao recusar-se a adorar o Imperador, culto oficial e obrigatório do império romano.

Diante do exposto acima, imagino algumas conclusões práticas. Primeira, não devemos jamais temer o tumulto das massas – Deus está no controle. Essa é a confiança dos servos do Altíssimo. Embora tumultos populares organizados tenham sido sempre seja uma arma dos inimigos do povo de Deus para destruir a Igreja, lembremos que Deus sempre reverteu o propósito maligno em favor do seu povo.

Segundo, vejo como legítima a participação dos cristãos em manifestações públicas que sejam ordeiras e pacificas, que não sejam tumultos e que tenham em mente o bem da sociedade e não somente os privilégios dos crentes e evangélicos. Não faz sentido as igrejas se organizarem em passeatas e manifestações e marchas para reivindicar privilégios para os crentes. Estas manifestações são civis, expressões sociais e não um culto. Por exemplo, ao protestarmos contra a aprovação da lei da homofobia devemos fazê-lo essencialmente porque se trata de uma violação da Constituição que garante a todos – e não somente aos crentes – o direito de consciência e de expressão.

Terceiro, não custa lembrar que a maneira da igreja influenciar e mudar a sociedade é fundamentalmente pela pregação do Evangelho de Cristo, chamando governantes e governados ao arrependimento de seus pecados e conversão, pela fé, a Jesus Cristo. Não somente isto, pelo procedimento e pelo exemplo os cristãos se tornam sal e luz do mundo, quando suas obras de amor, arrependimento e fé são vistas pelos incrédulos (Mt 5.14-16).


sexta-feira, 28 de junho de 2013

O amor verdadeiro nunca acaba! Por Ruy Marinho






"O homem sonha com a mulher perfeita e a mulher sonha com o homem perfeito. E eles não sabem que Deus os criou para aperfeiçoar um ao outro."

Hoje, 27/06/2013, faz 10 anos que casei com a Sandra Nara, a minha companheira, melhor amiga, cúmplice em todos os momentos bons e ruins, companheira de oração e, acima de tudo, esposa fiel e mãe exemplar. Louvo a Deus por Ele ter colocado ela em minha vida, bem como ter nos abençoado com o nosso filho Davi.

Em nosso casamento, Deus nos ensinou muitas coisas preciosas, mas uma das principais gostaria de compartilhar com todos.

No começo do nosso relacionamento, pensávamos que tínhamos encontrado a "pessoa perfeita", aquele estereotipo de mulher e de homem que a maioria das pessoas sonham. Puro equívoco! A nossa mente egoísta e pecaminosa tinha uma concepção de amor equivocada. Achávamos que era um sentimento como a paixão, quando aquele ardor invade o peito, ou então que o nosso conjugue deveria ser exatamente como nós, tanto nos gostos, quanto no modus vivendi. Pobre coração, desesperadamente corrupto! Pensamos que o conhecemos, puro engano! "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?" (Jr 17:9)

No decorrer da vida a dois, percebemos que a realidade era outra. Não éramos iguais, muito menos perfeitos. As diferenças apareceram, os conflitos, as implicâncias causadas pela ânsia de não enxergar a pessoa que egoistamente sonhávamos. Com isso, as brigas foram inevitáveis... sim, já "quebramos o pau" várias vezes! 

Mas Deus, através de Sua Palavra, ensinou-nos a amar! Aprendemos que na verdade não tínhamos encontrado a nossa alma gêmea, a cara-metade ou algo popular do gênero. Descobrimos que isto não existe! Percebemos que amar é bem diferente do que encontrar a pessoa certa, amar é "SER" a pessoa certa para alguém que Deus amorosamente predestinou para nós! O verdadeiro significado do amor aprendemos no ambiente do casamento. Não é o amor em si que sustenta o casamento, mas o contrário! Como sabiamente disse o Rev. Augustus Nicodemus em certa ocasião: "Você ama uma pessoa porque você se casou com ela, se comprometeu com ela, e fez um voto a Deus de que você seria fiel a ela e iria cuidar dela. Amor na bíblia não é uma sentimento, mas uma decisão, uma atitude de se entregar pela pessoa, cuidar da pessoa e buscar o interesse dela em primeiro lugar. Então isso é uma coisa que se aprende."

De fato, no casamento aprendemos que a vivência entre duas pessoas de personalidade e cultura diferente, no princípio assusta, mas o amor de Deus é perfeito e transcende qualquer diferença. Ele proporciona o verdadeiro amor no ambiente do casamento. Com isso, conseguimos enxergar os pontos nevrálgicos do relacionamento e até mesmo descobrir que, em muitos casos, a deficiência do nosso conjugue é exatamente a solução para apontar os nossos próprios erros!

Quando temos o entendimento de que um casal torna-se “uma só carne” (Gn 2:24), não significa que encontramos alguém igual a nós, mas que ambos perfeitamente se completam, pois este é o plano de Deus para as famílias. Assim, pela misericórdia de Deus conseguimos superar os obstáculos e crescer como família, agora amando-nos da maneira correta, conforme os desígnios de Deus. 

"As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, seria de todo desprezado." Cânticos 8:7 

Por fim, quero homenagear a minha amada esposa, a mulher que me inspirou a escrever este breve artigo: Sandra Nara, Feliz 10 anos de casamento meu amor, te amo muito!

Seu esposo,

Ruy Marinho.

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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Calvino e o zelo de expor a glória de Deus - por John Piper




Em 1538, o cardeal italiano Sadoleto escreveu aos líderes de Genebra tentando reconquistá-los novamente para a Igreja Católica Romana, depois de terem se voltado aos ensinamentos reformados. Ele começou sua carta com um longo parágrafo conciliatório sobre a preciosidade da vida eterna, antes de começar com suas acusações contra a Reforma. Calvino escreveu a resposta a Sadoleto em seis dias no outono de 1539. Foi uma das suas primeiras obras, que espalhou seu nome como reformador por toda a Europa. Lutero a leu e disse: "Eis aqui uma obra que possui mãos e pés. Alegro-me em saber que Deus levanta homens como este".

A resposta de Calvino a Sadoleto é importante, pois revela a raiz da disputa de Calvino com Roma, que definiria toda a sua vida. O assunto não inclui, principalmente, os pontos característicos e bem conhecidos da Reforma: justificação, abuso sacerdotal, transubstanciação, oração aos santos e autoridade papal. Todos esses itens serão discutidos. Mas, sob todos estes, o assunto fundamental para João Calvino, desde o começo até o fim da sua vida, era a centralidade, a supremacia e a majestade da glória de Deus. Ele vê na carta de Sadoleto a mesma coisa que Newbigin vê no evangelicalismo moderno cheio de si.

Aqui está o que Calvino disse ao cardeal: "[Teu] zelo por uma vida santa [é] um zelo que mantém um homem inteiramente devoto a si mesmo e não o desperta, em nenhum momento, a santificar o nome de Deus". Em outras palavras, mesmo a verdade preciosa a respeito da vida eterna pode ser bastante distorcida e deslocar Deus do centro e do alvo. Esta era a principal contenda de Calvino com Roma. Isso sempre aparece em seus escritos. Ele continua e diz a Sadoleto o que ele deveria fazer — e o que Calvino almeja fazer toda sua vida — "colocar à frente [do homem], como motivo primordial de sua existência, zelo para demonstrar a glória de Deus".

Esse seria o tema apropriado de toda vida e trabalho de João Calvino - -zelo para ilustrar a glória de Deus. O significado essencial da vida e da pregação de João Calvino é que ele recuperou e incorporou uma paixão pela realidade e pela majestade absoluta de Deus. Meu desejo é que vejamos isso mais claramente.Benjamin Warfield disse o seguinte acerca de Calvino: "Nenhum homem jamais teve um senso tão profundo de Deus como ele". Eis aqui a chave para a vida e teologia de Calvino.

Geerhardus Vos
, estudioso do Novo Testamento, em Princeton, no ano de 1891, perguntou: Por que, ao contrário de muitos outros ramos da cristandade, a teologia reformada foi capaz de compreender a plenitude da Escritura? Ele responde: "Porque a teologia da Reforma apropriou-se das Escrituras em sua raiz, em sua idéia mais profunda (...) Essa idéia arraigada que serviu como chave para desvendar os ricos tesouros das Escrituras foi a preeminência da glória de Deus na consideração de tudo o que havia sido criado". É essa orientação inflexível para a glória de Deus que dá coerência à vida de João Calvino e à tradição reformada que o seguiu. G. Vos disse que "o lema mais amplo da fé reformada, que a tudo abrange, é esse: a obra da graça no pecador é um espelho para a glória de Deus". Espelhar a glória de Deus é o sentido da vida e do ministério de João Calvino.

Quando Calvino chegou ao assunto da justificação em sua resposta a Sadoleto, ele disse: "Você (...) menciona a justificação pela fé, o tema primeiro e mais agudo da nossa controvérsia (...) Onde o conhecimento desse tema é removido, a glória de Cristo é extinta".8 Portanto, aqui podemos ver novamente o que é fundamental. Justificação pela fé é crucial. Mas há uma razão profunda que a torna tão crucial. A glória de Cristo está em jogo. Sempre que a compreensão da justificação é removida, a glória de Cristo é extinta. Esta sempre é a questão mais pro¬funda para Calvino. Que verdade e que comportamento irão "demonstrar a glória de Deus"?

Para Calvino, a necessidade da Reforma era fundamentalmente essa: Roma tinha "destruído a glória de Cristo de muitas maneiras — apelando aos santos para interceder, quando Jesus Cristo é o único mediador entre Deus e o homem; adorando a Virgem Santa, quando somente Cristo deve ser adorado; oferecendo um contínuo sacrifício na Missa, quando o sacrifício de Cristo na cruz foi completo e suficiente", elevando a tradição ao nível das Escrituras e até mesmo tornando a palavra de Cristo dependente da palavra do homem para sua autoridade. Calvino pergunta, no seu Comentário aos colossenses: "Por que acontece que sejamos 'levados pelos diversos ensinamentos estranhos' (Hb 13.9)?" E ele responde: "Porque a excelência de Cristo não é compreendida por nós". Em outras palavras, o grande guardião da ortodoxia bíblica por todos os séculos é a paixão pela glória e pela excelência de Deus em Cristo. Quando Deus não está no centro, tudo começa a mudar de lugar. Esse fato — não estar no centro - não prediz boas coisas para a fidelidade doutrinária em nossos próprios dias.

Portanto, a raiz unificante de todos os trabalhos de Calvino é sua paixão para expor a glória de Deus em Cristo. Aos 30 anos, descreveu uma cena imaginária na qual, ao final da sua vida, ao acertar as contas com Deus, dizia: "O Deus, o alvo a que dei primazia, e para o que diligentemente trabalhei, foi que a glória da tua bondade e da tua justiça (...) pudessem resplandecer claramente, para que a virtude e as bênçãos do teu Cristo (...) sejam plenamente expostas".

Vinte e quatro anos mais tarde, tendo permanecido inalterado em suas paixões e alvos, e um mês antes de dar, verdadeiramente, um relato a Cristo no céu (ele morreu com 54 anos), Calvino mencionou no seu último testamento: "Nada tenho escrito por ódio a ninguém, mas sempre tenho proposto com fidelidade o que considero contribuir para a glória de Deus".


Fonte: [Josemar Bessa]

Enojando os Feitos Juninos - Por Pr. J Miranda




Eu creio que a obra do Espírito Santo é poderosa para não permitir que os regenerados não se apeguem aos festejos juninos, pois, é uma festa dotada de um espírito de idolatria, ao "santo João".

Existem nos dois TESTAMENTOS em numeras a admoestação a lutar contra o espírito de idolatria, Pois a rebeldia é como o pecado da feitiçaria; a arrogância, como o mal da idolatria. Assim como você rejeitou a palavra do Senhor, ele o rejeitou como rei". 
1 Samuel 15:23; "Filhinhos, guarda-vos dos ídolos" 1João 5,21 . E também Paulo, em 1Coríntios 10,14: "deveis fugir da idolatria".
O que está por trás da idolatria é o abandono da estrada de Deus, do seguimento do seus ensinamentos, o afastamento dEle.

A Escritura Sagrada nos testificam a crer em uma aliança perpetua trazida aos corações dos regenerados para compreensão dos mistérios de Deus.

“Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei.
Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne.
Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis” (Ezequiel 36.25-27).
Sabemos que, por mais que os pastores venham á clamar, se o Espírito Santo não persuadir o coração do pecador, jamais observarão a Lei do Senhor. Os mesmos sempre serão insensatos, dotados por um espírito de adultério espiritual.
Eu creio que aqueles que receberam essa dádiva enojam os festejos juninos. Está escrito “Então, vos lembrareis dos vossos maus caminhos e dos vossos feitos que não foram bons; tereis nojo de vós mesmos por causa das vossas iniquidades e das vossas abominações” (Ezequiel 36.31). Os regenerados são agora propriedade exclusiva de Deus, chamados para proclamar as virtudes de um Deus Todo Poderoso, e não de um João qualquer.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Dou graças a Deus - por: Vincent Cheung






Dou graças a Deus, a quem sirvo com a consciência limpa, como o serviram os meus antepassados, ao lembrar-me constantemente de você, noite e dia, em minhas orações. Lembro-me das suas lágrimas e desejo muito vê-lo, para que a minha alegria seja completa. Recordo-me da sua fé não fingida, que primeiro habitou em sua avó Lóide e em sua mãe, Eunice, e estou convencido de que também habita em você. (2 Timóteo 1.3-5)
Tradições humanas inventadas para neutralizar a palavra de Deus são ímpias e destrutivas, mas uma herança piedosa é algo belo. Ambos enfatizam a continuidade de crenças e práticas de geração para geração, mas enquanto as tradições humanas representam uma continuidade de rebelião contra o governo de Deus, uma herença piedosa representa fidelidade e uma dependência consciente da graça de Deus. Somente uma herança cristã é uma herança piedosa, e é a única cuja continuidade merece ser celebrada. Todas as outras tradições apresentam caminhos alternativos para o viver que afastam as pessoas da verdade e da vida eterna.
Paulo diz que ele serve a Deus com uma consciência limpa, como o fizeram os seus antepassados. Certo escritor comenta que, por essa declaração, o apóstolo reconhece que o cristianismo é uma continuação do judaísmo. Mas isso pode ser enganoso. Se por judaísmo nos referimos à religião do Antigo Testamento, de forma que os antepassados de Paulo referem-se àqueles que acreditaram e pregaram o seu Salvador prometido, então o cristianismo é de fato um cumprimento e continuação dessa religião. Mas o judaísmo não é a religião do Antigo Testamento. No tempo de Cristo, os judeus tinham rejeitado e pervertido tanto a palavra de Deus que assassinaram o cumprimento pessoal do Antigo Testamento. O próprio ministério de Cristo não foi uma continuação do ministério dos judeus ou fariseus, mas um rígido contraste a ele, com João o Batista, que condenava os judeus e fariseus, como o predecessor. Paulo teve que se converter da religião que estava servindo e voltar à fé do Antigo Testamento para retornar à vereda doutrinária coerente com a fé de Jesus Cristo. Seus antepassados não são os judeus e fariseus, mas aqueles profetas e anciãos que eles assassinaram.
Voltando à herança de Timóteo, Paulo menciona a fé de sua avó e mãe. Essa mesma fé agora habita em Timóteo. Visto que a fé de Timóteo é a fé de um cristão, quando Paulo se refere à fé de sua avó e mãe, é provável que ele tenha em mente a fé cristã também. Se Paulo tinha em mente a fé judaica, então uma delas ou ambas devem ter morrido antes de ouvir sobre a fé cristã, ou elas devem ter agora se convertido à fé cristã. Isso porque Jesus disse que se alguém crê em Moisés, então ele acreditará em Jesus, visto que Moisés falou sobre Jesus. Assim, ninguém que verdadeiramente creia no Antigo Testamento recusará crer em seu cumprimento, isto é, a mensagem de Jesus Cristo. E visto que a fé do Antigo Testamento é nada mais que uma fé prospectiva em Cristo, é muito apropriado chamá-la uma fé cristã também. Em outras palavras, quer no Antigo ou Novo Testamento, jamais houve qualquer fé verdadeira que não a fé cristã.
Timóteo é a terceira geração de crentes. Paulo usa esse fato para encorajar firmeza em seu pupilo. É necessário romper uma história de rebelião humana e tradições religiosos falsas, mas é algo louvável continuar uma herança piedosa. Algumas vezes não há em comum entre nossa herança espiritual e natural, e não existe nenhum bem espiritual em nossa linhagem natural. Talvez nossos pais e avós sejam pessoas ímpias e creiam em algumas coisas muito tolas. E quando Deus nos salva, ele não nos salva para continuar uma herança piedosa, visto que não existe nenhuma, mas para nos afastar de uma herança ímpia. Ele nos resgata das abominações de gerações anteriores, e nos mostra que não estamos presos às suas crenças e práticas.
Alguns dos nossos pais são ateus. Eles imaginam um mundo fantasioso onde não existe nenhum Deus para lhes dizer o que fazer e condená-los por seus muitos pecados. Ateísmo é um estado de ilusão severa, uma desordem mental causada pelo pecado. Ou, talvez nossos pais sejam aderentes de religiões não cristãs. Essas são alternativas ensinadas por demônios e aceitas pelas pessoas para evitar enfrentar a verdade sobre Cristo o Salvador e Juiz. Essa é também uma má função intelectual. Quer sejam da variedade religiosa ou ateísta, os não cristãos são estúpidos e insanos. Visite uma instituição mental e observe os maníacos. Alguns murmuram absurdos para si mesmos. Alguns gritam palavrões incoerentes. Outros espumam pela boca. Outros riem de nada. E ainda outros são violentos. Todos os não cristãos são interiormente assim durante todo o tempo. Mas Deus teve piedade de nós enquanto estávamos presos em nossas loucas ilusões, e nos resgatou do caos interior. Agora nossas mentes são claras. Agora encaramos a realidade e cremos na verdade. Ele nos salvou dos nossos ancestrais insanos, e de uma história de idolatria, incredulidade, assassinato, adultério, divórcio, materialismo, e coisas semelhantes.
Essa é a graça e o poder de Deus, que em Cristo podemos ter uma nova e gloriosa herança. Se nossa linhagem natural não tem nada em comum e não partilha disso, então não importa – Abraão é o nosso pai mediante a fé em Cristo, e nossos predecessores são os profetas e os apóstolos, e todos aqueles que fielmente serviram a Deus ao longo dos séculos. Essas pessoas não eram da nossa raça segundo a linhagem natural, mas se nos focarmos tanto em questões como raça, como muitas pessoas o fazem, então ficaremos sob a repreensão de Cristo: “Você não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens” (Mateus 16.23). Mesmo quando Paulo expressou sua preocupação pelos judeus, seu único foco era a salvação espiritual deles. Ele nunca expressou qualquer interesse na restauração da força econômica e política dos judeus. É quase como você desejaria que sua família natural fosse salva por Cristo. Preocupar-se com os seus compatriotas seria uma preocupação mais ampla do mesmo tipo, mas permanece uma preocupação primariamente espiritual, e não racial.

Fonte: Reflections on Second Timothy
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto


domingo, 23 de junho de 2013

Só o que Deus revelou basta - Por Charles. H. Spurgeon





Não precisamos de nada mais do que aquilo que Deus achou por bem revelar. Certos espíritos errantes nunca estão em casa até que estejam viajando pelo exterior: têm fome de algo que nunca encontrarão "no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra" (Êx 20.4) enquanto tiverem o pensamento que têm agora. Nunca descansam, porque não querem ter nada que ver com uma revelação infalível, por isso, eles estão fadados a perambular através do tempo e da eternidade e a não encontrar nenhuma cidade em que possam descansar. Pois, no momento, eles se gloriam como se satisfeitos com seu último brinquedo novo, mas em poucos meses o esporte deles será quebrar em pedaços todas as noções que anteriormente prepararam com cuidado e exibiram com deleite. Sobem um morro apenas para descê-lo de novo. De fato, dizem que a busca da verdade é melhor do que a própria verdade. Gostam de pescar mais do que do peixe; o que pode bem ser verdade, visto que seus peixes são muito pequenos e cheios de ossos.

Esses homens são tão profícuos em destruir suas teorias, como certos indigentes em esfarrapar suas roupas. Mais uma vez começam de novo, vezes sem conta; sua casa está sempre com os alicerces expostos. Devem ser bons em inícios, pois desde que os conhecemos sempre estão começando. São como aquilo que roda no redemoinho, ou "como o mar agitado, incapaz de sossegar e cujas águas expelem lama e lodo" (Is 57.20). Embora sua nuvem não seja aquela que indica a presença divina, contudo está sempre andando à frente deles e suas tendas nem estão bem armadas e já é tempo de levantar de novo as estacas. Esses homens nem mesmo procuram certeza; seu céu é evitar toda verdade fixa e seguir toda quimera de especulação; estão sempre aprendendo, mas nunca chegam ao conhecimento da verdade.

Quanto a nós, lançamos âncora no abrigo da Palavra de Deus. Eis aí nossa paz, nossa força, nossa vida, nosso motivo, nossa esperança, nossa felicidade. A Palavra de Deus é nosso ultimato. Aqui nós o temos. Nosso entendimento clama: "Encontrei"; nossa consciência afirma que aqui está a verdade; e nosso coração encontra aqui um suporte ao qual toda sua afeição pode se agarrar e, por isso, descansamos contentes.

A revelação de Deus é suficiente para nossa fé

O que poderíamos acrescentar se a revelação de Deus não fosse suficiente para nossa fé? Quem pode responder essa pergunta? O que qualquer pessoa proporia acrescentar à Palavra sagrada? Um momento de reflexão nos levaria a escarnecer das mais atraentes palavras de homens, se fosse proposto acrescentá-las à Palavra de Deus. O tecido não estaria em uma peça única. Você adicionaria remendos a uma veste real? Você guardaria a sujeira das ruas no tesouro do rei? Você juntaria as pedrinhas da praia aos diamantes preciosos da antiga Golconda? Qualquer coisa que não seja a Palavra de Deus posta diante de nós para que creiamos e preguemos como se fosse a vida do homem nos parece totalmente absurda, contudo, enfrentamos uma geração de homens que sempre querem descobrir uma nova força motriz e um novo evangelho para suas igrejas. A manta de sua cama parece não ser suficientemente longa, e eles querem pegar emprestado um metro ou dois de tecido misto e incongruente dos unitaristas, agnósticos ou mesmo dos ateístas.

Bem, se existe qualquer força espiritual ou poder dirigido aos céus, além daquele relatado nesse Livro, acho que podemos passar sem ele. Na verdade, deve ser uma falsificação tão grande que estamos melhor sem ela. As Escrituras em sua própria esfera são como Deus no universo--Todo-suficiente. Nelas estão reveladas toda a luz e poder que a mente do homem pode precisar em relação às coisas espirituais. Ouvimos falar de outra força motriz além daquela encontrada nas Escrituras, mas cremos que tal força é um nada muito pretensioso. Um trem está descarrilado, ou incapaz de prosseguir por outro motivo, quando chega a turma do conserto. Trazem locomotivas para tirar o grande impedimento. A princípio parece que nada se mexe: a força da locomotiva não é suficiente. Escutem! Um garotinho tem uma idéia. Ele grita: "Pai, se eles não têm força suficiente, eu empresto meu cavalo de balanço para ajudá-los". Ultimamente, recebemos a oferta de um considerável número de cavalos de balanço. Pelo que vejo, eles não têm conseguido muito, mas prometeram bastante. Temo que o efeito disso tenha sido mais maléfico que benéfico: eles já levaram pessoas a zombar e as retiraram dos lugares de culto que antes gostavam de freqüentar. Os novos brinquedos foram exibidos, e as pessoas, depois de olhá-los um pouco, foram adiante, à procura de outras lojas de brinquedos. Esses belos e novos nadas não lhes fizeram bem nenhum e nunca farão enquanto o mundo existir.

A Palavra de Deus é suficiente para atrair e abençoar a alma do homem ao longo dos tempos; mas as novidades logo fracassam. Alguém pode bradar: "Certamente, precisamos acrescentar nossos pensamentos a isso". Meu irmão, pense o que quiser, mas os pensamentos de Deus são melhores do que os seus. Você pode ter lindos pensamentos, como as árvores no outono soltam suas folhas, mas há alguém que sabe mais sobre seus pensamentos do que você e os julga de pouco valor. Não é verdade que está escrito: "O Senhor conhece os pensa-mentos do homem, e sabe como são fúteis?" (Sl 94.11). Comparar nossos pensamentos aos grandes pensamentos de Deus, seria total absurdo. Você traria sua vela para mostrá-la ao sol? O seu nada para reabastecer o todo eterno? É melhor calar diante do Senhor, do que sonhar em complementar o que ele falou. A Palavra do Senhor está para a concepção dos homens como um pequeno jardim, para o deserto. Mantenha-se no escopo do livro sagrado e estará na terra que mana leite e mel; por que tentar lhe acrescentar as areias do deserto?

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Extraído de: [ Blog dos Eleitos ]
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sábado, 22 de junho de 2013

Desviai-vos das Tendas dos Incrédulos -Por Pr. J Miranda




Desviai-vos das Tendas dos Incrédulos      -Por Pr. J Miranda

O que temos nós povo de Deus, com os festejos juninos?
O que temos nós com uma festa, afeiçoada a um ídolo?
“E disse à congregação: Desviai-vos, peço-vos, das tendas destes homens perversos e não toqueis nada do que é seu, para que não sejais arrebatados em todos os seus pecados”.

No decorrer do ano, diversas datas que são definidas como feriado, sejam eles municipal, estadual ou nacional, são sempre bem vindos na vida de trabalhadores e estudantes, visto como dia de folga e diversão. Por trás de alguns destes feriados, há uma questão muito séria que a igreja de Deus tem observado, são os chamado “dias santos”. Estes feriados é uma forma de devotar louvor ou veneração a personagens declarados como “santos”. (1Co 10.19-21).

Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios.

É necessário que, nós como corpo do Senhor Jesus, não venhamos a compartilhar destas consagrações, pois elas são sacrificadas aos demônios e não a Deus. É povo de dura cerviz, eles esqueceram da lei do Senhor, que lhes ordenara cultuar ao Único Deus verdadeiro que lhes tirara da terra do Egito. É certo, que muitas cidades têm como tradições patrocinar festividades denominadas como "Festas Juninas", que é o caso de Campina Grande, que consistem em "forrós e outras tradições" comuns à data do “santo João”; o Espírito de Deus nos aconselha a não participarmos de tais tradições, nem mesmo, admirá-las. E, na condição de separados que somos, é sábio declararmos diante das trevas que anulamos em nome de Jesus Cristo esses festivos de idolatria.
Cremos amados, se não atentarmos para as palavras proferidas pelo Senhor a nossa congregação, como falara a congregação de Israel, a ira do Senhor se fará presente aos nossos conspectos “Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra Israel; e disse: Porquanto este povo transgrediu a minha aliança que eu ordenara a seus pais e não deu ouvido à minha voz, também eu não expulsarei mais diante dele o mau” (Juízes 2.20-21). É desse jeito! Os transgressores estão pedindo que o Senhor arrebata-os em seus pecados. Pois, de outra sorte não zelarão pela LEI do Senhor.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Liberdade do Espírito e Danças no Culto -Por: Augustus Nicodemus Lopes




Vou aproveitar um comentário feito no post anterior por uma de nossas leitoras para abordar mais um argumento frequentemente usado para justificar danças no culto. Na verdade, não somente danças, mas as coisas das mais estranhas têm sido justificadas no culto, como cair no Espírito, trenzinho da mocidade de Jesus, salto mortal, tirá o pé do chão, usando-se as palavras de Paulo em 2Coríntios 3:17:
Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.
O argumento vai mais ou menos assim: quando o Espírito de Deus está agindo num culto, Ele impele os adoradores a fazerem coisas que aos homens podem parecer estranhas, mas que são coisas do Espírito. Se há um mover do Espírito no culto, as pessoas têm liberdade para fazer o que sentirem vontade, já que estão sendo movidas por Ele, não importa quão estranhas estas coisas possam parecer. E não se deve questionar estas coisas, mesmo sendo diferentes e estranhas. Não há regras, não há limites, somente liberdade quando o Espírito se move no culto.

Assim, um culto onde as coisas ocorrem normalmente, onde as pessoas não saltam, não pulam, não dançam, não tremem e nem caem no chão, este é um culto frio, amarrado, sem vida. O argumento prossegue mais ou menos assim: o Espírito é soberano e livre, Ele se move como o vento, de forma misteriosa. Não devemos questionar o mover do Espírito, quando Ele nos impele a dançar, pular, saltar, cair, tremer, durante o culto. Tudo é válido se o Espírito está presente.

Bom, tem algumas coisas nestes argumentos com as quais concordo. De fato, o Espírito de Deus é soberano. Ele não costuma pedir nossa permissão para fazer as coisas que deseja fazer. Também é fato que Ele está presente quando o povo de Deus se reúne para servir a Deus em verdade. Concordo também que no passado, quando o Espírito de Deus agiu em determinadas situações, a princípio tudo parecia estranho. Por exemplo, quando Ele guiou Pedro a ir à casa do pagão Cornélio (Atos 10 e 11). Pedro deve ter estranhado bastante aquela visão do lençol, mas acabou obedecendo. Ao final, percebeu-se que a estranheza de Pedro se devia ao fato que ele não havia entendido as Escrituras, que os gentios também seriam aceitos na Igreja.

Mas, por outro lado, esse raciocínio tem vários pontos fracos, vulneráveis e indefensáveis. A começar pelo fato de que esta passagem, "onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade" (2Cor 3:17) não tem absolutamente nada a ver com o culto. Paulo disse estas palavras se referindo à leitura do Antigo Testamento. Os judeus não conseguiam enxergar a Cristo no Antigo Testamento quando o liam aos sábados nas sinagogas pois o véu de Moisés estava sobre o coração e a mente deles (veja versículos 14-15). Estavam cegos. Quando porém um deles se convertia ao Senhor Jesus, o véu era retirado. Ele agora podia ler o Antigo Testamento sem o véu, em plena liberdade, livre dos impedimentos legalistas. Seu coração e sua mente agora estavam livres para ver a Cristo onde antes nada percebiam. É desta liberdade que Paulo está falando. É o Senhor, que é o Espírito, que abre os olhos da mente e do coração para que possamos entender as Escrituras.

A passagem, portanto, não tem absolutamente nada a ver com liberdade para fazermos o que sentirmos vontade no culto a Deus, em nome de um mover do Espírito.

E este, aliás, é outro ponto fraco do argumento, pensar que liberdade do Espírito é ausência de normas, regras e princípios. Para alguns, quanto mais estranho, diferente e inusitado, mais espiritual! Mas, não creio que é isto que a Bíblia ensina. Ela nos diz que o fruto do Espírito é domínio próprio (Gálatas 5:22-23). Ela ensina que o Espírito nos dá bom senso, equilíbrio e sabedoria (Isaías 11:2), sim, pois Ele é o Espírito de moderação (2Tim 1:7).

Além do uso errado da passagem, o argumento também parte do pressuposto que o Espírito de Deus age de maneira independente da Palavra que Ele mesmo inspirou e trouxe à existência, que é a Bíblia. O que eu quero dizer é que o Espírito não contradiz o que Ele já nos revelou em sua Palavra. Nela encontramos os elementos e as diretrizes do culto que agrada a Deus.

Liberdade no Espírito não significa liberdade para inventarmos maneiras novas de cultuá-lo. Sem dúvida, temos espaço para contextualizar as circunstâncias do culto, mas não para inventar elementos. Seria uma contradição do Espírito levar seu povo a adorar a Deus de forma contrária à Palavra que Ele mesmo inspirou.

Um culto espiritual é aquele onde a Palavra é pregada com fidelidade, onde os cânticos refletem as verdades da Bíblia e são entoados de coração, onde as orações são feitas em nome de Jesus por aquelas coisas lícitas que a Bíblia nos ensina a pedir, onde a Ceia e o batismo são celebrados de maneira digna. Um culto espiritual combina fervor com entendimento, alegria com solenidade, sentimento com racionalidade. Não vejo qualquer conexão na Bíblia entre o mover do Espírito e piruetas, coreografia, danças, gestos. A verdadeira liberdade do Espírito é aquela liberdade da escravidão da lei, do pecado, da condenação e da culpa. Quem quiser pular de alegria por isto, pule. Mas não me chame de frio, formal, engessado pelo fato de que manifesto a minha alegria simplesmente fechando meus olhos e agradecendo silenciosamente a Deus por ter tido misericórdia deste pecador.


Autor: Augustus Nicodemus Lopes
Fonte: [ O Tempora, O Mores ]
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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Atos dos Discípulos - Por R Meneses



Uma nova Reforma acontecerá não com um Martinho Lutero ou um grande líder mundial carismático, mas com milhares de cristãos simples com o espírito cooperador de Lutero. Deus deseja verdadeiros colaboradores. Lutero, Calvino, Knox, Edwards, Spurgeon e outros tiveram sua valiosa importância para Deus e para o mundo como grandes líderes cristãos, mas um servo de Cristo não trabalha primordialmente para se destacar como um grande líder reformador; apenas faz seu trabalho com a motivação correta de glorificar a Deus, como os reformadores fizeram. Se Deus em sua graça quiser exaltar um dos seus servos, isso pertence só à Sua soberana vontade. Os grandes reformadores não trabalharam para tornarem-se grandes por si, mas tão somente viveram de acordo com a vontade de Deus, através do sacrifício, da fé, da humildade, da disciplina e motivação correta, daí puderam ser úteis para Deus no mundo, e seus frutos permanecem.
Neste exato momento o Espírito Santo está se movendo sobre todas as nações e levantando um novo exército de pessoas comuns, de simples discípulos, de obreiros normais, de somente servos. Milhares de homens e mulheres, apenas simples seguidores de Cristo levaram, levam e levarão a Palavra de Salvação para pessoas em todos os lugares. Como ouvirão se não há quem pregue? Aqueles que levam a mensagem da Cruz de modo humilde e anônimo têm o poder de levar a Palavra do Salvador onde ninguém levou. O Senhor quer trabalhadores comuns que façam sua parte sem desejar destacarem-se por isso, mas que tão-somente cumpram sua tarefa, missão e chamado. Deus pode fazer nascer uma comunidade cristã em um dia ou em uma semana ou um mês, o que normalmente levaria um ano aos olhos de incrédulos. Deus levanta pessoas improváveis em lugares improváveis para chamar seus eleitos e reunir sua amada Igreja. O Senhor não despreza os mais desprezíveis e insignificantes servos do seu povo. Ele trabalha com pequenos átomos para revolucionar comunidades inteiras. É preciso clamar a Deus por sua visão, sem a qual não haverá ânimo verdadeiro.
É normal para o mundo pensar em termos de status e títulos; o mundo busca reconhecimento e destaque. E isso tem influenciado muitos cristãos. A busca pelo reconhecimento é uma armadilha sedutora. Ouça: Deus ama o menor e mais simples discípulo, Ele não vê superficialmente, mas vê o coração e visita com alegria os quebrantados. Não há necessidade maior do que ser um simples servo de Cristo para Deus. O Pai deseja um relacionamento de verdade com seus filhos, nada mais. Não coloque seu orgulho, auto-suficiência e tradição entre seu relacionamento real com Deus. Cristo quer servos integralmente, sem hipocrisias e sem reservas. Lembrando que nossa capacidade vem de Deus. — Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus. 2 Coríntios 3:5.
Faça o que poucos fazem: o básico, o fundamental. Quanto mais um servo de Cristo quer ser útil, mais ele descobre como é difícil ser simples. É fácil desviar-se do caminho com muitas luzes ofuscando a visão. Mas ninguém pode impedir você de seguir seu chamado, nem legiões de demônios ou homens. Junte-se ao exército de servos anônimos e morra como um desconhecido indigente para o mundo, se necessário, mas não busque glórias humanas. Busque em primeiro lugar a aprovação dAquele que vê em secreto. Busque servir a Deus em lealdade, com diligência, amor, abnegação e finalidade. Isto é o mais simples e difícil.
Tenha fidelidade ao seu chamado e à verdade. Aceite com humildade e alegria o lugar determinado por Deus, quer este lugar seja de destaque ou não. Sirva sem murmuração, mas com alegria de coração. O Senhor deu dons a indivíduos de carne e osso para que sirvam, para que multipliquem, frutifiquem. Não se torne negligente, mau e infiel. Os campos estão prontos para a colheita, é preciso visão para enxergar e vocação para ouvir e obedecer. — Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. João 15:14.
Que Deus capacite você a usar sua vocação para glória dEle.



quarta-feira, 19 de junho de 2013

Entrevista sobre Cessacionismo e Continuismo -Por Augustus Nicodemus Lopes




Fiquei imaginando o que eu diria se fosse entrevistado sobre a cessação e a continuação dos dons espirituais mencionados na Bíblia, e daí nasceu esta sessão fictícia de perguntas e respostas. As perguntas estão em negrito e itálico.

Pastor Augustus, os dons espirituais cessaram?

Primeiro é necessário definir a que dons nos referimos. Acredito que o Espírito continua até hoje a conceder à Igreja a maioria dos dons mencionados na Bíblia. Mas, tenho a impressão que outros dons foram concedidos somente por um tempo a determinadas pessoas, para atender aos propósitos de Deus para aquela época. Estes não estariam mais disponíveis hoje. Por isto, é necessário, antes de qualquer coisa, esclarecer a que dons estamos nos referindo quando dizemos que os dons cessaram ou que continuam.

Outra coisa a ser levada em consideração é que, de acordo com a história bíblica, Deus não agiu sempre da mesma maneira em todas as épocas. Há muitas ações miraculosas e sobrenaturais que ocorreram somente uma vez ou durante um tempo específico e não foram repetidas. Portanto, por princípio, devemos admitir que Deus é soberano para agir de diferentes maneiras através da história, e que dentro desta ação, ele concede diferentes dons a diferentes pessoas em diferentes épocas. Assim, não podemos nem restringir a ocorrência de determinados dons somente a um período da história e nem requerer que todos os dons terão necessariamente de ocorrer em todos estes períodos.

Então, você não se definiria como um cessacionista?

Se por cessacionista você quer dizer uma pessoa que não acredita que o Espírito Santo conceda dons espirituais à sua Igreja nos dias de hoje, é claro que não sou cessacionista. Se, por outro lado, um continuísta seria alguém que acredita que todos os dons espirituais mencionados na Bíblia estão disponíveis hoje à Igreja, bastando ter fé para recebê-los, é claro que também não sou um continuísta. Creio num caminho intermediário para o qual ainda não achei um nome. Não posso ser chamado de cessacionista e nem de continuísta, pois creio que alguns dons continuam como eram no Novo Testamento, outros cessaram e outros continuam apenas em parte.

Bem, a discussão moderna gira mais em torno dos dons chamados sobrenaturais, como curas, línguas, profecias... se Deus é o mesmo hoje, ontem e eternamente, estes dons não estariam disponíveis hoje, como estavam na época dos apóstolos?

Poderíamos perfeitamente aplicar a estes dons e outros o princípio acima, de que Deus age de maneiras diferentes em épocas diferentes. Não podemos confundir a imutabilidade de Deus - que significa que ele não muda em seu ser e seus atributos - com a “mesmice” de Deus, que significa que ele sempre age da mesma forma. Teoricamente, ele poderia ter concedido os dons relacionados com curas, línguas e profecias a algumas pessoas durante o período apostólico e uma vez cessado aquele período, suspendido a atuação dos mesmos. Não vejo em que admitir isto afeta a imutabilidade de Deus ou diminui o seu poder e sua glória. Querer que Deus sempre atue da mesma maneira, isto sim, engessa Deus num padrão rígido e não admite que Ele tenha maneiras diferentes de agir em épocas diferentes para atingir seus propósitos.

Mas o que havia de tão especial no período apostólico para Deus conceder estes dons sobrenaturais?

Foi o período de transição entre a antiga e a nova alianças. Teve a ver com a vinda de Jesus Cristo ao mundo e o cumprimento de todas as promessas que Deus havia feito a seu povo pelos profetas de Israel. Foi a inauguração dos últimos dias, do fim dos séculos, da última hora e do fim dos tempos. Foi a época em que o Espirito prometido foi derramado. Deus levantou os Doze e Paulo para através deles explicar e registrar estes fatos no Novo Testamento. Era necessário, portanto, que o período mais importante da história da redenção fosse marcado por sinais, prodígios e maravilhas feitos por pessoas extraordinárias como os apóstolos e seus associados. Era preciso deixar claro que era Deus quem estava por detrás daqueles acontecimentos e da mudança da aliança. Uma parte dos dons mencionados no Novo Testamento está relacionada diretamente com este período e com os apóstolos, como o dom de curar e fazer milagres e a profecia como veículo de novas revelações. O dom de línguas, aparentemente, estava também associado àquela época, como sinal externo da chegada do Espírito Santo aos diferentes grupos que compunham a Igreja em seu início (judeus, samaritanos, gentios e discípulos de João Batista). Mas, parece que ele servia a outros propósitos além deste mencionado. 

A questão é que estes dons aparecem em algumas das listas de dons espirituais do Novo Testamento como ferramentas do Espírito dadas a todos os crentes para edificar a igreja de Cristo. E agora?

Não vejo dificuldades. Estas listas aparecem em Efésios 4, Romanos 12, 1Coríntios 12 (2 listas) e 1Pedro 4. O que precisamos é definir com mais precisão o que significam cada um destes dons. O que significa, por exemplo, o dom de profetizar, que aparece nestas listas? Os crentes que tinham o dom de profetizar nas igrejas cristãs eram profetas iguais a Isaías e Jeremias, que foram capazes de predizer o futuro de Israel e das nações com incrível precisão? Ou será que os profetas cristãos se limitavam a edificar, exortar, consolar e instruir as igrejas, como Paulo diz em 1Coríntios 11:3 e 31? E o que significa o dom de curar e de realizar milagres? Por que só encontramos este dom associado ao ministério dos apóstolos? E por falar nisto, o que significa “apóstolo” na lista de Efésios 4? O termo pode significar tão somente enviados, missionários, sem qualquer relação com os Doze e Paulo. Infelizmente as pessoas não levam em conta que existem determinados aspectos da função do profeta, do ofício do apóstolo e mesmo do dom de línguas, os quais parecem estar relacionados somente àquela época. Se levarmos em conta estas coisas, podemos até dizer que todos os dons continuam hoje, mas que alguns aspectos ou atributos deles cessaram após o período dos apóstolos.

E qual seria então o critério para dizermos quais os dons que permanecem para os dias de hoje e quais os que cessaram?

Acredito que a regra de ouro é esta: todos os dons que foram veículos de novas revelações ou que estavam ligados diretamente aos instrumentos das revelações, que foram os apóstolos, cessaram com a morte deles. Ilustrando, o dom de profecia continua hoje, conforme entendo, mas somente enquanto exortação, consolo, confrontação pela Palavra. Já o aspecto revelatório da profecia que vemos, por exemplo, em João ao escrever Apocalipse, ou em Paulo e Pedro ao prever como será o futuro, a vinda de Cristo, a ressurreição dos mortos, etc., isso certamente não faz parte da profecia hoje. Já cessou.

Da mesma forma o dom do apostolado. Se entendermos apóstolo como missionário, enviado das igrejas para pregar o Evangelho aos povos (é este o sentido básico do termo em grego), não vejo problemas em dizer que ainda hoje temos apóstolos entre nós, que são os missionários que vão desbravar campos ainda não atingidos pelo Evangelho. Mas, certamente não existem mais apóstolos no sentido dos Doze e Paulo, que viram o Senhor Jesus ressurreto, foram chamados diretamente por Ele pessoalmente ou numa aparição após a ressurreição, e que receberam não somente poderes extraordinários de curar e realizar milagres, como foram também veículos da revelação divina, tendo profetizado acerca do futuro de Deus para seu povo e o mundo. E mais, seus escritos às igrejas foram inspirados pelo Espírito Santo, de forma que são infalíveis e inerrantes, sendo a própria Palavra de Deus. Obviamente, nenhum dos que se intitulam de apóstolo hoje tem estas credenciais. Portanto, não podem ser considerados apóstolos como Pedro, Tiago, João e Paulo. Este é um dos dons que permanece hoje somente em parte.

Por este critério o dom de línguas teria cessado também?

Não necessariamente, pois, até onde eu entendo, ele não era revelacional, isto é, não era veículo de novas revelações, como a profecia. Acredito que o relato de Atos e de 1Coríntios 14 nos dão informações suficientes de que o conteúdo das línguas era o louvor a Deus (Atos 2:11; 10:46). O dom consistia na capacidade de louvar e exaltar as grandezas de Deus num idioma que a pessoa desconhecia, e que tinha de se traduzido para a edificação da igreja. Portanto, teoricamente, este dom não precisaria ter cessado pois não era revelacional. Todavia, temos indícios significativos da história da igreja de que ele cessou após o período apostólico. Na eventualidade de uma ocorrência genuína deste dom hoje, esperaríamos que fosse de acordo com as regras bíblicas de 1Coríntios 14: dois ou três falando, em sequência, e com interpretação. Como normalmente não é este o caso nas igrejas que dizem ter este dom, continuo tendo dúvidas de que o que está acontecendo nelas é a manifestação do genuíno dom de línguas. Mas, em tese, estou aberto para a ocorrência do dom genuíno.

Mas, então, isto quer dizer que os crentes que falam em línguas são mentirosos ou estão sendo influenciados pelo diabo?

Claro que não. Seria uma temeridade afirmar este tipo de coisa. Prefiro pensar que em boa parte das ocorrências são irmãos em Cristo sinceros que pensam estar de fato falando em línguas por terem sido ensinados desta forma dentro de determinados ambientes. Eles foram ensinados que falar em línguas é balbuciar palavras sem sentido num êxtase emocional. Há alguns que inclusive foram ensinados por seus pastores a como fazer isto, tipo “relaxe a língua, forme uma palavra desconhecida em sua mente e repita até que saia espontaneamente da sua boca...”

Não consigo perceber qual é o mal em se falar em línguas hoje nas igrejas. Qual o problema?

Se as línguas faladas não forem de Deus, a imitação delas deve trazer algum prejuízo ou perigo de natureza espiritual. Não posso afirmar ao certo, mas imagino que pode produzir arrogância, falsa espiritualidade, e abrir a porta para a atuação de demônios ou da natureza pecaminosa do homem. Na verdade, estes perigos estão presentes em qualquer manifestação que seja meramente humana, e não somente línguas.

Alguns diriam que você nunca falou em línguas porque nunca foi realmente batizado com o Espírito Santo...

Hehe, eu sei, já me disseram isto na cara, num congresso de irmãos pentecostais onde estive como visitante. Bom, a minha resposta é que acordo com Paulo todos os crentes verdadeiros já foram batizados com o Espírito Santo (1Cor 12:13) mas nem todos falam em línguas (1Cor 12:30). Se não for assim, terei de dizer que os reformadores e os grandes missionários da história da igreja nunca foram batizados com o Espírito Santo, pois nunca falaram em línguas. Todavia, se formos fazer uma comparação, eles fizeram mais pelo Reino de Deus do que estes que hoje insistem em dizer que as línguas são o sinal inequívoco do batismo com o Espírito Santo...

Mudando de assunto... Deus cura hoje?

Sem dúvida alguma. Eu mesmo já fui curado por Deus. Todavia é preciso fazer a diferença entre o dom de curar e as curas que Deus faz em resposta à oração. Aqueles que tinham o dom de curar - e parece que estava restrito aos apóstolos e seus associados - nunca falhavam. Cada vez que determinavam a cura, ela acontecia. Não há caso registrado de alguém com dom de curar, como Paulo e Pedro, terem comandado a cura que ela não tenha acontecido. E estamos falando da cura de cegos, coxos, aleijados, surdos e mudos, muitos dos quais nem tinham fé. E mesmo da ressurreição de mortos. Obviamente não apareceu depois dos apóstolos ninguém na história da Igreja, até os dias de hoje, com este mesmo poder. E estou falando de homens como Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley, Whitefield, Hudson Taylor, Spurgeon, Moody e outros homens de Deus, que não podem ser acusados de não terem fé ou de serem carnais.

Isso não quer dizer que Deus deixou de curar depois dos apóstolos. Ele cura sim, ao responder as orações por cura quando quiser. E nem sempre ele responde positivamente. Se fosse feita uma pesquisa, aposto que ela revelaria que existe proporcionalmente o mesmo número de doentes entre aqueles que dizem acreditar que o dom de curar existe hoje e aqueles que acham que já cessou. Isto é, vamos encontrar nos leitos dos hospitais proporcionalmente o mesmo número de membros doentes de igrejas que dizem ter o dom de curar e daquelas que não pensam assim.

Jesus disse certa feita que quem cresse nele faria os mesmos sinais que ele fez. Esta promessa é verdadeira ou não?

O que Jesus disse foi que eles fariam as mesmas obras. Ele não disse que fariam os mesmos sinais (ver João 14:12). Embora o termo “obras” possa se referir aos milagres dele, é mais provável que Cristo se referia à obra de evangelização e conquista de almas, que foi efetivamente a única obra que os apóstolos fizeram que era maior do que as realizadas por ele. Sobre isto, escrevi um post aqui no blog O Tempora, O Mores, dando as razões exegéticas para esta interpretação. A verdade é que nunca ninguém conseguiu superar os milagres de Jesus ao longo de dois mil anos de história do Cristianismo.

E quanto a sonhos e visões?

De acordo com o autor da carta aos Hebreus, Deus de fato se revelou de maneira extraordinária antes de Cristo, falando através dos profetas por meio de visões e sonhos, conforme encontramos no Antigo Testamento. Com a vinda do Senhor Jesus, que é a Palavra encarnada e portanto a última e maior revelação de Deus, estes modos de revelação cessaram, à medida que os apóstolos e escritores no Novo Testamento registraram de maneira infalível e definitiva esta última revelação.

Não digo que Deus não possa hoje se manifestar de maneira extraordinária a um crente. Mas, então, seria o caso de uma experiência pessoal, que não pode ter validade e utilidade pública e nem ser usada como meio para se impor alguma prática ou doutrina aos demais. A maneira geral, normal e esperada de Deus se comunicar conosco hoje é pelo Espirito falando pelas Escrituras e pela sua Providência, que é a maneira sábia pela qual Deus controla e governa os acontecimentos.

Vamos voltar ao dom de profecia. Afinal, ele existe hoje ou não?

Depende do que estamos falando. Os profetas do Antigo Testamento, como Isaías e Ezequiel por exemplo, receberam de Deus revelações quanto ao futuro de Israel, nas nações daquela época e da humanidade em geral. Estas revelações foram registradas em livros com o nome destes profetas e fazem parte da Bíblia. Além da profecia preditiva, os profetas exortavam o povo de Deus a que se arrependessem de seus pecados e voltassem à obediência da aliança. Na verdade, os livros deles trazem proporcionalmente muito mais exortações e advertências do que predições do futuro.

Os sucessores dos profetas do Antigo Testamento foram os apóstolos do Novo Testamento. Paulo, Pedro, João e os demais apóstolos também receberam revelações de Deus quanto ao futuro, a saber, a vinda de Cristo, a ressurreição dos mortos, o novo céu e a nova terra.

Os profetas das igrejas locais no período apostólico não eram iguais aos profetas do Antigo Testamento como Isaías, Jeremias, Oséias, Joel, Amós, etc. Entendo que o dom de profecia que aparece nas listas de dons do Novo Testamento se refere à capacidade dada por Deus a determinadas pessoas para trazerem uma palavra de Deus à igreja, baseada nas Escrituras, em momentos de crise e necessidade. O profeta exortava, edificava e instruía os crentes reunidos. Não vejo qualquer base para dizermos que o dom de profetizar no Novo Testamento é o poder para revelar o que está acontecendo na vida íntima dos outros ou anunciar o futuro da vida das pessoas. Se fosse feito um registro da quantidade de profecias deste tipo que se mostraram falsas, não cumpridas ou que são tão gerais que cabe tudo nelas, já teríamos concluído de vez que o dom de profetizar não é isto.

Mas, e o caso do profeta Ágabo no livro de Atos que profetizou por duas vezes acontecimentos futuros?

Ágabo profetizou por duas vezes fatos que estavam relacionados com a vida e o ministério do apóstolo Paulo, durante o período em que as Escrituras estavam sendo feitas e no qual Paulo era o principal protagonista. Me parece claramente uma situação excepcional e bastante diferente do período atual da história da igreja.

Não acha que essa sua posição acaba por extinguir e apagar o Espírito e impedir a ação de Deus no meio de seu povo? Não é este o pecado imperdoável, a blasfêmia contra o Espírito Santo?

Acho que o maior pecado contra o Espírito é desobedecer as orientações que Ele nos deu na Bíblia para examinarmos todas as coisas. Ele orientou os escritores bíblicos a escreverem aos crentes dizendo que eles deveriam estar atentos contra manifestações espirituais que não procediam de Deus, contra a ação de falsos profetas e falsos irmãos e mesmo contra a ação de espíritos enganadores que são capazes de realizar sinais e prodígios (Apocalipse 16:14). O Espírito nos chama a discernir os espíritos, a exercitar o bom senso e usar a razão. Pecamos contra o Espírito ao aceitarmos as manifestações espirituais de maneira crédula, sem exame ou análise, renunciando às orientações bíblicas e à nossa razão. É pela omissão dos crentes que os falsos profetas entram nas igrejas e disseminam heresias perniciosas.

Qual o seu comentário final aos nossos ouvintes?

Não considero a questão da contemporaneidade dos dons como sendo uma daquelas que se acham no coração do cristianismo. Não estou negando a importância da discussão se todos os dons que aparecem na Bíblia estão disponíveis hoje ou não. A verdade é que cristãos verdadeiros que são cessacionistas ou continuístas têm o mesmo desejo, que é servir a Deus de todo coração e serem instrumentos de bênção para os outros. Por outro lado, se não tivermos uma compreensão clara de um assunto como este, poderemos não somente nos privar da verdade como também promover a mentira – em ambos os casos, mesmo que o prejuízo não seja fatal, certamente afetará a nossa vida e das pessoas ao nosso redor.