sexta-feira, 4 de maio de 2012

O Espírito Santo Por: Leandro Lima


Jesus disse: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (Jo 3.8). Ele destacou a existência do Espírito como análoga ao vento, demonstrando sua invisibilidade, sua imprevisibilidade, e ao mesmo tempo sua existência real e abençoadora. A palavra vento e a palavra Espírito são exatamente a mesma na língua grega1, e, portanto, Jesus está fazendo um jogo de palavras nesse texto. Quando pensamos no Espírito como alguém semelhante ao vento, entendemos um pouco sobre quem ele é. Jesus disse: “O vento sopra onde quer”. Quem pode controlar o vento? Também ninguém pode controlar o Espírito. Em seguida disse: “Ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai”. De alguma forma, podemos senti-lo, embora não possamos vê-lo, nem entendê-lo. Todos os crentes sabem quem é o Espírito Santo. Ninguém precisa descrevê-lo para eles, até porque, ninguém conseguiria. Todo crente sabe o que é esse maravilhoso sopro de vida e de paz que preenche a vida e eleva o nosso cotidiano. Essa “doce presença” inunda a existência do filho de Deus, e o leva a ter um relacionamento tão íntimo com Deus, quanto uma criancinha pode ter com seu pai (Rm 8.15).

Por outro lado, percebe-se que há muitas distorsões a respeito da pessoa e da obra do Espírito Santo dentro do cristianismo. Se por séculos, o cristianismo pouco falou a respeito do Espírito2, o século vinte foi um verdadeiro despertar para o Espírito. Isso se deu basicamente por causa dos movimentos carismáticos que surgiram no início do século e se estenderam em sucessivas renovações até o fim do século vinte. Hoje, as igrejas pentecostais e neo-pentecostais são maioria absoluta em vários países do mundo, inclusive no Brasil. O termo “pentecostal” é uma referência aos acontecimentos do dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre os discípulos e eles passaram a falar em línguas estranhas (At 2). Supostos movimentos espirituais têm causado divisões e esfacelamento em denominações cristãs que tinham peso de séculos de existência. Na “onda do Espírito” as pessoas têm tido as mais diversas e até aberrantes manifestações supostamente espirituais. No outro extremo, muitos cristãos evitam todo tipo de manifestação espiritual, afastando-se completamente de tudo o que possa ter conotação carismática, e às vezes, vivem uma vida de frieza e indiferença em relação às coisas de Deus.
Nesse capítulo, consideraremos a personalidade divina do Espírito, o significado de sua vinda, o batismo realizado por ele, e a diferença que ele produz na vida das pessoas. O objetivo é resgatar o ensino bíblico e o equilíbrio sobre a pessoa e a obra do Espírito Santo na teoria e na prática da vida cristã.
1 No grego é a palavra “pneuma”. No hebraico “ruach” é espírito e também é vento.
2 No início da igreja, a preocupação principal foi com a pessoa de Cristo, embora o Espírito Santo tenha recebido atenção. Durante a Reforma, a obra do Espírito Santo foi enfatizada, especialmente por Calvino, que redescobriu o papel do Espírito na aplicação da salvação. Mas nos estudos posteriores da Teologia Sistemática, a pessoa e a obra do Espírito nem sempre mereceram uma seção própria. Geralmente foi estudado junto com a Trindade ou dentro da Soteriologia. Sinclair B. Ferguson, no entanto, entende que o Espírito Santo não ficou esquecido nos escritos dos grandes teólogos, pois Calvino, Owen, Kuyper e outros se dedicaram na abordagem da doutrina do Espírito Santo, o que concordamos prontamente (Ver Sinclair B. Ferguson. O Espírito Santo. São Paulo: Editora Os Puritanos, 2000, p. 9-10).