sexta-feira, 4 de maio de 2012

A Era do Espírito -



A vinda do Espírito marcaria uma nova era para o mundo, e especialmente para a igreja. Há muito tempo Deus vinha anunciando através dos profetas a chegada de uma era espetacular. Essa era foi identificada como um derramamento especial do Espírito Santo. Apesar do Espírito já estar em atividade durante todo o período do Antigo Testamento, como disse Stott, “mesmo assim, alguns profetas predisseram que nos dias do Messias, Deus concederia uma difusão liberal do Espírito Santo, nova e diferente, bem como acessível a todos”5. Isaías profetizou que depois de um tempo de muita destruição para o povo de Israel, onde os palácios seriam abandonados, as cidades ficariam desertas, as torres seriam destruídas, finalmente, Deus derramaria o “Espírito lá do alto”; então, toda uma renovação aconteceria (Is 32.14-15). Esse derramar do Espírito passou a ser uma das grandes expectativas escatológicas do povo de Deus. Isaías fala ainda: “Porque derramarei água sobre o sedento e torrentes sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção, sobre os teus descendentes” (Is 44.3). Ezequiel foi ainda mais específico sobre esse derramamento: “Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis” (Ez 36.27). E Joel fala da amplitude desse derramamento: “E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias” (Jl 2.28-29). Toda a expectativa sobre o derramamento do Espírito pode ser vista nas palavras de João Batista no início de seu ministério: “Eu vos tenho batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo” (Mc 1.8). João Batista anunciou que a profecia do Antigo Testamento, sobre o derramar do Espírito Santo, logo se cumpriria na pessoa daquele a quem ele anunciava, o Senhor Jesus Cristo. E o próprio Senhor, após a sua ressurreição, disse aos Apóstolos: “Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24.49). Jerusalém seria o local onde finalmente o Espírito prometido viria. Bruner enfatiza a importância de Jerusalém nesse ponto: “Para receberem o Espírito Santo, os apóstolos são ordenados a não se ausentarem de Jerusalém. Jerusalém, no conceito de Lucas, será o local do penúltimo evento da história da salvação antes do último evento: a volta de Cristo”6. Jerusalém é a cidade escolhida para que a antiga profecia se cumpra, e assim, o Espírito prometido venha sobre o povo escolhido. Por isso, no dia do Pentecostes, Pedro claramente entendeu que a promessa havia se cumprido. Percebemos isso por suas palavras: “Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne” (At 2.16-17). Sobre essa base, ele teve a coragem de proclamar à multidão que o ouvia: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (At 2.38-39). O perdão dos pecados e o dom do Espírito eram promessas divinas que haviam acabado de se cumprir naquele dia. A última expressão de Pedro de que a promessa era para todos os que “Deus chamar”, aponta para o aspecto universal da promessa do Espírito. Joel já havia dito que o derramamento seria sobre todo tipo de pessoas, incluindo jovens, velhos, homens, mulheres, servos e servas (Jl 2.29). Independente de idade, sexo, raça e classe social, o dom incluía todos os que se arrependessem e cressem7. Agora Pedro começa a alargar ainda mais a tenda, pois começa a antever a possibilidade de que outros povos sejam incluídos.
Percebemos, portanto, que desde o Antigo Testamento, sempre houve uma promessa divina de enviar o Espírito Santo a fim de iniciar uma era diferente, a Era do Espírito. O Espírito viria habitar de forma mais plena e universal o povo de Deus, que não mais seria limitado a uma nação, pois englobaria pessoas de todas as tribos, raças, línguas e nações. O momento quando aquela promessa fosse cumprida seria um momento ímpar, um momento único na história da salvação.
5 John Stott. Batismo e Plenitude do Espírito Santo, p. 17.
6 F. D. Bruner. Teologia do Espírito Santo, p. 126.
7 Ver John Stott. Batismo e Plenitude do Espírito Santo, p. 20