A vinda
do Espírito marcaria uma nova era para o mundo, e especialmente para a igreja.
Há muito tempo Deus vinha anunciando através dos profetas a chegada de uma era
espetacular. Essa era foi identificada como um derramamento especial do
Espírito Santo. Apesar do Espírito já estar em atividade durante todo o período
do Antigo Testamento, como disse Stott, “mesmo assim, alguns profetas
predisseram que nos dias do Messias, Deus concederia uma difusão liberal do
Espírito Santo, nova e diferente, bem como acessível a todos”5. Isaías
profetizou que depois de um tempo de muita destruição para o povo de Israel,
onde os palácios seriam abandonados, as cidades ficariam desertas, as torres
seriam destruídas, finalmente, Deus derramaria o “Espírito lá do alto”; então,
toda uma renovação aconteceria (Is 32.14-15). Esse derramar do Espírito passou
a ser uma das grandes expectativas escatológicas do povo de Deus. Isaías fala
ainda: “Porque derramarei água sobre o sedento e torrentes sobre a terra seca;
derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção, sobre os
teus descendentes” (Is 44.3). Ezequiel foi ainda mais específico sobre esse
derramamento: “Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados;
de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei.
Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o
coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu
Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os
observeis” (Ez 36.27). E Joel fala da amplitude desse derramamento: “E
acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos
filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens
terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito
naqueles dias” (Jl 2.28-29). Toda a expectativa sobre o derramamento do
Espírito pode ser vista nas palavras de João Batista no início de seu
ministério: “Eu vos tenho batizado com água; ele, porém, vos batizará com o
Espírito Santo” (Mc 1.8). João Batista anunciou que a profecia do Antigo
Testamento, sobre o derramar do Espírito Santo, logo se cumpriria na pessoa
daquele a quem ele anunciava, o Senhor Jesus Cristo. E o próprio Senhor, após a
sua ressurreição, disse aos Apóstolos: “Eis que envio sobre vós a promessa de
meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de
poder” (Lc 24.49). Jerusalém seria o local onde finalmente o Espírito prometido
viria. Bruner enfatiza a importância de Jerusalém nesse ponto: “Para receberem
o Espírito Santo, os apóstolos são ordenados a não se ausentarem de Jerusalém.
Jerusalém, no conceito de Lucas, será o local do penúltimo evento da história
da salvação antes do último evento: a volta de Cristo”6. Jerusalém é a cidade
escolhida para que a antiga profecia se cumpra, e assim, o Espírito prometido
venha sobre o povo escolhido. Por isso, no dia do Pentecostes, Pedro claramente
entendeu que a promessa havia se cumprido. Percebemos isso por suas palavras:
“Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá
nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a
carne” (At 2.16-17). Sobre essa base, ele teve a coragem de proclamar à
multidão que o ouvia: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome
de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do
Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para
todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus,
chamar” (At 2.38-39). O perdão dos pecados e o dom do Espírito eram promessas
divinas que haviam acabado de se cumprir naquele dia. A última expressão de
Pedro de que a promessa era para todos os que “Deus chamar”, aponta para o
aspecto universal da promessa do Espírito. Joel já havia dito que o
derramamento seria sobre todo tipo de pessoas, incluindo jovens, velhos,
homens, mulheres, servos e servas (Jl 2.29). Independente de idade, sexo, raça
e classe social, o dom incluía todos os que se arrependessem e cressem7. Agora
Pedro começa a alargar ainda mais a tenda, pois começa a antever a
possibilidade de que outros povos sejam incluídos.
Percebemos,
portanto, que desde o Antigo Testamento, sempre houve uma promessa divina de
enviar o Espírito Santo a fim de iniciar uma era diferente, a Era do Espírito.
O Espírito viria habitar de forma mais plena e universal o povo de Deus, que
não mais seria limitado a uma nação, pois englobaria pessoas de todas as
tribos, raças, línguas e nações. O momento quando aquela promessa fosse
cumprida seria um momento ímpar, um momento único na história da salvação.
5 John
Stott. Batismo e Plenitude do Espírito Santo, p. 17.
6 F. D. Bruner. Teologia do Espírito Santo, p. 126.
7 Ver John Stott. Batismo e Plenitude do Espírito Santo, p. 20
6 F. D. Bruner. Teologia do Espírito Santo, p. 126.
7 Ver John Stott. Batismo e Plenitude do Espírito Santo, p. 20