Santa Maria, Rio Grande do Sul, 27 de janeiro de
2013.
O horror está estampado na cidade. Cada partícula
de ar no universo campeiro parece respirar tristeza e agonia. O bom e velho
mate perdeu o sabor; a flor murchou e a serra gaúcha já não faz mais frio.
Todos sabiam que um dia a morte chegaria, mas não esperavam que fosse neste
dia. Com sua foice fatal, registram os noticiários que a morte ceifou 231
vidas. Deixou que outras centenas seguissem suas vidas, entretanto, deixou
registrado na sela do cavalo: "Deus livrou [sua] alma de ir para a
cova" (Jó 33.28).
Calamidades desta proporção sempre nos deixam
atônicos. O coração muitas vezes parece bater mais rápido, ou lentamente, não
sabemos discernir, talvez, pare, suspenda; realmente não entendemos - mas é
certo que nos fazem perplexos. Como um estrondo profundo, ressoa nossa
consciência: onde Deus estava? Se é soberano, por que não cuidou daqueles
jovens?
Meus amados, apesar de todo lamento, a pergunta
nunca deve ser, "onde Deus estava?", mas, sim, "onde estes
jovens estavam?". Devemos ter todo o cuidado ao ponderarmos sobre estas
questões, porém, não podemos ser levianos e crer, por um lado, que aqueles
jovens eram mais perversos do que os demais que muitas vezes frequentam as
igrejas, mas que possuem um coração afastado do Senhor. Por outro, não devemos
crer que simplesmente foi um "acidente".
Não podemos crer que aquele incêndio foi um apenas
mais um incêndio. Não podemos acreditar que foi apenas mais um "incidente
terrível". Precisamos recobrar o entendimento de que tudo acontece com um
propósito.
A palavra de Deus nos diz: "E sabemos que
todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm 8.28). Não posso
tecer juízos de valor sobre se haviam ou não pessoas que professavam a fé
cristã na Boate Kiss, em Santa Maria. Tampouco posso precisar se no número de
mortos havia algum eleito de Deus - realmente não sei e suspeitarei da fé de
todo aquele que diz saber.
Todavia, Paulo é específico em dizer que
absolutamente tudo coopera para o bem. Notemos que há um povo em específico
para quem Paulo se dirige: "para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles
que são chamados segundo o seu propósito". A indagação, desta forma, não
deve ser sobre os porquês de Deus ter ordenado que tal catástrofe acontecesse,
e sim acerca se cada uma daquelas vítimas estava em Cristo. Elas viviam para a
glória de Deus (1Co 10.31)? Buscavam servi-Lo de maneira excelente? Tinham-O
como Senhor de Suas vidas?
Novamente, não desejo afirmar ou negar qualquer uma
destas questões, pois embora nunca tenha ido em uma "Boate"
propriamente dita, já frequentei algumas casas de show - sim, enquanto eu
professava ser da fé cristã. Eu estava olimpicamente errado em estar nestes
lugares, pois ia para os deleites de minha carne - hoje percebo o erro e vejo
que o Senhor me livrou de terríveis males, bem como salvou minha alma. Nada fiz
para nunca ter sido consumido por chamas ou ter morrido por inalar fumaça tóxica.
Não sou melhor do que qualquer um daqueles corpos gelados estendidos no
ginásio.
Assim, não podemos afirmar que todos aqueles jovens
que morreram pisoteados, outros tantos por ficarem sem oxigênio e terem
respirado toda sorte de toxinas, muitos tendo se dirigido ao banheiro, crendo
que era a saída, não eram eleitos. Noutro sentido, certamente, também não
podemos dizer que cada um daqueles corpos, agora sendo velados e enterrados,
está no seio do Senhor. É preciso ser prudente.
O profeta Jeremias, em seu livro onde relata suas
lamentações, nos fornece uma resposta exemplar e nos dirige sobre o que pensar
quando tais fatos acontecem: "Porventura da boca do Altíssimo não sai
tanto o mal como o bem? De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada
um dos seus pecados" (Lm 3.38-39).
Queridos irmãos, leitores e eventuais parentes e
amigos das vítimas, que neste dia você possa refletir sobre se você tem estado
no Senhor. Não possuo poder para acalentar seu coração, embora desejasse o ter.
Nem mesmo que eu me deitasse três vezes sobre o corpo de cada vítima, tal qual
fez Eliseu (1Rs 17.21), não poderia trazer os meninos e as meninas de volta à
vida terrena. Mas desejo lhe perguntar: sua alma repousa segura no sacrifício
de Cristo? Assim como aqueles jovens, com a mais absoluta certeza que podemos
afirmar, pensavam que seria apenas mais uma "festa", mais uma
descontração, mais um dia qualquer vivendo para o pecado, mas foram tragados,
deixando famílias de luto eterno, seu dia também pode estar próximo - "e o
que tens preparado, para quem será?" (Lc 12.20).
Aquele que foi, não mais voltará, caro leitor.
Resta a ele e a ela, tão somente o julgamento. Quanto a nós, seres viventes
nesta terra, possamos seguir a santa Palavra: "Assente-se solitário e
fique em silêncio... Ponha a sua boca no pó; talvez ainda haja esperança"
(Lm 3.28-29).
Se você encontra-se longe de Cristo, não tarde em
buscá-Lo.
Por Filipe Machado