Como conheceu o bispo Edir Macedo
“Eu nasci no Rio de Janeiro, mas quando tinha 12 anos fui morar com uma tia em Londres. Uma tarde eu estava passeando com minha tia pelas ruas de Finsbury Park e vi um teatro. Resolvemos entrar. Na porta estava escrito apenas Teatro Arco-Íris. Aí eu vi um piano e, como sempre tive paixão pela música, pedi para tocar um pouco. Quem veio até mim foi o Edir Macedo. Ele me pediu para que eu tocasse “Yesterday”, dos Beatles. Ele elogiou e me perguntou: ‘Você sabe tocar música gospel?’. Eu respondi que não, mas consegui acompanhar no piano quando ele colocou umas músicas gospel para tocar no rádio. Ele disse que precisavam de um tecladista e eu, que tinha 16 anos, aceitei tocar todos os domingos em troca de algo em torno de R$ 50. Depois de uns quatro meses, minha tia procurou Edir Macedo para dizer que eu voltaria ao Brasil. Daí Edir veio com uma proposta: ‘Não, a gente vai ajudá-lo. Se você permitir, nós queremos investir nele. A igreja se propõe a pagar uma escola para ele aqui na Inglaterra’. A igreja pagou para mim por dois anos uma escola de idiomas, a London Capital College. Eu passei a morar na igreja e não tinha salário.”
A preparação para ser pastor
“Quando fui morar na igreja, eu dividia um quarto com outros obreiros.
Passei a tocar todos os dias, fazia a limpeza do templo, a evangelização, distribuía
jornal da igreja de porta em porta. Eu não tinha dinheiro para ligar para minha
família no Brasil, nem no Natal. Fiquei praticamente confinado. Minha tia
deixou de me visitar, achou que eu estava fanático. Eles fizeram comigo um
processo de preparação para ser um futuro pastor. Quando chegava alguém à
igreja para pedir um conselho, o bispo Macedo me chamava: ‘Senta aqui do meu
lado para você conhecer os problemas do povo e aprender a orientar as pessoas’.
Foram dois anos sentado ao lado dele. Quando o fiel ia embora, ele perguntava:
‘Entendeu? Essa moça está com problema financeiro e está tão fragilizada que,
se você disser Faça isso!, ela vai fazer. Você tem de despertar essa fé que
está nela para que ela venha e traga uma oferta para a igreja’. Oferta
significava dinheiro, mas no começo ele não falava muito a palavra ‘dinheiro’,
para não me assustar. Dependia dele para ter roupas e comida. Aqueles que eram
bispos tinham muito privilégio. Queria ter a vida que o bispo Macedo e outros
bispos tinham, então eu me submetia a tudo o que mandavam. Cheguei a fazer um
jejum e só beber água durante sete dias. Nesses dois anos não fui sequer uma
vez ao médico. O bispo Macedo me dizia que eu tinha de usar minha fé para curar
a gripe, a dor de cabeça. Fazia parte do processo de sacrifício.”
Como a Universal se expande
“Eu e Edir Macedo saíamos pelo menos duas vezes por semana para procurar
um teatro, um galpão onde desse para abrir uma nova igreja. A gente olhava
primeiro a vizinhança. Se tivesse outra igreja na região, não valia a pena
investir. E olhávamos se o povo era pobre ou de classe média. Se a área fosse
pobre, era mais interessante, a igreja cresce mais. O bispo Macedo dizia que
gente pobre tem todo tipo de problema. Então, é fácil ter argumento para atrair
essas pessoas. Se fosse um pessoal com mais dinheiro, ele já pensava duas ou
três vezes se valia a pena investir, porque apenas uma minoria frequentaria a
igreja. Quando o bairro era de classe média, o pastor tinha de falar bom inglês
e ter cultura, porque colocar um pastor escandaloso, ignorante, não dava certo.
Em Londres, presenciei a criação de duas igrejas. Uma foi em Brixton e a outra
em Peckham. Os cultos eram em inglês, 2% ou 3% dos fiéis da igreja eram
brasileiros, 2% ou 3 % eram britânicos, e o restante eram africanos e
jamaicanos. Havia uma preferência por colocar um pastor negro, para que os
fiéis se identificassem mais.”
A escala em Portugal e a promoção
“Depois de dois anos na Universal em Londres, meu visto de estudante
venceu e não conseguimos renovar. Eu já estava com 18 anos. O bispo Macedo
conversou comigo e disse que Deus estava me enviando para Portugal. Fiquei lá
um mês e meio, morando em Lisboa, até que o bispo Macedo me avisou que ele iria
me registrar como pastor da Universal e em 15 dias eu estaria em Nova York. Ele
disse que não me deixaria em Portugal porque ele precisava de um pastor com bom
inglês nos Estados Unidos. No dia 13 de maio de 1999, eu cheguei a Nova York.
Eu passei a tocar piano na igreja principal, no Brooklyn. Depois de uns 15
dias, o bispo Macedo chegou a Nova York e me disse que eu não deveria ficar só
tocando, passaria a pregar. Foi a primeira vez em que fui responsável por uma
igreja, a igreja de Utica, no Brooklyn. E, como eu era um pastor registrado
pela Universal, passei a ter um salário. Ganhava US$ 600 brutos por mês. Era
pouco, mas não tinha despesa com água, luz, aluguel porque eu morava na
igreja.”
As metas e o método de arrecadação
“Em Utica, em dois meses, a igreja encheu. Cabiam 70 pessoas. O bispo
Macedo achou que tinha valido a pena investir em mim. Comecei a fazer programas
de TV e de rádio para a igreja e a participar das reuniões de pastores e
bispos. Nessas reuniões, Edir Macedo nos ensinava a atingir as metas que ele
criava para cada igreja. E a meta era financeira. Não era de fiéis. No primeiro
mês, a minha igreja rendeu US$ 3 mil. Daí o bispo Macedo me falou: ‘Olha,
Gustavo, este mês fez US$ 3 mil. Então, se no mês que vem você conseguir
arrecadar só US$ 2.900, eu tiro a igreja de você. Você vai se virar para fazer
US$ 3.500, senão eu vou descontar do seu salário, você não vai mais participar
das reuniões e vai voltar para o piano’.”
“Fiquei tranquilo porque eu já tinha aprendido o trabalho. Ele me
ensinou o seguinte: como era uma igreja pequena, primeiro eu tinha de fazer um
atendimento corpo a corpo, conversar com cada um dos membros da igreja, visitar
a casa, participar da vida. Eu levantava toda a vida da pessoa e determinava o
dízimo. E eu ia colocando isso na cabeça das pessoas. Elas chegavam para me
contar alguma coisa: ‘Pastor, fui viajar e bati meu carro’. Eu dizia: ‘A
senhora está sendo fiel no seu dízimo?’. Ela dizia que não. Então eu falava que
era por isso que ela tinha batido o carro. Óbvio que não tinha nada a ver, mas
era uma questão de mexer com o psicológico, para que ela pensasse que as coisas
ruins aconteciam por causa de um erro dela, e não por um erro da igreja ou um
erro de Deus. Eu tinha de fazer aquela pessoa acreditar que o dízimo dela era
uma coisa sagrada. Noventa e nove por cento das pessoas que vão à igreja, e
isso eu ouvi do bispo Macedo, não vão para adorar a Deus. Vão para pedir,
porque têm problemas no casamento, nas finanças, de saúde. Então o bispo
falava: ‘Você chega para a pessoa e diz: Você está com problema financeiro, não
está? Eu sei, eu estou vendo que sua vida financeira não está boa’. É muito
fácil. Por serem pessoas humildes, elas estão mais propensas a certos
problemas.”
O sucesso
“As minhas metas sempre eram alcançadas. Edir me dizia: ‘Agora a meta é
US$ 4 mil’, eu fazia 4 mil. ‘Agora é US$ 5 mil’, eu fazia US$ 5 mil. E, a cada
mês que eu alcançava minha meta, eu ganhava mais crédito, até o ponto de o
bispo Macedo falar: ‘Você não é pastor para essa igreja, você é pastor para uma
igreja melhor. Vou te colocar numa igreja maior, onde a meta já não é US$ 5
mil, a meta é US$ 30 mil’. Fiquei seis meses em Utica e fui para a igreja de
Bedford. Vinham umas 400 pessoas, e a meta mensal era de US$ 25 mil. Alcancei
todas as metas outra vez. Peguei a igreja com US$ 25 mil e deixei com quase US$
40 mil de doações mensais. Aprendi a extorquir o povo, tenho até vergonha de
falar. Uma vez coloquei uma piscina de plástico no altar por 15 dias, cheia de
água. Disse que aquela era uma água do Rio Jordão, onde Jesus foi batizado. Eu
dizia que as pessoas iam ser batizadas na mesma água que Jesus, desde que
dessem uma oferta. E era água de torneira. Uma vez consegui fazer os fiéis doar
três carros. Eles iam embora e me deixavam as chaves e o documento. A igreja
vendia para fazer dinheiro. Entre os pastores, a conversa sempre era: ‘E aí, já
pegou o mês?’. ‘Pegar o mês’ significava cumprir a meta. Eu chegava para um
pastor que tinha uma igreja melhor que a minha e perguntava: ‘Já pegou o mês?’.
‘Já, fiz US$ 80 mil’, ele dizia. Eu respondia: ‘Olha, meu mês está em US$ 50
mil, mas vou fazer uma loucura, vou passar o teu mês e vou pegar tua igreja,
hein?!’.” Leia +.
trecho de reportagem na Época.
dica do Fernando Passarelli
dica do Fernando Passarelli