Efésios 1.3-14 é um hino de adoração proveniente do
coração do apóstolo Paulo. Não é um argumento teológico monótono, e sim o
transbordar de sentimentos ardentes do coração agradecido do apóstolo. No
grego, esta passagem constitui uma grande sentença. O Espírito de Deus inspirou
o apóstolo Paulo a proferir esta profusa adoração ao Deus que o havia salvado.
a. A passagem
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões
celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do
mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos
predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo,
segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que
ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo seu
sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus
derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência,
desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que
propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos
tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra; nele, digo, no qual
fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz
todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor
da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; em quem também vós,
depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo
nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o
penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua
glória.”
b. As pessoas
1. O Pai
Governando estes versículos, encontra-se a idéia de
que Deus realizou a salvação por sua própria vontade, propósito e desígnio. A
salvação não resulta da vontade ou do mérito de uma pessoa. A salvação não é
obtida por meio de sacrifícios religiosos ou de boas intenções. O crédito da
salvação pertence apenas a Deus, e somente Ele pode ser louvado e glorificado.
2. O Filho
A salvação é a obra de Deus mediada por Cristo. A
salvação tanto se realiza em Cristo como por meio dEle . A salvação se encontra
no Amado, que é Cristo. Foi proposta nEle. Enquanto a salvação é uma obra
exclusiva do Pai, ela se realiza por intermédio de Cristo.
3. O Espírito
A salvação é selada pelo Espírito Santo (v. 13).
Ele é o Espírito Santo da promessa, que nos foi dado como penhor de nossa
herança — a garantia de nossa completa e futura redenção como propriedade de
Deus mesmo. Deus, o Pai, Deus, o Filho, e Deus, o Espírito Santo, recebem todo
o crédito da salvação.
Ensinos
I. Deus nos escolheu
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões
celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do
mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele.”
a. A afirmação do apóstolo
Paulo inicia esta passagem afirmando que Deus
recebe todo o louvor na salvação. O verbo traduzido “escolheu” (no grego,
eklegomai) foi empregado na forma reflexiva, significando “selecionar para si
mesmo”. Isso significa que a ação do verbo retorna à pessoa que a pratica.
Paulo estava dizendo que Deus nos escolheu tendo em vista o seu próprio
interesse — para Si mesmo, pessoalmente. A escolha divina foi realizada antes
que o mundo existisse.
b. A confirmação das Escrituras
A Bíblia afirma a verdade da escolha redentora
feita por Deus.
1) Mateus 25.34 - Jesus disse: “Vinde, benditos
de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do
mundo”. O Senhor planejou tanto o reino quanto os habitantes do reino,
antes que o mundo começasse a existir. Você e eu somos salvos e conhecemos o
Senhor Jesus por que Deus nos escolheu.
2) Lucas 12.32 - Jesus disse a seus discípulos: “Não
temais, ó pequenino rebanho, porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino”.
3) João 6.44 - Jesus proclamou para uma grande
multidão: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o trouxer
[compelir]”.
4) João 15.16 - Jesus disse a seus discípulos: “Não
fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós
outros e vos designei para que vades e deis fruto”. Nós não escolhemos a
Jesus; Ele nos escolheu. Não decidimos por Cristo no mais verdadeiro sentido —
Ele decidiu por nós.
5) Atos 9.15 - O Senhor disse a respeito do
apóstolo Paulo: “Este é para mim um instrumento escolhido”.
A conversão de Paulo aconteceu abruptamente — ele
estava a caminho de Damasco para perseguir os crentes. Mas ele foi convertido,
transformado e chamado para ser um apóstolo, porque Deus o escolhera antes da
fundação do mundo.
6) Atos 13.48 - afirma sobre aquelas pessoas que
ouviram a pregação de Paulo e Barnabé: “Creram todos os que haviam sido
destinados para a vida eterna”. Deus outorga o dom da fé somente para
aqueles que estão predestinados por meio da escolha dEle mesmo.
7) 2 Tessalonicenses 2.13 - “Devemos sempre dar
graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu
desde o princípio para a salvação”. Paulo não deu graças porque os crentes
de Tessalônica haviam decidido se tornar pessoas salvas. Eles não eram
muitíssimo inteligentes, espertos, espirituais, perspicazes e, por isso,
escolheram a Deus; pelo contrário, Deus os escolheu desde o princípio. A
salvação exige que tenhamos fé, mas a fé é o resultado da escolha de Deus.
8) 2 Timóteo 1.8,9 - “Deus... nos salvou e nos chamou
com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria
determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos”.
9) 1 Pedro 1.2 - afirma que os crentes são “eleitos,
segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a
obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo”.
10) Apocalipse 13.8; 20.15 - infere que os nomes
dos
crentes foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro
antes da fundação do mundo.
c. A confirmação da teologia
Somente Deus pode receber o crédito por nossa
salvação. A doutrina da eleição é a mais humilhante de todas as doutrinas
ensinadas nas Escrituras. Deus escolheu um povo para torná-lo santo, a fim de
que estejam com Ele para sempre. A nossa fé vem de Deus. Um poeta anônimo
apresentou esta verdade nas seguintes palavras do hino Vida Interior: “Eu
procurava o Senhor e descobri que Ele, buscando-me, inclinou minha alma a
procurá-Lo. Não fui eu quem Te encontrou, ó verdadeiro Salvador; não, eu fui
encontrado por Ti”.
II. Deus nos predestinou (v. 5)
“Em amor nos predestinou para ele, para a adoção de
filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade.”
a. A afirmação do apóstolo
Por meio da escolha divina previamente determinada,
fomos predestinados para a adoção como filhos de Deus. Realmente somos filhos
de Deus.
b. A confirmação das Escrituras
1) João 1.12 - “A todos quantos o
receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus”.
2) Romanos 8.15 - “Recebestes o espírito de
adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai”.
3) Gálatas 3.26 - “Todos vós sois filhos de
Deus mediante a fé em Cristo Jesus”.
4) Gálatas 4.6-7 - “Porque vós sois filhos,
enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! De
sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por
Deus”.
5) 1 João 3.1 - “Vede que grande amor nos
tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus”.
c. A confirmação da teologia
A escolha predeterminada de Deus não dependeu do
que Ele viu em nós. Ele a fez “segundo o beneplácito de sua vontade”
(v.5). Deus não nos escolheu porque Ele tinha de fazer isso, e sim porque Ele
quis — trouxe-Lhe prazer. Deus mesmo disse: “O meu conselho permanecerá de
pé, farei toda a minha vontade” (Is 46.10).
III. Deus nos concedeu sua graça (v. 6)
“Para louvor da glória de sua graça, que ele nos
concedeu gratuitamente no Amado.”
a. A afirmação do apóstolo
A escolha de Deus e a nossa predestinação se
tornaram uma realidade em nossas vidas por intermédio da graça de Deus. Graça
significa favor imerecido, bênção pela qual não trabalhamos, bondade não
resultante de méritos. Somos salvos pela graça de Deus.
b. A confirmação das Escrituras
1) Efésios 2.8-9 - “Pela graça sois salvos,
mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que
ninguém se glorie”. A graça de Deus não admite qualquer mérito da parte do
homem.
2) Atos 15.11 - “Cremos que fomos salvos
pela graça do Senhor Jesus”.
3) Atos 18.27 - “Tendo [Apolo] chegado,
auxiliou muito aqueles que, mediante a graça, haviam crido”.
4) Romanos 3.24 - Somos “justificados
gratuitamente, por sua graça”.
c. A confirmação da teologia
A expressão, no versículo 6, pode ser traduzida
literalmente por “mediante a graça temos sido agraciados”. Deus nos concedeu
graça em Cristo, o Amado, trazendo à realidade a sua escolha e predestinação
por nos tornar seus filhos.
IV. Deus nos redimiu (v. 7a)
“No qual temos a redenção, pelo seu sangue.”
a. A afirmação do apóstolo Paulo
1) Do que Deus nos redimiu?
Deus nos resgatou da escravidão ao pecado, à morte,
ao inferno, a Satanás, aos demônios, à carne pecaminosa e ao mundo. Não tendo
qualquer dignidade e esperança, com nossa mente em trevas e coração inclinado
para o mal, éramos escravos miseráveis; apesar disso, Deus veio ao nosso
encontro e nos comprou da escravidão. Fomos comprados porque fomos
predestinados; predestinados, porque fomos escolhidos; escolhidos, porque fomos
amados; e amados, porque o beneplácito de Deus assim o quis.
2) Por meio do quê?
Romanos 6.23 declara: “O salário do pecado
é a morte”. Cristo nos redimiu por meio do derramamento de seu sangue. Esse
não foi um preço fácil de ser pago. Ele teve de assumir a forma humana, vir ao
mundo e morrer na cruz, vertendo seu sangue em sacrifício por nós. O sangue de
Cristo é realmente precioso.
b. A confirmação das Escrituras
1) 1 Pedro 1.18-19 - “Não foi mediante
coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil
procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de
cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo”.
2) Apocalipse 5.9 - diz a respeito de Cristo: “Digno
és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu
sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação”.
V. Deus nos perdoou (v. 7b, 8a)
“A remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua
graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós.”
a. A afirmação do apóstolo
Deus não somente nos resgatou, mas também perdoou
os nossos pecados — passados, presentes e futuros.
b. A confirmação das Escrituras
1) Mateus 26.28 - Jesus disse: “Isto é o
meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para
remissão de pecados”. Quando Deus perdoa (no grego, aphiemi, “mandar embora
para nunca mais retornar”), Ele remove os nossos pecados para tão distante
quanto o Oriente está do Ocidente (Sl 103.12), lança-os nas profundezas do mar
(Mq 7.19) e nunca mais se lembra deles (Is 43.25).
2) Miquéias 7.18 - “Quem, ó Deus, é
semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade e te esqueces da transgressão do
restante da tua herança?”
3) Romanos 8.1 - “Agora, pois, já nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.
4) Efésios 4.32 - “Sede uns para com os
outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus,
em Cristo, vos perdoou”.
5) Colossenses 2.13 - “E a vós outros, que
estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne,
vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos”.
6) 1 João 2.12 - O apóstolo João disse: “Filhinhos,
eu vos escrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome”.
c. A confirmação da teologia
O perdão de Deus foi derramado abundantemente sobre
nós por meio das riquezas de sua graça. O perdão exigiu abundância de graça
porque tínhamos muitos pecados. A parábola do credor incompassivo (Mt 18.21-35)
afirma que temos uma dívida impagável e indescritível. Devemos nossa salvação
ao Deus que desejou nos ter como sua propriedade peculiar. Somos perdoados
independentemente de nossa indignidade.
VI. Deus nos iluminou (vv. 8b-10)
“Em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o
mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de
fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas,
tanto as do céu como as da terra.”
a. A afirmação do apóstolo
Quando somos salvos, somos também iluminados. Deus
nos apresenta um retrato de como todas as coisas, do céu e da terra, serão
colocadas em sujeição a Cristo, para o seu louvor. Ele nos iluminou com
sabedoria nas coisas eternas e com prudência nas
coisas terrenas.
b. A confirmação das Escrituras
1) 1 Coríntios 2. 12 - “Não temos recebido
o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos
o que por Deus nos foi dado gratuitamente”.
2) 1 Coríntios 2.16 - “Quem conheceu a
mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo”.
3) 2 Coríntios 4.3-4 - “Se o nosso
evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos
quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes
não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de
Deus”.
4) 1 João 2.27 - “A unção que dele
recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos
ensine”.
c. A confirmação da teologia
Deus nos iluminou porque Ele mesmo o quis. Se não
fosse por causa de seu beneplácito