Em seu primeiro sermão, com apenas 20 anos de idade, Spurgeon
disse:
“O estudo próprio do cristão é o da
Deidade. A mais alta ciência, a mais elevada especulação, a mais vigorosa
filosofia, com o poder de empolgar a atenção de um filho de Deus, é o nome, a
natureza, a pessoa, os feitos e a existência do grande Deus, a Quem ele chama
seu Pai. Na contemplação da Deidade há algo capaz de comunicar sumo progresso à
mente. É um assunto tão vasto que todos os nossos pensamentos se perdem em sua
imensidade; tão profundo que o nosso orgulho se submerge em sua infinidade.
Outros assuntos podemos compreender e tentar assimilar; neles sentimos uma
espécie de satisfação própria, e seguimos nosso caminho pensando: "Vejam
como sou sábio!” Mas quando chegamos a este assunto magistral, vendo que a
nossa sonda não consegue sondar a sua profundidade e que o nosso olho de águia
não consegue ver a sua altura, vamos embora pensando: "Eu sou de ontem
apenas, e nada sei”
A perfeição insondável da natureza
divina deveria ensinar-nos humildade, cautela e reverência. Após todas as
nossas meditações, temos que dizer com Jó: "Eis que isto são apenas as
orlas dos seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele!..." (Jó
26:14).
Muitas pessoas trazem em suas mentes a
ideia de que Deus criou os seres humanos porque ele era solitário e tinha
necessidade de comunhão com outras pessoas. Se isso fosse verdade, certamente
significaria que Deus não é completamente independente da criação. Isso
significaria que Deus precisa criar pessoas a fim de ser completamente feliz ou
completamente pleno em sua existência pessoal.
Deus não precisa de nós para existir,
nem para ser realizado ou realizar alguma coisa, nem para ser feliz ou pleno. O
Deus da Bíblia é aquele que tudo faz e não precisa de nada em ninguém. Ele
existe independente do mundo, auto-suficiente, outo-existente.
Deus é o dono de todas as coisas. Ele é
o “possuidor do céu e da terra” (Gênesis 14.19). Na verdade , “Do SENHOR é a terra
e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam.” - Salmos 24:1 – Tudo
que é possuído por todas as criaturas vem de Deus e dEle é. Deus tudo criou do
nada e a terra e todo dom perfeito vem de sua mão (Gn 1-2, Êxodo 20.11, Neemias
9.6, Sl 146.5,6).
Quando damos algo de volta a Deus,
damos a Ele apenas o que Ele nos deu primeiro. Somos mordomos de Deus e todos
seremos responsabilizados por tudo que ele nos deu se não percebermos que nos
foi dado para ser usado para Sua glória e não para uma utilização
auto-centralizada (Lucas 12.42; 16.1-8).
Quando damos algo de volta a Deus, Ele
não está obrigado a nos recompensar. Quando fazemos o que Ele nos ordenou
fazer, nós, como servos inúteis, apenas cumprimos o nosso dever: “Assim também
vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis,
porque fizemos somente o que devíamos fazer.” - Lucas 17:10 – Por que isso é
assim?
Nós não estamos falando sobre fazer
algo para homens aqui, mas falando sobre fazer algo de tal forma que pensemos
Deus estar em dívida conosco. Nunca há esta relação de dívida de Deus para
conosco. Quando eu e você fizermos tudo o que Devemos fazer, não somos dignos
de nenhum mérito especial. Tudo que Ele faz fala sobre graça e não dívida. Não
importa o que temos feito, não importa o quão bem achemos ter feito, nunca
somos capazes de fazer algo que realmente seja digno do ser perfeito de Deus.
Então somos servos inúteis, certo? Este é sempre o primeiro passo em tudo que
fazemos, estar cientes disso.
Não importa o que nós fizemos, nós
temos que dizer: “Eu sou um servo inútil e indigno”. Isso não é falsa
humildade, mas o fruto da única humildade genuína. Eles sabem que estão em
débito com Deus. Sabem que ainda estão vivendo e que daqui a milhões de anos
estarão vivendo sob a graça.
Você é justificado pela graça, está
sendo santificado pela graça e vai ser glorificado pela graça... e todas as
recompensas no céu fluirão da graça que eficazmente operou em você aqui. Nunca,
nem aqui e nem na eternidade podemos merecer qualquer coisa que Deus nos dá. É
a maravilha das maravilhas, como diz Paulo em 1 Timóteo, Deus me escolheu para
usar, eu, o principal dos pecadores! Jamais esqueça disso, ou do evangelho tens
se afastado para um “evangelho” humano e mundano.
Um verdadeiro servo de Deus jamais
intenta (ou imagina) servir (ou ter servido) a Deus de alguma forma a
impressioná-lo e obrigá-lo assim a nos dar algo, algo especial... como se Ele
estivesse em dívida conosco. É ridículo!
Deus não deve nada a nenhuma criatura.
Observe como responde a Jó: “Quem primeiro me deu, para que eu haja de
retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu.” - Jó 41:11 – Ou
considere Paulo fazendo eco a essas palavras: “Ou quem lhe deu primeiro a ele,
para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as
coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.” – Romanos 11.35,36
Deus não tem necessidades. O Salmos 50
fala disso poderosamente: “Porque meu é todo animal da selva, e o gado sobre
milhares de montanhas. Conheço todas as aves dos montes; e minhas são todas as
feras do campo. Se eu tivesse fome, não to diria, pois meu é o mundo e toda a sua
plenitude.” - Salmos 50:10-12
Como Paulo diz aos filósofos atenienses
no Areópago, " O Deus que fez o mundo e tudo que nele
há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de
homens; Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de
alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas
as coisas;” - Atos 17:24-25
No Salmo 50 e Isaías 40, aprendemos que
Deus não é como os deuses pagãos das nações vizinhas. Estes deuses são formados
pelo homem ( Isa. 40:19-20 ). Usando sarcasmo, Isaías explica que a mesma
madeira utilizada pelo homem para se aquecer e cozinhar a sua comida, ele
também usa para formar um deus para que ele possa se curvar a ele em adoração: “Então serve ao
homem para queimar; e toma deles, e se aquenta, e os acende, e coze o pão;
também faz um deus, e se prostra diante dele; também fabrica uma imagem de
escultura, e ajoelha-se diante dela. Metade dele queima no fogo, com a outra
metade prepara a carne para comer, assa-a e farta-se dela; também se aquenta, e
diz: Ora já me aquentei, já vi o fogo. Então do resto faz um deus, uma imagem
de escultura; ajoelha-se diante dela, e se inclina, e roga-lhe, e diz:
Livra-me, porquanto tu és o meu deus.” - Isaías 44:15-17
Entenda, Deus zomba do culto em que o
deus depende do adorador, em que o adorador atende as necessidades do deus.
Adoração não visa suprir necessidades de Deus. Nele encontramos a razão de
nossa vida ( para sua glória existimos ) não Ele na nossa. Levantamos nossas
mãos em adoração e ações de graças não para suprir necessidades de Deus, mas
nossa necessidade toda abrangente de tudo o que Ele é.
Considere as palavras dos 24 anciãos
que se prostram diante do trono de Deus, adorando-o, lançando as suas
coroas diante dele: " Digno
és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as
coisas, e por tua vontade são e foram criadas.” -
Apocalipse 4:11
Se Deus não é independente de nós, ele
não é digno, qualificado, ou capaz de nos salvar e muito menos de receber
adoração e louvor. Se Deus não é completo em si, então ele é fraco e patético.
Ele poderia apenas ser um Deus em nosso mundo, mas ele não poderia ser um Deus
distinto do nosso mundo. E tudo isso se relaciona com o evangelho.
É precisamente porque Deus é livre de
criação que ele é capaz de entrar na criação a fim de salvar pecadores
perdidos: “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das
ofensas, segundo as riquezas da sua graça, Que ele fez abundar para conosco em
toda a sabedoria e prudência” - Efésios 1:7-8 – “Mas Deus, que é
riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, Estando nós
ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça
sois salvos)” - Efésios 2:4-5
O evangelho depende de um Deus que não
depende de você. O que isso significa para nós como crentes não é nada menos
que incrível: Enquanto Deus não precisa de nós, ele nos deu o privilégio de
“servir” a ele.
Mas este é apenas um privilégio de Sua
graça soberana para nós, pois Ele na verdade não pode ser servido por mãos
humanas. Nunca deve nada a ninguém, nunca pode ser alvo de barganhas e
reivindicações.