“...Servo de
Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho...” (Romanos
1:1)
Neste texto
vemos 3 declarações:
1) SERVO DE
CRISTO - Paulo enfatiza a pessoa de Cristo. Jesus é
o centro da vida do apóstolo e por isso ele O serve. Antes ele o perseguia
quando perseguia os cristãos (“Saulo, Saulo, por que me persegues?” Atos 9:4).
Mas Paulo
não apenas fala de ser servo de Jesus, mas que Jesus é o Messias, O Cristo, O
Ungido de Deus para realizar a obra salvífica do seu povo. Paulo sempre fala de
Jesus como aquele que padeceu na cruz; era sua pregação: Cristo crucificado!
Este era o propósito de Jesus ao vir ao mundo. Mas o apóstolo sempre dizia que
este Jesus Salvador era o Messias prometido, o Cristo.
Por isso
Paulo afirma que Jesus Cristo é o tema da sua pregação - Cristo e este
crucificado. Este é um grande ensino para nós pois o que deve caracterizar um
servo do Senhor é que ele proclame Cristo crucificado. Deve ser esta a nossa
prova de fé. Ele é o centro da nossa vida? O centro da nossa mensagem ao mundo?
Paulo era assim. Só nos primeiros 14 versículos da Epístola aos Efésios Paulo
menciona a palavra Jesus 15 vezes. Acontece isso conosco? Ou preferimos contar
nossas experiências achando que com isso pregamos o evangelho? Isto não é
evangelho! Evangelho é Cristo. Quanto mais crescemos na graça, menos falamos de
nós e mais falamos de Jesus Cristo.
Por isso
Paulo se vangloriava em ser servo de Jesus . A palavra correta no original é
“escravo” (servo). O que ele está afirmando é que é “escravo de Cristo”. Quando
Paulo diz em I Co 6:19-20, que somos templo do Espírito Santo conclui dizendo
que não somos mais de nós mesmos porque fomos “comprados por preço”. É como se
ele estivesse dizendo: “Vocês não percebem que seus corpos são templo do
Espírito Santo e não são de vocês mesmos? Que não têm o direito de fazer o que
bem desejarem com seus corpos pois foram comprados pelo preço do sangue de Cristo?
Não percebem que foram libertos da escravidão pelo precioso sangue de Cristo?
Foram livres da escravidão de satanás para servirem ao Deus vivo e
verdadeiro?”. Isto é o que significa ser redimido.
Nós nascemos
escravos do diabo (Ef. 2:1-3) e fomos libertos por aquele que é o único que
pode nos libertar por aquele que é o caminho que pode nos libertar - Cristo e
seu precioso sangue. É o que Pedro diz em I Pedro 1:18-19. Somos agora livres
de Satanás e pertencemos a Cristo. Ele nos comprou, agora somos cativos dEle.
Ele é nosso Senhor. Concluímos que jamais somos livres. Livres, sim, de Satanás
e do pecado, mas escravos de Cristo, a Ele servimos.
Possivelmente
quando Paulo disse: “Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Cl 2:20),
estava se referindo a esta escravidão à pessoa a quem se ama e se honra. Em II
Co 2:14, Paulo usa a figura dos súditos de um grande general que depois de ter
feito uma grande conquista, entra triunfante na cidade em um desfile militar
com as pessoas capturadas na guerra por este general que estão em volta dele.
Paulo diz
que ser escravo de Cristo o constrange a pregar e o que seria dele se não
pregasse o evangelho. Tudo por devoção a Cristo, porque Ele o livrou do mercado
de escravos, o conquistou para Si. Agora é um escravo voluntário. Um escravo
que ama seu Senhor. Este é um grande exemplo para nós. Aliás esto aconteceu
conosco. Aconteceu mesmo? Você sente-se assim? Você não mais se pertence, mas
pertence ao seu Senhor?
2) “CHAMADO
PARA SER APÓSTOLO”.
Temos de
entender bem estas duas palavras. Isso por causa do contexto em que vivemos
hoje. Há muita confusão na Igreja de hoje.
O que um
apóstolo? Paulo, no sentido geral era um servo de Cristo, mas num sentido
especial era um apóstolo.
Por que diz
que foi “chamado” para ser apóstolo? Porque Paulo se preocupa logo no início
desta Epístola em dizer que foi chamado para ser apóstolo? Bem, muitas pessoas
naquela época estavam questionando Paulo como apóstolo, eram seus opositores e
assim Paulo era difamado. Era considerado um falso apóstolo. Estava apenas
representando. Diziam que ele nunca havia estado com Jesus. Mas Paulo diz
claramente e com vigor que era tão apóstolo como os doze.
O que é um
apóstolo? É um ofício muito especial e peculiar. Uma prova disto é que Jesus
chamou os 12 discípulos (Mt 10) e “...deu-lhes poder sobre os espíritos
imundos, para expulsarem, e para curarem toda enfermidade e todo mal”. No v.1,
Mateus os chama de discípulos e no versículo 2 muda para apóstolos. Por que
isso? Porque nem todo discípulo era apóstolo. Só alguns discípulos tornaram-se
apóstolos.
Provamos
isso ao ler Lucas 6:12-13. “...chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze
dentre eles, aos quias deu também o nome de apóstolos”. Somente doze dos
discípulos foram nomeados e escolhidos.
A palavra
“apóstolo” vista nos dicionários é alguém “enviado”. Às vezes este termo é
usado com este significado no Novo Testamento, porém é mais que isto. O termo
diz que é um enviado com uma missão a quem são dados poderes para cumpri-la. Na
Bíblia, “apóstolo” é alguém escolhido e enviado a uma missão especial como
representante autorizado de quem o envia.
Quais as
marcas e sinais de um apóstolo?
1. Teria que
ser testemunha do Senhor ressurreto.
Em Atos
vemos os apóstolos reunidos no cenáculo conversando sobre quem substituiria a
Judas Escariotes. No cap. 1:21-22 lemos: “É necessário pois, que, dos homens
que nos acompanham todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós , começando
no batismo de João, até ao dia em que dentre vós foi levado às alturas, um
destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição”.
Paulo diz
que viu Jesus ressurreto: “Não sou, porventura livre? Não sou apóstolo? Não vi
a Jesus, Nosso Senhor?” (I Co 9:1). Era ele dizendo que vira Jesus ressurreto
no caminho de Damasco e era testemunha disto.
2. O
apóstolo tinha de ter um chamado especial para exercer este ofício. Ele foi
chamado pelo próprio Senhor.
3. Era
alguém a quem foi dada autoridade e comissão de operar milagres. Isso fica bem
claro em II Co 12:12 - “Pois as credenciais do meu apostolado foram
manifestados no meio de vós com toda a persistência, por sinais prodígios e
poderes miraculosos”. Era como se ele dissesse: “Como vocês podem questionar
meu ofício de apóstolo se as minhas credenciais foram apresentadas claramente
entre vós”. Sinais, milagres e atos maravilhosos.
4. Os
apóstolos tinham poder para dar e comunicar dons espirituais a outros; podiam
transmitir o Espírito Santo pela imposição das mãos (Atos 8:17). Isso
significava sinal de autoridade da sua comissão.
5. O
apóstolo tinha autoridade para ensinar e definir a doutrina firmando as pessoas
na verdade.
6. Tiveram
autoridade para estabelecer a ordem nas igrejas. Nomeavam os presbíteros,
decidiam questões disciplinares e questões doutrinárias ( ensino e doutrina.
Falavam com autoridade do próprio Jesus: “...mas o Consolador, o Espírito
Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e
vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”(Jo 14:26).
Tudo isso
tem conseqüências importantes:
a) Falavam
com autoridade vinda de Deus.
b) Eram
representantes de Cristo e as pessoas os ouviam como quem falava da parte de
Deus. Por isso Paulo diz aos crentes da igreja de Tessalônica: “...é que tendo
vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como
palavra de homens e, sim, como em verdade é a palavra de Deus...”(I Ts 2:13).
Paulo está lembrando que eles não estavam ouvindo (lendo) palavras de homens.
Deus dera autoridade para edificar não só aos crentes de Tessalônica, mas de
Corinto: “...a respeito da nossa autoridade, a qual o Senhor nos conferiu para
edificação...” (II Co 10:8). Ou ainda: “Portanto, escrevo estas cousas, estando
ausente, para que, estando presente, não venha a usar de rigor segundo a
autoridade que o Senhor me conferiu para edificação...” (II Co 13:10). Era uma
autoridade excepcional que somente Deus podia dar; uma palavra inspirada,
infalível.
Uma prova
disso se vê quando Pedro diz: “...como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos
escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada...nas quais há certas cousas
difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também
deturpam as demais Escrituras”... (outras Escrituras) - II Pedro 3:16. Aqui
Pedro está igualando o que Paulo escreveu às demais Escrituras do VT. Pedro
está dizendo que Paulo escreveu Bíblia.
As palavras
escritas pelos apóstolos têm autoridade divina - Os apóstolos foram
comissionados pelo Senhor Jesus Cristo e foram guiados e dirigidos pelo
Espírito Santo. São palavras divinamente inspiradas. Lembremo-nos que foi Jesus
que deu autoridade aos seus servos, os apóstolos, como Paulo. Se alguém disser
que só crê no que Jesus disse, responda dizendo que esta afirmação é
contraditória pois o próprio Jesus que deu autoridade ao Seu servo, aos
apóstolos que reconheceram, como Pedro, que Paulo escrevera de forma tão
inspirada como o VT.
Quando a
igreja primitiva chegou a definir e determinar o Cânon do Novo Testamento, pois
havia muitos escritos cristãos, o Espírito Santo levou a Igreja a decidir desta
maneira: ela dizia que, se um documento que pretendesse ser um Evangelho ou
Epístola, e não pudesse ser rastreado direta ou indiretamente, até as suas
raízes num apóstolo, alguém com autoridade apostólica, ele não devia ser
incluído. A prova era a apostolicidade, o caráter apostólico na determinação do
Cânon do Novo Testamento. Por que? Porque um apóstolo é um homem dotado de
autoridade única, autoridade de fazer doutrina, de fazer Bíblia. O Senhor guiou
a Paulo pelo Seu Espírito Santo, o Senhor o chamou para ser apóstolo.
Por que
Paulo se diz “chamado para apóstolo” e logo no início da Epístola? Sem dúvida
Paulo queria deixar bem claro para os crentes de Roma que ele era
verdadeiramente um apóstolo. Como seria bom que hoje, os que se dizem apóstolos
mostrassem as credenciais que Paulo mostrou. Sem dúvida não teriam estas
credenciais e por isso não são Apóstolos. Na carta que ele escreve à igreja da
Galácia, Paulo é mais enfâtico ainda quando diz: “Paulo, apóstolo, não da parte
de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus
Pai, que o ressuscitou dentre os mortos...” (Gl. 1:1).
Paulo aqui
está dizendo àqueles crentes que não pensem de forma errada que ele mesmo havia
se declarado apóstolo como hoje se faz. Não! Os falsos mestres é que fazem
isso. Ele diz claramente que é apóstolo, “não da parte de homens, nem por
intermédio de homens, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai”. Paulo foi
“chamado”, escolhido pelo ato soberano de Jesus Cristo. Havia sido chamado da
mesma forma que os doze e tinha a mesma autoridade. Paulo diz isso de si mesmo.
Há algo
admirável aqui. O Senhor escolhe um homem para apóstolo, quando antes este
mesmo homem tinha sido um dos seus maiores inimigos. Um homem com quem Jesus
não estivera durante Seu período aqui no mundo, quando encarnado; alguém que
não ouvira Seu ensino, não vira Seus milagres, que não O vira na cruz, que não
estivera com os doze no cenáculo quando lhes apareceu após a ressurreição; era
um blasfemador, um perseguidor do cristianismo. Como pode ser isto? Mas o Senhor
se revela a Paulo e o chama, exatamente como chamou aos outros. Lemos em 1Co
15:7 - “Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos e,
afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de
tempo”. Ele está dizendo como Jesus lhe aparecera e o comissionara para ser
apóstolo, mesmo depois do Pentecoste, mesmo depois do Senhor fazer várias
revelações a pessoas especialmente escolhidas. Paulo vai a Damasco “respirando
ameaças e mortes” e o Senhor aparece e o comissiona dizendo: “Mas levanta-te e
firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci, para te constituir
ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas
quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu
te envio para lhes abrir os olhos e convertê-los das trevas para a luz e da
potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e
herança entre os que são santificados pela fé em mim” (Atos 26:16-18). Ele
mesmo diz que não foi “desobediente à visão celestial” que teve. Um comissão de
proclamar a verdade de forma autoritativa.
7. Não
podemos esquecer desta outra marca do apostolado: A verdade lhe foi ensinada
pessoalmente pelo Senhor. Em Gálatas 1:11-12 Paulo diz: “Faço-vos, porém,
saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque
eu não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus
Cristo”. Este evangelho não foi ensinado por outra pessoa,; se fosse ele não
seria apóstolo. Ele ainda diz nesta epístola aos Gálatas que foi separado desde
o ventre materno pela graça de Deus, quando revelou Jesus para que O pregasse
entre os gentios e para isso não consultou a “carne e sangue”, nem subiu à
Jerusalém para os que já eram apóstolos antes dele mas partiu para a Arábia e
depois voltou para Damasco. Três anos depois vai à Jerusalém para avistar-se
com Pedro (Gl.1:15-18). Ele vaia a Pedro, mas não para aprender com Pedro pois
era igual aos demais apóstolos pois a verdade lhe fora dada pessoalmente por
Cristo.
Por que isto
é importante? Porque esta é uma credencial apostólica: “Porque eu recebi do
Senhor o que também vos entreguei...” (Co.11:23). Recebe diretamente de Jesus.
Ele se iguala aos demais apóstolos nisso: “Porque eu sou o menor dos
apóstolos....mas pela graça de Deus sou o que sou...portanto, seja eu, ou sejam
eles, assim pregamos e assim crestes” (I Co 15:9-11). Ele foi tão apóstolo como
Pedro. Ao comissioná-lo o Senhor o chamou para ir aos gentios: “Dirijo-me a vós
outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu sou apóstolo dos gentios,
glorifico o meu ministério” (Rm 11:13).
O que Paulo
deseja, é que os crentes de Roma compreendam que ele é realmente apóstolo de
fato e de direito. Por que esta ênfase? Porque muitos naquela época estavam se
dizendo apóstolos. Em Apocalipse 2:2: “...puseste à prova os que a si mesmo se
declaram apóstolos e não são, e os achastes mentirosos”. Isto ér muito prático
pois estamos vivendo uma época em que muitos estão se dizendo apóstolos ou que
são da sucessão apostólica. Isso não existe. A Igreja Católica não só afirma
que o Papa é o vigário de Cristo, como também faz outra reivindicação: da
sucessão apostólica. Mas não só a Igreja Católica, outros ramos ditos cristãos
reivindicam esta sucessão apóstólica e isso é um grande argumento para terem
bispos, terem um episcopado. É verdade que muitos que acreditam em bispos não
aceitam a sucessão apostólica. Mas os Bispos da Alta Igreja Anglicana e
Católicos costumam dizer que não existe igreja sem bispos, que isto é a
essência da igreja.
Esta foi uma
grande questão no século XVII e trouxe até divisão. Os bispos se diziam e ainda
se dizem sucessores diretos dos apóstolos, mas “apóstolo’ é só aquele que viu e
deu testemunho de Cristo ressurreto. A base para este pensamento não é bíblica
e sim fruto da tradição. Isso é impossível. Além do mais Paulo diz que a Igreja
Cristã é edificada “...sobre o fundamento dos apóstolos é profetas...” (Ef
2:20). Com certeza não continuamos a construir qualquer fundamento ou alicerce,
pois é algo do começo da igreja. Esse alicerce que foi fincado sobre os
apóstolos e profetas não continua sendo edificado. Desde que o Cânon se
completou, não há mais necessidade de apóstolos. Não esqueçamos de que o ensino
apostólico era autoritativo. Os apóstolos falavam como homens enviados por Deus
de maneira tão inspirada como os profetas do Velho Testamento.
Por isso, ao
termos as Escrituras do Novo testamento — O Cânon do NT — já temos todo ensino
autorizado e não precisamos mais de apóstolos. Quando o Cânon não estava
completo, os apóstolos e aqueles que estavam ligados a eles tinham uma função
importantíssima: instruir a igreja que não tinha Bíblia completa. Uma vez
completo o Cânon os apóstolos não mais existem.
Outra coisa
interessante é que Paulo em I Co 1:1 diz: “Paulo, chamado pela vontade de Deus
para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes”. Sóstenes aqui é apenas
citado como irmão. Não estaria Paulo sendo muito egoísta? Por que ele não
chamou “eu e Sóstenes?”. Paulo sabia que ele era apóstolo e que Sóstenes,
apezar de excelente e santo homem, não era apóstolo. Por isso, a expressão; “e
o irmão Sóstenes”. A mesma coisa acontece com Timóteo, quando Paulo o trata
como irmão mas diz antes: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de
Deus, e o irmão Timóteo” (Cl 1:1). Paulo não diz: “Timóteo é o homem que vem
após mim, ele vai ser apóstolo por sucessão apostólica e assim pelos séculos
afora”. Timóteo era apenas irmão e Paulo apóstolo, mas quando vemos em Fl.1:1 -
“Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos ...”. Quando Paulo
se descreve como servo, ele e Timóteo são iguais, pois os dois são servos no
mesmo nível. Mas quanto ser apóstolo, há uma diferença: Paulo o é e Timóteo
não.
Toda
pretensão de ser apóstolo hoje vai de encontro com o ensino do Novo Testamento
acerca do sentido do termo. Quando pulamos frases como esta que mostra que
Paulo foi chamado para ser apóstolo como um ofício especial que não se repete,
percebemos o quanto é grave negligenciar a doutrina e caímos nos argumentos
falsos dos falsos mestres.
“Separado para o evangelho”
Não
significa apenas que foi colocado à parte para pregar o evangelho, mas Paulo
está colocando seu chamado a um nível mais alto. Ele já havia dito que Deus o
chamara para ser servo, para ser apóstolo e agora para ser “separado para o
evangelho”.
O que
significa ser “separado”? Significa “posta à parte”. Paulo tinha sido “posto à
parte” para o evangelho. O que significa isto? Bem, Paulo está lembrando que
antes ele era um perseguidor de Cristo, um fariseu de fariseu. Ora a palavra
“fariseu” significa “separado” e os fariseus se colocavam à parte, não queriam
nem ter contato físico com ninguém para não se contaminarem, não queriam nada
com publicanos e pecadores. Era como se Paulo estivesse: “antes eu me separei a
mim mesmo como fariseu, mas a grande verdade sobre mim é que fui separado pelo
próprio Deus para esta grande obra que tenho o privilégio de realizar, parte da
qual estou realizando agora quando escrevo esta Epístola”. Paulo está dizendo
que ele teve uma falsa separação e uma verdadeira separação. Uma foi feita pelo
homem e a outra foi feita por Deus.
Paulo havia
sido chamado, “separado” desde o ventre materno (“Quando, porém, ao que me
separou antes de eu nascer e me chamou (“separou” - corrigida) pela sua graça,
aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios...”
(Gl 1:15-16). É isso que ele quer dizer. Que Deus o separou “para o evangelho
de Deus”. Paulo foi separado desde o ventre materno para esta obra. O mesmo
aconteceu com Jeremias (“Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te
conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às
nações” - Jm 1:5). O mesmo nós vemos acontecer com João Batista.
Percebemos
que esta separação é um grau muito maior do que um simples chamado para ser
“servo” como acontece com todos os cristãos. É verdade que ele foi chamado para
ser apóstolo, mas ele diz que não parou aí, Deus o “separou para para o
evangelho”. Deus pré ordenou Paulo para ser um pregador do evangelho. Aqui
chegamos à grandiosa doutrina da soberania de Deus. Deus na Sua soberania o
escolhe como Lhe apraz para executar um plano que Ele mesmo elaborara. Não foi
nada acidental que Paulo tivesse tido uma educação grega e hebraica, que
tivesse adquirido a condição de cidadão do Império Romano. Tudo foi elaborado e
decretado por Deus. E Deus fez isso no tempo determinado por Ele.
Podemos
concluir dizendo que a mesma coisa acontece com nossa salvação. É algo
maravilhoso e ao mesmo tempo humilhante. Segundo Paulo, nossa salvação foi
determinada antes da fundação do mundo (Ef.1). Antes da fundação do mundo
nossos nomes estavam escrito no livro da vida do Cordeiro (Ap 13:8). Isso é
algo assombroso! Assim como Deus separou Paulo para ser pregador do evangelho
antes dele mesmo nascer, o mesmo é verdadeiro em relação a nós Especialmente
aos pregadores ainda hoje. Será que os pregadores de hoje estão advertidos
quanto a isto? Será que estão exercendo esta função para a qual foram “separados”?.
Será que estão cumprindo os propósitos de Deus? Será que estão se dando conta
de que Deus está com Seus olhos sobre nós? Será que estamos pregando o
evangelho de Cristo? “Arrependei-vos e crede no evangelho”!!