A razão bíblica para a eliminação da desigualdade social encontra-se na origem e destino potencial do homem, assim como no amor universal de Deus pelo mundo (Jo 3.16; Mt 5.43-48). As raízes da civilização ocidental acham-se profundamente arraigadas na revelação bíblica de que o homem descende de um único casal (pai e mãe) e foi criado à imagem de Deus.[1] A participação comum de toda a humanidade na imago dei significa que todos os homens são herdeiros dos direitos inalienáveis da dignidade e significado intencional. Concordar com Lincoln sobre o axioma de que todos os homens foram criados iguais, mas negar a participação na imago dei significa que, em análise final, não há razão para uma responsabilidade comum entre os homens.
Em vista de o humanismo socialista ter alcançado poder, embora negando a criação do homem à imagem divina, a dignidade e igualdade humanas transformaram-se em simples slogans, muito úteis com fins de propaganda.George Orwell satirizou as consequências do socialismo, rejeitando o fundamento da igualdade em seu livro Animal Farm,[2] Djilas e, mais recentemente, A. Solzhenitsyn, descreveram as consequências históricas da sociedade ideal carente de uma base na criação divina.[3]
A relevância de longo alcance da verdade sobre as origens humanas é resumida no mandamento bíblico de amar ao próximo como a si mesmo (Lv 19.18; Mt 22.39). Todavia, o fracasso dos homens em viver como irmãos, embora a criação os tenha feito para isso, é devido ao egoísmo inerente que o pecado tornou universal. A substituição de estruturas injustas por outras mais equitativas só pode, em análise final, ser coroada de fracasso, a não ser que uma transformação bem mais profunda seja operada nos homens que as estabelecem e controlam o seu poder. Por essa razão, os evangélicos devem sempre contender que a primeira responsabilidade da igreja é a proclamação do evangelho e depender da modificação espiritual subsequente operada pelo Espírito Santo, a fim de criar uma comunidade em que o não convertido possa ver um modelo do reino de Deus.
Os interesses da justiça social devem, portanto, ser sempre mantidos numa relação subordinada ao evangelismo, que é o meio utilizado por Deus para restaurar a imagem divina através da habitação interior de Cristo (Cl 3.10). Podemos afirmar com propriedade que o alvo da humanidade é a “perfeição comunitária”[4] daqueles que se tornaram um Corpo mediante a ação incorporadora do Espírito Santo (1Co 12.13). O Deus que deu aos pecadores o seu dom mais precioso, o Filho, não pode aprovar a indiferença à matéria em que um número incontável de pessoas arrasta sua torturada existência, aguardando sem esperança que o Reino lhes seja oferecido. Por essa razão, Jesus Cristo ordena a seus seguidores que vão ao mundo inteiro e façam discípulos de todas as nações, ensinando-os a obedecerem a todos os mandamentos que lhes deu (Mt 28.19,20). Enquanto os liberais socialistas classificam as desigualdades sociais como criminosos, um insulto ao homem e a Deus,[5] os evangélicos de modo incongruente parecem aceitar com grande tranquilidade o fato de grande parte desse mesmo mundo não ter ouvido ainda a mensagem da salvação. Por outro lado, onde o evangelho foi proclamado e aceito, nova alegria e esperança substituíram o desespero predominante.[6] Os traços da imagem de Deus começaram a surgir (cf. Rm 8.28s com 2Co 3.2,18).