“Se você vigiar os seus pés para não profanar o
Sábado e para não fazer o que bem quiser em meu santo dia; se você chamar
delícia o Sábado e honroso o Santo Dia do Senhor, e se honrá-lo, deixando de
seguir seu próprio caminho, de fazer o que bem quiser e de falar futilidades,
então você terá no Senhor a sua alegria, e eu farei com que você cavalgue nos
altos da terra e se banqueteie com a herança de Jacó, seu Pai, pois é o Senhor
quem fala” (Isaías 58.13,14, NVI)
Pergunta
enviada a nós: “Porque não guardamos o sábado, se é um
mandamento?”.
As discussões sobre a guarda do Sábado são das mais
apaixonantes. Eu mesmo já travei longos debates sobre o assunto, inclusive
pessoalmente, com um adventista que veio a uma congregação que eu pastoreava,
num debate agendado. Admito que, durante muito tempo, como eu achava que Cristo
havia abolido a Lei de Deus – creio que este pensamento é aceito por
muita gente – eu me valia de argumentos dos quais hoje me envergonho.
Eu era um blasfemador da Lei de Deus, e muito me arrependo.
A pior maneira de começar a refletir sobre o Sábado
é acreditar que Cristo aboliu a Lei de Deus. Tal opinião, além de ser
contraditória e irracional, é completamente anti-biblica, e anti-evangélica.
Aqui está algo que não deveríamos ousar tocar, a Eternidade da Lei de Deus. Não
devemos falar mal da Lei de Deus, pois ela é parte da mensagem de Cristo: “Nisto
conhecemos que amos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus
mandamentos. Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e
os seus mandamentos não são pesados” (I João 5.2,3).
Não
estranhe, contudo, que boa parte dos escritos contra os sabatistas que
encontramos na Net, e mesmo em livros, comecem, invariavelmente, com palavras contra a
Lei de Deus. Se não tomarmos cuidado, podemos ser convencidos que não há meio
de aceitar a Lei de Deus, e continuar adorando a Deus no “Dia do Senhor”, ou
seja, no Domingo. Assim, que jeito mais fácil de refutar os sabatistas que
destruindo a autoridade da Lei de Deus para os nossos dias? Mas, além de não
ser fácil argumentar contra a Lei de Deus, trata-se de uma atitude pecaminosa.
Voltando a questão de não guardarmos o mandamento
do Sábado, quero iniciar afirmando justamente o oposto: nós guardamos o
Sábado. É verdade que não guardamos o Sábado no sétimo dia do calendário
atual, mas no Primeiro Dia, contundo, qualquer documento da Igreja
Reformada irá confirmar que nós nunca abrimos mão de guardar o Quarto
Mandamento.
A mais importante confissão de fé reformada,
Westminister, diz: “Como é lei da natureza que, em geral, uma devida
proporção do tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também em sua
palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que
obriga a todos os homens em todos os séculos, Deus designou particularmente
um dia em sete para ser um sábado(descanso) santificado por Ele; desde o
princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da
semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia
da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e
que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão” (CFW;
Capítulo XXI, Artigo VII).
Em outras palavras, na Teologia Reformada, o “Sábado” é
eterno, mas a guarda do Sábano, ou seja, do Descanso, no Dia Sete,
foi algo dado aos antigos, enquanto que para a Igreja, foi dado que guardassem
o “Sábado” no Primeiro Dia da Semana, o Domingo. Observem que,
se os evangélicos conhecessem a história de sua própria fé, e a aceitassem, não
estariam questionando se devemos ou não obedecer a Lei de Deus, mas sim, se a
guarda do Dia de Descanso foi realmente transferida para o Domingo.
Vários documentos históricos da fé reformada
testificam a mesma coisa, citaremos mais:
“Cremos que o primeiro dia da semana é o
Dia do Senhor, ou o Sábado Cristão; e deve ser
guardado como sagrado para propósitos religiosos, com uma abstinência de
todo trabalho secular e de recreações pecaminosas; com a observância devota de
todos os meios de graça, tanto privados como públicos, e com a preparação para
aquele descanso que resta para o povo de Deus”(Confissão Batista de New
Hampshire, Capítulo XV).
Assim, cremos que o mandamento moral do Sábado é
ordenança eterna, como toda a Lei de Deus, e que o dia para seu cumprimento
para a Igreja do Novo Testamento, de acordo com o registro bíblico, é o
Primeiro Dia da Semana, certamente em conexão com o Dia da Ressurreição do
Cristo. Adorar ao Senhor no Domingo - “partir o pão”, ou seja “Ceia do Senhor”
- é o testemunho deixado a nós nas páginas do Novo Testamento.
“E no Primeiro Dia da Semana, ajuntando-se os
discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte,
falava com eles; e prolongou a prática até à meia-noite”Atos 20.7).
“No Primeiro Dia da Semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar,
conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar”
(I Cor. 16.2). (
Os sabatistas modernos acham que tal mudança é
arbitrária, mas não é o caso, pois no Antigo Testamento jamais se diz haver um “sábado
no sétimo dia da semana”, como muitos supõem. Provavelmente,
eles tinham várias formas de começar a contagem, como ocorre em Êxodo
16, onde Deus pede que eles contassem os dias nos quais haviam recebido
o maná (Ex. 16.4-5, 22-23). Ao lermos o texto é patente que após o sexto dia de
maná recolhido, é que o povo recebe o aviso “amanhã é sábado”; ora, se o
Descanso viesse sendo observado por um calendário regular, fixo desde a
fundação do mundo, não haveria necessidade de tal aviso.
O importante de tal constatação é perceber que não
existe nada de sagrado no “dia sete” de algum calendário específico (de
fato, nem sabemos qual calendário eles usavam no deserto), o que importa é que,
contando-se seis dias, observe-se o sétimo, e o que a Igreja Primitiva fez
tomando o dia da Ressurreição de Cristo como referencia, deixando-nos a herança
do Domingo.