segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O dever de guardarmos o Sábado do Senhor - Por Marcelo Lemos



 Se você vigiar os seus pés para não profanar o Sábado e para não fazer o que bem quiser em meu santo dia; se você chamar delícia o Sábado e honroso o Santo Dia do Senhor, e se honrá-lo, deixando de seguir seu próprio caminho, de fazer o que bem quiser e de falar futilidades, então você terá no Senhor a sua alegria, e eu farei com que você cavalgue nos altos da terra e se banqueteie com a herança de Jacó, seu Pai, pois é o Senhor quem fala” (Isaías 58.13,14, NVI)

Pergunta enviada a nós“Porque não guardamos o sábado, se é um mandamento?”.

As discussões sobre a guarda do Sábado são das mais apaixonantes. Eu mesmo já travei longos debates sobre o assunto, inclusive pessoalmente, com um adventista que veio a uma congregação que eu pastoreava, num debate agendado. Admito que, durante muito tempo, como eu achava que Cristo havia abolido a Lei de Deus – creio que este pensamento é aceito por muita gente – eu me valia de argumentos dos quais hoje me envergonho. Eu era um blasfemador da Lei de Deus, e muito me arrependo.

A pior maneira de começar a refletir sobre o Sábado é acreditar que Cristo aboliu a Lei de Deus. Tal opinião, além de ser contraditória e irracional, é completamente anti-biblica, e anti-evangélica. Aqui está algo que não deveríamos ousar tocar, a Eternidade da Lei de Deus. Não devemos falar mal da Lei de Deus, pois ela é parte da mensagem de Cristo: “Nisto conhecemos que amos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados” (I João 5.2,3).

Não estranhe, contudo, que boa parte dos escritos contra os sabatistas que encontramos na Net, e mesmo em livros, comecem, invariavelmente, com palavras contra a Lei de Deus. Se não tomarmos cuidado, podemos ser convencidos que não há meio de aceitar a Lei de Deus, e continuar adorando a Deus no “Dia do Senhor”, ou seja, no Domingo. Assim, que jeito mais fácil de refutar os sabatistas que destruindo a autoridade da Lei de Deus para os nossos dias? Mas, além de não ser fácil argumentar contra a Lei de Deus, trata-se de uma atitude pecaminosa.

Voltando a questão de não guardarmos o mandamento do Sábado, quero iniciar afirmando justamente o oposto: nós guardamos o Sábado. É verdade que não guardamos o Sábado no sétimo dia do calendário atual, mas no Primeiro Dia, contundo, qualquer documento da Igreja Reformada irá confirmar que nós nunca abrimos mão de guardar o Quarto Mandamento.

A mais importante confissão de fé reformada, Westminister, diz: “Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também em sua palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens em todos os séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado(descanso) santificado por Ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão (CFW; Capítulo XXI, Artigo VII).

Em outras palavras, na Teologia Reformada, o “Sábado” é eterno, mas a guarda do Sábano, ou seja, do Descanso, no Dia Sete, foi algo dado aos antigos, enquanto que para a Igreja, foi dado que guardassem o “Sábado” no Primeiro Dia da Semana, o Domingo. Observem que, se os evangélicos conhecessem a história de sua própria fé, e a aceitassem, não estariam questionando se devemos ou não obedecer a Lei de Deus, mas sim, se a guarda do Dia de Descanso foi realmente transferida para o Domingo.

Vários documentos históricos da fé reformada testificam a mesma coisa, citaremos mais:

Cremos que o primeiro dia da semana é o Dia do Senhorou o Sábado Cristãoe deve ser guardado como sagrado para propósitos religiosos, com uma abstinência de todo trabalho secular e de recreações pecaminosas; com a observância devota de todos os meios de graça, tanto privados como públicos, e com a preparação para aquele descanso que resta para o povo de Deus”(Confissão Batista de New Hampshire, Capítulo XV).

Assim, cremos que o mandamento moral do Sábado é ordenança eterna, como toda a Lei de Deus, e que o dia para seu cumprimento para a Igreja do Novo Testamento, de acordo com o registro bíblico, é o Primeiro Dia da Semana, certamente em conexão com o Dia da Ressurreição do Cristo. Adorar ao Senhor no Domingo - “partir o pão”, ou seja “Ceia do Senhor” - é o testemunho deixado a nós nas páginas do Novo Testamento.

E no Primeiro Dia da Semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até à meia-noite”Atos 20.7). “No Primeiro Dia da Semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar” (I Cor. 16.2). (

Os sabatistas modernos acham que tal mudança é arbitrária, mas não é o caso, pois no Antigo Testamento jamais se diz haver um “sábado no sétimo dia da semana, como muitos supõem. Provavelmente, eles tinham várias formas de começar a contagem, como ocorre em Êxodo 16, onde Deus pede que eles contassem os dias nos quais haviam recebido o maná (Ex. 16.4-5, 22-23). Ao lermos o texto é patente que após o sexto dia de maná recolhido, é que o povo recebe o aviso “amanhã é sábado”; ora, se o Descanso viesse sendo observado por um calendário regular, fixo desde a fundação do mundo, não haveria necessidade de tal aviso.

O importante de tal constatação é perceber que não existe nada de sagrado no “dia sete” de algum calendário específico (de fato, nem sabemos qual calendário eles usavam no deserto), o que importa é que, contando-se seis dias, observe-se o sétimo, e o que a Igreja Primitiva fez tomando o dia da Ressurreição de Cristo como referencia, deixando-nos a herança do Domingo.