sábado, 3 de março de 2012
Tempo de calar... (Eclesiastes 3:7)
A vida nos oferece muitas situações onde simplesmente as palavras nos faltam. Às vezes não sabemos o que dizer e nem como dizer. Não possuímos as respostas para todas as perguntas. Muitas vezes não sabemos o que dizer nem para nós mesmos e isso dificulta qualquer possibilidade de autocompreensão.
Reconhecemos também que não há ninguém da natureza humana que consiga nos decifrar e escutar quando nossa alma silencia. Nesses momentos podemos entender o que significa estar sozinhos dentro de nós.
O silêncio é simplesmente perturbador. O ser humano em geral tem dificuldades em lidar com a falta de palavras que por vezes surpreendem. É verdade que fomos acostumados a falar demais, a escutar pouco, a sermos cercados de sons, palavras, músicas e gargalhadas. Por isso, não somos muito habilidosos para decifrar os silêncios que surgem, e quando isso acontece, logo procuramos meios de nos ocupar e nos distrair de todo e qualquer incômodo. Nos alimentamos de muitos barulhos que não permitem um encontro a sós com o nosso interior.
Confesso que já me surpreendi em silêncio com Deus, sem saber o que falar para Ele. Evitando orações automáticas de frases feitas, nesses momentos decidi simplesmente não falar nada. Creio ser este o aspecto mais complicado do silêncio, pois religiosamente somos levados a pensar que orar é falar desesperadamente, e quanto mais horas passamos falando com Deus chegamos a um nível maior de espiritualidade. É claro que existe o tempo de falar, e também precisamos muito dele.
Mas a questão é: e quando o silêncio atinge nosso relacionamento com Deus?
Percebi que momentos de silêncio fazem parte de todo e qualquer relacionamento humano. Tenho como exemplo meu relacionamento com minha melhor amiga: às vezes conversamos muito e falamos sem parar, mas de vez em quando, o assunto simplesmente acaba e o silêncio se faz presente. Logo uma de nós se manifesta e pergunta: o que você está pensando?
Penso que isso não é diferente quando se trata do nosso relacionamento com Deus. Ele é o maior interessado em saber o porquê de nossos silêncios. Deus não está interessado em palavras superficiais que não dizem nada sobre nós mesmos. Ele quer ouvir o mais profundo do nosso coração.
E tenho aprendido que não preciso me preocupar quando não sei ou não tenho o que dizer pra Deus, pois Ele ouve o silêncio da nossa alma. Como disse Davi: ainda que as palavras não nos cheguem à boca, Ele já conhece todas elas.
Entendi que o meu silêncio também é minha oração, pois através dele posso dizer muito mais que palavras. Com o silêncio digo pra Deus que não tenho a compreensão que eu preciso, não tenho as respostas para tudo, estou sem forças, cheguei até onde meu limite poderia permitir. Enfim, reconheço que sou totalmente dependente Dele e não há nada que eu possa fazer.
E o mais lindo de tudo isso é que Deus respeita nosso silêncio, Ele nos dá tempo, Ele compreende o momento que estamos passando.
Nos últimos dias tenho refletido bastante a respeito do silêncio e tenho reconhecido que nele há algo bastante valioso. Salomão em toda a sua sabedoria afirma que há um tempo para todas as coisas, inclusive há o tempo de se calar. Creio que há grande importância de vivermos vez por outra esse tempo.
O silêncio é uma oportunidade de ouvir o que se passa do lado de dentro, compreendermos, ouvir-nos, saber quem somos. E mais importante, o silêncio permite um encontro a sós com Deus, e possibilita que Ele nos fale sem nenhuma interferência.
Portanto, que possamos aprender a desfrutar do tempo de calar. Que o silêncio seja lição para a vida quando nada mais for suficiente e seja a oportunidade de encontrar a presença de Deus.
Que aprendamos a cada dia a discernir os tempos e as estações que a vida nos oferece.
Deus nos abençoe!