domingo, 18 de março de 2012

Que glória desfrutaremos no Céu? - Jonathan Edwards (1703-1758)

Os santos no céu têm comunhão com Cristo na sua glória e bemaventurança no céu nos seguintes aspectos: 1. Os santos no céu participam com Ele das delícias inefáveis que Ele tem no céu no prazer do seu Pai. Quando Cristo ascendeu ao céu, Ele foi recebido a uma bemaventurança peculiar no prazer do Pai que, na paixão, escondeu-se da face de Jesus; este prazer tornou-se relação na qual Ele estava com o Pai; e era uma recompensa satisfatória pelo grande e difícil serviço que Ele executara na terra. Então Deus lhe mostrou o caminho da vida, e o trouxe à sua presença, onde há abundância de alegrias, para se assentar à sua mão direita, onde há prazeres eternamente, como está escrito acerca de Cristo (veja SI 16.11). Então o Pai o fez o mais abençoado para sempre; Ele o fez muitíssimo contente com o seu semblante. Os santos pela união com Cristo participam da relação filial dEle com o Pai e são herdeiros com Ele da felicidade no prazer do Pai, como parece estar insinuado pelo apóstolo e pelo salmista: "Eles se fartarão da gordura da tua casa, e os farás beber da corrente das tuas delícias; porque em ti está o manancial da vida; na tua luz veremos a luz" (SI 36.8,9). Os santos terão prazer participando com Cristo em seu prazer e verão luz na sua luz. Eles participarão com Cristo do mesmo rio de prazer, beberão da água da vida e do mesmo vinho novo no Reino do Pai. Esse vinho novo é especialmente aquela alegria e felicidade que Cristo e os verdadeiros discípulos participarão juntos na glória; que é a compra do sangue de Cristo ou a recompensa da sua obediência até a morte. Cristo, em sua ascensão ao céu, recebeu prazeres perpétuos à mão direita do Pai no prazer do amor do Pai como recompensa da sua obediência até a morte. Mas a mesma retidão é considerada tanto para a Cabeça quanto para os membros: e ambos terão comunhão na mesma recompensa, cada um de acordo com sua capacidade distinta. Os santos, no céu, participaram com Cristo do seu prazer com o Pai. Este fato manifesta a excelência transcendente da felicidade deles e a realidade de eles serem admitidos a um privilégio imensamente mais elevado em glória do que os anjos. 2. Os santos no céu participam com Cristo da glória daquele domínio ao qual o Pai o exaltou. Os santos, quando ascendem ao céu e são levados a se sentarem junto com Cristo nas regiões celestiais, são exaltados para reinar com Ele. Por meio dEle são feitos reis e sacerdotes, e reinam com Ele e nEle sobre o mesmo Reino. Como o Pai lhe designou um Reino. assim Ele o designou para eles. O Pai designou o Filho para reinar sobre seu próprio Reino, e o Filho designa seus santos para reinar no seu. Os santos no céu estão com os anjos, os ministros do Rei, por quem Ele administra os assuntos do Reino e que estão subindo e descendo continuamente do céu à terra e são empregados dia-a-dia como espíritos ministradores a cada membro individual da Igreja; ao lado da ininterrupta subida de almas dos santos que morrem de todas as partes da Igreja militante. Então os santos têm vantagem muito maior de verem o estado do Reino de Cristo e as obras da nova criação, do que tinham quando estavam neste mundo, como alguém que sobe ao topo de uma alta montanha tem maior vantagem de ver a face da terra neste mundo, do que tinha quando estava num vale profundo ou numa floresta espessa, cercado por todos os lados com as coisas que impedem e limitam a visão. Outrossim os santos não vêem tudo como espectadores indiferentes ou desinteressados mais que o próprio Cristo é um espectador desinteressado. A felicidade dos santos no céu consiste, em grande parte, cm ver a glória de Deus que aparece na obra da Redenção, pois é principalmente por isso que Deus manifesta sua glória, a glória da sua sabedoria, santidade, graça e outras perfeições, aos santos e anjos, conforme é evidente por muitas escrituras. Por conseguinte, não há que duvidar que muito da felicidade deles consiste em ver o progresso desta obra em sua aplicação, sucesso e os passos pelos quais o poder e sabedoria infinitos os levam à sua meta. Eles estão com vantagens indescritivelmente maiores de desfrutarem o progresso desta obra do que nós, visto que eles estão em maiores vantagens de ver e entender os passos maravilhosos que a sabedoria divina dá em tudo o que é feito e o fim glorioso que Ele obtém; bem como a oposição que Satanás faz e como ele é confundido e vencido. Eles vêem melhor a conexão de um evento com outro e a ordem de todas as coisas que sucedem na Igreja, em épocas diferentes, que nos parecem confusas. Não apenas vêem estas coisas e regozijam-se nelas como visão gloriosa e bela, mas o fazem como pessoas interessadas, assim como Cristo está interessado, possuindo estas coisas em Cristo e reinando com Ele no seu Reino. O sucesso de Cristo na sua obra de redenção, em trazer as almas para si mesmo, aplicando os benefícios salvadores pelo seu Espírito e o avanço do Reino de graça no mundo, é a recompensa prometida a Ele pelo Pai no concerto de redenção, pelo serviço duro e difícil que Ele executou quando na forma de servo. Mas os santos participarão com Ele da alegria desta recompensa, pois esta obediência, que é recompensada dessa forma, lhes é computada, visto que são seus membros. Assim Abraão desfruta estas coisas quando acontecem, as quais lhe foram há muito prometidas, vistas por ele de antemão e nas quais se regozijou. Ele desfrutará o cumprimento da promessa de que todas as famílias da terra serão abençoadas na sua semente, quando esta for completa. Todos os antigos patriarcas que morreram crendo nas promessas das coisas gloriosas a serem cumpridas neste mundo, que não tinham recebido as promessas, mas as vislumbravam, foram persuadidos por elas e as abraçaram, desfrutam-nas de fato quando são cumpridas. Davi contemplou e desfrutou o cumprimento dessa promessa em seu devido tempo, que lhe fora feita muitas centenas de anos antes e era toda a sua salvação e todo o seu desejo. Assim Daniel se levantará em sua sorte no fim dos dias apontados por sua própria profecia. Assim os santos de outrora que morreram na fé, sem terem recebido a promessa, são aperfeiçoados e têm a fé coroada pelas coisas melhores realizadas nestes últimos dias do Evangelho, que eles vêem e desfrutam em seus dias. 3. Os santos no céu têm comunhão com Cristo no serviço bem-aventurado e eterno de glorificar o Pai. Quando Cristo instituiu a Ceia do Senhor e comeu e bebeu com os discípulos à mesa, dando-lhes nesse particular uma representação e penhor do futuro banquete com Ele e da bebida do novo vinho no Reino do Pai celeste, nesse momento Ele os conduziu em seus louvores a Deus no hino que cantaram. Não há que duvidar que da mesma forma Ele conduz os discípulos glorificados ao céu. Davi, como o amado salmista de Israel, conduziu a grande congregação do povo de Deus nos cânticos de louvor. Nisto, como em outras coisas inumeráveis, ele tipifica a Cristo, freqüentemente mencionado na Escritura pelo nome de Davi. Muitos dos salmos que Davi escreveu eram cânticos de louvor que ele, pelo espírito de profecia, proferiu em nome de Cristo, como Cabeça da Igreja e conduzindo os santos nos louvores. Cristo no céu conduz a assembléia gloriosa nos louvores a Deus como Moisés conduziu a congregação de Israel pelo mar Vermelho, o que está implícito nas palavras: "Eles cantam o cântico de Moisés e o cântico do Cordeiro". João nos fala que ouviu uma voz sair do trono dizendo: "Louvai o nosso Deus, vós, todos os seus servos, e vós que o temeis, tanto pequenos como grandes" (Ap 19.5). Quem proferiu esta voz que saiu do trono, senão "o Cordeiro que está no meio do trono" conclamando a assembléia gloriosa dos santos a louvar o seu Pai e Pai deles, o seu Deus e Deus deles? Qual seja a conseqüência desta voz, ficamos sabendo nas seguintes palavras: "E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões, que dizia: Aleluia! Pois já o Senhor, Deus Todo-poderoso, reina" (Ap 19.6).