segunda-feira, 1 de agosto de 2011

História do Gongregacionalismo Brasileiro - por Pr. Miranda

ELE ERA CONGREGACIONAL!

Porto Filho é lembrado pela comunidade de Campo Grande vinte anos após sua morte

Em 1931, um carioca de 23 anos, nascido em Pedra de Guaratiba, abandonou pela metade o curso que fazia na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, na Praia Vermelha. Nunca se soube ao certo por que “Manoel da Silveira Porto Filho” desistiu da carreira médica. Mas, graças a este estranho desfecho, a igreja evangélica brasileira ganhou um líder de projeção nacional dentro e fora da Igreja Evangélica Congregacional do Brasil. 

Vocacionado para o ministério, Porto Filho cursou o Seminário Batista do Sul do Brasil e foi ordenado pastor congregacional no final de 1937. Além de pastorear por 47 anos a igreja de Campo Grande, no Rio, Porto Filho foi presidente da União das Igrejas Evangélicas Congregacionais e Cristãs do Brasil e da extinta Confederação Evangélica do Brasil por mais de um mandato. 

Como poeta e um apaixonado pela hinologia, Porto Filho participou ativamente da comissão revisora do “Salmos e Hinos”, o mais antigo hinário evangélico brasileiro, e escreveu, traduziu ou metrificou vários hinos, entre eles “Grata memória”, “Rocha eterna”, “Na manjedoura”, “Espera em Deus” e “Vós, criaturas de Deus Pai”. 

O ex-acadêmico de medicina não era um crente isolado da sociedade nem da realidade. Exercia um ministério holístico. Foi professor de latim e português no Colégio Belisário dos Santos, fundador e presidente da Associação Campograndense de Assistência ao Menor e conselheiro da antiga FUNABEM. Foi um dos fundadores do Lions Clube de Campo Grande, do Instituto Campograndense de Cultura e da Sociedade Universitária Campograndense, hoje Fundação Educacional Unificada Campograndense, e participou da Academia de Letras, Ciências e Artes de Itaboraí e da Fraternidade Teológica Latino-Americana. Deu também a sua contribuição na formação de pastores, como um dos fundadores do Instituto Bíblico de Pedra de Guaratiba, RJ, como professor de geografia bíblica, Novo Testamento e teologia e como diretor de extensão do Seminário Unido de Campo Grande, hoje Seminário Teológico do Oeste. 

Apesar de sua inteira dedicação ao Senhor, Porto Filho não foi poupado de algumas tragédias familiares. No dia 29 de agosto de 1963, sua filha Norma, de apenas 22 anos, mãe de um menino de 1 ano e 2 meses e de outro de 4 meses, foi assassinada a sangue frio pelo próprio marido, quatro anos mais jovem que ela. Depois de passar a noite em claro, antes do alvorecer do novo dia, a bagagem religiosa que Porto Filho trazia no coração e na mente despontou fortemente a ponto de ele poder escrever mais um hino. 

No dia 1° de junho de 2008, quando Manoel da Silveira Porto Filho completaria 100 anos (ele morreu aos 80), a Igreja Evangélica Congregacional Campograndense promoveu uma semana inteira de eventos em gratidão a Deus pela vida de seu ex-pastor! 


Nota 
1. “Manoel da Silveira Porto Filho — poeta, pastor e mestre”, de M. Bernardino 
Filho (Editora União das Igrejas Evangélicas, 2006).




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WILLIAM B.FORSYTH: UM CONGREGACIONAL CALVINISTA

Permitam-me compartilhar um dado interessante:

Por volta dos anos de 1930, um missionário congregacional escocês chamado William Forsyth realizou um trabalho evangelístico na região do Agreste Pernambucano, na região do sítio Porteiras, zona rural de Santa Cruz do Capibaribe, construiu a primeira Igreja Evangélica da cidade, a Igreja Evangélica Congregacional próximo a vila de Poço Fundo. Tive acesso a alguns documentos dessa igreja e registros de Forsyth. Cheguei a visitar as ruínas dessa igreja histórica, ela está num terreno abandonado, cheio de mato, já sem teto, sem portas e janelas. Hoje alguns congregacionais da região querem junto a prefeitura criar nesse local um museu da 1a igreja evangelica dessa região.
Na oportunidade que tive de conhecer um pouco da história dessa igreja algumas coisas me chamaram a atenção. Alguns bancos de madeira, o púlpito e outros objetos foram preservados  por algumas pessoas da antiga igreja em suas casas. Nas ruínas da igreja ainda dá para perceber a mancha na parede provocada pela fumaça do candeeiro que ficava ao lado do púlpito. Imaginei Forsyth pregando ali durante a noite. Um dado dos mais importantes, por isso escrevo este post, é que Forsyth era um missionário de linha calvinista e ensinava as antigas doutrinas da graça naquela região. Um dos registros é que após uma grande temporada no campo missionário nos povoados do Agreste pernambucano, o missionário recebeu uma visita de um tipo de Conselheiro de Missões que ao ver um povo tão simples e analfabeto sendo doutrinado pelas doutrinas da graça estranhou que tal congregação compreendesse os ensinamentos e sugeriu que Forsyth não ensinasse doutrinas mais profundas como eleição, predestinação e graça soberana. Prontamente Forsyth rebateu e disse que continuaria a pregar toda verdade. -- Acho essa história comovente. – Com certeza ele tinha a confiança na obra de ensino do Espírito Santo nos eleitos.
Algumas observações: Por volta de 1930 o Agreste pernambucano era uma região mais castigada por falta de infraestrutura. A região ainda hoje é difícil de se morar com seu clima semi-árido, solo seco e rachado, presença da caatinga e muito calor. No início dos anos 30 do século passado é registrado um período de grande seca. Um dos registros de Forsyte é que ao fazer missões na região levava apenas o alimento suficiente para uma viagem a cavalo, não levava suprimentos além de uma viagem, pois não queria chegar numa casa estando abastado quando encontrava famílias sem nenhum alimento em seus lares. Muitas vezes, Forsyth e sua esposa, ao evangelizar uma família participavam de “refeições” nessas casas à base de farinha de palma e água barrenta. Conta o missionário que à mesa com esse povo sofrido orava ao Senhor agradecendo o alimento e suas lágrimas se misturavam a farinha no prato.
Ele foi um missionário que realmente chamava o perdido em lugares distantes. Ensinou doutrinas profundas e amou as doutrinas da graça.
Forsyth, um congregacional, foi também cooperador junto aos presbiterianos do começo do século XX. Cooperou com o Seminário do Norte e tinha uma boa comunhão com os missionários de Princenton. Teve boa amizade com o Pr. Samuel Falcão, ferrenho defensor da predestinação. Até hoje o livro “Escolhidos por Cristo” de Samuel Falcão é uma referência da Editora Cultura Cristã, o antigo título era: “Predestinação”. Acho que mudaram para não chocar! Novos tempos!
Ainda nos anos 30 Forsyth foi residir na cidade do Recife. Uma das histórias que se conta  é que Samuel Falcão e Willian Forsyth trocavam de púlpito em recife, ocasionalmente, devido a amizade e confiança. Ouvi essa história na primeira igreja congregacional em Recife. Alguém pode confirmar isso? – Com certeza posso afirmar que eles eram contemporâneos e próximos geografica e teologicamente.
Bom, é isso!



NOTA: ARTIGO ENVIADO POR RANIERE MENEZES PARA O FORUM MONERGISMO.COM