A Igreja Visível, que também é católica ou universal sob o Evangelho (não sendo restrita a uma nação, como antes sob a Lei) consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos; é o Reino do Senhor Jesus, a casa e família de Deus, fora da qual não há possibilidade ordinária de salvação (XXV.II)
A confissão reformada diz que fora da igreja visível não há salvação, será que todos quantos estão desigrejados estão perdidos? A CFW não está dizendo que todos quantos, por algum motivo válido, estão sem congregar não estão salvos. Mas que não é habitual (ordinário) haver salvação fora da Igreja.
De uns tempos para cá algumas pessoas saíram de suas igrejas e começaram a congregar em seus lares. Não direi que é pecado a igreja iniciar os seus trabalhos nos lares, mas sim quando essas pessoas saíram de suas congregações e passaram a se reunir em lares sem um governo. Pois, cremos que para administrar os sacramentos devem ser pastores legalmente ordenados, como descrevem as confissões reformadas (CFW: XXVII.IV e Confissão de Fé Batista de Londres de 1689: XXVIII. II).
Mas no atual cenário dos desigrejados, o que vemos é a insubmissão aos lideres de suas igrejas e com algumas desculpas que não convém, por exemplo: Na igreja só há hipócritas, na igreja há injustiças, na igreja há erros e etc. Bom, infelizmente pecadores sempre haverão de compor a Igreja. Em Atos dos Apóstolos vemos uma má distribuição de benefícios às viúvas judias e gregas (At 6), onde as judias eram mais beneficiadas do que as gregas e vemos dois missionários entrando em conflito, Paulo e Barnabé (At 15.37-39). Portanto, a corrupção sempre haverá na igreja até Cristo voltar. A questão que envolve é “como resolvem o problema”. A Bíblia não mostra em lugar nenhum algum exemplo de “desigrejamento”, mas mostra que devemos lutar pela pureza da igreja identificando os hereges e admoestando-os (2Tm 2.25).
Alguns falam que no Novo testamento o local de congregar era em lares, ou seja, não houve nenhum outro lugar em que os membros se reuniam. É bem verdade, mas as igrejas que estavam em suas cidades, como mostra o caso de Priscila e Aquila, que possivelmente a Igreja de Éfeso era em sua casa (1Co 16.19; cf. At 18.19), eram fixas. A segunda questão a analisar é o modo que Tiago se dirige a igreja:
“Porque, se entrar na vossa sinagoga algum homem com anel de ouro no dedo e com traje esplêndido, e entrar também algum pobre com traje sórdido.” (Tiago 2.2).
Tiago, criticando o modo que alguns da igreja se comportavam fazendo acepção de pessoas, usa o termo sinagoga para se dirigir ao local que aqueles irmãos se reuniam. Veja que o autor do texto toma o sentido judaico de igreja para aplicar à igreja aonde é direcionada a carta. A palavra "sinagoga" tem como sentido construções, onde aquelas assembleias judaicas solenes eram organizadas. Ou seja, percebe-se que antes mesmo das perseguições se concretizarem, possivelmente já havia um lugar de reunião como descreve Tiago, irmão do Senhor. Em Hebreus 10.25 o autor usa o termocongregação[5] para se referir ao local onde os cristãos se reuniam.
3. A comunhão dos santos
A comunhão dos santos, segundo descreve a Confissão de Fé de Westminster (cap. XXVI), mostra que aquele que tem comunhão com Cristo tem comunhão com seus irmãos. Mas que essa comunhão não o torna o individuo divino como o Senhor Jesus.
A união com Cristo teve seu inicio com o próprio Cristo, o qual se fez carne, morreu em uma cruz, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia. Tal obra de salvação feita por Cristo foi para que tenhamos paz com Deus e tenhamos comunhão com ele mesmo. Pois, outrora estávamos unidos a Adão, por sua representação federal sob a aliança das obras, sendo essa a nossa comum natureza antes do nosso resgate, feita pelo ultimo Adão, a saber, Jesus Cristo (1Co 15.45; cf. Rm 5.12-19) o cabeça da nova humanidade.
3.1. A natureza desta união
Como foi dito acima, tal união só pode ser obtida porque Cristo resgatou o seu povo para essa comunhão. E por isso rejeitamos a ideia de que Cristo morreu efetivamente por toda a humanidade, pois tal comunhão só pode ser feita com aqueles que foram dados a Cristo, como esses textos nos provam:
“Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.” (Jo 17.9)
“Porei nele a minha confiança. E outra vez: Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu. E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão.” (Hb 2.13-15)
Estávamos sujeitos à morte eterna, mas Cristo nos resgatou nos abençoando em Cristo com “toda sorte de bênçãos espirituais” (Ef 1.3). E, como consequência, nós:
• Somos inseridos no Corpo de Cristo, onde que essa união é de Cristo com os crentes e dos crentes com os próprios crentes (Jo 15.5; 1Co 6.15-19; Ef 1.22,23; 4.15,16; 5.29,30);
• Temos uma união vital, a qual, por intermédio de Cristo, temos uma vida (Rm 8.10) que nos conduz rumo a Deus;
• Temos uma união mediada pelo Espírito Santo, pois é por intermédio do Espírito Santo que temos comunhão com Cristo (1Co 6.17; 12.13; 2Co 3.17,18; Gl 3.2,3);
• Uma união transformadora, pois a união com Cristo nos faz com que a cada dia sejamos mais à imagem de Cristo (Rm 8.29), segundo a nossa natureza humana.
3.2. O reflexo desta união
A Confissão de Fé de Westminster, diz:
Os santos são, pela sua profissão, obrigados a manter uma santa sociedade e comunhão no culto de Deus e na observância de outros serviços espirituais, que tendam à sua mútua edificação, bem como a socorrer uns aos outros em coisas materiais, segundo as suas respectivas necessidades e meios; esta comunhão, conforme Deus oferecer a ocasião, deve estender-se a todos aqueles que em qualquer lugar invoquem o nome do Senhor Jesus (CFW XXVI.II)
O reflexo desta união, segundo a Confissão, por ordem lógica, a nossa comunhão com Cristo deve ser refletida na sociedade, no cuidado da comunidade cristã. Sendo assim, por intermédio desta união com Cristo, o regenerado, o qual possui o Espírito, a mente, a semelhança e imagem de Cristo; isso deve ser refletida em suas atitudes (Rm 8.9; Fp 2.5; 1Jo 3.2).
Berkhof, diz sobre a união com Cristo e a união com a comunidade:
A união dos crentes com Cristo fornece a base para a unidade espiritual de todos os crentes, e, consequentemente, para a comunhão dos santos. Eles são animados pelo mesmo espírito, ficam cheio do mesmo amor, permanecem na mesma fé, empenham-se na mesma luta, e estão ligados pelo mesmo objetivo. Juntos estão interessados nas coisas de Cristo.[6]
Sendo assim, a Igreja tem a responsabilidade de fazer Cristo aparecer em sua vida, cuidando dos necessitados da igreja, necessidade essa que não é só material, mas espiritual também. A igreja, como uma comunidade que tem comunhão com Cristo, é uma comunidade auxiliadora.
Pois o que fazemos aos nossos irmãos, fazemos a Cristo:
“Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” (Mt 25.34-40)
Willian Hendriksen, comentando a passagem diz:
Aqui se revela a mais estreita conexão entre Cristo e seus genuínos seguidores [...]. Tudo o que se faz em prol dos discípulos de Cristo, por amor a ele, é considerado como feito a ele.[7]