quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Qual a magia da virada de ano?




Como eu gosto de escrever com base em textos bíblicos estou meio que sem inspiração para escrever sobre o ano novo. Onde nas Escrituras eu poderia encontrar uma passagem, uma narrativa, um salmo ou qualquer outra referência que me desse o apoio para escrever que a passagem de um ano para o outro representa um novo começo, uma vida nova, a hora de tomar resoluções, uma espécie de momento mágico de virada onde as coisas que deram errado em 2014 ficaram para trás e tudo se faz novo em 2015?
Eu sei que não preciso de um versículo explícito sobre um assunto para poder falar dele biblicamente, se tão somente eu puder derivar de vários textos o conceito em foco. Mas mesmo assim continuo com problemas. Não encontro no Antigo Testamento nenhuma referência de que a mudança de um ano para o outro tivesse qualquer significado meio que miraculoso. Ao que parece, os judeus marcavam a passagem de um ano para o outro (que acontecia no primeiro dia do sétimo mês, aparentemente) com uma convocação ao som de trombetas para uma reunião solene, onde eram oferecidos sacrifícios ao Senhor (cf. Lev 23:23-25; Num 29:1-6). 
Existe muita polêmica entre os estudiosos sobre o Ano Novo judaico, quanto à data e à maneira como era celebrado. A razão principal é a falta de maiores informações sobre o evento, diante da enorme quantidade de informações sobre as festas religiosas como Páscoa e Pentecostes, o que mostra que a festa de Ano Novo não era tão importante assim. De qualquer forma, o Ano Novo era celebrado em Israel como um memorial ao Senhor, com direito a sacrifícios e convocação com trombetas. Não encontro nada que diga que os israelitas prometiam que naquela convocação fariam no novo ano aquilo que não fizeram no ano findo. Na verdade, o que encontro é que os israelitas tinham que amar a Deus e fazer a vontade dele o ano todo, cada ano de suas vidas. A celebração era provavelmente de gratidão a Deus.
No Novo Testamento não encontramos absolutamente nenhum sinal de que os cristãos celebravam a passagem de ano. Mas, tem uma reclamação de Paulo de que os crentes da Galácia, seguindo costumes judaicos, estavam guardando “dias, e meses, e tempos, e anos” (Gal 4:10).
Posso entender os cultos e festividades do Ano Novo como expressões culturais dos cristãos que aproveitam a oportunidade para fazer um balanço espiritual de suas vidas e igrejas no ano findo e propósitos e alvos para o ano que chega. Mas sempre fica a pergunta: se eu não estou andando com Deus em 2014, devo esperar a virada do ano para prometer fazer em 2015 aquilo que não fiz o ano todo? O que a Bíblia me diz é que “hoje” é o dia da salvação e que “agora” é o tempo de arrependimento e retorno a Deus, e que devo buscar ao Senhor “enquanto” eu posso achá-lo (Isa 55:6; 2Cor 6:2; Heb 3:13). 
Uma das primeiras das 95 teses de Lutero foi que o arrependimento (penitência) é um estado de espírito constante no cristão e não uma mortificação pontual feita no confessionário ou na hora da missa – ou na virada do ano, se posso acrescentar uma palhinha...
Apesar de tudo, podemos aproveitar o momento cultural de maneira positiva, para render graças a Deus pelas bênçãos derramadas no ano findo. E pedir que Ele nos abençoe no ano que se inicia. Aqui vai minha sugestão de uma oração a ser feita na virada do ano: 
“Senhor, te dou graças por todas as bênçãos recebidas em 2014. Peço perdão de todo coração por todas as coisas erradas que fiz e pelas certas que deixei de fazer neste ano que finda [talvez aqui fosse bom fazer uma lista para deixar claro que não é só conversa]. Suplico a tua graça e misericórdia para que eu possa andar nos teus caminhos em 2015, para que eu possa me arrepender e me corrigir imediatamente após meus erros, e para que eu não fique achando desculpas e adiando aquilo que eu sei que devo fazer, de maneira que na virada p

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Sobre a participação do Thalles no The Noite


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Não é de hoje que alguns ícones cristãos participam dos talk shows. E dificilmente vi algum expoente do evangelicalismo moderno se sair bem.

O maior problema destas participações são os temas tratados os quais afrontam o convidado, sem que ele de fato perceba. Por exemplo, quando o pastor Silas Malafaia participou do programa The Noite, Roger, guitarrista e vocalista da banda do programa, tocou a música Money como forma de satirizar a doutrina da prosperidade enfatizada pelo pastor. No dia em que o Thalles Roberto participou do mesmo programa não foi diferente (veja aqui), Danilo aproveitou a deixa para falar sobre religião, enquanto Thalles falou sobre a Trindade, negação de Deus na religião e sobre a sua conversão. Está certo isso?

Thalles começa explicando sobre a Trindade com a famosa frase “a minha vida é dos três”. Está certo isso? O cristianismo ortodoxo, o qual confessamos, reformado, não nega a doutrina da Trindade. Aprendemos que há certo tipo de “economia da trindade”, economia não no sentido de que Deus se economiza como cortar custos para reduzir algo, mas no seu sentido de ação, de trabalho. Um exemplo claro é a obra de salvação, ela é caracterizada pela a ação da Trindade. Veja estes exemplos: 

               • Deus elege – Efésios 1.3-5
               • Cristo redime – Efésios 1.6-12
               • Espirito Santo sela  Efésios 1.13-14

Desta forma, mostra o apóstolo Pedro: Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.” (1Pe 1.2) Perceba qual a função de cada um na obra de salvação: Deus elege, o Espirito Santo santifica e Jesus Cristo asperge com seu sangue. Isso é o que podemos chamar de “economia da Trindade”, ou seja, as formas que cada um trabalha na salvação do pecador.

Agora, “a minha vida é dos três” está certo? Bom, vimos que a Trindade age ativamente na salvação do pecador e em cada aspecto da salvação. Creio que o maior problema dessa frase é a distorção que ela causa nos ouvidos de quem a escuta. Sabemos que a doutrina da Trindade é uma das mais debatidas no meio do cristianismo, começando pelos Pais da Igreja. Mas vamos olhar confessionalmente para um dos credos mais antigos sobre o tema, o Credo Atanasiano:

A fé católica consiste em adorar um só Deus em três Pessoas e três Pessoas em um só Deus. Sem confundir as Pessoas nem separar a substância. Porque uma só é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo. Mas uma só é a divindade do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, igual a glória é coeterna a majestade. Tal como é o Pai, tal é o Filho, tal é o Espírito Santo. O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado. O Pai é imenso, o Filho é imenso, o Espírito Santo é imenso. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno. E contudo não são três eternos, mas um só eterno. Assim como não são três incriados, nem três imensos, mas um só incriado e um só imenso. Da mesma maneira, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente. E contudo não são três onipotentes, mas um só onipotente. Assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. E contudo não são três deuses, mas um só Deus. Do mesmo modo, o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor. E contudo não são três senhores, mas um só Senhor. Porque, assim como a verdade cristã nos manda confessar que cada uma das Pessoas é Deus e Senhor, do mesmo modo a religião católica nos proíbe dizer que são três deuses ou senhores.

Veja, o credo Atanasiano trabalha de forma bem didática a Trindade, mostrando os trabalhos de cada Pessoa, contudo, não são três senhores. Então, se eu digo que a minha vida é dos três eu estou declarando que há três senhores sobre a minha vida. Sim, sabemos que o tema é complicado. Mas se não sabemos falar sobre o tema, devemos aprender calado, ler bons livros e ouvir bons pregadores e professores. 

Thalles, no programa, vai dizer que a religião é ruim, segundo as palavras do Danilo, ela já fez mal para muitas pessoas. Baseado nisso, Thalles diz que há a possibilidade de falar de Deus sem falar de religião. A primeira coisa que ele confunde é denominação com religião. Denominação é o nome dado a certa instituição ligado à alguma religião. Religião, segundo o termo latim é religar. Como cremos que Cristo como nosso mediador, cremos, pelo testemunho da Escritura (Antigo e Novo Testamento) que a religião cristã é a correta e que Cristo nos religa a Deus. Então, sim, temos uma religião que se chama cristianismo. 

Agora, talvez o que Thalles deveria ter em mente era a mesma coisa daqueles adesivos “mais Jesus Cristo, menos religião” que vemos por ai, mostrando que religião e Cristo não combinam. Quando Cristo atacava a religião de sua época, na verdade não era a religião em si, mas a religiosidade que havia. Baseada na Lei Cerimonial do Antigo testamento, Cristo cumpriu com tudo o que a religião pedia sem falar que era errado. Errado era a forma que os lideres religiosos de sua época conduzia a religião. Tiago, o apóstolo, vai condenar a religiosidade falsa baseado em palavras e morta nas obras. Por isso, ele diz: A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo (Tg 1.27). Tiago não condena a religião, mas a religiosidade.

Por fim, Thalles fala de sua conversão. Algumas pessoas que comentaram um artigo de um colega meu em sua fan page disseram que, em outros vídeos, Thalles afirmou que foi a igreja quando se converteu. Tomando por base a afirmação do próprio Thalles, ele disse que, doidão, foi comprar um livro com a intensão de que o conteúdo o trouxesse paz, acabou por comprar uma Bíblia, leu e se converteu. Bom, é assim que a Bíblia mostra a conversão? 

Primeiro, nós temos um caso na Bíblia que alguém estava lendo a Escritura, mas não entendia nada (Atos 8.26-38). Felipe, o diácono até então, se achega próximo ao carro do eunuco e lhe explica a passagem do profeta Isaias, porque o eunuco tinha lhe dito: Como poderei entender, se alguém não me explicar?” (v.31). O eunuco, segundo mostra o texto, não estava sob o efeito de drogas e não entendia o texto. Como alguém sob o efeito de drogas pode entender um texto bíblico sobre a obra de salvação por Cristo Jesus e ser salvo? Alguém poderá dizer: “Irmão isso é um ‘mixtério’, é uma obra sobrenatural do Espírito. Ninguém entende, há liberdade no Espírito”. Bom, não é assim que a Escritura mostra como algum pecador pode ser salvo. Paulo diz: De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus. (Rm 10.17), e também: depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; (Ef 1.13)

Veja que Paulo não diz que após a leitura bíblica, sob efeito de drogas ou não, eu serei iluminado e convertido. A Bíblia é clara em mostrar que o nosso entendimento, antes da conversão, era entenebrecido e distante de Deus (Ef 4.18). A pregação fiel da Escritura é o meio pelo qual Deus age com seu Espirito na vida do pecador para que o mesmo seja salvo de seus pecados, sendo transportado das trevas para a sua maravilhosa luz. 

Não estou dizendo que o Thalles não seja salvo, mas que essas explicações sobre Trindade, religião e conversão que ele apresentou no programa não se enquadra na Escritura. Oro para que ele seja iluminado por Deus e venha entender as doutrinas Bíblicas, as quais ele distorce.

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Fonte: Bereianos
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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Vivendo as consequências das nossas próprias escolhas



Você é daqueles que gostam de escolher? A vida é cheia de escolhas, não é mesmo? Escolhemos desde a roupa que iremos nos vestir até o curso que iremos fazer. Escolhemos nossos relacionamentos, nossas amizades, nosso cônjuge e etc... Enfim, os caminhos da vida são tomados por escolhas ... E o que você é hoje é consequência das escolhas que você fez no passado.  Estamos pertinho de adentrarmos em 2015, é logicamente já fizemos escolhas, planos. Mas, é preciso lembra que as nossas escolhas nos trará consequências benéficas ou maléficas. Você deve estar lembrado da pergunta retorica do profetas Jeremias: De que se queixa o homem? Queixe-se de suas más escolhas contraditórias a vontade de Deus. Sendo assim as escolhas que você fizer hoje te trará um crédito ou um débito. Creio que a melhor escolha é quando o Senhor aprova. Assim também é a Palavra de Deus para aquele que atenta: “Os céus e a terra tomo, hoje, ponho por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência. (Deuteronômio 30.19).
As Escrituras em muitos de seus textos relatam exemplos de escolhas que mudaram vidas e destinos. E através desses exemplos podemos também tirar algumas lições para as nossas próprias escolhas.

·         Lucas 9.57 - Um jovem escolheu seguir a Jesus para onde ele fosse.
·         Lucas 9.59 - Outro escolheu primeiro fazer o sepultamento de pai.
Jonathan Edwards em suas resoluções disse: Estudarei as Escrituras tão firme, constante e freqüentemente, que possa perceber com clareza que estou crescendo continuamente no conhecimento da Palavra.
“Escolhi o caminho da fidelidade e decidi-me pelos teus juízos. Aos teus testemunhos me apego; não permitas, Senhor, seja eu envergonhado”. Sl 119.30-31. Amados leitores, sigamos o conselho do salmista com toda fidelidade para podermos desfrutarmos de dias melhores.


domingo, 28 de dezembro de 2014

Quem é atraído pela cruz de Cristo?


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E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo.” - Jo 12:32
A extensão da expiação é um dos temas mais debatidos pelos interessados em teologia. Duas posições são defendidas fervorosamente, uma delas afirmando que Jesus morreu para tornar possível a salvação do mundo inteiro e outra que Jesus morreu para tornar certa a salvação dos eleitos somente. O texto acima geralmente é apresentado contra esta última posição, com a suposição de que todos significa todas as pessoas do mundo, sem exceção.
Consideremos, primeiro, quem está falando. O início do verso 30, Então, explicou Jesus, deixa claro que o eu e a mim mesmo do versículo se referem a Jesus. Os pronomes eu e mim são enfáticos, uma vez que a forma verbal indica o sujeito e torna dispensável o uso de pronomes. Certamente a intenção de Jesus é fazer um forte contraste entre a Sua pessoa e o príncipe deste mundo mencionado no verso anterior, e que seria expulso pela Sua morte.
Para saber com quem Jesus estava falando, precisamos recorrer ao contexto. Voltando para o versículo 20 lemos que “entre os que subiram para adorar durante a festa, havia alguns gregos; estes, pois, se dirigiram a Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e lhe rogaram: Senhor, queremos ver Jesus” (Jo 12.20–21, RA). É importante destacar que esses gregos eram gentios e não judeus helenistas, nascidos na Diáspora. E foi no momento que estes estrangeiros foram apresentados a Jesus por André e Filipe que Jesus se referiu à Sua morte e aos resultados dela. É fundamental ter em mente que o discurso de Jesus foi provocado pela presença dos gregos e dirigido a um auditório misto, composto por judeus e gentios.
Estando claro quem diz e para quem o faz, podemos nos concentrar no que é dito. Jesus faz duas afirmações envolvendo Sua pessoa e vamos considera-las separadamente. Primeiramente Ele diz “e Eu, quando for levantado da terra”. Ser “levantado” é uma referência à sua morte, como o narrador interpreta as palavras de Jesus: “Isto dizia, significando de que gênero de morte estava para morrer” (João 12.33, RA). A mesma linguagem é utilizada em Jo 3:14. É interessante que a voz do verbo levantar é passiva, o que indica que neste caso Jesus não realiza, mas sofre a ação descrita. Convém observar, também, que a palavra “quando” é um advérbio condicional, que indica que a ação seguinte depende do evento ou ação descritos, e por isso o sentido é de “e se, no caso de”.
A declaração de Jesus que está no centro da controvérsia é “atrairei todos a mim mesmo”. O verbo atrair está na voz ativa, significando que é Jesus quem toma a iniciativa e realiza a ação e no modo indicativo, que é utilizado quando quem fala descreve uma ação como sendo real, em oposição a algo que é apenas possível, contingente ou intencional. Compare com a declaração do verso anterior, em que Jesus diz “...agora o seu príncipe será expulso” (João 12.31, RA). O mesmo modo verbal é utilizado, logo dizer que Jesus apenas tentará atrair as pessoas para Si, sem a certeza de que isto ocorrerá de fato, implica reconhecer que Ele apenas tentará expulsar a Satanás, uma vez que as duas coisas, a expulsão de um e a atração de outros são expressas da mesma maneira, e como resultados da mesma ação: a morte de Jesus.
Além disso, quando considerado teologicamente, o termo atrair implica mais que meramente exercer influência moral. Não é como se o Senhor se tornasse atraente na cruz, o pecador olhando-O ali fosse até Ele. Jesus já havia dito que “ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6.44, RA), e a palavra traduzida por trazer e atrair é a mesma nos dois casos. O termo aponta tanto para o fato de que é Deus quem atrai como para a realidade de que o homem por si mesmo não pode ir a Cristo. Mais, indica que o homem resiste a esta atração divina, contudo o Senhor vence esta resistência em seus escolhidos. Em vários lugares encontramos indicações de que esta atração não é passiva, pelo contrário, é ativa e poderosa. Os autores bíblicos utilizam-se dela para descrever o puxar redes cheia de grandes peixes (João 21:6,11), o arrastar pessoas ao tribunal (Atos 16:19; Tg 2:6) e o sacar uma espada da bainha (João 18:10).
Mas se considerarmos que essa atração é tanto iniciativa de Deus quanto invencível, como evitar a conclusão de que todas as pessoas serão salvas, uma vez que Jesus diz que atrairá a todos? Chegamos ao cerne do problema. A saída fácil é ignorar o que foi dito até agora e fazer do Crucificado apenas atraente e não Aquele que por Sua morte efetivamente atrai aqueles por quem deu a vida e salva de fato. Nem sempre o caminho fácil e agradável é o correto a seguir.
Examinemos com atenção a expressão todos. Notemos, inicialmente, que “pessoas” ou “homens” não constam do original, como aparece em algumas traduções, e inclusive há quem sugira que o termo se refira a todas as coisas, tudo. Portanto, se a palavra todosfor tomada em sentido absoluto, forçosamente teremos que incluir os anjos caídos e os seres inferiores como objetos da atração de Cristo. Ou seja, algum tipo de limitação não expressa é admitida mesmo por universalistas.
O Novo Testamento apresenta diversos lugares em que a palavra todos não pode significar todos os indivíduos sem exceção.  Por exemplo, quando se diz que “ia ter com ele Jerusalém, e toda a Judéia, e toda a província adjacente ao Jordão” (Mt 3:5, RA) e “toda aquela cidade saiu ao encontro de Jesus” (Mt 8:34, RA), obviamente as cidades citadas não ficaram abandonadas enquanto cada homem, mulher e criança iam ver João Batista e Jesus. O mesmo quando lemos que “toda a cidade se ajuntou à porta” (Mc 1:33, RA). E quando Jesus diz que “todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores (Jo 10:8, RA) não pode significar, por exemplo, que Abraão, Jó e Daniel eram assaltantes. Por falar em Abraão, quando seu servo partiu “levando consigo de todos os bens dele” (Gn 24:10, RA), é claro que não deixou Abraão na miséria e a promessa de Joel, “derramarei o meu Espírito sobre toda a carne” (Jl 2:28, RA), não implica que cada indivíduo sobre a terra é batizado com o Espírito. Quando lemos que Jesus percorria a Judéia “curando todas as enfermidades” (Mt 4:23, RA) devemos lembrar que houve lugar em que “não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles” (Mateus 13.58, RA). Assim também, quando lemos que os discípulos “tendo partido, pregaram em toda parte” (Mc 16:20, RA), não devemos pensar que pregaram em todos os lugares do mundo, mas em toda parte a que foram. Em cada caso, o contexto nos esclarece quando todos significa todos sem exceção, a maior parte, todos os tipos e classes, etc.
Agora podemos voltar a falar do contexto em que a declaração de Jesus está inserida. Lembramos que o Seu discurso foi feito na presença e motivado pelos não judeus que queriam vê-lo. Portanto, o todos significa que não apenas judeus, mas também gentios seriam atraídos, ou seja, todos sem distinção e não todos sem exceção. Vemos isso de forma recorrente no quarto evangelho. A salvação não depende de laços familiares ou de raça (1:13; 8:31-59), Jesus é o Salvador não apenas dos judeus, mas também dos samaritanos e em consequência, do mundo (4:42), Ele tem outras ovelhas que não são do redil dos judeus, mas do mundo gentio (10:16), morrerá não só pela nação, mas para reunir num só os filhos de Deus que estão dispersos (11:51). Entendemos, então, que por todos o Senhor estava dizendo “não apenas os judeus, mas também os gentios”.
É o que também entende a maioria dos comentaristas e eruditos. Robertson diz que todos “não significa cada homem individual, pois alguns, como Simeão disse (Lc 2:34) são repelidos por Cristo”. Bartley diz que a expressão é uma “referência ao alcance universal do evangelho, que inclui os gentios”. Wiersbie afirma que Cristo menciona os gentios quando fala em ser 'levantado' na cruz. Em Mateus 10:5 e 15:24, Cristo ensinou seus discípulos a evitarem os gentios; todavia, agora ele diz que os gentios também serão salvos pela cruz. (...) Cristo tinha que ser levantado para que 'todos' (v. 32, judeus e gentios) fossem atraídos a Ele. Isso não significa todas as pessoas, sem exceção, mas todas as pessoas, independente da raça. Para Hernandez, todos significa “tanto gregos (ali presentes, v. 20) como judeus, como pessoas de todo povo e nação. Isto enfatiza a composição multinacional e racial do povo de Deus”. Lembrando que “um momento antes os gregos pediram para ver Jesus”, Hendriksen, diz que “Jesus promete atrair a todos os homens a si mesmo. Este todos os homens, neste contexto que coloca gregos junto aos judeus, deve significa homens de toda nação”, acrescentando que “estes gregos representam as nações – os eleitos de todas as nações – que chegariam a aceitar a Cristo com fé viva, através da graça soberana de Deus”. Matthew Henry também diz que “o grande desígnio do Senhor Jesus é atrair a si todos os homens, não só os judeus, mas também os gentios de toda raça, língua, nação e povo”. Luiz Palau também entende que “a cruz é como um ímã ao qual tanto judeus como gentios são atraídos”. Walvoord, interpretando o ser atraído como ser salvo, afirma que “aqueles que serão salvos não virão apenas dos judeus, mas também de toda tribo, língua, linhagem e nação (Ap 5:9)”. Cabal é firme ao declarar que “isto não é universalismo (salvar a todos), mas o evangelho é oferecido a todos sem distinção – atraindo pessoas de todos os tipos para Si mesmo”. Finalmente, para Dockery, todos significa “todas as pessoas sem distinção de sexo, raça, posição social ou nacionalidade”.
Concluindo, a interpretação de que Cristo atrai redentivamente todos os homens a si mesmo, a menos que se advogue o universalismo, impõe que a atração referida por Cristo seja meramente potencial, e não real. Longe de glorificar a Deus e exaltar a obra de Seu Filho na cruz, tal tentativa acaba por anular a eficácia intrínseca de Seu sacrifício, fazendo-a depender, ao final, da vontade do homem e não da intenção divina. 

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Fonte: Cinco Solas

sábado, 27 de dezembro de 2014

Escudo da Fé - Por Pr J Miranda


O escudo da fé citado pelo apóstolo Paulo em Efésios 6.16 é resultado da preparação do evangelho da paz mencionado no versículo 15. Você só conseguirá vencer os dardos inflamados do maligno se estiver bem preparado pela Palavra, ricamente cheio da Palavra da verdade. Foi com esse escudo que Jesus venceu o maligno no deserto durante os 40 dias e 40 noites de tentação. Todas as Suas respostas a Satanás foram antecedidas por um “ESTÁ ESCRITO”, mostrando o quanto Ele tinha a Palavra de Deus por fiel e verdadeira, firmando-se nela, e não cedendo às tentações do maligno. 
A Bíblia é a base de nossa fé. Nossas batalhas são vencidas à medida que crescemos em nossa confiança no Deus revelado nas Escrituras. É Ele, e somente Ele, poderoso para nos guardar e também a tudo que temos. Salmo 7.10 é claro: “o meu escudo é Deus, que salva os retos de coração”. Veja o que mais a Escritura Sagrada diz: “Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele” (Provérbios 30.5); “A nossa alma espera no SENHOR; ele é o nosso auxílio e o nosso escudo” (Salmo 33.20); “Tu és o meu refúgio e o meu escudo; espero na tua palavra” (Salmo 119.114); “O SENHOR é a minha força e o meu escudo; nele confiou o meu coração, e fui socorrido [...]” (Salmo 28.7).
O escudo da fé que funciona jamais foi ou será qualquer forma de símbolo ou adesivo colado nos vidros dos carros. Nossa confiança no Senhor é a única garantia de que seremos guardados de todo mal. Ele sim é nosso escudo, nossa defesa. Precisamos, definitivamente, vencer essa nossa necessidade de amuletos, de símbolos, e desapegar-nos das superstições que carregamos com a crença de que estas são bênçãos da graça de Deus para o Seu povo. Que o Senhor nos ajude a confiar em Sua Palavra, que é fiel; e em Seu caráter, que é imutável. Soli Deo Gloria.
***Fonte: Soli Deo Gloria

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Espíritos do Além na Igreja - Por Pr João de Souza


Não se assuste com o título deste artigo, mas é isto mesmo que quero dizer: Nas duas últimas décadas espíritos demoníacos invadiram a igreja; os “novos” demônios se imiscuíram sutilmente alterando o conteúdo das pregações e dando outra interpretação à mensagem do evangelho. Obviamente que alteraram o estilo de vida dos cristãos, a vida dos pastores, e trouxeram uma nova onda de falsos apóstolos que lideram os chamados “avivamentos” aqui e acolá.
Nunca em toda a história da igreja presenciamos momentos tão turbulentos como nos dias de hoje. A mensagem do evangelho vem sendo sutilmente adulterada, sendo aceita, especialmente pela igreja pentecostal, sem que teólogos e líderes tomem uma posição firme em defesa da fé cristã.
A partir do final do século XX e neste terceiro milênio, tem-se a impressão de que os demônios sofreram uma mutação, porque habilmente conseguem enganar o povo de Deus com manifestações de poder e milagres; alterando a vida de louvor e de adoração da igreja; levando o povo de Deus a práticas esotéricas e os novos cristãos a viverem um evangelho totalmente diferente do que foi pregado por Jesus e seus apóstolos. Esses “novos” demônios usam de uma tática poderosa. Valendo-se da necessidade de espiritualidade e da fome que as pessoas têm de Deus, conseguiram estabelecer na igreja cultos anjos, em que estes são mais invocados que o Nome de Jesus, usurpando o lugar de honra de Jesus Cristo na adoração cristã. A exaltação do Nome de Jesus deu lugar a manifestação de anjos – que em muitos casos não passam de espíritos enganadores.
O recente “avivamento” de Lakeland, na Flórida na figura de seu líder Todd Bentley acendeu a luz amarela no meu espírito. Durante cerca de cem dias multidões acorreram de todas as partes do mundo para participar das reuniões de milagres e de poder, em que anjos eram convocados, e o próprio Bentley declarou várias vezes que conversava com eles, especialmente o anjo feminino Emma e o de nome Ventos de Mudança (veja meus artigos e traduções a respeito no meu site). Líderes dos Estados Unidos como Rick Joyner, Peter Wagner, Bob Jones e outros apoiaram publicamente o “avivamento” – que faço questão de colocar entre “aspas” e consagraram o pregador ao ministério, numa celebração, que mais parecia uma coroação transmitida ao vivo pela televisão de Deus (God TV). Li os artigos de Rick Joyner defendendo o aviamento da Flórida em que o líder americano o elogiava e o apresentava como resposta de Deus a intercessão do povo de Deus (de sua congregação).
Vários profetas, entre eles Andrew Strom se levantaram para alertar a igreja de que se tratavam de manifestações de espíritos enganadores – e foram mal-entendidos. Depois que se ficou sabendo que havia um anjo de nome Emma na base do avivamento e dos profetas de Kansas City foi possível entender por que homens do calibre de Paul Caim – reconhecido profeta cuja história remonta ao tempo de Willian Branham – caíram em pecado e porque avivamentos como os de Toronto e de Pensacola chegaram tão rapidamente ao fim. “Avivamentos” em que anjos estão na base dos acontecimentos tendem a abrir espaço a que espíritos enganadores induzam as pessoas à prostituição espiritual, moral e física. O anjo feminino Emma causou um grande estrago no rebanho americano e quiçá do mundo.
Esses espíritos enganadores levaram o movimento carismático nos Estados Unidos e alguns movimentos apostólicos aqui no Brasil a penderam para o lado da mística excessiva – palavra e mística andam lado a lado – da teologia da prosperidade e desvirtuaram a mensagem do evangelho, pregando outro evangelho que não o de Jesus Cristo, e isto só pode ser fruto de espíritos enganadores.
Meu amigo Jonas Santana escreveu que os apóstolos da prosperidade e da riqueza – comuns hoje no mundo todo - são os descendentes de Judas, que pregam por amor ao dinheiro.
Judas era discípulo de Jesus e fazia parte dos Doze. Era o tesoureiro do ministério de Jesus, contado entre os Doze – comendo, viajando, dormindo e ouvindo as palavras de Jesus. Creio até que chegou a fazer sinais e prodígios ao ser enviado por Jesus. Em todos os aspectos era um discípulo ou apóstolo de Jesus, no entanto, havia em seu coração algo que ele nunca abandonou: o seu amor pelo dinheiro e riquezas. Anos depois Paulo afirmaria que “o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Tm 6.10).
Quando uma mulher derramou ungüento caro sobre os pés de Jesus, Judas manifestou seu desagrado, afirmando que aquele perfume poderia ter sido vendido e o dinheiro dado aos pobres. João fala da intenção de Judas: “Ora, ele disse isso não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão, e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava” (Jo 12.6).
Judas, mesmo vendo e ouvindo tudo o que Jesus fazia e dizia não teve sequer temor, e traiu a Jesus por 30 moedas de prata. Creio que os descendentes de Judas sobrevivem em nossos dias, liderando denominações e fazendo da casa de Deus covil de ladrões, tal qual afirmou Jesus: “A minha casa será chamada casa de oração. Mas vós a tendes convertido em covil de ladrões (Mt 21.13)”. 
Nota: O site do Pastor Jonas é: www.levandoapalavra.org
Aqui nas Américas, os chamados apóstolos e mesmo os que não se dizem apóstolos enriqueceram à custa do evangelho, e passaram a pregar uma mensagem sutilmente diferente da verdadeira mensagem de Cristo. Acompanhe-me no raciocínio e tenha a liberdade de discordar. Apenas analise comigo alguns itens que diferenciam os apóstolos de hoje dos apóstolos do Novo Testamento.
1. Um apelo exagerado aos simbolismos judaicos. Os novos apóstolos da prosperidade são muito inteligentes, porque conseguiram ressuscitar o judaísmo para os gentios que Paulo havia deixado para os judeus. A bandeira de Israel – a nação natural que persegue a Cristo – tremula nos púlpitos das igrejas. Uma tendência a desprezar nossos irmãos em Cristo, palestinos que vivem na faixa de Gaza, nos países árabes e em outros países não tão amigos de Israel. O Israel natural vem sendo confundido com o Israel espiritual. Falo sobre isto em meu artigo Análise da Igreja Brasileira e as Perspectivas Futuras.
2. Um apelo exagerado ao dinheiro e às ofertas. Mede-se um homem de Deus pela maneira como trata o dinheiro. Os novos apóstolos da prosperidade aprenderam técnicas de como levantar dinheiro do povo. Dois deles, brasileiros foram parar na cadeia nos Estados Unidos. Mas, muitos mereciam cadeia também. Vivem aqui no Brasil de maneira nababesca e em seus encontros conseguem levantar muito dinheiro para si mesmos. Assisti um deles que veio da América Central que falava da importância da prosperidade, pois todos em sua família tinham carro zero km – dos modernos – e ele presenteara a esposa com um anel cravejado de diamantes, e, naquela noite em que fui ouvi-lo pregar ele falou durante uma hora sobre a importância da semeadura, levantou dinheiro do povo, que foi diretamente para ele. Foi, então que percebi que o deus dele não é o mesmo Deus que eu sirvo, porque, com dificuldades consigo recursos para presentear a esposa com alguma coisa.
Você que é mais velho há de concordar comigo que fomos chamados para o ministério incentivados por pregadores que nos desafiavam a entregar nossa vida totalmente a Jesus! Sem reservas. Quantos de nós largamos tudo – emprego, faculdade – e para nos dedicarmos ao ministério. Passamos fome, frio, dormimos em bancos de igreja, em cima de mesas, comíamos o que os pobres comiam por amor ao evangelho.
Hoje os apóstolos da prosperidade quando falam para os jovens os incentivam a ficarem ricos, a serem homens e mulheres cheios de dinheiro – exatamente isto! Pregam na contramão do ensinamento bíblico do despojamento e da entrega total. Por que querem eles que a nova geração enriqueça? Antes o desafio era para largarmos tudo e irmos para o campo missionário; hoje os apóstolos nos consignam a enriquecer... Eis porque afirmo que um espírito alienígena travestido de santidade e cheio de luz entrou na igreja e alterou a mensagem do evangelho! Antes nos consagrávamos no “altar” em apelos fervorosos, hoje vamos ao “altar” consagrar as “ofertas” em nosso lugar. E alguém fica com tudo.
Antes, os pregadores apelavam para que ofertássemos o melhor, porque tinham um projeto: construção de um espaço maior para as reuniões, e nos contentávamos com lugares simples, asilos, orfanatos, e etc., mas os apóstolos da prosperidade tomam toda oferta e não se sabe o que farão com tanto dinheiro. Quando os ouço pregar sinto no ar o cheiro do espírito enganador, como fumaça de incenso oriental no ambiente da igreja! Um desses apóstolos incentivou os jovens a riqueza e testemunhou que estava residindo numa casa de oito suítes, que tinha uma camioneta Hylux zero km, etc. Eles apelam para o egoísmo, para a riqueza, para a prosperidade individual, enquanto os primeiros apóstolos nos consignavam a dar tudo para que prosseguissem na tarefa de começar novas igrejas em lugares pobres... E lá estão eles de helicóptero, em aviões particular à custa da oferta sacrificial dos irmãos.
Uma coisa é alguém ser rico porque trabalha oito horas por dia, porque tem grandes empresas, outra é ser rico à custa do evangelho e do dinheirinho do peão cortador de cana, do assalariado. Mas, esses tais apóstolos anunciam a “unção” da riqueza em que se recebe a graça e o poder de se tornar um milionário! Quanta diferença da mensagem apostólica de Jesus e de seus discípulos!
Paulo se contentava com pouco, chegando a dizer que tinha o suficiente para viver. Os novos apóstolos querem sempre mais; porque, quanto maior a riqueza, mais necessidade há de recursos para mantê-la.
3. Um apelo exagerado aos métodos e aos simbolismos proféticos. Os antigos pregadores – entre os quais me incluo – apenas orávamos pelos enfermos e impúnhamos as mãos sobre eles na autoridade do nome de Jesus, em obediência a Cristo. Os novos apóstolos usam de simbolismos proféticos. Um deles estava na conferência mergulhando uma espada no óleo e depois num vaso cheio de ouro (na realidade purpurina barata), e depois passava a espada pelo corpo da pessoa que era curada. Os simbolismos da Nova Era fazem parte do arsenal técnico de tais apóstolos. E assim, os novos apóstolos urinam nos cantos da cidade, ungem as ruas, praças e de helicópteros jogam azeite sobre cidades, enterram papéis com promessas bíblicas ao lado das rodovias... Vivem de atos proféticos. Sim! Atos proféticos são bíblicos, podem ser feitos, mas não podem se tornar uma prática comum. O Senhor não nos enviou a fazer atos proféticos, enviou-nos a pregar o evangelho, a curar os enfermos e a expulsar demônios! Os novos apóstolos sabem como impressionar seu auditório.
4. Enriquecimento ilícito. Finalmente, o enriquecimento ilícito. O Ministério Público Federal haverá de se tornar a vara de Deus contra esses que usam da graça divina para auferir lucros; a vara de Deus contra os que enriqueceram ilicitamente e nunca declaram ao Imposto de Renda seu ganho real!
Os novos apóstolos e profetas vêm ao Brasil para angariar dinheiro. Um deles, que foi muito usado por Deus no passado, e de quem já fui intérprete várias vezes vive hoje da glória do seu nome. Chega a gastar uma hora para levantar dinheiro, e deve levar muito dinheiro do Brasil e de outros países com o qual se mantém um ano inteiro! E continua a ser convidado para as grandes conferências pentecostais nesta nação! Outro, brasileiro, mais humilde pede apenas 15 mil reais por noite de pregação! A igreja pentecostal ajudou a criar e a nutrir os novos pregadores e os novos apóstolos. A própria igreja pentecostal pavimentou a estrada por onde andam os tais apóstolos.
Sabem ensinar com perfeição a lei da semeadura, e arrancam toda e qualquer “semente” – dinheiro e bens – que alguém tiver na carteira ou no Banco. Egoístas que são, recebem ofertas dos egoístas – sim, porque os que lhes dão ofertas fazem na esperança de que receberão muito mais, e provam que dão ofertas por egoísmo puro! Um apóstolo que ama o dinheiro consegue acender a paixão pela riqueza em crentes que também amam dinheiro. Uma dupla perfeita de egoístas! O cristão que dá sua substanciosa oferta na esperança de receber muito mais de Deus é tão egoísta quanto esses pregadores.
Assim, vejo os jovens se esforçando para se enriquecerem. No meu tempo nos esforçávamos por ser íntegros e puros e consagrávamos a vida a serviço do rei Jesus. A ganância ensinada pelos espíritos enganadores está formando um novo tipo de igreja, uma geração que vê o ministério como algo lucrativo financeiramente. Prosperidade material é a tônica de hoje. Prosperidade espiritual era a tônica dos dias apostólicos.
Sim, a partir da década de 90 espíritos enganadores entraram na igreja para enganar os escolhidos. Eles realizam curas, manifestam-se através de anjos e pode-se perceber que são enganadores porque deturpam a mensagem do evangelho e dão novo sentido aos ensinamentos dos apóstolos! É uma interpretação sutil das escrituras, de tão sutil que soa verdadeira. O Nome de Jesus já não é mencionado, mas a fé. Curado pela fé, dizem as manchetes; a fé, agora, substitui o Nome de Jesus. Sempre que alguém é curado pela fé, atribui-se a cura à sua fé ou a do pregador, diferentemente quando a ênfase é na autoridade do Nome de Jesus.
Alguns dos novos apóstolos profetizam sonhos como os profetas dos dias de Jeremias. Profetizam que alguém terá um cargo político, será senador, governador, presidente – e neste sentido vão novamente na contramão do evangelho de Jesus que falou que o seu reino não é deste mundo. Esses novos apóstolos e profetas empurram os jovens para o seio de Satanás – sim, porque a política, com raríssimas exceções é sórdida e corrupta, e corrompe o mais fiel cristão. Muitos deles quando estiverem no poder conseguirão sobrevirão abandonando os preceitos bíblicos estudando Maquiavel com profundidade. Seu livro de cabeceira passa a ser O Príncipe, e este livro não pode ficar na mesma cabeceira onde costumeiramente fica o exemplar da Bíblia.
Alguns amigos comentaram comigo que estão a ponto de acreditar que o anticristo virá através da igreja neopentecostal; que os novos crentes correrão atrás de milagres, de experiências, de ensinamentos que lhes dão coceiras nos ouvidos, porque esta é a tônica do anticristo. Ele enganará a muitos com milagres e manifestações de poder – enganando, se possível, os escolhidos. As igrejas neopentecostais estão repletas de pessoas que buscam satisfação pessoal, prosperidade e bênçãos! E o diabo sabe explorar essa ambição dos cristãos. E se utiliza dos apóstolos – sim, falsos apóstolos – que não serviriam pra ser diáconos na igreja primitiva!
E vou mais além. Deus está permitindo que a igreja seja entregue a todo tipo de engano, porque ele precisa aprovar os fiéis e santos. Deixe-me dizer algo mais: Deus está entregando a igreja nas mãos dos exploradores, e dos falsos apóstolos! Como nos dias de Isaías, Deus está desviando o povo dos seus caminhos como forma de castigo! “Ó Senhor, por que nos fazes desviar dos teus caminhos? Por que endureces o nosso coração, para que te não temamos?” (Is 63.17).
Que Deus tenha misericórdia de nós, e que sejamos como a igreja de Éfeso que colocou a prova os novos apóstolos e viu que eram falsos! Temos de colocar à prova “os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são” e descobriremos que são mentirosos (Ap 2.2).

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O Natal é de Jesus


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1. Há aqueles que duvidam da legitimidade dessas festividades porque, possivelmente, o mês do nascimento de Jesus não poderia ser considerando o mês de Dezembro em nosso calendário. Duvidam, inclusive, da necessidade de comemorar essa data para a fé cristã;
2. Outros rejeitam veementemente o Natal representado por um simbolismo que, em geral, combina a figura da criança divina com as conhecidas “árvores de Natal”, presentes, velas, guirlandas, neves, ursos polares, sinos, e até com a figura do “Papai Noel”;
3. Também, há aqueles que são simplesmente indiferentes por assumirem que essas festividades fazem parte de um grande esquema comercial alimentado pelo consumismo e pela ignorância quanto ao significado do natal de Jesus, o qual independe de festas e compras;
4. Pelo fato do Natal ser uma data comemorativa essencialmente cristã, muitos simplesmente a ignora por pertencerem à outras religiões, por serem ateus ou mesmo agnósticos; 
5. Mas há ainda um grupo de pessoas que encara o Natal apenas como uma grande oportunidade para reunir a família e se fartar de alimentos preparados especialmente para a ocasião. Nesse sentido, pensa ser necessária a exigência meramente ocasional de cobrir as mágoas familiares, as infidelidades conjugais, a omissão da responsabilidade na educação dos filhos, etc, para que o Natal encontre o seu significado em tal reunião. Embora o encontro da família seja altamente positivo, definitivamente ele não dá significado bíblico ao Natal.
O Natal diz respeito à Jesus Cristo, o Filho de Deus, o qual veio como Homem resgatar o seu povo da eterna condenação do pecado, reconciliando-o definitivamente com Deus, visto que o seu nascimento pressupôs a sua missão. Aliás, as festividades do Natal só encontram a sua verdadeira e mais significativa razão nos resultados da missão de Jesus, iniciadas por seu nascimento virginal, sofrimento, sacrifício, ressurreição ao terceiro dia, ascensão aos céus e pelo seu testemunho transformador em todo o mundo, chamando pessoas ao arrependimento para viverem nova vida, pelo Espírito, diante de Deus. 
Celebrar o Natal sem a experiência de gratidão por tamanho plano de salvação que Deus bondosamente executou por seu Filho Jesus, é apenas uma atividade social, vazia da adoração àquele que é unicamente digno de atenção: JESUS CRISTO.
O Natal é de Jesus, portanto, comemore-o pelo o que ele é e pela salvação que ele oferece, mesmo que não tenha familiares em sua volta, mesmo que não tenha presentes para compartilhar, mesmo que não esteja cercando uma mesa farta de alimentos,... porque Deus está com você se você está com Jesus!
A cada ano, ao aproximar-nos das festividades do Natal, nos deparamos com diversas polêmicas, das mais variadas, quanto ao seu real significado.  

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Desmistificando o relato bíblico da mulher adúltera


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O que desejo com este artigo não é trazer novidade, mas sim falar de algo que é de ampla aceitação para os estudiosos das Escrituras: Jesus cumpriu as ordenanças da Lei. E não podia ser diferente, uma vez que ele veio fazer Justiça. De maneira alguma poderia transgredir a Lei; Cristo cumpriu-a por completo, por isso foi declarado justo e pôde, através da sua propiciação tornar os homens justos diante de Deus. Como está escrito em Romanos 5: 17-19:
Se pela transgressão de um só a morte reinou por meio dele, muito mais aqueles que recebem de Deus a imensa provisão da graça e a dádiva da justiça reinarão em vida por meio de um único homem, Jesus Cristo. Consequentemente, assim como uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim também um só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os homens. Logo, assim como por meio da desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores, assim também, por meio da obediência de um único homem muitos serão feitos justos”.
O pecado é a transgressão da Lei (1Jo 3:4) e Jesus nunca pecou (1Jo 3:5). Logo, Jesus não desobedeceu nenhum ponto da lei mosaica, tal como ele mesmo diz em Mateus 5: 17-18:
"Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra”.
Como disse anteriormente, não vos trago novidades e, recentemente, li um ótimo artigo do Frank Brito¹ sobre o tema, de modo que decidi escrever sobre o mesmo assunto não para superá-lo, mas sim, para realçar essa verdade bíblica. Talvez você ainda não tenha entendido o título dessa postagem, então aí vai uma justificativa: Muitos tem usado o relato bíblico da mulher adúltera para defender a tese de que Cristo teria descumprido e suplantado Moisés. Se isto for verdadeiro, então o Nazareno era um farsante e seu sacrifício não possui a menor validade "Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus;" (Hebreus 7:26).
O relato em questão se encontra no capítulo 8 do Evangelho de João e descreve uma armadilha dos fariseus para acusarem Jesus (v.6). Mas acusá-lo como? E de que? Ou de ser contrário a Lei, desqualificando seu ministério, pois nenhum judeu daria ouvidos a um messias que fosse contrário a Moisés, ou de ser um contraventor e desacatar a autoridade do Império Romano. Isso será pormenorizado mais adiante. 
Fato é que uma mulher foi trazida por ter sido pega em flagrante adultério (v.4). O que fazer com ela? No caso de adultério, a pena de morte deveria ser aplicada. Todavia, existe algo errado nesse “tribunal farisaico”. No pentateuco diz que serão mortos o homem e a mulher que adulterarem (Deuteronômio 22:22). Só que os fariseus apresentam apenas a mulher para receber a sua sentença, o que constitui um grave erro da aplicação da Lei.
Outro aspecto importante é a idoneidade das testemunhas. Ninguém poderia ser acusado por uma só pessoa (Deuteronômio 19:15) e Deus requeria que a testemunha fosse inocente do crime cometido pelo acusado. Cabiam as testemunhas arremessarem as primeiras pedras (Deuteronômio 17:7). Porém, se fosse falsa a acusação, aqueles acusadores que intentaram a morte de seu irmão injustamente, receberiam a punição pela qual planejaram aplicar ao seu próximo (Deuteronômio 19:19).
Diante do que foi exposto, quando Jesus afirma “se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela” (v. 7), ele está se referindo aquela fraude montada apenas para acusá-lo. Ele até ordena que as testemunhas joguem as pedras, em conformidade com Deuteronômio 7:7, contudo, as testemunhas precisavam atender os requisitos acima citados. A justiça deveria ser aplicada por magistrados que andassem em integridade (Deuteronômio 16: 18-20). Bem, ninguém ali naquele contexto era magistrado, e ainda por cima estavam torcendo a justiça. Por isso que aqueles homens foram saindo um a um e não cometeram o apedrejamento (v.9).
Também era sabido por todos que as leis só poderiam ser aplicadas por autoridades romanas, isso era uma imposição do Império que havia dominado os judeus ainda no século VI a.C. Vale lembrar que Jesus foi levado a Pilatos, para que este aplicasse a sentença de morte a Cristo (João 18:31). Esse era o cerne da armadilha farisaica: Acusar Jesus de ser contra Moisés, deixando-o acuado para aplicar uma pena capital que competia ser efetuada pelos romanos. Jesus, sabiamente, livra-se das duas acusações.
Desmistificando a interpretação de que Jesus foi indulgente ao ponto de não aplicar o que Deus prescrevera por intermédio de Moisés, faz-se necessário agora explicar que diferente de Cristo, não estamos debaixo da Lei. Ele estava submetido a ela porque o Novo Testamento só seria válido (como todo testamento) após a sua morte. Assim nos diz Hebreus 9: 16-17:
No caso de um testamento, é necessário que comprove a morte daquele que o fez; pois um testamento só é validado no caso de morte, uma vez que nunca vigora enquanto está vivo aquele que o fez”.
Agora debaixo da nova aliança, alguns aspectos da Lei continuam sendo observados. É o caso dos 10 mandamentos (Êxodo 20). Até hoje matar, roubar, jurar falsamente, tomar o nome de Deus em vão e etc. continuam sendo pecado e o povo de Deus não pode praticar tais abominações. O que mudou foram os aspectos que tipificavam Cristo, dentre eles, tomo emprestado uma lista feita pelo Pr. John Piper:
1 - Os sacrifícios de sangue cessaram, pois Cristo cumpriu tudo para o que eles estavam apontando. Ele foi o sacrifício final, irrepetível, pelos pecados. Hebreus 9:12: “Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção”.
2 - O sacerdócio que ficava entre o adorador e Deus não existe mais. Hebreus 7:23-24: “E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porque pela morte foram impedidos de permanecer. Mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo”.
3 - O templo físico cessou de ser o centro geográfico da adoração. Agora, o próprio Cristo é o centro da adoração. Ele é o “lugar”, a “tenda” e o “templo” onde encontramos Deus. Portanto, o Cristianismo não tem centro geográfico, nem em Meca, nem em Jerusalém. João 4:21-23: “Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai...Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem”. João 2:19-21: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei...Mas ele falava do templo do seu corpo”. Mateus 18:20: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. 
4 - As leis alimentícias, que colocavam Israel aparte das nações, foram cumpridas e acabadas em Cristo. Marcos 7:18-19: “E ele [Jesus] disse-lhes: Assim também vós estais sem entendimento? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não entra no seu coração, mas no ventre, e é lançado fora?... (Assim declarou puros todos os alimentos)”.
5 - O estabelecimento da lei civil sobre a base de um povo etnicamente fixado, que foi diretamente ordenada por Deus, cessou. O povo de Deus não é mais um corpo político unificado ou um grupo étnico ou um estado-nação, mas são peregrinos e forasteiros entre todos os grupos étnicos e Estados. Portanto, a vontade de Deus para os Estados não deve ser tomada diretamente da ordem teocrática do Antigo Testamento, mas deve ser agora restabelecida de lugar para lugar e de tempo para tempo, pelos meios que correspondam ao governo soberano de Deus sobre todos os povos, e que correspondam ao fato de que a genuína obediência, enraizada como ela é na fé em Cristo, não pode ser coagida pela lei. O Estado é, portanto, fundamentado em Deus, mas não expressivo da regra imediata de Deus. Romanos 13:1: “Toda a alma esteja sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus”. João 18:36: “Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos”.²
Cabe a nós louvarmos Aquele que é Santo. Cabe a nós a reverência devida ao Cristo entronizado entre as nações. Ele perdoou a mulher adúltera (v.11) alertando-a de que ela não deveria mais viver na prática do pecado. Isso é comprometimento com a Palavra, algo que nos falta hoje. Como Igreja, devemos ser misericordiosos e buscarmos o tratamento do pecador arrependido. Só não podemos usar uma indulgência frouxa que passa por cima dos mandamentos do SENHOR:
Mateus 5:19 – “Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes mandamentos será chamado grande no Reino dos céus”.
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[1] Quem Está Sem Pecado, Atire a Primeira Pedra. Disponível em:
[2] Como Cristo Cumpriu e Acabou com o Regime do Antigo Testamento. Disponível em:
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Divulgação: Bereianos

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domingo, 21 de dezembro de 2014

A ortodoxia no abismo semântico


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Ao lidar com uma questão semântica no atual cenário religioso brasileiro – com um recorte na problemática da identidade teológica da igreja no país – é impossível ignorar que o linguajar evangélico é um fator que tem sido correntemente crescente e curiosamente dissidente de uma explosão religiosa no Brasil e que tem raízes no liberalismo teológico e no sincretismo nascente do colonialismo com o catolicismo europeu, pajelança, espiritismo de mesa branca e religiões afrodescendentes.

De fato, e de verdade, a questão não passa somente por uma ambiguidade presente no estudo da ciência da religião, mas também por uma ambivalência de termos. Embora tenhamos uma linguagem cristã aparentemente bíblica no contexto apontado aqui, temos uma disparidade de questões que separam a falsa teologia da verdadeira teologia.Francis Schaeffer desenvolve esse raciocínio de forma singular em seu livro O Deus que Intervém, quando fala do misticismo semântico empregado na relação religiosa e a linguagem teológica do cristianismo. Schaeffer diz algo muito interessante:Uma ilusão de comunicação e conteúdo é dada de forma que, quando uma palavra é usada deste modo deliberadamente indefinido, o ouvinte “pensa” que sabe o que ela significa.*Temos com isso uma questão muito interessante de que muitas vezes a teologia é expressa de forma descritivamente escriturística, mas, aquilo que foi dito se instala no campo do subjetivismo e de outra forma leva o receptor da mensagem a um campo epistemologicamente estranho a sã doutrina.Ao ouvirmos falar de sangue, expiação, cruz, inferno, condenação, ira, juízo, salvação, espiritualidade, santificação, eleição, justificação, reino de Deus; estamos num campo comum em relação aos termos vocabulares da linguagem cristã. Mas, ao investigarmos como cada palavra recebe conotações diferentes, percebemos como existe um abismo entre o que foi escrito e o que foi inscrito pelo homem, pela cultura, pela tradição religiosa. Reconhecemos a clara diferença entre exegese e eixegese. O que notamos é que muitas instituições chamadas de evangélicas professam documentalmente uma fé bíblica, mas, na prática a Bíblia não é suficiente, a Palavra de Deus deve ser “acrescentada”, isso é um trágico contexto. O interessante aqui é que esse acréscimo se dá com palavras que estão na Bíblia, “mas não são da Bíblia”, portanto, uma hermenêutica que não serve a Palavra de Deus e não é fiel ao genuíno ensino das Escrituras Sagradas.Sem sombra de dúvida, há uma forte influência ainda que inconscientemente da escola de interpretação de Alexandria, posteriormente seu crescente desdobramento com Orígenes deram suporte para muitos problemas na igreja cristã, fornecendo aparato para interpretações estranhas as verdades sagradas do Evangelho de Deus. Temos também o presente pensamento do Iluminismo nesse processo de subjugação da Escritura as ideias filosóficas presentes nesse período histórico.Ao se falar de salvação em Cristo, nos deparamos muitas vezes com conotações muito distantes do que realmente é a obra salvadora de Jesus Cristo na cruz. Para muitos a salvação é um passaporte para uma vida melhor sob vários ângulos, fornecidos por gurus que maculam as verdades santas do Evangelho Eterno. Ao se tratar de fé, nos deparamos com uma série de amuletos, herança do sincretismo e pluralismo religioso que se desenvolveu do corolário das Escrituras.Interessante notarmos que quando o protestantismo chegou ao Brasil, não ouve aqui o mesmo impacto cultural que a teologia reformada causou em países europeus. Tivemos aqui uma ênfase na espiritualidade e numa postura em relação ao reino de Deus muito próxima das visões de Lutero e dos Anabatistas e um tanto quanto distantes do que Calvino tinha ensinado em Genebra e sua perspectiva sobre cosmovisão cristã, embora que esse termo ainda não era utilizado. Essa questão trouxe um afrouxamento na educação do povo e no interesse pelo estudo da Sagrada Escritura, consequentemente o crescimento do fanatismo, legalismo, ignorância a respeito do reino de Deus cresceram.Sobre esse descompromisso com a correta interpretação das Escrituras surgem oceanos de heresias e ventos de doutrinas como dizia Paulo, que enganam o povo e lhe arrastam para os falsos ensinos. Ao lidarmos com essa questão semântica, devemos estar submissos a Palavra de Deus, devemos ser zelosos pela suficiência das Escrituras, sua exposição e sua regra áurea da hermenêutica Bíblica que diz que: a Escritura interpreta a Escritura. A desvalorização do ensino bíblico e da exposição da Escritura tem causado muitos males. A preguiça de muitos pastores em dar a sua congregação alimento espiritual tem sido um preço muito alto e um campo muito vasto para lobos que enganam o rebanho. Seminários teológicos que são centros liberais de teologia, professores apostatas e ateus que não creem no que está escrito, causam efeitos trágicos na vida de muitos alunos.Como podemos lidar com essa situação? Como a igreja cristã pode vencer o liberalismo prático e o secularismo em seu seio? Como o cristianismo atual poderá sobreviver em frente a uma avalanche de ideias megalomaníacas que transformaram igrejas em clubes, cultos em shows, louvores em encenação performática? Com lidar com uma cultura que se afasta de Deus numa era pós-cristã?Os desafios que temos hoje circulam mais no campo das ideias do que na perseguição física como no passado. Doravante ser cristão, é ser discípulo de Jesus e apegados a sua revelação nas Santas Escrituras. Um dia desses conversando com um jovem cristão universitário ele me disse que o grande problema do esfriamento espiritual da igreja moderna é que ela não lê as Escrituras; mas, tenho uma fundamental discordância desse ponto. É claro que concordo que o relaxamento na leitura da Palavra é evidente, porque temos crentes analfabetos de Bíblia na igreja, cristãos que estão a muitos anos frequentando uma igreja, mas, não sabem o que é o pentateuco, ou os evangelhos e muito pior do que termos técnicos, não sabem que é o Espirito Santo, nem o Jesus das Escrituras. Em muitos casos o que muitos cristãos creem são figuras folclóricas com nomes de personagens bíblicos, ou seja, sua crença não está fundamentada no ensino bíblico de determinado assunto ou pessoas da Bíblia. A dificuldade não é somente na leitura, mas na compreensão do texto lido. A falta de exposição da Bíblia nos púlpitos tem causado isso. Os pregadores através de exposições bíblicas ensinam o povo a ler devidamente a Bíblia, é claro que temos a dependência do Espírito Santo de Deus para nos ensinar e nos guiar na verdade (Jo 16.13), no entanto fomos dotados de intelecto e capacidade de aprendizado, por isso temos tantas instruções na Bíblia para que meditemos, leiamos, guardemos, examinemos as Escrituras Sagradas.O fator semântico é algo que pode impedir o crescimento de um crente e a fé na verdadeira Palavra de Deus, a verdade é a verdade de Deus como dizia Calvino. É claro que não digo com isso que um crente precisa aprender as línguas bíblicas para ouvir a voz de Deus, acredito que a Escritura fala com o povo de Deus na língua vernácula. Mas o trabalho dos pregadores e ensinadores é de fundamental importância para a igreja, esses sim devem ter um conhecimento abalisado das Escrituras e estarem sempre procurando aperfeiçoamento nos estudos teológicos para ensinarem o povo.  Ao tratarmos com o princípio Sola Scriptura e Tota Scriptura da reforma (Somente a Escritura e toda a Escritura), estamos incluindo nisso uma correta interpretação da Palavra de Deus, respeitando seu contexto histórico e sua gramática, por isso usamos o método histórico-gramatical. Evidente que a Palavra alcança o crente leigo, mas existem casos que exigem esforço intelectual para uma correta compreensão do que Deus revelou, por isso insisto na importância da ortodoxiaortopraxia e ortopatia. Temos que crer na verdade de Deus revelada, como Ele a revelou (ortodoxia), viver por essa verdade que nos foi dada (ortopraxia) e ter nossos sentimentos (ortopatia) regidos por ela.__________O Deus que Intervém, Francis Schaeffer - Ed. Cultura Cristã
***Divulgação: Bereianos