terça-feira, 30 de novembro de 2010

Negando a Si Mesmo

“Orei ao SENHOR meu Deus e confessei” (Daniel 9:4).


Em Lucas 18 Jesus contou uma parábola às pessoas que estavam confiando em sua própria justiça. Ele disse, “Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado” (vv. 10-14).

Aparte da misericórdia de Deus, não podemos entrar na presença de Deus. O publicano sabia disso e implorou por perdão. O fariseu perdeu o ponto e foi embora sem perdão.

Como o publicano, Daniel se aproximou de Deus com um atitude de confissão e auto-negação. Ele poderia ter lembrado Deus de seus anos de serviço fiel quando na Babilônia, mas isto não tomou a sua mente. Ele sabia que, em si mesmo, não havia nada que o recomendasse a Deus. Seu único pensamento era encontrar misericórdia para si mesmo e para o seu povo, era que os propósitos de Deus pudessem se realizar através deles.

Como um cristão, você tem o privilégio maravilho de entrar com ousadia à presença de Deus, “com sincero coração, em plena certeza de fé” (Hebreus 10:22). Este privilégio está enraizado na graça de Deus através do sacrifício de Cristo, e não deixa lugar para nenhuma presunção ou auto-justiça. Sempre guarde sua atitude em oração, para que você nunca caia inconscientemente numa mentalidade farisaica.



John MacArthur Jr. Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto

domingo, 21 de novembro de 2010

Seguindo a Deus de Perto

“A minha alma apega-se a ti: a tua destra me ampara” (Sl 63:8.).
O evangelho nos ensina a doutrina da graça preveniente, que significa simplesmente que, antes de um homem poder buscar a Deus, Deus tem que buscá-lo primeiro.

Para que o pecador tenha uma idéia correta a respeito de Deus, deve receber antes um toque esclarecedor em seu íntimo; que, mesmo que seja imperfeito, não deixa de ser verdadeiro, e é o que desperta nele essa fome espiritual que o leva à oração e à busca.

Procuramos a Deus porque, e somente porque, Ele primeiramente colocou em nós o anseio que nos lança nessa busca. “Ninguém pode vir a mim”, disse o Senhor Jesus, “se o Pai que me enviou não o trouxer” (Jo 6:44), e é justamente através desse trazer preveniente, que Deus tira de nós todo vestígio de mérito pelo ato de nos achegarmos a Ele. O impulso de buscar a Deus origina-se em Deus, mas a realização do impulso depende de O seguirmos de todo o coração. E durante todo o tempo em que O buscamos, já estamos em Sua mão: “... o Senhor o segura pela mão” (Sl 37:24.).

Nesse “amparo” divino e no ato humano de “apegar-se” não há contradição. Tudo provém de Deus, pois, segundo afirma Von Hügel, Deus é sempre a causa primeira. Na prática, entretanto (isto é, quando a operação prévia de Deus se combina com uma reação positiva do homem), cabe ao homem a iniciativa de buscar a Deus. De nossa parte deve haver uma participação positiva, para que essa atração divina possa produzir resultados em termos de uma experiência pessoal com Deus. Isso transparece na calorosa linguagem que expressa o sentimento pessoal do salmista no Salmo 42: “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando irei e me verei perante a face de Deus?” E um apelo que parte do mais profundo da alma, e qualquer coração anelante pode muito bem entendê-lo.

A doutrina da justificação pela fé — uma verdade bíblica, e uma bênção que nos liberta do legalismo estéril e de um inútil esforço próprio — em nosso tempo tem-se degenerado bastante, e muitos lhe dão uma interpretação que acaba se constituindo um obstáculo para que o homem chegue a um conhecimento verdadeiro de Deus. O milagre do novo nascimento está sendo entendido como um processo mecânico e sem vida. Parece que o exercício da fé já não abala a estrutura moral do homem, nem modifica a sua velha natureza. É como se ele pudesse aceitar a Cristo sem que, em seu coração, surgisse um genuíno amor pelo Salvador. Contudo, o homem que não tem fome nem sede de Deus pode estar salvo? No entanto, é exatamente nesse sentido que ele é orientado: conformar-se com uma transformação apenas superficial.

Os cientistas modernos perderam Deus de vista, em meio às maravilhas da criação; nós, os crentes, corremos o perigo de perdermos Deus de vista em meio às maravilhas da Sua Palavra. Andamos quase inteiramente esquecidos de que Deus é uma pessoa, e que, por isso, devemos cultivar nossa comunhão com Ele como cultivamos nosso companheirismo com qualquer outra pessoa. É parte inerente de nossa personalidade conhecer outras personalidades, mas ninguém pode chegar a um conhecimento pleno de outrem através de um encontro apenas. Somente após uma prolongada e afetuosa convivência é que dois seres podem avaliar mutuamente sua capacidade total.

Todo contato social entre os seres humanos consiste de um reconhecimento de uma personalidade para com outra, e varia desde um esbarrão casual entre dois homens, até a comunhão mais íntima de que é capaz a alma humana. O sentimento religioso consiste, em sua essência, numa reação favorável das personalidades criadas, para com a Personalidade Criadora, Deus. “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste".

Deus é uma pessoa, e nas profundezas de Sua poderosa natureza Ele pensa, deseja, tem gozo, sente, ama, quer e sofre, como qualquer outra pessoa. Em seu relacionamento conosco, Ele se mantém fiel a esse padrão de comportamento da personalidade. Ele se comunica conosco por meio de nossa mente, vontade e emoções.

O cerne da mensagem do Novo Testamento é a comunhão entre Deus e a alma remida, manifestada em um livre e constante intercâmbio de amor e pensamento.

Esse intercâmbio, entre Deus e a alma, pode ser constatado pela percepção consciente do crente. É uma experiência pessoal, isto é, não vem através da igreja, como Corpo, mas precisa ser vivida, por cada membro. Depois, em conseqüência dele, todo o Corpo será abençoado. E é uma experiência consciente: isto é, não se situa no campo do subconsciente, nem ocorre sem a participação da alma (como, por exemplo, segundo alguns imaginam, se dá com o batismo infantil), mas é perfeitamente perceptível, de modo que o homem pode “conhecer” essa experiência, assim como pode conhecer qualquer outro fato experimental.

Nós somos em miniatura, (excetuando os nossos pecados) saquilo que Deus é em forma infinita. Tendo sido feitos a Sua imagem, temos dentro de nós a capacidade de conhecê-lO. Enquanto em pecado, falta-nos tão-somente o poder. Mas, a partir do momento em que o Espírito nos revivifica, dando-nos uma vida regenerada, todo o nosso ser passa a gozar de afinidade com Deus, mostrando-se exultante e grato. Isso é este nascer do Espírito sem o qual não podemos ver o reino de Deus. Entretanto, isso não é o fim, mas apenas o começo, pois é a partir daí que o nosso coração inicia o glorioso caminho da busca, que consiste em penetrar nas infinitas riquezas de Deus. Posso dizer que começamos neste ponto, mas digo também que homem nenhum já chegou ao final dessa exploração, pois os mistérios da Trindade são tão grandes e insondáveis que não têm limite nem fim.

Encontrar-se com o Senhor, e mesmo assim continuar a buscá-lO, é o paradoxo da alma que ama a Deus. É um sentimento desconhecido daqueles que se satisfazem com pouco, mas comprovado na experiência de alguns filhos de Deus que têm o coração abrasado. Se examinarmos a vida de grandes homens e mulheres de Deus, do passado, logo sentiremos o calor com que buscavam ao Senhor. Choravam por Ele, oravam, lutavam e buscavam-nO dia e noite, a tempo e fora do tempo, e, ao encontrá-lO, a comunhão parecia mais doce, após a longa busca. Moisés usou o fato de que conhecia a Deus como argumento para conhecê-lO ainda melhor. “Agora, pois, se achei graça aos teus olhos, rogo-te que me faças saber neste momento o Teu caminho, para que eu Te conheça, e ache graça aos Teus olhos” (Ex 33:13). E, partindo daí, fez um pedido ainda mais ousado: “Rogo-te que me mostres a tua glória” (Ex 33:18). Deus ficou verdadeiramente alegre com essa demonstração de ardor e, no dia seguinte, chamou Moisés ao monte, e ali, em solene cortejo, fez toda a Sua glória passar diante dele.

por A. W. Tozer

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Culto Doméstico como um Dever - CAPÍTULO 2

Por- Leland Ryken,


Dada a importância do culto doméstico como uma força poderosa em ganhar incontáveis milhões para a verdade do evangelho ao longo das eras, não deveríamos nos surpreender por Deus exigir que os cabeças dos lares façam tudo que puderem para conduzir as suas famílias no culto ao Deus vivo. Josué 24:14-15 diz: "Agora, pois, temei ao SENHOR e servi-O com integridade e com fidelidade; deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais de além do Eufrates e no Egito e servi ao SENHOR. Porém, se vos parece mal servir ao SENHOR, escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam de além do Eufrates (i.e., lá em Ur dos caldeus) ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais (i.e., aqui em Canaã). Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR".

Observe três coisas nesse texto: Primeiro, Josué não faz da adoração ou do culto a Deus vivo algo opcional. No v.14, logo depois de ordenar a Israel para que tema ao Senhor, ele enfatiza imediatamente, no v.15, que o Senhor quer ser adorado e servido voluntária e deliberadamente pelas nossas famílias.

Em segundo lugar, no v.15 Josué reforça o ato de culto a Deus nas famílias com o seu próprio exemplo. O v.1 deixa claro que ele está se dirigindo aos cabeças das famílias. O v.15 declara que Josué vai fazer aquilo que ele quer que as outras famílias de Israel façam: "servir ao SENHOR". Josué tem uma liderança de tal ordem sobre a sua família que ele fala por toda a sua casa, assim diz ele: "Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR". Vários fatores reforçam esta ousada declaração:
• Quando Josué declarou isso ele tinha mais de 100 de idade e tem, como ancião, um zelo notável;
• Josué sabe que o seu controle direto sobre a sua família logo findará. Deus havia lhe dito que morreria em breve. Josué, no entanto, confia que a sua influência há de continuar em sua família e que eles não deixarão de adorar depois da sua morte;
• Josué sabe que ainda persiste em Israel muita idolatria. Ele acabara de dizer ao povo que lançasse fora os seus falsos deuses (v.14). Ele sabe que a sua família, ao servir ao Senhor, estará remando contra a corrente — apesar disso ele declara enfaticamente que a sua família vai continuar a fazer assim de qualquer maneira;
• Os registros históricos mostram que a influência de Josué foi tão ampla que a maior parte da nação seguiu o seu exemplo ao menos por uma geração. Josué 24:31 diz: "Serviu, pois, Israel ao SENHOR todos os dias de Josué e todos os dias dos anciãos que ainda sobreviveram por muito tempo depois de Josué (i.e., pela geração seguinte) e que sabiam todas as obras feitas pelo SENHOR a Israel". Que encorajamento para pais que temem a Deus saberem que o culto que estabeleceram em casa pode durar uma geração após eles!

Em terceiro lugar, a palavra servir no v.15 é uma palavra abrangente. É, na Escritura, traduzida muitas vezes como adorar. A palavra original não apenas abrange servir a Deus em todas as esferas da nossa vida, mas também em atos especiais de adoração. Aqueles que interpretam as palavras de Josué em termos vagos ou ambíguos perdem de vista o ensinamento essencial. Josué tinha em mente diversas coisas, inclusive a obediência a todas as leis cerimoniais que envolviam o sacrifício de animais que apontavam para o Messias vindouro, cujo sangue do sacrifício seria, de uma vez por todas, eficaz para pecadores.[3]
Certamente todo marido, pai e pastor temente a Deus deve dizer com Josué: "Eu e a minha casa serviremos ao Senhor. Buscaremos ao Senhor, o adoraremos e, como família, oraremos a Ele. Leremos a Sua Palavra, que é rica em instruções, e reforçaremos os seus ensinamentos em nossa família". Cada pai representante precisa entender que, assim como diz Kelly, "o princípio da representação inerente ao pacto de Deus no trato com a nossa raça indica que o cabeça de cada casa deve representar a sua família diante de Deus no culto divino, e que a atmosfera espiritual e o bem-estar pessoal de cada família em longo prazo será afetado grandemente pela fidelidade — ou pela sua falta — do cabeça da família nessa área".[4]
De acordo com a Escritura, Deus hoje deveria ser servido por atos especiais de culto nas famílias nos três modos seguintes:

1. Instrução diária na Palavra de Deus. Deus deveria ser cultuado pelas leituras e instruções diárias da Sua Palavra. Pais e filhos deverão interagir diariamente uns com os outros através de perguntas, respostas e instruções acerca da Verdade Sagrada. Como diz Deuteronômio 6:6-7: "Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te" (cf. Deuteronômio 11:18-19).

As atividades ordenadas por esse texto são atividades diárias que acompanham o deitar-se à noite, o levantar-se pela manhã, o reunir-se à mesa, e o andar pelo caminho. Numa casa organizada elas ocorrem em ocasiões específicas do dia e dão oportunidade a momentos diários de instrução regular e consistente. Moisés não estava sugerindo uma conversinha, mas a conversação e a instrução diligentes que brotam do coração ardente de pais e mães. Moisés diz que as palavras de Deus devem estar no coração do pai. Os pais, genitores, têm o dever de ensinar diligentemente essas palavras à sua prole.
Um texto paralelo no Novo Testamento é Efésios 6:4: "E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação (i.e., instrução) do Senhor". Quando os pais não puderem cumprir pessoalmente esse dever, eles devem encorajar as suas esposas a realizarem esse preceito. Por exemplo, Timóteo tirou grande proveito da instrução diária de uma mãe e de uma avó tementes a Deus.

2. Orações diárias dirigidas ao trono de Deus. Jeremias 10:25 diz: "Derrama a tua indignação sobre as nações que te não conhecem e sobre as gerações que não invocam o teu nome" (ARC). Embora seja verdade que no contexto de Jeremias 10:25 a palavra gerações refere-se aos clãs, ela também se aplica a famílias individuais. Vamos raciocinar partindo do maior para o menor. Se a ira de Deus se derrama sobre clãs ou grupo de famílias que negligenciam a oração em comunidade, quanto mais não se derramará ela sobre as famílias individuais que se recusam a invocar o Seu nome? Todas as famílias devem invocar o nome de Deus, senão submeter-se-ão à Sua indignação.
A família deve reunir-se diariamente para orar, exceto por impedimento previamente planejado. Considere o Salmo 128:3: "Tua esposa, no interior de tua casa, será como a videira frutífera; teus filhos, como rebentos da oliveira, à roda da tua mesa". As famílias comem e bebem à mesa da provisão diária recebida de um Deus gracioso. Para fazer isso de modo cristão a família deve seguir I Timóteo 4:4-5: "pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável, porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado". Se se desejar comer e beber para a glória de Deus (I Coríntios 10.31) e o alimento a ser comido estiver separado com esse propósito, diz Paulo que é necessário que seja santificado pela oração; e assim como oramos para que a comida e a bebida sejam santificadas e abençoadas para a nutrição dos nossos corpos, também devemos orar para que as bênçãos da Palavra de Deus nutram as nossas almas. "Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Deuteronômio 8:3; Mateus 4:4).
Além disso, as famílias não cometem pecados diários? Não deveriam, também, buscar o perdão diário? Deus não as abençoa de muitas maneiras a cada dia? Não deveriam reconhecer essas bênçãos com ações de graças a cada dia? Não deveriam reconhecê-lO em todos os seus caminhos, rogando-Lhe para que as conduza por Suas veredas? Não deveriam se entregar diariamente aos cuidados e proteção de Deus? Como afirmou Thomas Brooks: "Uma família sem oração é como uma casa sem telhado: aberta e exposta a tudo quanto é tempestade que cai do céu".

3. Louvar diariamente a Deus com cânticos. Diz o Salmo 118:5: "Nas tendas dos justos há voz de júbilo e de salvação; a destra do SENHOR faz proezas". É uma referência clara ao cantar. O salmista diz que há (não disse meramente que deveria haver) este som nas tendas dos justos. Philip Henry, pai do famoso Matthew Henry, acreditava que esse texto estabelece a base bíblica para o cântico de salmos nas famílias. Ele argumentava que das tendas dos justos vem o cântico jubiloso. Isso envolve tanto o cantar em família quanto o cantar no templo. Por isso, o som da salvação e da alegria deveria ser ouvido diariamente nos lares.
De modo semelhante, diz o Salmo 66.1-2: "Aclamai a Deus, toda a terra. Salmodiai a glória do seu nome, dai glória ao seu louvor". Aqui, o dever de louvar a Deus com cânticos, impõe-se a todas as terras, a todas as nações, a todas as famílias, a todas as pessoas. Em segundo lugar os nossos cânticos devem ser os salmos dados pela inspiração de Deus que manifestam a honra do Seu Nome — o verbo "salmodiai" (zamar) é raiz da palavra salmo (mizmor), e é vertido por "cantar salmos" noutro lugares (Salmo 105:2; cf. Tiago 5:13). Em terceiro lugar, devemos louvá-lO de modo digno, em alta voz (II Coríntios 20:19), e com graça no coração (Colossenses 3:16), fazendo assim o Seu louvor glorioso.
O SENHOR deve ser adorado diariamente pelo cântico de salmos. Deus é glorificado e as famílias são edificadas. Como esses cânticos são Palavra de Deus, cantá-los é um meio de instrução, iluminação e entendimento. Louvar, na medida em que vai aquecendo o coração, leva à piedade. As graças do Espírito são avivadas em nós e nos estimulam ao crescimento em graça. "Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração" (Colossenses 3:16).
Como chefes de família temos de pôr em prática o culto doméstico em casa. Deus exige que O adoremos não apenas particularmente como pessoas, mas também em público como membros do corpo e da comunidade da Aliança, e socialmente, como famílias. O Senhor Jesus é digo disso, a Palavra de Deus o ordena, e a consciência o reconhece como nosso dever.
As nossas famílias devem ser fiéis a Deus. Deus nos colocou em posição de autoridade para guiarmos os nossos filhos no caminho do Senhor. Não somos apenas seus amigos e conselheiros; como seus mestres e senhores no lar o nosso exemplo e liderança são cruciais. Revestidos de santa autoridade, devemos a nossos filhos o ensinamento profético, a intercessão sacerdotal e a verdadeira orientação (veja a Pergunta 32 do Catecismo de Heidelberg) [a]. Devemos dirigir o culto doméstico pela Escritura, oração e cântico.[5]

Os que dentre nós são pastores, têm a obrigação de informar amorosamente aos chefes de família que eles devem conduzir as suas casa na adoração a Deus do mesmo modo que Abraão o fez: "Porque eu o escolhi", disse Deus, "para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito". (Gênesis 18:19).

Os Fundamentos Teológicos do Culto Doméstico - CAPÍTULO 1

Por - Leland Ryken,


Toda igreja quer crescer. Mas, é surpreendente como só umas poucas procuram promover o seu crescimento interno pela ênfase na necessidade de criar os filhos na verdade da Aliança. Poucos lutam seriamente com o porquê de muitos adolescentes se tornarem membros nominais, com uma mera noção de fé, ou de trocarem a verdade evangélica por doutrina anti-bíblica e por modos de culto.
Creio que uma grande razão desse fracasso seja a falta de ênfase no culto doméstico. Em muitas igrejas e lares o culto doméstico é algo opcional ou, no máximo, um exercício superficial, assim como uma breve oração de graças à mesa antes das refeições. A conseqüência é que muitas crianças crescem sem qualquer experiência ou impressão da fé cristã e do culto como uma realidade diária. Quando meus pais celebraram as bodas de ouro todos nós, os cinco filhos, decidimos expressar-lhes a nossa gratidão de uma mesma maneira sem que antes houvéssemos nos consultado mutuamente. Todos nós, inacreditavelmente, agradecemos à nossa mãe por suas orações, e todos nós agradecemos ao nosso pai pela sua liderança no nosso culto doméstico nas tardes de domingo. Meu irmão disse: "pai, a lembrança mais antiga que tenho é de lágrimas escorrendo pela sua face quando você nos ensinava com o livro "O Peregrino" nas tardes de domingo sobre como o Espírito Santo dirige os crentes. Quando eu tinha três anos de idade Deus lhe usou no culto doméstico para me dar a convicção de que o cristianismo era real. Não importou o tanto que me desviei anos mais tarde, eu jamais pude questionar seriamente a realidade do cristianismo, e eu quero lhe agradecer por isso".
Será que veremos reavivamento entre os nossos filhos? Lembremos-nos de que é comum Deus usar a restauração do culto doméstico para trazer o reavivamento à igreja. Por exemplo, as cláusulas do termo de compromisso de 1677 da congregação Puritana de Dorchester, em Massachusetts, incluíam o dever "de reformar as nossas famílias, empenhando-nos no zelo de nos comprometermos a manter nelas o culto a Deus, e a andarmos em nossas casas com corações retos no cumprimento fiel de todos os deveres domésticos, educando, instruindo e exortando nossos filhos e familiares a guardarem os caminhos do Senhor".
Assim como vai o lar vai também a igreja, vai também a nação. O culto doméstico é um dos fatores mais decisivos de como vai o lar. É claro que o culto doméstico não é o único fator. Ele não substitui os outros deveres de pais e mães. Sem o exemplo deles o culto doméstico é inútil. O ensinamento espontâneo que brota ao longo de um dia normal é crucial, no entanto, também é importante definir momentos para o culto doméstico. O culto doméstico é o fundamento para a criação bíblica de filhos. Neste livreto vamos examiná-lo sob cinco aspectos: (1) as bases teológicas do Culto Doméstico; (2) O dever de realizá-lo; (3) a sua prática; (4) a objeções a ele; (5) a sua motivação.

As bases teológicas do culto doméstico têm as suas raízes no próprio ser de Deus. O apóstolo João nos diz que o amor de Deus é inseparável da Sua vida trinitária. O amor de Deus promana e transborda, partilha sua bem-aventurança de uma Pessoa da Trindade para as outras. Deus jamais foi um ser solitário e individual a quem faltasse alguma coisa em Si. A plenitude de luz e de amor é eternamente compartilhada entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

O Deus majestoso e trino não se espelhou em nossas famílias, ao contrário, Ele modelou o conceito terreno de família com base em Si mesmo. Nossa vida familiar reflete mui palidamente a vida da Trindade Santa. É por isso que Paulo fala de "o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome" (Efésios 3:14-15). O amor das pessoas da Trindade era tão grande desde a eternidade que o Pai decidiu criar um mundo de pessoas que, embora finitas, tivessem personalidades que refletissem o Filho. Sendo conformes o Filho, elas poderiam assim partilhar da bendita santidade e gozo da vida da família da Trindade.
Deus criou Adão à Sua própria imagem e criou Eva a partir de Adão. Deles procedeu toda a família humana, de forma que a humanidade pudesse ter comunhão pactual com Deus. Como uma família de duas pessoas, os nossos primeiros pais adoravam a Deus reverentemente quando Ele passeava com eles no jardim do Éden (Gênesis 3:8).
Adão, no entanto, desobedeceu e transformou o gozo da adoração e da comunhão com Deus em temor, terror, culpa e alienação. Ele, como nosso representante, causou grande dano ao relacionamento da família de Deus com a família da humanidade. Contudo o propósito de Deus não pode ser frustrado. Enquanto ainda estavam diante dEle no Paraíso, Deus firmou com eles uma nova Aliança, a Aliança da Graça, e falou a Adão e Eva sobre o Seu Filho que, como semente da mulher, iria destruir o domínio de Satanás sobre eles e garantir-lhes as bênçãos desse pacto de graça (Gênesis 3:15). Através da obediência de Cristo à lei e do Seu sacrifício pelo pecado, Deus abriu o caminho para salvar pecadores satisfazendo, ao mesmo tempo, à Sua justiça. O Cordeiro seria morto no Gólgota para levar o pecado do mundo, de sorte que pobres pecadores como nós pudessem ser restaurados ao nosso verdadeiro propósito: glorificar, adorar e ter comunhão com o Deus trino. Como diz verdadeiramente I João 1:3: "a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo".

Deus relaciona-se com a raça humana por intermédio de Alianças e de lideranças, ou representações. Na vida diária os pais representam os filhos, o pai representa a esposa e os filhos, os oficiais eclesiásticos representam os membros da igreja e os legisladores representam os cidadãos. Na vida espiritual toda pessoa ou é representada pelo primeiro Adão, ou pelo último (veja Romanos 5 e I Coríntios 15). Esse princípio de representatividade permeia toda a Escritura. Lemos, por exemplo, da semente piedosa de Sete, de Noé e de Jó que ofereceram sacrifícios em favor de seus filhos (Gênesis 8:20-21; Jó 1:5). Deus organizou a raça humana em famílias e tribos, e trata com elas através da liderança do pai. Como disse Deus a Abraão: "em ti serão benditas todas as famílias da terra" (Gênesis 12:3).

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Buscando a Deus

Pr. J Miranda - “Bem aventurados os que guardam seus testemunhos, e que os buscam de todo o coração” (Sl 119.2) –


Buscar a Deus significa o ardente desejo de ter comunhão com ele de maneira mais íntima, segui-lo mais plenamente, manter a mais perfeita união com sua mente e vontade, promover sua glória e compreender plenamente tudo o que ele é para os corações san¬tos. O homem abençoado já possui a Deus, e por esse motivo ele o busca. Isso pode parecer contraditório; mas é apenas um paradoxo.
Deus não é buscado genuinamente pelas frias ponderações do cérebro; é preciso que o busquemos com o coração. O amor se manifesta amando; Deus manifesta seu coração no coração de seu povo. E vão esforçarmo-nos em compreendê-lo através da razão; é preciso compreendê-lo através da afeição. O coração, porém, não deve ser dividido entre muitos objetos, se porventura o Se¬nhor é buscado por nós. Deus é um só, e não o conheceremos até que nosso coração seja um com o dele. Um coração quebrantado não necessita de ser dominado pela angústia, porque nenhum co¬ração é tão íntegro em sua busca por Deus como o coração que¬brantado, do qual cada fragmento suspira e clama pelo rosto do grande Pai. E o coração dividido que a doutrina do texto censura, e, por estranho que pareça, na fraseologia bíblica um coração pode estar dividido sem estar quebrantado, e pode estar quebrantado, porém não dividido; e no entanto pode ser quebrantado e estar curado, e nunca pode estar curado antes de ser quebrantado. Quan¬do nosso coração inteiro busca o Deus santo em Cristo Jesus, en¬tão ele se chega para aquele de quem está escrito: "Tantos quantos o tocavam, ficavam perfeitamente curados”.

O que o salmista admira neste versículo ele reivindica no déci¬mo, onde diz: "De todo meu coração te busquei” Fica tudo bem quando a admiração de uma virtude leva à obtenção da mesma. Os que não crêem na bem-aventurança de buscar o Senhor provavelmente não terão seus corações estimulados para a desejarem; mas aquele que acena para outro bem-aventurado por cau¬sa da graça que nele vê, está no caminho de granjear para si a mesma graça.

Se os que buscam o Senhor são bem-aventurados, o que di¬zer daqueles que realmente habitam com ele e sabem que ele lhes pertence?
Os que seguem a Palavra de Deus não amam a iniqüidade; a regra é perfeita, e se ela for constantemente seguida não haverá erro. Ávida, para o obser¬vador do lado de fora, consiste em atos; e aquele que, em suas atividades, nunca se desvia da eqüidade, quer em relação a Deus, quer em relação aos homens, realmente tomou o caminho da per-feição, e estejamos certos de que seu coração é íntegro nele. Então notamos que um coração íntegro se desvia do mal, porquanto o salmista diz: "Que o buscam de todo o coração. Também não pra¬ticam iniqüidade." Receamos que ninguém tenha como alegar ser absolutamente destituído de pecado; todavia nutrimos confiança de que existam muitos que podem alegar que intencional, voluntá¬ria, consciente e continuamente fogem de fazer o que é perverso, ímpio ou injusto. A graça conserva a vida íntegra, mesmo quando o cristão se põe a deplorar as transgressões do coração. Conside¬rados como seres humanos, julgados por seus semelhantes de acor¬do com as normas que os homens impõem aos homens, o genuíno povo de Deus não pratica iniqüidade: são honestos, íntegros e cas¬tos e, no que tange à justiça e moralidade, são inculpáveis. Portan¬to são bem-aventurados. C . H. Spurgeon.
Andam em seus caminhos. Inclinam-se não só para os gran¬des princípios da lei, mas também para os mínimos detalhes de preceitos específicos. Uma vez que fogem de perpetrar qualquer pecado de comissão, assim também esforçam-se por se ver livres de todo pecado de omissão. Não lhes basta ser inculpáveis, também desejam ser ativamente justos. É possível que um ermitão fuja para a solidão a fim de não praticar a iniqüidade; um santo, toda¬via, vive em sociedade a fim de servir a seu Deus andando em seus caminhos. Precisamos ser justos tanto positiva quanto negativa¬mente: jamais teremos a posse do segundo, a menos que tomemos posse do primeiro; pois os homens terão que percorrer um cami¬nho ou outro, pois se não seguirem a vereda da lei de Deus, logo estarão praticando a iniqüidade. A mais segura maneira de abster-se do mal é vivendo totalmente ocupados na prática do bem. Este versículo descreve os cristãos como existem entre nós: embora se¬jam falhos e frágeis, todavia odeiam o mal e não se permitirão viver nele; amam as veredas da verdade, da justiça e da genuína piedade, e habitualmente andarão nelas. Não alegam ser absoluta¬mente perfeitos, exceto em seus anseios, nos quais são de fato puros; pois anseiam ser guardados de todo pecado e de ser guia¬dos a toda a santidade. Gostariam de andar sempre segundo o anseio de seus corações renovados, de seguir o Senhor Jesus em cada pensamento, palavra e ação; sim, gostariam que todo seu ser fosse a encarnação da santidade.

Fugindo do Pecado

Ele, porém, deixando as vestes nas mãos dela, saiu, fugindo para fora.Gênesis 39.12


A o lutarmos contra determinados pecados, não existe ou¬tra maneira de obtermos a vitória, exceto a fuga. Os antigos naturalistas escreveram muito sobre basiliscos, cujos olhos fas¬cinavam suas vítimas e tornavam-nas vítimas fáceis; semelhan¬temente, o mero contemplar a perversidade nos coloca em solene perigo. Aquele que deseja estar protegido contra atos de peca¬do tem de fugir de ocasiões propícias a tais atos. Temos de fa¬zer uma aliança com nossos olhos, a fim de que nem mesmo contemplemos aquilo que nos causa tentações, pois tais pecados necessitam somente de uma faísca para acendê-los e logo se tor¬nam um fogo enorme.
Quem deseja entrar no leprosário e dor¬mir em meio à horrível deterioração ali existente? Somente aquele que deseja se tornar leproso cortejaria, desse modo, a contami¬nação. Se o marinheiro soubesse como evitar a tempestade, ele faria tudo para não correr o risco de passar por ela.
Marinhei¬ros cuidadosos não têm desejo de ver quão perto da areia mo¬vediça podem navegar, nem de ver com que freqüência podem tocar uma rocha sem que a água entre no barco. Seu alvo é se manter tão distante do perigo quanto for possível e nevegar no meio de um canal seguro. Hoje, talvez eu esteja exposto a gran¬des perigos. Preciso ter sabedoria de uma serpente para man¬ter-me distante deles e evitá-los. É verdade que eu posso ser um aparente perdedor ao rejeitar más companhias., porém, é melhor deixar a capa do que perder o caráter (ver Gênesis 39.12).

Não é necessário que eu seja rico, mas é imperativo que eu seja puro. Nenhum laço de amizade ou correntes que me prendem ao engano da beleza, nenhum momento de talento carnal me afastará da sábia resolução de fugir do pecado. Tenho de resis¬tir ao diabo; assim, ele fugirá de mim (ver Tiago 4.7). E tenho de fugir das concupiscências da carne, pois, do contrário, elas me vencerão. Ó Deus da santidade, preserve seus Josés a fim de que não sejam enfeitiçados por sugestões vis. Que a terrível trin¬dade do mundo, da carne e do diabo nunca nos domine.

Charles Haddon Spurgeon

Espera pelo SENHOR.

Parece ser fácil esperar, mas às vezes, muitos anos têm de se passar, antes de aprendermos a esperar. É mais fácil avançar¬mos gradual e constantemente do que permanecermos quietos. Existem horas de perplexidade, em que o espírito mais dispos¬to, que deseja com ansiedade servir ao Senhor, não sabe que direção tomar. Então, o que fazer? Se atormentará pelo deses¬pero? Retornará por covardia, correrá para a direita, em temor, ou avançará apressadamente, em presunção? Não, deve sim¬plesmente esperar.

Espere em oração. Invoque a Deus, apresentando o seu caso diante dEle. Conte-Lhe sua dificuldade e clame pelo cumpri¬mento da promessa de ajuda. Estando em dilema entre um dever e outro, é mais agradável ser humilde como uma criança, espe-rando no Senhor com simplicidade de alma. Com certeza, as coisas sucedem bem para nós quando sentimos e conhecemos nossa própria loucura e quando estamos sinceramente dispos¬tos a ser guiados pela vontade de Deus. Espere em fé. Expresse ao Senhor a sua inabalável confiança nEle. Esperar sem fé e con¬fiança é um insulto ao Senhor. Creia que, mesmo se Ele lhe mantiver esperando por longo tempo, virá no tempo certo.

A visão se cumprirá e não tardará. Espere em calma paciente, não se rebelando por estar passando por aflição; antes, bendizendo a Deus pela aflição. Jamais murmure como o fizeram os filhos de Israel contra Moisés. Nunca deseje voltar ao mundo, mas aceite a situação como ela é, colocando-a, de todo o seu coração, sem qualquer vontade pessoal, nas mãos de seu Deus da alian¬ça, confessando-Lhe: "Senhor, faça-se a tua vontade e não a minha. Eu não sei o que fazer. Cheguei ao extremo. Mas, espe¬rarei até que Tu dividas o mar ou faças retroceder os meus inimigos. Aguardarei mesmo que me mantenhas esperando por muitos dias, porque o meu coração está firmado tão-somente em Ti, O Deus. Meu espírito espera em Ti, na plena convicção de que serás minha alegria e salvação, meu refúgio e torre forte”.

Charles Haddon Spurgeon

sábado, 6 de novembro de 2010

Você é de fato um Cristão?

Você é cristão? Essa é a pergunta que estou fazendo e solicitando que pense a respeito. Quero que você pergunte a si mesmo como pode ter certeza que Jesus Cristo é seu Salvador, e que a misericórdia de Deus já lhe alcançou. Nos capítulos anteriores eu disse que podemos saber estas coisas - e examinamos as diferentes formas em que Deus age para trazer as pessoas a Si.
Agora quero apresentar alguns sinais ainda mais evidentes que mostram que uma pessoa é cristã autêntica. A fé é um desses sinais, pois a fé é necessária para que sejamos salvos do pecado. Como Paulo e Silas disseram ao carcereiro em Filipos, "Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo" (Atos 16:31).
Apesar disso, às vezes as pessoas pensam que a fé é misteriosa - tão estranha e misteriosa que jamais a podem atingir. Para elas eu diria: a fé não é tão difícil como muitos pensam. Sim - a fé é dádiva de Deus, e não podemos produzi da. Mas, "Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo" (Rom. 10:9). Leia a passagem inteira em Romanos, capítulo 10, versículos 5 a 13, e verá que Paulo está dizendo que a fé não é coisa difícil. De fato é uma questão da vontade e do coração. Significa chegar-se a Jesus Cristo, descansar e confiar nEle, apoiar-se nEle e achar nosso tesouro nEle. Fé é questão de querer a Jesus Cristo, e procurá-1o para salvação do pecado. Significa receber a Jesus desse modo. João diz: "a todos quantos o receberam, deu lhes o poder de serem feitos filhos de Deus" (João 1:12). Fé significa vir a Cristo, buscando-O com anseio. "Tudo o que o Pai me dá virá a mim", diz Jesus, e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora" (João 6:37). Fé significa buscar a Jesus e querer a Sua salvação -"Olhai para mim, e sereis salvos, vós todos os termos da terra" (Is. 45:22).
Assim a fé, do modo que estou falando no momento, não é algo difícil; não significa ter o entendimento de coisas difíceis sobre Deus. Inicialmente, fé não implica em crer que Deus me escolheu, ou que Deus me ama, ou que Cristo morreu por mim. Essas coisas são, de fato, difíceis. Mas a fé que traz a todos nós para as bênçãos de Deus não é assim; a fé que nos traz à salvação é questão de querer a Cristo, ser levado a Ele, apoiar-se e ter confiança nEle.
Mesmo assim, para alguns, essa fé salvadora é reivindicação excessiva. Dizem-nos que é excesso de confiança dizer que foram levados a Jesus Cristo. Entretanto, se devemos ser salvos, temos que ter aquela fé que nos conduz a Jesus Cristo e não nos deixa afastar dEle. Sem essa fé confiante, nada mais será suficiente. A não ser que creiamos, ainda estamos condenados por Deus. "Quem não crê já está condenado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus" (João 3:18). Assim, ter fé salvadora não e nada demais para reivindicar. Se não podemos reivindicá-la, não temos esperança nenhuma.
Ainda assim, as pessoas dizem que não podemos ter certeza de possuirmos fé. O apóstolo João, no entanto, nos diz em sua Primeira Epístola que aquele que crê tem um testemunho em si mesmo (1 João 5:10). Noutras palavras,podemos saber que estamos confiando em Cristo. Como podemos saber disso? Bem, no último capítulo expliquei que muitas vezes descobrimos que Deus nos predispôs para a fé. Ficamos convencidos de que estamos perdidos; percebemos que não podemos nos salvar do pecado, e que somente Cristo é capaz de nos salvar completamente. Sabemos que essa é a única coisa boa que podemos fazer. Esse tipo de predisposição ocorre muitas vezes antes da vinda da fé verdadeira.
Outras coisas vêm com essa fé verdadeira. Se estamos confiando em Cristo, vamos querer que Ele controle as nossas vidas; aprenderemos do Seu ensino; vamos querer nos entregar completamente e sem reserva a Ele. Todas estas coisas, e outras mais, acompanham a fé autêntica; mas embora sejam evidências para nós, devo dizer ainda que, à parte delas, podemos saber em nós mesmos, pela ajuda costumeira do Espírito Santo, se realmente temos fé no Senhor Jesus Cristo -ou se não a temos.
Talvez ajude se eu disser um pouco mais sobre a natureza desta fé. A Bíblia a descreve de vários modos -pois a fé é uma experiência diferente para pessoas diferentes. Às vezes é descrita como querer se unir a Deus e à Sua paz. Isaías chama isso de "olhar para Deus": "Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra" (Is. 45:22). Olhar pode parecer um ato de fé muito fraco, pois podemos olhar àquilo que não devemos aproximar nem tocar; podemos olhar a alguém a quem não temos coragem de falar. Contudo, Deus prometeu que aqueles que olharem para Ele com fé serão salvos do pecado. Isso é simplesmente evidenciado como olhar para Deus, querer ser unido a Deus. É dessa fé que a Bíblia fala ao se referir como "querer": "Quem quiser, tome de graça da água de vida" (Apoc. 22:17). Essa fé que olha para Deus também é descrita como ter "fome e sede de justiça" (Mat. 5:6).
Às vezes a fé é descrita com "dependendo do Senhor", ou "descansando" em Jesus Cristo. É colocada também como "confiando em Deus". Isaías nos diz que Deus conservará em paz perfeita aqueles cujas mentes estão fixas nEle, porque confiam nEle (Is. 26:3).
A fé também é descrita como "esperando por Deus". Deus prometeu: "os que confiam em mim não serão confundidos" (Is. 49:23). De fato, a Bíblia nos mostra claramente que Cristo pode fazer o bem aos pecadores segundo a necessidade deles. A fé nos leva a Cristo nos modos como Ele é descrito: quando ouvimos sobre Cristo como o pão da vida, a fé tem fome dEle; quando ouvimos sobre Cristo levantado da morte, a fé crê que Deus O levantou. A fé crê no nome de Jesus, conforme todos os modos em que Jesus é descrito.
Deixem-me repetir, entretanto, que nem todos experimentam a fé do mesmo modo ou com o mesmo ímpeto. No Novo Testamento Jesus fala de certas pessoas que tinham uma grande fé. Um caso desses é o centurião (Mat. 8:10). Dessas falas de Jesus podemos perceber que enquanto outros tinham a fé autêntica, nem todos tinham uma grande fé. Assim, não imaginem que a fé tenha que se mostrarem todas as formas que descrevi, a fim de ser real.
Lembrem-se também, que a fé varia em vigor, até na mesma pessoa. As vezes a fé de alguém está forte e pode ser facilmente percebida; depois pode se tornar fraca e a incredulidade se torna mais forte.
Então, a fé se evidencia de muitos modos; mas o que está no âmago da fé verdadeira é o seguinte: estar contente e satisfeito com o plano da salvação de Deus, através de Jesus Cristo. Quando alguém está agradecido pela morte de Cristo no lugar dos pecadores (o que significa que Deus pode, em justiça, perdoar pecadores), então aquela pessoa tem a fé que salva pecadores. A fé salvadora significa desistir totalmente de pensar em conseguir o favor de Deus por meio das obras, e em lugar disso, descansar no que Cristo fez para tomar sobre Si o castigo devido ao pecador. Essa fé está em todos os que nasceram de novo - em todo o verdadeiro cristão -mesmo que não seja evidenciada por todas as maneiras sobre as quais falei.
Assim, o que devemos perguntar a nós mesmos é simplesmente o seguinte: estou satisfeito com o Senhor Jesus Cristo? Ele é aquele a quem dou mais valor do que a qualquer outra coisa? É precioso para mim, por ser o único caminho para Deus? Estar satisfeito com Jesus Cristo como aquele que carregou os nossos pecados e é o nosso único Salvador, é fé autêntica. Isso é crer com o coração. É estar satisfeito com o caminho de Deus para a salvação de pecadores através de Cristo; é concordar com o caminho de Deus para a salvação, e recebê-lo com alegria, através de Jesus Cristo. Deixem-me repetir, podemos saber se temos fé assim, pois não podemos ter dúvidas sobre isso se estamos descansando inteiramente em Jesus Cristo para nos levar a Deus, e se valorizamos o Senhor Jesus Cristo acima de todos e de tudo o mais. Aquele que crê desse modo não perecerá, mas terá "a vida eterna" (João 3:16).
Todavia, seria possível existir uma fé falsa que seja como a verdadeira e tão parecida que não podemos perceber a diferença? Ora, muitos admiram Jesus hoje, assim como muitos creram nEle quando viram os milagres que fez. Como poderemos distinguir essa falsa fé, fé simulada, da fé genuína, verdadeira?
Primeiro, a fé falsa nunca desiste totalmente da idéia de que podemos ajudar, ao menos um pouco, em nossa própria salvação do pecado. Fé falsa faz com que as pessoas perguntem, como o homem em Lucas 10:25: "que farei para herdar a vida eterna?" A falsa fé também quer apegar-se a outras coisas além de Cristo. Assim, a falsa fé nunca confia completamente em Cristo, e somente em Cristo.
Em segundo lugar, pessoas com falsa fé não querem que Cristo as dirija, ou faça a paz entre elas e Deus em todos os tempos, ou ensine-as e as guie. A falsa fé de fato não recebe a Cristo como rei, sacerdote e profeta.
Em terceiro lugar, a falsa fé não está pronta a seguir a Cristo pelas agruras, perdas e sofrimentos. A fé verdadeira quer somente a Cristo, não importa o que custe.
Explicarei depois outras diferenças entre a fé autêntica e a falsa. Por exemplo, somente a fé autêntica tem o efeito de purificar a vida interna da pessoa (Atos 15:9). Onde houver fé autêntica, sempre haverá também todas as virtudes espirituais (Gal. 5:22-23).
Autor – William Guthrie

Você é Consagrado?

O cristão vivo é o consagrado. É nossa distância do céu que nos torna tão insípidos: é o fim que vivifica todos os meios, e mais vigoroso será nosso movimento, se observamos esse fim com freqüência e de forma clara. Como os homens trabalham de forma incansável e se aventuram sem medo, quando pensam em um prêmio proveitoso! Como o soldado arrisca sua vida, e o marinheiro enfrenta tormentas e ondas; como eles, cheios de alegria, circundam a terra e o mar, e nenhuma dificuldade os intimida, quando pensam em um tesouro incerto e perecível! Quanta vida seria acrescentada nos esforços do cristão se ele antecipasse com freqüência esse tesouro eterno! Corremos devagar, e esforçamo-nos de forma indolente, porque nos importamos muito pouco com o prêmio! Quando o cristão saboreia constantemente o maná velado, e bebe dos rios do Paraíso de Deus, como esse manjar e néctar divinos acrescentam vida a ele!


Como, em suas orações, seu espírito será fervoroso, quando ele considerar que ora por nada menos que o céu! Observe o homem que passa muito tempo no céu e verá que ele não é como os outros cristãos. Algo do que ele viu lá em cima aparece em suas responsabilidades e em sua conversa; ainda mais, pegue esse mesmo homem logo após retornar dessas visões bem-aventuradas e perceberá facilmente que ele se sobrepuja a si mesmo, e como seus sermões são divinos. Se ele for um cristão comum, ele terá uma conversa divina, orações divinas e atitudes divinas! Quando Moisés esteve com Deus no monte, ele recebeu tanta glória de Deus que seu rosto resplandecia a ponto de as pessoas não conseguirem olhar para ele.

Amados amigos, se você apenas se dedicar a isso, essa glória também estará com você. Os homens, quando conversassem com você, veriam sua face resplandecer e diriam: "Certamente, ele esteve com Deus". Se você tivesse luz e calor, então por que não passaria mais tempo debaixo da luz do sol? Se você tivesse mais dessa graça que flui de Cristo, por que não passaria mais tempo com Cristo para ter ainda mais? Sua força está no céu, e sua vida também está no céu, e ali você deve buscá-las todos os dias, se quiser tê-las. Por falta desse recurso do céu, sua alma é como uma vela apagada, e seu serviço como um sacrifício sem fogo. Para sua oferta queimar, é preciso que busque carvão nesse altar. Para sua vela brilhar, é preciso acendê-la nessa chama e alimentá-la todos os dias com o óleo proveniente dali; fique próximo desse fogo renovador e veja como seus sentimentos ficarão revigorados e fervorosos. Como os olhos alimentam os sentimentos sensuais por meio do olhar fixo nos objetos fascinantes, também os olhos de nossa fé, por meio da meditação, inflamam nossos sentimentos em relação ao Senhor, ao mirar com freqüência essa mais sublime beleza.



Você pode exercitar suas funções de muitas outras formas, mas essa é a forma de exercitar suas bênçãos. Todas elas provêm de Deus, a fonte, e levam a Deus, o fim último, e são exercitadas em Deus, o objeto principal delas, de forma que Deus é tudo em todos. Elas vêm do céu, e a natureza delas é divina, e elas o direcionarão para o céu e o levarão para lá. E como o exercício abre o apetite e dá força e vida ao corpo, o mesmo também acontece com a alma. Pois como a lua é mais gloriosa e fica mais cheia quando fica mais diretamente face a face com o sol, também sua alma ficará mais cheia de dons e de bênçãos quando vir a face de Deus mais de perto. Seu zelo compartilhará da natureza dessas coisas que o impulsionam: portanto, o zelo que é inflamado por suas meditações sobre o céu, provavelmente, será um zelo mais divino, e a vida do espírito que você busca na face de Deus deve resultar em uma vida mais sincera e consagrada.

Se você apenas pudesse ter o espírito de Elias, e na carruagem da contemplação pudesse elevar-se nas alturas até que se aproximasse da vivificação do Espírito, sua alma e seu sacrifício arderiam gloriosamente, apesar de a carne e o mundo lançar sobre eles a água de toda sua inimizade antagônica. Pois a fé tem asas, e a meditação é a carruagem; sua responsabilidade é tornar presente as coisas ausentes. Você não vê que um pequeno pedaço de vidro, quando direcionado para o sol, condensará de tal forma seus raios e calor a ponto de queimar aquilo que está atrás dele, mas que, sem ele, esse objeto teria recebido apenas pouco calor? Oras, sua fé é o vidro que faz queimar seu sacrifício, e a meditação o posiciona diante do sol; apenas não o afaste logo, mas segure-o ali por um pouco de tempo, e sua alma sentirá o venturoso efeito.

Certamente, se conseguirmos entrar no Santo dos Santos, trazendo de lá a imagem e o nome de Deus, guardando-os em nosso coração, bem pertinho de nós, isso possibilitará que façamos maravilhas: toda responsabilidade que realizarmos será uma maravilha, e aqueles que a presenciarem prontamente dirão: "Ninguém jamais falou da maneira como esse homem fala" (Jo 7.46). O Espírito nos dominará, como aquelas línguas de fogo, e far-nos-á falar a todos sobre as obras maravilhosas do Senhor.

Autor – Richard Baxter

A Glória da Obediência de Cristo

Havia uma glória invisível em tudo o que Cristo fez e sofreu na terra. Se as pessoas a tivessem visto, elas não teriam crucificado o Senhor da glória. Entretanto, aquela glória foi revelada a alguns; os discípulos “viram a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14).




Primeiro, vamos considerar a obediência de Cristo naquilo que Ele fez. Ele livremente escolheu obedecer. Ele disse: “Eu vim para fazer a tua vontade, ó Deus”, antes de haver necessidade pra Ele fazer essa vontade. Ele não era como nós, criaturas humanas, que necessariamente sempre estivemos sujeitos à lei de Deus. João Batista sabia que Jesus não tinha necessidade de ser batizado. Mas Cristo disse: “Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça” (Mt 3.15). Cristo voluntariamente Se identificou com os pecadores quando foi batizado.



Deus deu-lhe honra e glória porque, pela sua obediência, a Igreja toda se tornou justa (Rm 5.19). A obediência de Cristo a cada parte da lei foi perfeita. A lei era gloriosa quando os Dez Mandamentos foram escritos pelo dedo de Deus. Ela se torna mais gloriosa ainda quando é obedecida nos corações dos crentes. Mas é apenas na mais absoluta e perfeita obediência de Cristo que a santidade de Deus na lei é vista em sua glória total. “Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padecer” (Hb 5.8). O Senhor de todos, que fez a todos, viveu em estrita obediência à lei de Deus. Posto que Ele era uma pessoa singular, a Sua obediência possui a glória de Sua singularidade.



Ora, considerem a glória da obediência de Cristo demonstrada naquilo que Ele sofreu. Ninguém jamais pode medir a profundidade dos sofrimentos de Cristo. Podemos olhar para Ele sob o peso da ira de Deus, em Sua agonia e suor de sangue, nos Seus fortes gritos e lágrimas. Podemos olhar pra Ele orando, sangrando, morrendo, fazendo da Sua alma uma oblação pelo pecado. “Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo de sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes: pela transgressão do meu povo foi ele atingido” (Is 53.8). “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” (Rm 11.33). Quão glorioso é o Senhor Jesus aos olhos dos Seus redimidos!



Por causa do pecado de Adão, ele e todos os seus descendentes se acham diante de Deus sujeitos a perecer eternamente sob a ira de Deus. Enquanto, nessa condição o Senhor Jesus vem até os pecadores persuadidos, com o Seu convite: “Pobres criaturas! Como é triste a sua condição! O que aconteceu com a beleza da glória e da imagem de Deus nos quais vocês foram criados? Vocês agora têm a imagem deformada de Satanás; pior que isso, miséria eterna aguarda vocês. No entanto, olhem para cima mais uma vez; contemplem-Me! Eu me colocarei em seus lugares. Eu suportarei o peso da culpa e a punição que jogaria vocês para sempre no inferno. Eu me tornarei, temporariamente, em maldição para vocês, para que possam ter bem-aventurança eterna”.



Contemplemos a glória demonstrada no evangelho:Jesus Cristo é crucificado diante dos nossos olhos (Gl 3.1). Nós só entendemos as Escrituras à medida que vemos nelas o sofrimento e a glória da Cristo. A sabedoria do mundo não vê nada neles a não ser estultícia. “Mas, se ainda nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2Co 4.3-4).

Autor- John Owen