quarta-feira, 29 de abril de 2015

Pena de Morte - Uma Avaliação Teológica e Confessional por F. Solano Portela Neto





Introdução]

Crimes e Punições na Palavra de Deus
2. Desta forma, não encontramos, na Palavra de Deus, o conceito de enclausuramento como remédio, ou a perspectiva de reabilitação através de longas penas na prisão e, muito menos, a questão de “proteção da sociedade” através da segregação do indivíduo que nela não se integra, ou que contra ela age.
3. O princípio que encontramos na Bíblia é o da restituição. Em Levítico 24:21 lemos, “...quem pois matar um animal restitui-lo-á, mas quem matar um homem assim lhe fará.” A restituição ou retribuição, era sempre proporcional ao crime cometido.
4. Para casos de roubo, a Lei Civil Bíblica prescreve a restituição múltipla. Vejamos em Êxodo 22:4 “...se o furto for achado vivo na sua mão, seja boi, seja jumento, ou ovelha, pagará o dobro.”
5. Nos casos de roubo de propriedade que representa o ganha pão ou meio de subsistência do prejudicado, a Bíblia prescreve a restituição de quatro ou cinco vezes o que foi roubado. Assim lemos em Êxodo 22:1 “...se alguém furtar boi ou ovelha e o degolar ou vender, por um boi pagará cinco bois, e pela ovelha quatro ovelhas.”
6. Em todas as instâncias o direito de cada um de defesa de sua propriedade era um direito concedido e salvaguardado, como vemos em Êxodo 22:2: “...se o ladrão for achado a minar e for ferido, e morrer, o que o feriu não será culpado do sangue.”
7. Aqueles que roubavam alimentos para satisfazer a fome, deviam ser tratados com clemência, mas mesmo assim, persistia a obrigação de restituir sete vezes o alimento que furtou do legítimo dono, uma vez que a própria constituição da sociedade já possuía a provisão para atendimento aos carentes, tornando desnecessário o furto, como vemos em Deuteronômio 24:19 a 21. Desta forma lemos em Prov. 6:30, 31: “...não se injuria o ladrão quando furta para saciar sua alma, tendo fome; mas encontrado, pagará sete vezes tanto: dará toda a fazenda da sua casa...”
8. Vemos então que apenas um exame superficial das diretrizes bíblicas e um confronto destas com as opiniões que agora surgem, mostra a sabedoria ali encontrada. Já há milênios antes de Cristo a Bíblia determinava punições pecuniárias, que o homem, a ela hoje chega, baseado na constatação empírica de que outras medidas não funcionam. Com efeito os encarceramentos prolongados, hoje aplicados não produzem reabilitações, não são bem sucedidos em conservar o criminoso fora de ação e as prisões constituem-se, na realidade, em verdadeiras fábricas de criminosos piores e mais violentos.
9. O sistema bíblico de punição pecuniária é destinado a tornar o crime uma atividade não lucrativa. No que diz respeito àqueles criminosos que se recusavam a obedecer as autoridades constituídas, a sentença é a pena de morte. Lemos isto em Deuteronômio 17:12: “...o homem pois que se houver soberbamente, não dando ouvidos ao sacerdote, que está ali para servir ao Senhor teu Deus, nem ao juiz, o tal homem morrerá e tirarás o mal de Israel.” 
10. Isto equivale a dizer que a condição de reabilitação na sociedade, para o criminoso primário, era total e absoluta. Ele, pagando a indenização devida, estava pronto a se reintegrar na sociedade atingida pelos seus desmandos, que não deveria discriminá-lo de nenhuma forma, pois restituição havia sido efetivada. 
11. Por outro lado, havia aqueles que se recusavam a obedecer, reincidindo no caminho do crime. A Bíblia reconhece a necessidade de proteger a sociedade desses elementos, mas não através de uma forma pseudo-humanitária somente onerosa, imperfeita e impossível de produzir resultados. O sistema encontrado na Bíblia apresenta a efetivação desta proteção de uma forma radical, mas destinada a produzir frutos permanentes e a gerar a paz e a tranqüilidade em uma sociedade. Além disso, poderíamos falar no efeito didático, que a aplicação coerente e sistemática desta pena teria nos reincidentes em potencial.
12. Que diferença encontramos na filosofia e no sistema empregado generalizadamente nos dias atuais! O crime prospera porque é lucrativo e porque corre impune, sendo isso também uma conseqüência da falta de adequação das penas impostas aos crimes cometidos.
13. Obviamente não há a possibilidade da aplicação direta e total das Leis Civis prescritas por Deus ao estado teocrático de Israel, na sociedade atual. Nem podemos advocar a aplicação da Pena de Morte para todas as situações temporais prescritas na Lei Mosaica (como por exemplo: pela quebra do sábado), pois destinavam-se a uma nação específica, dentro de específicas circunstâncias, e com propósitos definidos, da parte de Deus.
Muitos dos princípios encontrados, naquela sociedade agrária, entretanto, são eternos e válidos até os dias de hoje e merecedores do nosso exame e estudo. Juristas cristãos muito poderiam contribuir para um aprofundamento deste tema.

A Lei de Deus
O Que É a Lei de Deus?
Os Três Aspectos da Lei de Deus:
Toda a Lei É Aplicável aos Nossos Dias?
2. A Lei Religiosa: Tinha a finalidade de imprimir nos homens a santidade de Deus e apontar para o Messias, Cristo, fora do qual não há esperança.Como tal, foi cumprida com Sua vindaOs Sabatistas erram ao querer aplicar parte dela nos dias de hoje e ao misturá-la com a Lei Civil.
3. A Lei Moral: Tem a finalidade de deixar bem claro ao homem os seus deveres, revelando suas carências e auxiliando-o a discernir o bem do mal.Como tal, é aplicável em todas as épocas e ocasiõesOs Sabatistas acertam ao considerá-la válida, porém erram ao confundi-la e ao misturá-la com as duas outras, prescrevendo um aplicação confusa e desconexa.

A Pena de Morte é um assunto atual. A sua validade é discutida em todos os setores da sociedade. À medida em que aumenta a incidência dos crimes violentos vemos alguns setores movimentando-se para que a Pena Capital seja instaurada em nosso sistema judiciário. Mas o que diz a Bíblia sobre este tema? Qual deve ser a posição do servo de Deus, perante assunto tão controvertido? Poderíamos começar o nosso exame fazendo uma ligeira verificação do que a Bíblia tem a dizer sobre crimes e punições.

Podemos aprender bastante com os princípios que norteavam o tratamento que a Bíblia dá aos crimes e punições. Vejamos, mesmo superficialmente, alguns destes princípios:
1. Na Bíblia não existe a provisão para cadeias, nem como instrumento de punição nem como meio de reabilitação. A cadeia era apenas um local onde o criminoso era colocado até que se efetivasse o julgamento devido. Em Números 15:34 lemos: “...e o puseram em guarda; porquanto não estava declarado o que se lhe devia fazer...”

Neste estágio, nosso exame do assunto torna-se difícil, sem uma análise maior do significado da Lei de Deus, o que passamos a fazer:


Deus proferiu e revelou diversas determinações e deveres para o homem, em diferentes épocas na história da humanidade. Sua vontade para o homem, constitui a sua Lei e ela representa o que é de melhor para os seus. Quando estudamos a Lei de Deus, mais detalhadamente, devemos, entretanto, discernir os diversos aspectos, apresentados na Bíblia, desta lei. Muitos mal-entendidos e doutrinas erradas podem ser evitadas, se possuirmos a visão bíblica do assunto.
Nossa convicção é a de que podemos dividir a Lei de Deus em três áreas:

1. A Lei Civil ou Judicial — Representa a legislação dada à sociedade ou ao estado de Israel, por exemplo: os crimes contra a propriedade e suas respectivas punições.
2. A Lei Religiosa ou Cerimonial — Esta representa a legislação levítica do Velho Testamento, por exemplo: os sacrifícios e todo aquele simbolismo cerimonial.
3. A Lei Moral — Representa a vontade de Deus para com o homem, no que diz respeito ao seu comportamento e aos seus deveres principais.

Quanto à aplicação da Lei, devemos exercitar a seguinte compreensão:
1. A Lei Civil: Tinha a finalidade de regular a sociedade civil do estado teocrático de Israel. Como tal, não é aplicável normativamente em nossa sociedadeOs Sabatistas erram ao querer aplicar parte dela, sendo incoerentes, pois não conseguem aplicá-la, nem impingi-la, em sua totalidade.
O seguinte gráfico nos auxilia a visualização da aplicabilidade das Leis de Deus, no período em que vivemos:

A Liberdade Soberana de Deus - J. I. Packer




O antigo paganismo ensinava que cada deus estava ligado a seus adoradores por interesses próprios, pois dependiam dos serviços e das oferendas deles para seu bem-estar. O paganismo moderno lembra vagamente um conceito semelhante — Deus é de algum modo obrigado a nos amar e ajudar, embora nada mereçamos. Este foi o sentimento expresso pelo livre-pensador francês que morreu murmurando: "Deus perdoará, este é seu trabalho" (c'est son metier). Mas essa idéia não está bem fundamentada. O Deus da Bíblia não depende dos seres humanos para seu bem-estar (v. Sl 50:8-13; At 17:25), nem é obrigado a mostrar-nos algum favor depois de termos pecado.

Podemos apenas apelar para sua justiça — e justiça, em nosso caso, significa condenação certa. Deus não é obrigado a impedir o curso da justiça para favorecer quem quer que seja. Ele não é obrigado a ter piedade e a perdoar, e se o fizer será um ato, como dizemos, "de sua livre vontade", e ninguém o obriga a revidar suas intenções. "Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus" (Rm 9:16). A graça é livre, no sentido de ser auto-originada e de proceder de quem poderia concedê-la ou não. Somente quando se percebe que a decisão do destino de cada indivíduo advém da resolução divina de salvá-lo de seus pecados, ou não, e que esta é uma decisão que Deus toma caso a caso, pode-se começar a apreender o conceito bíblico da graça.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Você parece com um peregrino?



“Eles eram estrangeiros e peregrinos na terra!” - Hebreus 11:13

Imagine alguém que herdou uma fortuna enorme e está indo recebê-la. Viajando para tomar posse do que herdou. Conseguimos imaginar que ele permita que cada prado, cada paisagem o faça parar ou detê-lo? Podemos imaginar que cada nuvem negra que apareça no céu possa ser causa de desânimo?
Devemos perguntar a nós mesmos se estamos viajando para tomar posse de uma herança eterna – Pedro se refere a herança assim: “Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós” - 1 Pedro 1:4

Se você se enquadra entre os que estão indo em direção a uma fortuna que herdou no mundo,Você pararia  para arrancar cada flor bonita que visse no caminho?Você iria parar para ouvir cada nova música que foi composta?Você deixaria o seu caminho para cada bela paisagem que aparecesse?Abandonaria a jornada para desfrutar cada pequeno prazer que surgisse?
Ou seja,Perderia uma mansão para contemplar um pasto?Sacrificaria uma coroa  para apreciar flores morrendo?Perderia a felicidade imortal por uma vaidade que passou voando?Abandonaria, para usar um linguagem tipo John Bunyan, o caminho de Sião para recolher as uvas de Sodoma?
Se uma herança enorme te esperasse, tempo ruim, dias nublados, tristezas... não te parariam. Você não faria nenhum desvio, nada te seduziria... tudo no mundo pareceria vexatório... você não iria parar! Isso é o que impulsionou homens dos quais foi dito: “Mas agora desejam uma melhor, isto é, a celestial. Por isso também Deus não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade.” - Hebreus 11:16

sábado, 25 de abril de 2015

Sentimos culpa porque somos culpados - Wayne Mack





No fundo do coração, todos sabemos que há algo tremendamente errado conosco. Nossa consciência nos confronta constantemente com nossa pecaminosidade. Por mais que tentemos culpar os outros ou procurar ajuda psicológica para o modo que nos sentimos, não podemos fugir da realidade. Não podemos negar nossa própria consciência. Todos sentimos nossa própria culpa, e todos conhecemos a terrível Verdade acerca de como somos.

Sentimos culpa porque somos culpados. Somente a cruz de Cristo pode se constituir na resposta ao pecado, de forma a nos livrar de nossa vergonha. A psicologia talvez consiga mascarar parte da dor de nossa culpa. A auto-estima pode até varrer a sujeira para debaixo do tapete por um tempo. Outras coisas - como procurar consolo em relacionamentos, ou culpar a outros por nossos problemas - talvez nos façam sentir melhor, mas o alívio é apenas superficial. E é perigoso. Aliás, via de regra, intensifica nossa culpa, porque soma desonestidade e orgulho ao pecado que originalmente feriu a consciência.

A verdadeira culpa tem somente uma causa: o pecado. Até que o pecado seja tratado, a consciência lutará para acusar. E o pecado - e não a baixa auto-estima - é o que o evangelho veio derrotar. E por esse motivo que o apóstolo Paulo iniciou sua apresentação do evangelho na carta aos Romanos com um extenso discurso acerca do pecado. A depravação total é a primeira verdade do evangelho que ele apresentou, e empregou aproximadamente três capítulos inteiros no assunto.

Romanos 1.18-32 demonstra a culpa dos pagãos. Romanos 2.1-16 prova a culpa do moralista, que viola o mesmo padrão pelo qual ele julga os outros. E Romanos 2.17-3.8 estabelece a culpa dos judeus, que tinham acesso a todos os benefícios da graça divina, mas como um todo rejeitaram, a despeito disso, a justiça de Deus.

A partir de Romanos 1, Paulo argumentou com eloqüência, citando evidências da natureza, história, reflexão sadia e consciência para provar a completa pecaminosidade de toda a humanidade. E nos versículos 9-20 do capítulo 3, ele resume tudo. Paulo arrazoa como um advogado dando sua palavra final. Ele revê seus argumentos como um promotor que gerou uma ação judicial com base em cláusulas rígidas contra toda a humanidade. E uma apresentação portentosa e convincente, repleta com acusação, prova convincente, e um veredicto inevitável.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

A obra do Espírito Santo na Nova Criação » John Owen



O grande privilégio profetizado quanto à era do evangelho, que faria a igreja do Novo Testamento mais gloriosa do que a do Antigo Testamento, foi o maravilhoso derramar da promessa do Espírito Santo sobre todos os crentes. É o vinho melhor que foi deixado por último (Is 35.7; 44.3; Jl 2.28; Ez 11.19; 36.27).

O ministério do evangelho pelo qual somos novamente nascidos é chamado de ministério do Espírito (2Co 3.8). No Novo Testamento a promessa do Espírito Santo é para todos os crentes e não para apenas alguns poucos especiais (Rm 8.9; Jo 14.16; Mt 28.20). Somos ensinados a orar para que Deus nos dê o seu Espírito Santo, para que com o seu auxílio possamos viver para Deus na santa obediência que ele requer (Lc 11.9-13; Mt 7.11; Ef 1.17; 3.16; Cl 2.2; Rm 8.26). O Espírito Santo foi prometido solenemente por Jesus Cristo quando estava para deixar o mundo (Jo 14.15-17; Hb 9.15-17; 2Co 1.22; Jo 14.27; 16.13). Portanto, o Espírito Santo é prometido e dado como a única causa de todo o bem que podemos partilhar nesse mundo. 

Não há bem que recebamos de Deus senão o que nos é trazido e em nós operado pelo Espírito Santo. Nem há em nós bem nenhum para com Deus, nenhuma fé, amor, obediência à sua vontade, exceto o que somos capacitados a fazer pelo Espírito Santo. Pois em nós, isto é, na nossa carne, não há bem nenhum, como nos diz Paulo.

A nova criação

A grande obra que Deus planejou foi a restauração de todas as coisas por meio de Jesus Cristo (Hb 1.1-3). Deus intentou revelar a sua glória, e o principal meio para fazê-lo seria através da mais perfeita revelação de si mesmo e das suas obras que o mundo jamais vira. Esta perfeita revelação nos foi dada pelo seu Filho, o Senhor Jesus Cristo, quando tomou sobre si a nossa natureza para que Deus pudesse graciosamente reconciliar-nos com ele mesmo.

Jesus Cristo é “a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15), é o “resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hb 1.3). Na face de Jesus Cristo resplandece a glória de Deus (2Co 4.6). Ao planejar, constituir e colocar em prática a sua grande obra, Deus, portanto, fez a mais gloriosa revelação de si mesmo tanto aos anjos quanto aos homens (Ef 3.8-10; 1Pe 1.10-12). Ele fez isso para que pudéssemos conhecer, amar, confiar, honrar e obedecer-lhe em todas as coisas como Deus, em conformidade com a sua vontade. 

De um modo particular, nessa nova criação, Deus tem se revelado especialmente como três Pessoas em um único Deus. O supremo propósito e planejamento de tudo é atribuído ao Pai. Sua vontade, sabedoria, amor, graça, autoridade, propósito e desígnio são revelados constantemente como o fundamento de toda a obra (Is 42.1-4; Sl 40.6-8; Jo 3.16; Is 53.10-12; Ef 1.4-12). Muitos foram também os atos do Pai para com o Filho, quando o enviou, deu e designou para a sua obra. O Pai lhe preparou um corpo, e o confortou e amparou na sua obra. Ele também o recompensou ao lhe dar um povo para ser o seu próprio povo.

O Filho a si mesmo se humilhou e concordou em fazer tudo o que o Pai havia planejado que fizesse (Fp 2.5-8). Por essa causa o Filho deve ser honrado da mesma maneira que honramos ao Pai.

A obra do Espírito Santo é fazer concluir aquilo que o Pai planejou realizar através de seu Filho. Por causa disso, Deus se nos deu a conhecer, e somos ensinados a confiar nele.
__________
Capítulo 5 da obra "O Espírito Santo" de John Owen publicado pela Editora Os Puritanos e também disponível para venda em formato digital no endereço: https://www.amazon.com.br/dp/B00CQBRQI0
Tags:

espírito santo
nova criação
john owen

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Domingo - o dia que o Senhor fez





Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele” (Sl 118.24)

“Domingo, no Novo Testamento, é chamado de ‘O dia do Senhor’. Em latim, dominica die, de onde deriva seu nome nas línguas neolatinas, por exemplo: no espanhol, ‘domingo’; no italiano, ‘domenica’; e no francês, ‘dimanche’, faladas por cerca de 400 milhões de pessoas”. 

Domingo é um vocábulo exclusivo do cristianismo. Essa palavra, bem como as suas análogas, não existia em nenhuma língua do mundo até o final do século 1o, quando o apóstolo João criou a expressão grega: Kuriakh Hmera (kyriake hemera), vertida para o latim como: dominica die. 

Antigos documentos da Igreja primitiva, transcritos para o russo, relatam que João, encarcerado na ilha de Patmos, chorava muito ao chegar o primeiro dia da semana, ao lembra-se das uniões para a Ceia do Senhor, celebrada sempre nesse dia: “No primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão...” (At 20.7). E foi justamente em um “primeiro dia da semana” que Jesus, ressuscitado, lhe apareceu e lhe revelou os maravilhosos eventos do Apocalipse (Ap 1.10).

Certamente que todo o livro não foi elaborado naquele mesmo dia. Mas o fato indiscutível é que Jesus apareceu a João exatamente no “primeiro dia da semana”. Isso explica porque a Ucrânia e a Rússia trocaram os nomes do primeiro dia da semana, que entre os pagãos era chamado “dia do sol”, por uma expressão tão ou mais significativa do que aquela adotada nos países de línguas neolatinas. 

Lemos na Bíblia ucraniana João afirmando que foi arrebatado no “dia da ressurreição” (Dien voscrecii). De igual modo, na Bíblia russa também lemos: “Eu fui arrebatado em espírito, no dia da ressurreição”. Aliás, na língua russa, todos os dias da semana ficaram subordinados ao dia da ressurreição! Por exemplo: segunda-feira, em russo, é pondielnik (“o dia após a ressurreição”); terça-feira, voftornik (“o segundo dia após a ressurreição”); quarta-feira, sreda (“terceiro dia após a ressurreição”), e assim por diante. 

Vale realçar que o apóstolo João, ao frisar o dia da semana em que Jesus lhe apareceu, criou uma nova expressão na língua grega: Kuriakh hmera (kyriake hemera). Expressão esta que deu origem à palavra “domingo”, conforme explanaremos a seguir. Mas antes de continuarmos, para melhor compreensão dos nossos argumentos, recorreremos à etimologia, que nos revelará a origem das palavras, o seu desenvolvimento histórico e as possíveis mudanças de seu significado.

Vejamos alguns exemplos de como as palavras evoluem:

• A palavra “efeméride” provém de dois termos gregos: epi (“sobre”) e ‛he hemera, que significa “dia”, de onde veio também o adjetivo efêmero, ou seja, “o que é breve, transitório, passageiro”.

• A palavra “castigar” provém do latim: castus (“irrepreensível”, “puro”, “fiel”) + agere (“fazer”). Temos um emprego bíblico neste sentido quando o escritor aos hebreus declara que Deus “castiga a quem ama” com a finalidade de nos tornar puros e fiéis a Ele (Hb 12.6).

• As palavras “mouco” (ou surdo) e “domingo” possuem também sua origem num texto de João. Vejamos: “Então Simão Pedro, que tinha espada, desembainhou-a, e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. E o nome do servo era Malco” (Jo 18.10). Malcus, do latim, deu origem à palavra “mouco”, em português, significando aquele que não ouve, ou que ouve pouco ou mal; surdo.

Analisemos, agora, Apocalipse 1.10 à luz do original grego, da etimologia, da hermenêutica bíblica, da história e dos escritos patrísticos. 

Eis o que os mais abalizados biblicistas afirmam sobre a expressão joanina: kyriake hemera:

“Temos aqui a palavra kyriakos, em um sentido adjetivado, isto é, “pertencente ao Senhor”. Originalmente, esta palavra era usada com o sentido imperial, como algo que pertencia ao César romano. ‘Os crentes primitivos [...] aplicaram-na ao domingo, o primeiro dia da semana’. Esse é o uso que se encontra em Didaché 14 e Inácio, Magn. 9, que foram escritos não muito depois do Apocalipse”. 

“‘O dia do Senhor’, em Apocalipse 1.10, é tido pela maioria dos autores como o domingo”. 

“O primeiro dia da semana é, sem dúvida. ‘o dia do Senhor’, referido em Apocalipse 1.10”. 

“A frase: ‘O dia do Senhor’, Kuriakh ‛mera (kyriake hemera), ocorre uma só vez, e isto se dá no último livro. Apocalipse 1.10 [...] expressava a convicção de que o domingo era o dia da ressurreição, quando Cristo Jesus conquistou a morte e se tornou Senhor de todos” (Ef 1.20-22; grifo do articulista). 

Nem mesmo no texto grego da Septuaginta encontramos a expressão Kuriakh‛mera, criada pelo apóstolo João para aludir ao dia da ressurreição! A expressão hebraica “dia do Senhor” sempre foi vertida para o grego como ‛ (hemera tou kyriou). Mas o que João escreveu foi: Kuriakh ‛mera. Por que João teria usado uma expressão jamais encontrada em qualquer outro escrito, sagrado ou profano? Cremos que pelas seguintes razões:

1) Para indicar algo também inédito na história da humanidade: a ressurreição de Cristo.

2) Para deixar bem claro que se referia ao dia da ressurreição, o domingo, e não aos eventos escatológicos da segunda vinda de Cristo, a parusia, que também é chamada “dia do Senhor”, como nestes versículos: 

a) “O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes de chegar o grande e glorioso dia do Senhor” (At 2.20).

b) “... Seja entregue para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor” (1Co 5.5).

c) “Porque vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como o ladrão de noite” (1Ts 5.2).

d) “Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite” (2Pe 3.10).

Há uma significativa diferença entre a expressão “dia do Senhor”, alusiva à segunda vinda de Cristo, e a expressão que encontramos escrita em Apocalipse 1.10, “dia do Senhor”, referindo-se ao dia da ressurreição.

Kyriakos é uma forma adjetivada da palavra KurioV (Kýrios – Senhor) e significa literal e exatamente: “que diz respeito ao Senhor”; “concernente ao Senhor”; “pertencente ao Senhor”; “senhorial”, ou “dominical”, e não “do Senhor”, como lemos em algumas das nossas traduções.

A tradução literal de Apocalipse 1.10 seria: “Eu fui arrebatado pelo espírito no dia senhorial”. Mas este adjetivo, “senhorial”, derivado do termo “senhor”, raramente é usado. O seu sinônimo é “dominical”, porque o português é uma língua neolatina. “Senhor”, em latim, é Dominus. Assim, quando dizemos Dom Pedro II ou Dom Evaristo Arns, estamos abreviando a palavra Dominus, para dizer: Senhor Pedro II, Senhor Evaristo Arns. O mesmo processo etimológico acontece com o adjetivo “popular”. Quando algo pertence ao povo, não dizemos “povoal”, mas “popular”, porque, em latim, populus, significa “povo”.

Acertadamente, Jerônimo verteu Kuriakh ‛mera (kyriake hemera) para a Vulgata Latina como Dominica die (“dia dominical”, “domingo”) e não como dia domini (“dia do Senhor”). Veja:

Fui in spiritu in dominica die et audivi post me vocem magnam tamquam tubae”(Ap 2.10). 

Daí, a clássica versão de Antônio Pereira de Figueiredo traduzir: “Eu fui arrebatado em espírito hum dia de domingo, e ouvi por detrás de mim huma grande voz, como de trombeta” (1819). 

Resgatando verdades históricas

Documentos escritos nos três primeiros séculos, muito antes de Constantino existir (280-337), adotaram e conservam, todos eles, a mesma expressão concebida pelo apóstolo João para referir-se ao glorioso dia da ressurreição de Jesus Cristo.

Século 1º: O ensino dos apóstolos

Possivelmente, contemporâneo do Apocalipse: “E no dia do Senhor Kyriake hemera, congregai-vos para partir o pão e dai graças”. 

Século 2º : Escritos de Melito de Sardes

Nestes escritos, há um tratado sobre a adoração no domingo, intitulado: peri kyriakes (acerca do dia dominical), “dia do Senhor”, isto é, “domingo”. 

Ano 115: Epístola de Inácio aos magnesianos

“Porque se no dia de hoje vivermos segundo a maneira do judaísmo, confessamos que não temos recebido a graça [...] Assim pois, os que haviam andado em práticas antigas alcançaram uma nova esperança, já sem observar os sábados, porém modelando suas vidas segundo o ‘dia do Senhor’ (Kyriaken zontes)”. 

Ano 130: O “evangelho de Pedro”

É um documento histórico comprovadamente escrito no princípio do século 2o, e também se refere ao dia da ressurreição usando o mesmo adjetivo kyriakes, que, na edição de Jorge Luís Borges, é traduzido corretamente por “domingo”. 

Ano 132, ou antes: Epístola de Barnabé

“Portanto, também nós guardamos o oitavo dia ( Kyriake hemera, ‘domingo’) para nos alegrarmos em que também Jesus se levantou dentre os mortos e, havendo sido manifestado, ascendeu aos céus”. 

150—168: Justino Mártir, Eusébio, Clemente de Alexandria

Escritores dos séculos 2º e 3º, todos eles também adotaram o Kyriake hemera criado por João para o “dia da ressurreição”, vertido para o latim como Domínica die (“dia dominical”) e passado para o português como “domingo”! 

A singularidade do nome domingo

E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana...” (Mc 16.9).

Alguns alegam que a palavra “domingo” não consta na Bíblia. É verdade. Não encontramos nos textos originais a palavra portuguesa “domingo”, como também não encontramos as palavras: Deus, casa, livro, amor ou sábado, mas, sim, as suas correspondentes nas línguas hebraica, aramaica ou grega.

Domingo é a tradução literal da expressão criada pelo apóstolo João: Kuriakh ‛mera (kyriake hemera), vertida para o latim como Domínica die e corretamente traduzida em todas as versões da Vulgata para as línguas neolatinas como dominu lui, domingo, mingo, domenica, dimanche, e outros nomes semelhantes no galego, no provençal, no franco-provençal, no romeno, no reto-romano, no sardo e no dalmático, faladas por mais de 400.000 000 de pessoas!

As seguintes traduções: de Antônio Pereira de Figueiredo, do Centro Bíblico Católico, dos Monges de Maredsous, de João José Pedreira de Castro, do dr. José Basílio Pereira, do Mons. Vicente Zioni e Matos Soares, bem como qualquer outra versão do Novo Testamento para o português ou para o espanhol, feita da Vulgata Latina, trazem em Apocalipse 1.10 a palavra “domingo”.

Domingo não é um nome importado do paganismo, como saturday (“dia de Saturno”), nem do judaísmo, como shabath (“descanso”). 

Domingo não é dia comemorativo da criação do mundo nem da libertação do povo de Israel, tampouco dia de descanso, pasmaceira, televisão, futebol, pescarias, clubes ou jogatina.

Domingo é dia de oração, de adoração, dia de cultuarmos a Deus, dia de atividade espiritual, como evangelismo, visita aos necessitados, aos encarcerados ou enfermos!

Domingo é o nome de um dia exclusivo do cristianismo, criado por João para caracterizar e distinguir o dia da vitória de Jesus sobre a morte, consumando a libertação de toda a humanidade.

Domingo é o dia aclamado por Davi, em sua jubilosa profecia sobre o dia da ressurreição: “Esta é a porta do SENHOR, pela qual os justos entrarão. Louvar-te-ei, pois me escutaste, e te fizeste a minha salvação. A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a cabeça da esquina. Da parte do SENHOR se fez isto; maravilhoso é aos nossos olhos. Este é o dia que fez o SENHOR; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele” (Sl 118.20-24).

Observemos a exatidão do cumprimento de cada sentença, de cada afirmação, de cada palavra desta impressionante profecia escrita por volta de mil anos antes de Jesus nascer.

Esta é a porta

Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens” (Jo 10.9).

Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1).

Porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito” (Ef 2.18).

A pedra

Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina” (At 4.11).

Os edificadores rejeitaram

Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos” (Mt 21.42,43).

Da parte do Senhor se fez isto

O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro” (At 5.30).

Maravilhoso é aos nossos olhos

Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela” (At 2.24).

Este é o dia que fez o SENHOR

E, no fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro” (Mt 28.1).

E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo, ao nascer do sol” (Mc 16.2).

E no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado, e algumas outras com elas” (Lc 24.1).

E no primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro” (Jo 20.1).

Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco” (Jo 20.19).

E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até a meia-noite” (At 20.7).

No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar"(1Co 16.2).

Regozijemo-nos, e alegremo-nos nele

Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará” (Jo 16.22). 

Regozijai-vos sempre” (1Ts 5.16).

Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos” (Fp 4.4).

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Culto da Páscoa? » Manoel Canuto - Por Pb.Manoel Canuto




Quando Paulo escreve à Igreja de Colossos ele pensa advertir aos irmãos contra a uma possível recaída à sua condição espiritual anterior: “E vós outros também que outrora éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas...não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes...” (1:21, 23); Paulo deseja chamar a atenção deles para Cristo como aquele que têm a preeminência sobre tudo e em quem os crentes somente podem atingir sua maturidade e santidade (1:13-18; 2:8-9); ele também procura realçar a importância de Epafras como fiel ministro (1:7; 1:12-13) e enfatizar a virtude do perdão e da bondade (3:12-14).

Paulo trata a igreja de Colossos de forma elogiável (1:3-8), mas deixa transparecer claramente sua preocupação com os perigos que acediam esta Igreja. Havia muitas influências do paganismo com suas imoralidades (3:5-8) e assédio do sincretismo religioso. Esse sincretismo era muito esquisito, pois envolvia:

(A) Uma falsa filosofia (2:8);

(B) o cerimonialismo judaico com todas aquelas regulamentações cerimoniais do VT e Paulo diz que tudo aquilo eram “sombras” do que viria; e por ter Cristo vindo como cumprimento das Escrituras, estas sombras perderam seu significado porque o objeto que projeta a sombra – Cristo – já chegou (2:17); por isso não há mais necessidade de se voltar aos rudimentos comemorando as “sombras”;

(C) Adoração de anjos (2:18);

(D) Ascetismo.

No mês de abril muitas igrejas evangélicas fazem o culto da Páscoa ou da Ressurreição, uns na sexta-feira outros no domingo, explorando o emocionalismo quando realizam este culto em horários que se aproximam do horário que Cristo possivelmente ressuscitou; são igrejas protestantes usando pragmaticamente as datas litúrgicas da Igreja Católica. Mas nós reformados não concordamos com isso, baseados no princípio Escriturístico apresentado por Paulo nesta epístola (aos Colossenses). Poderíamos resumir nosso ponto de vista contrário da seguinte forma:

I) Não podemos concordar com culto de Ressurreição! (Culto de Páscoa) por ser antibíblico:

1. Paulo havia falado no começo do cap. 2 de Colossenses contra a argumentação persuasiva, a filosofia humanista, a tradição humana não bíblica, e os rudimentos mundanos próprio dos falsos mestres; 

2. Ele cita a comida, a bebida, as festas, a Lua Nova e os sábados (termos do VT);

3. Esses três termos são usados com freqüência no VT para descrever os vários dias cerimoniais que o povo tinha de obedecer (Ver 2 Cr 31:2,3; Ne 10:32,33. Lv 23 faz um comentário com detalhes desses termos – os sábados são festas fixas que são típicas (tipificavam Cristo e Sua obra);

4. Paulo diz que tudo isso era apenas sombra daquelas coisas que haveriam de vir, "mas o objeto que projeta a sombra é encontrada em Cristo";

5. Cristo já veio. Que utilidade teriam estas sombras? A sombra precedia o objeto que a projetava: As leis cerimoniais com suas regulamentações. Por que se apegar à sombra quando o próprio objeto que projeta a sombra já chegou?

6. Tudo isso falava da obra de Cristo incluindo sua ressurreição. O próprio domingo já fala da ressurreição; 

7. Paulo coloca outras coisas estranhas às Escrituras (sincretismo) no cap. 2 de Colossenses, mas se refere também do caráter ascético;

8. Assim os colossenses estavam negando a preeminência da suficiência da obra de Cristo;

9. Por isso os antigos Presbiterianos nunca comemoraram estas coisas – dia de ascensão, de ressurreição, pentecostes, primícias e sim o que a Bíblia determina: “Fazei isso em memória de mim”: a Santa Ceia que é a páscoa do VT, somente; 

10. Para se ser coerente, quem faz culto de Ressurreição tem de fazer culto das Primícias também, pois esta festa apontava para as primícias dos que dormem – a ressurreição de Cristo – e as outras festas como Pentecostes, Pães Asmos, dos Tabernáculos, etc. 

11. Quando Paulo diz "mas o corpo é de Cristo" (2:17) ele estava (no original) dizendo: "...porém o corpo (ou o objeto)... de Cristo" significando, provavelmente: "...porém o objeto se encontra em Cristo"; 

12. Mas Paulo nunca abriu mão do dever moral de se observar um dia em sete como um dia santo – na criação Deus já estabelece esta obrigação moral e repete nos Dez mandamentos. A Igreja Primitiva com os apóstolos muda este dia que já se vê no primeiro dia da semana em Lev 23:12. Sabemos que existem outras interpretações para Cl 2:16-18, mas não na Confissão de Fé de Westminster e na maioria dos comentaristas reformados e puritanos. 

II) A Confissão de Fé de Westminster é muito clara no Capítulo "Da Lei De Deus". Lemos que estas leis cerimoniais que prefiguram Cristo "suas graças, seus atos, seus sofrimentos e seus benefícios ... estão todas abolidas sob o Novo Testamento”. Por isso os Puritanos e a Igreja Presbiteriana do passado nunca comemoraram Páscoa, Pentecostes, culto de ressurreição, etc. Nunca fizeram cultos especiais nestas datas litúrgicas da Igreja Católica Romana e Anglicana, mesmo que seja uma tradição cristã antiga.

III) Não concordarmos com este tipo de culto "tradicional" humanista quanto mais que se realize na madrugada da manhã do domingo. Por que esta hora? Se fosse um horário adiafórico não passaria pelo crivo da prudência cristã. Esse não é horário de culto. É algo comum nos meios dispensacionalistas com suas emoções próprias. Os casos adiafóricos têm de passar pela prudência cristã e por uma ética cristã que tem de ser bíblica. É isso que nos ensina a Confissão de Fé de Westminster. Não é questão de "consciência". Este horário, parece mais pura emoção e fruto de um pensamento místico e pietista. Outros agravam a situação fazendo cantatas e dramatizações, mas tudo isso quebra frontalmente o segundo mandamento. Somos defensores de uma tradição bíblica e não humana.

Tudo isso tem aparência de sabedoria e falsa humildade. Deus nos livre disso.
____________
Editorial publicado na Revista Os Puritanos de 2006.

Tags:

Culto
Páscoa
Manoel Canuto