sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Sem a graça de Deus não tem graça - Por Denis Monteiro

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A Tese 62 de Lutero diz: “O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus”. É correto afirmar que a graça de Deus abrange todas as coisas, pois para qualquer coisa existente, se não houvesse a graça de Deus não teria a mínima graça.
A graça e a salvação
A graça de Deus é o cerne do Evangelho o qual existe desde o Antigo Testamento (Gl 3.8). Sendo assim, a salvação sempre foi apregoada pela graça de Deus.
A graça de Deus, segundo alguns, completa aquilo que faltava no pecador. Essa visão é totalmente errônea, pois o Homem, sendo um pecador, não há nada nele que possa ser utilizado se não fora dado pela própria graça de Deus. Como Deus nos diz: Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” (Is 55.1). Veja que a graça é oferecida aos que não tem dinheiro, e não aos que não tem dinheiro suficiente.
A graça de Deus salvadora é concedida a todos quantos por quem Seu Filho morreu para remir toda a iniquidade, e purificar para si um povo todo seu, zeloso de boas obras (Tt 2.14). E esses mesmos a quem a graça se revela são os mesmos que Deus estava irado, os quais, segundo o apóstolo, não eram justos, não entendiam, não buscavam a Deus, não faziam o bem e nem havia um sequer que o fizesse (Rm 3.10-12). Ou seja, a graça de Deus ninguém merece, mas Deus nos concede pela sua misericórdia, onde que, Cristo satisfez a ira de Deus em nosso lugar. Portanto, só reconheceremos a graça de Deus na salvação quando entendermos realmente quem é a humanidade: A imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice” (Gn 8.21); Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concedeu minha mãe” (Sl 51.5); Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós” (Is 53.6).
Sendo assim, podemos ver que:
- A graça de Deus deve ser retratada no contexto de que nós já fomos inimigos de Deus, merecedores do inferno eterno.- A graça de Deus age sem ver o pecador com mais ou menos merecimento, mas trata a pessoa sem qualquer referência de merecimento e segundo a bondade de Deus infinita.- A graça de Deus não é meritória. Não fizemos nada para merecê-la. Éramos devedores de Deus, devíamos um valor altíssimo, mas Deus perdoou a nossa dívida.- Como já vimos, não fizemos nada para que a merecesse. Mas recebemos a graça de Deus para que façamos boas obras. As nossas boas obras são frutos desta graça Divina. Sendo assim, fomos justificados pela graça de Deus e não pelas obras (Rm 3.24).- A graça não passou a existir com a vinda de Cristo, porque a graça é eterna, como o próprio Paulo diz: não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho” (2Tm 1.9,10).- O fato da graça de Deus ser não meritória mostra claramente que Deus é soberano, não sendo obrigado a derramar essa graça sobre todos. Pois, se Deus fosse obrigado a derramar a graça sobre toda a humanidade, logo, a graça já não seria graça.- Por fim, a graça de Deus atua em toda a nossa salvação. Pois fomos eleitos pela graça de Deus (Rm 11.5), a nossa regeneração foi pela graça (Ef 2.5; Tt 3.5-7), a nossa redenção (2Co 8.9; Ef 1.7), nossa justificação (Rm 3.24), de fato, toda a nossa salvação é pela graça de Deus (Ef 2.8).
A graça comum
Alguns teólogos reformados negam a graça comum de Deus, por entenderem que; se Deus age graciosamente (graça providencial) Ele deverá amar todas as pessoas indistintamente. Outros negam o termo graça comum pelo fato da Bíblia não mostrar que Deus dê a sua graça aos ímpios não eleitos. Mas isso é brigar por definição de termo, sendo que, o fim é o mesmo. Nós não podemos negar que Deus dê benefícios para todos os povos, sendo que, há pessoas entre esses povos que não serão salvas, mas são beneficiadas pela graça de Deus. Como vimos acima, graça é uma dadiva de Deus a um pecador que não merece nada de Deus. Sendo assim, todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, e mesmo assim, Deus concede dons e talentos a cada pecador, como esses textos nos mostram:
E Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e têm gado” (Gn 4.20);
E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão” (Gn 4.21);
E Zilá também deu à luz a Tubalcaim, mestre de toda a obra de cobre e ferro; e a irmã de Tubalcaim foi Noema” (Gn 4.22);
Em meio ao endurecimento progressivo do pecado – poligamia e a vingança grosseira e injusta – Deus concede dons e talentos quanto a extensão do mandato cultura, desde agricultura animal (Gn 4.20) às artes (Gn 4.21) e às ciências (Gn 4.22). Como Deus concede tais graças à uma descendência ímpia? Não sei, mas isso se chama graça comum. Da mesma forma como mostra o nosso Senhor Jesus que Deus “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5.45).
Sendo assim, não podemos confundir graça comum com a graça salvadora mostrada acima, como nos mostra Michael Horton:
A graça comum beneficia a humanidade caída em termos da presente época, mas não traz a era futura, ou seja, não faz acontecer o reino de Deus. Não salva os malfeitores do juízo vindouro, nem redime a arte, a cultura, o estado ou as famílias. Diferente da graça salvadora. A graça comum se restringe ao mundo atual até o dia do juízo e não impedirá a mão de Deus de agir com justiça naquele temível dia.[1]
Quanto a nós cristãos, não devemos menosprezar a graça comum, pois além de recebermos a graça salvadora nós temos a graça comum em nossas vidas antes mesmo de aceitarmos a fé. Mas a questão é que todos os nossos atos, frutos desta graça comum, não devem ser para o nosso prazer último. Mas que os nossos atos devem ser feitos visando à glória de Deus, mostrando em nossos feitos uma vida redimida pelo Santo Espirito de Deus.
Certa feita um sapateiro perguntou a Lutero “de que forma poderia servir a Deus da melhor maneira”, Lutero respondeu: “Faça um bom sapato e venda por um preço justo”. A graça comum que recebemos antes de nossa conversão, agora, depois de converso, deve ser mostrada em dignidade e em conformidade com o Evangelho.
Se vestindo da graça
Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens. Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente.” - Tito 2.11,12
Vimos sobre a graça de Deus na salvação, como ela atua na salvação do pecador e vimos sobre a graça de Deus como providência geral na humanidade. Agora, tentarei mostrar a graça de Deus na vida dos eleitos. O texto acima nos mostra que a graça de Deus nos ensina a dizer “não” para a impiedade e para as paixões mundanas, para poder viver no século presente uma vida piedosa. No entanto, quero focar em cinco características que são relacionados à graça: a gratidão, o contentamento, a humildade, a paciência e o perdão.[2]
A) Gratidão
Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome. Porque o Senhor é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade dura de geração em geração.” - Salmo 100.4,5
A primeira característica que deve fluir por causa da graça de Deus é a gratidão a Ele. Tudo o que somos e tudo o que fazemos são frutos da graça de Deus em nós, por isso devemos ser gratos a Deus. Ser grato a Deus é reconhecer o Seu cuidado em nós, tanto a sua bondade quanto a sua fidelidade. Não ser grato a Deus reflete a nossa imoralidade, como o próprio Paulo disse: Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Rm 1.21). Glorificar a Deus é reconhecer a majestade e dignidade de Sua pessoa. Dar graças a Deus é reconhecer a generosidade de Suas mãos em suprir-nos e cuidar de nós. Se a nossa vida não é de gratidão a Deus, nós, possivelmente, estamos servindo a outro deus que não é o Deus Todo Poderoso.
B) Contentamento
De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento.” - 1 Timóteo 6.6
O contentamento é uma forma de mostrar que o coração está centrado em Deus. Pois, quando o pecador redimido entende realmente que foi alcançado pela graça de Deus, sem a qual não poderia nem viver neste mundo feito por Ele, tal pecador se contenta com aquilo que Deus lhe deu. Agora, quando estamos descontentes com algo, isso expressa a nossa ingratidão com Deus, passando a viver pelas obras e achando que merecemos mais do que recebemos. Um espírito pobre prestigia as riquezas do mundo estando descontente. Mas uma alma viva pela graça de Deus flui o contentamento, reconhecendo que não recebe o que realmente merece, mas diariamente recebe aquilo que não merecia.
C) Humildade
Porque todo o que se exalta, será humilhado; mas o que se humilha, será exaltado.” - Lucas 18.14
Humildade não significa que temos que negar o que há de bom em nós, mas sim, entender que o que há de bom em nós só existe porque isso é devido à graça de Deus. A humildade não é somente recomendada por Deus (Is 57.15; 66.1,2), como também, a humildade foi exibida plenamente em Seu Único Filho: “E, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente ate a morte, e morte de cruz” (Fp 2.7,8). Sendo assim, quando olhamos para a graça de Deus temos que ter em mente o que disse o apóstolo: Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” (1Co 4.7). Toda habilidade e toda vantagem que temos vem do próprio Deus e foram nos dada para servimos a Deus, e não nos gloriarmos naquilo que não merecíamos.
D) Paciência
Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de… longanimidade.  - Colossenses 3.12
A paciência na Bíblia é muitas vezes retratada como longanimidade (tardio em irar-se). Todas as vezes que não somos pacientes nós estamos mostrando que não merecíamos a longanimidade de Deus. Pois, Deus sendo eternamente justo, tinha todas as razões para que nos lançássemos ao inferno. Portanto, para um crente que reconheceu a graça de Deus em sua vida ele buscará a todo momento essa paciência com seu próximo, pois a paciência é acompanhada da unidade, carinho e amor (Ef 4.1-3).
E) Perdão
… perdoando-vos uns aos outros.” - Colossenses 3.13
O perdão está acompanhado da paciência, porque se nós formos pacientes, saberemos perdoar. Porque, este pecador redimido entende que Deus foi longânimo e perdoador. Pois, éramos fortes candidatos ao inferno, mas Deus nos perdoou de toda iniquidade e continua nos perdoando. Logo, a oração do Pai Nosso retrata bem o perdão de Deus em nossas vidas quando diz: E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6.12). Se nós entendemos de fato a graça de Deus em nossas vidas, nós perdoaremos o nosso próximo que erra da mesma forma que nós.
Conclusão
A graça de Deus está em nossas vidas desde o momento em que Deus permitiu que mais um pecador nascesse nesta criação feita por Deus. A nossa concepção foi por causa da graça de Deus, todo o trabalho que o médico teve em conduzir o parto foi pela graça de Deus que nos atingiu. A nossa vida familiar, no trabalho e/ou na igreja é por causa da graça de Deus. Se não fosse a graça de Deus não teria a mínima graça. A compreensão desta graça que Deus concede, nos ajuda a entender o tamanho deste Deus e como Ele é bom, pois Deus age em todas as coisas para a Sua própria glória, até por meio de algumas coisas que não entendemos, Deus age graciosamente.
_________Notas:[1] HORTON, Michael. Bom demais para ser verdade: encontrando esperança num mundo de ilusão. Tradução: Elizabeth Gomes. São José dos Campos [SP]: Editora Fiel, 2013, p. 109.[2] Essa divisão foi proposta pelo escritor Jerry Bridges em seu livro Graça que transforma. Tradução: Elizabeth Stowell Charles Gomes [SP]: Cultura Cristã, 2007, p.194
***Fonte: Bereianos

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

ORE EM NOME DE CRISTO - Por James W. Beeke e Joel R. Beeke



“Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” (João 16.24).
Embora encerremos frequentemente nossas orações com “por amor de Jesus”, frequentemente oramos por amor de nós mesmos. Apesar de condenarmos a doutrina da salvação por meio das nossas próprias boas obras e de crermos na salvação pela graça baseada nos méritos de Cristo, essa verdade frequentemente é esquecida de um modo prático em nossa vida diária de oração.
Tendemos a pensar que, quando temos ternos sentimentos, um vivo sentimento de profunda reverência, um sentimento de um coração humilde, uma forte sensação da presença de Deus, ou uma seriedade real para com o Senhor, que Deus ouvirá a nossa oração. Se raciocinarmos dessa forma, sobre o quê estaremos baseando o nosso julgamento? Será que acreditamos realmente que Deus ouvirá a nossa oração por amor de Jesus, ou por amor a nós? Pensamos que Deus ficará satisfeito, com base em nossos sentimentos, para nos dar o que pedimos? Acreditamos que as nossas orações, por si mesmas, merecem ser ouvidas, respondidas e recompensadas por um Deus perfeito, que pode ser satisfeito unicamente por uma perfeita justiça? Se assim for, estaremos denegrindo as perfeições de Deus – ao nosso próprio nível e, assim, insultando Seu Ser santo e infinito.
Orar em nome de Cristo não é basear minha esperança e expectativa de ser ouvido sobre os méritos das minhas “boas” orações. Em vez disso, é orar colocando toda a minha confiança nos méritos de Jesus Cristo e em Sua intercessão. Algumas vezes sentimos que nossas orações são tão pobres e vazias que nós desesperamos de sermos ouvidos pelo Senhor. Podemos ser tão pouco perseverantes, gratos e sentirmos tanto vazio em nossas orações que concluímos que Deus nunca irá ouvi-las. Raciocinar dessa forma mostra a ausência de oração “por amor de Jesus”. Além disso, testifica da descrença na graça de Deus e no seu amor por pecadores indignos.
Jesus nos ensinou: “Até agora nada tendes pedido em meu nome” (João 16.24). Orar em nome de Cristo é buscar refúgio nEle como o Filho amado de Deus – o Único em quem o Pai se deleita ouvir e honrar. Orar em nome de Jesus inclui confessar quem é o verdadeiro Deus e Mestre em minha vida. Enquanto condenamos as orações feitas aos ídolos como sendo tolas, quantas vezes não temos orado ao ídolo do nosso ego? Frequentemente curvamos os nossos joelhos diante do deus do nosso ego. Satanás tentou Jesus, dizendo: “Ajoelhe-se e me adore”. Pense em quão degradante esse insulto foi a Deus! Nossas orações podem testificar que olhamos para o deus do nosso ego com a atitude de que nós somos o senhor e mestre. Ainda nos atrevemos a dizer a Deus para fazer o que pedimos. Agimos como se fôssemos o Senhor e Deus o nosso servo. Você já se sentiu culpado por isso em suas orações e já foi preso pela idolatria egoísta da sua oração?
Uma das razões pelas quais pedimos e não recebemos é porque pedimos em nosso próprio nome. É semelhante a uma criança que pede alguma coisa ao seu pai, mas seu pedido não está baseado nas necessidades ou no julgamento dos pais e boa vontade em dar. Em vez disso, seu pedido é baseado, de forma egoísta, sobre uma ou duas coisas que ela fez para ajudar em casa. Devido a isso, agora a criança pensa que tem o direito de dizer a seus pais exatamente o que quer que eles façam, e até mesmo como e quando devem fazer. Se seus pais verdadeiramente amam essa criança, responderão às suas exigências egoístas da forma e no momento em que ela quer?
Uma clara evidência desse problema na vida de oração dos cristãos é quando gastamos mais tempo nos preparando para vir a Cristo do que em realmente vir até Ele. Pais, o que vocês pensariam do seu filho que possui uma necessidade, mas passa horas se aprontando, pensando em como dizer as coisas de uma maneira perfeita, trabalhando para demonstrar os sentimentos corretos, mostrando os maneirismos adequados, e em seguida, esperando, talvez, que vocês estarão dispostos a ouvi-lo? Isso honraria ou insultaria você e seu amor por seu filho?
Orar em nome de Cristo exige o repúdio da oração em nosso próprio nome. Orar em nome de Cristo testifica não apenas do nosso status como pecadores, mas também do status de Cristo como Salvador – do nosso pecado, e Sua graça! De forma maravilhosa, a Escritura nos ordena, amorosamente, orar em nome de Cristo.
FONTE: James W. Beeke e Joel R. Beeke. Developing a Healthy Prayer Life. Grand Rapids, MI: Reformation Heritage Books, 2010. pp. 4-6.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Você sabe o que é Justificação? Por Rev. Ronaldo P. Mendes


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o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação.…” (Romanos 8.30)
A Justificação “é um ato da livre graça de Deus, no qual ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos diante dele, somente por causa da justiça de Cristo a nós imputada, e recebida somente pela fé.” (Breve Catecismo de Westminster). O pecador que, por natureza, é inimigo de Deus, sendo justificado pela fé em Cristo pode desfrutar de uma completa e perfeita paz e harmonia com Deus (cf Romanos 5.1).
É um ato de um juiz, absolvendo alguém que é acusado de crime. Mas de qual crime o homem é acusado? A resposta está em Gêneses 3 onde está o relatado a desobediência de Adão, a queda da humanidade. O homem pecou e para ser justo diante de Deus é preciso pagar um preço, esse preço Deus cobrou em seu Filho Jesus Cristo. O homem está morto em seus delitos e pecados. Assim, para que esse homem possa viver, é necessário que Deus faça algo por ele,  Deus o torna justo através da obra de Cristo (cf Rm 3.23-24). O Senhor, por sua graça, atribui ao pecador que é culpado e condenado, mas eleito em Cristo, a retidão perfeita de Deus. Ele o absolve nos méritos de Jesus de toda a culpa e castigo, e lhe dá um direito a vida eterna. Nós não temos penalidade a pagar pelo pecado, incluindo os pecados do presente, do passado e do futuro.
Aos nossos olhos parece-nos injustiça por parte do juiz. Mais é um julgamento justo, pois a sua base é a justiça de Cristo o nosso representante que obedeceu a lei que nos sujeitava e suportou o pior castigo para pagar a nossa dívida.
Justificação segundo o Antigo Testamento
No Antigo Testamento, o conceito de justiça aparece com frequência em contextos forenses ou jurídicos. Uma pessoa justa é a que foi declarada sem culpa pelo juiz. A tarefa do juiz é condenar o culpado e absolver o inocente. Deus é juiz de todos: “porque sustentas o meu direito e a minha causa; no trono te assentas e julgas retamente.” (Salmo 9.4). Segundo o Antigo testamento, justificar implica certificar que a pessoa é inocente e, depois declarar que o fato é verdadeiro, que ela cumpriu a lei.
No texto de Deuteronômio lemos: “Em havendo contenda entre alguns, e vierem a juízo, os juízes os julgarão, justificando ao justo e condenando ao culpado” (25.1). Nesse caso “justificar” significa “declarar justo” ou inocente, assim como “condenar” significa “declarar culpado”. O Antigo Testamento emprega duas diferentes formas da mesma palavra (hidsdik e tsiddek) para expressar esta idéia. Estas palavras não indicam, exceto em algumas passagens, uma mudança moral efetuada por Deus no homem, mas designam regularmente uma declaração divina com referência ao homem. Exprimem a idéia de que Deus na competência de Juiz declara o homem justo. Por isso o pensamento que expressam é muitas vezes em oposição ao da condenação (Dt. 25.1; Pv 17.15; Is. 5.23).
Justificação segundo o Novo Testamento
No Novo testamento os termos usados para justificação, no grego, são: Dikaios(justo); Dikaiosis (justificação, defesa, reclamação dum direito); Dikaioo (tratar como justo, inocentar”, “declarar justo”.).
O verbo dikaio tem o mesmo significado que o hebraico Kadoshi (santo). Não refere à retidão moral da pessoa, mas ao estado de retidão que é o resultado da decisão judicial ou legal.
Podemos encontrar esse termo nos escritos do apóstolo Paulo: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Romanos 4.5); “sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus,” (Romanos 3.24). A justificação está alicerçada sobre a obediência da vida inteira de Cristo, na qual ele cumpriu os preceitos de Deus por nós, em sua morte na cruz, quando pagou a pena do julgamento divino que era contra nós.
O sentido mais comum do verbo Dikaios é de “declarar justo”, e os escritos de Paulo trazem esse significado: “Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça.” (Romanos 4.5). Aqui Paulo não quer dizer que Deus torna justo os ímpios (transformando-os inteiramente e tornando-os moralmente perfeitos), mas em reposta à fé deles. A justificação é uma declaração legal por parte de Deus: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós” (Romanos 8.33-34).
Um exemplo de declaração de justificação está em Lucas 18.9-14, onde  Jesus ensinando, conta a parábola do farizeu e publicano, encontramos ali características de dois homens diante de Deus, o fariseu não foi justificado porque confiava em seus esforços, porém o publicano voltou para casa justificado, a idéia é que ele “foi feito justo” por Deus, o próprio Deus o justificou.
De acordo com o Novo Testamento, a justificação é uma ação forense ou declarativa de Deus, como a de um juiz absolvendo o acusado. E isso pode ser observado: “e, por meio dele, todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés.” (Atos 13.39); “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.” ( I Coríntios 6.11). 
Em I Coríntios 1.30 lemos: “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção,”, Jesus é “justiça”dikaiosúnê, esse é um dos benefícios que Cristo nos trouxe através de sua morte e ressurreição. A totalidade da justiça pessoal de Cristo é imputada a nós e considerada como nossa. Deus apaga as nossas transgressões, e dos nossos pecados ele não se lembra; somos feitos justiça de Deus em Jesus, que é o fim da lei para a justiça de todo aquele que crê. A aliança das obras está cumprida em Cristo, algo que jamais conseguiríamos cumprir. Aos olhos de Deus somos justos, porque somos justificados em Cristo.
Onde Adão caiu Cristo veio cumprir: “Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante.” (I Coríntios 15.45). Faz parte da própria essência do evangelho insistir que Deus nos declara justos não com base em nossa atual condição de justiça ou santidade, mas com base na perfeita justiça de Cristo, a qual ele considera pertencente a nós.      
O instrumento da justificação
A teologia protestante afirma que a fé é causa instrumental da justificação no sentido em que a fé é o meio pelo qual os méritos de Cristo são apropriados a nós. “A fé, assim recebendo e assim se firmando em Cristo e em sua justiça, é o único instrumento de justificação; ela, contudo, não está sozinha na pessoa justificada, mas sempre anda acompanhada de todas as demais graças salvíficas; não é uma fé morta, mas a fé que age pelo amor.” (Confissão de Fé de Westminster)        A Bíblia diz que não somos justificados por nossas próprias boas obras, mas pelo que é acrescentado pela fé, ou seja, a justiça de Cristo. Deus transferiu a nós a justiça de Cristo. E o apóstolo Paulo nos ensina como ocorre a justificação: “sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.” (Gálatas 2.16). Paulo indica que a fé vem primeiro com o propósito de sermos justificados.
As Escrituras nunca dizem que somos justificados por causa da bondade inerente da nossa fé, como se ela tivesse mérito diante de Deus. Nunca nos permitamos pensar que nossa fé por si só merece favor de Deus. Antes, as Escrituras dizem que somos justificados “mediante” nossa fé, dando a entender que a fé é o instrumento pelo qual a justificação nos é dada, mas em nenhuma hipótese uma atividade que obtenha o favor de Deus. Ao contrário, nós somos justificados unicamente por causa dos méritos da obra de Cristo ( Romanos 4.23-25). 
Em Palavra de Deus nos mostra o motivo e o modo de justificação para o pecador: “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, …” (Romanos 3.23-25), aqui temos a causa instrumental da justificação do homem caído “mediante a fé”, ou  “através da fé”.
Não pensemos nós, que o termo “causa instrumental” está dizendo que justificação depende do homem, pois tudo é dom de Deus: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;” (Efésios 2.8).
Quando as Escrituras falam da justificação pela obediência ou pelo sangue de Cristo, a fé está subentendida; do contrário, as passagens que falam de justificação pela fé não teriam sentido. Da mesma maneira, quando falam de justificação pela fé, ficam subentendidos o sangue e a obediência, ou não teria sentido dizer “justificado por seu sangue”; “pela obediência de um só, muitos serão justificados.” O que Cristo fez e sofreu e, também, a nossa fé em Cristo são necessários para efetuar a nossa justificação.
A fé é o oposto exato em confiar em si mesmo, ela é o meio pelo qual o injusto se torna justo diante do tribunal de Deus. A fé não é a base para a justificação. Caso fosse, o homem teria mérito. O homem nunca foi salvo por obras, mas sim por fé, é o exemplo de Abraão: “Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.” (Romanos 4.3).
Em suma, por causa instrumental entendemos que a fé é o meio pelo qual o homem é justificado, mas não é a causa da justificação. Ela é um dom de Deus, sendo assim o homem não tem nenhum mérito na justificação, pois “…é Deus quem Justifica…” (Romanos 8.33).
Para concluirmos essa breve consideração sobre a justificação, é necessário lembrarmos de que é Deus o autor da justificação do homem, pois ele é injusto diante de Deus. A justificação é a declaração legal no tribunal de Deus onde ele remove a culpa do pecado do homem, pagando a sua penalidade. É um ato de um juiz, absolvendo alguém que é acusado de crime.
No Antigo Testamento, justificação tem a idéia forense ou jurídica. Uma pessoa justa é a que foi declarada sem culpa pelo juiz. É certificar que a pessoa é inocente e, depois declarar que o fato é verdadeiro, que essa pessoa cumpriu a lei. No Novo Testamento, o termo “justificar” denota “declarar justo”, assim como no Antigo Testamento, a justificação é declaração legal por parte de Deus. E isso é por meio da fé, a causa instrumental, o meio pelo qual somos justificados, mas a fé não é a causa da nossa justificação. Ela não é a base para a justificação, mais sim os méritos de Cristo: “E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.” (Gálatas 3.11).

A Deus toda honra e glória!

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 Para saber mais sobre o assunto, recomendo a leitura de alguns livros:“Justificação pela fé somente” (Joel R. Beeke, John Armstrong, John Gerstner, John MacArthur, RC Sproul), “Introdução à Teologia Sistemática (Millard J. Erickson), Justificação pela graça (Charles Haddon Spurgeon),Manual de Teologia Cristã (Louis Berkhof).

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Fonte: Solus Christus
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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O Amor de Paulo pela igreja - |Por J Bessa



Paulo não amava a “igreja” invisível simplesmente – como muitos falam hoje com orgulho – Hoje diriam: “Paulo é um homem da ‘Instituição’” – Paulo amava as igrejas locais. Ele deu a si mesmo, não só seu trabalho incansável... deu a si mesmo. Os irmãos da igreja loca e visível dos filipenses eram sua “alegria e coroa” – “Portanto, meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa...” - Filipenses 4:1 – A outra igreja local instituída – Pastores, diáconos... Ele diz: “Na verdade vós sois a nossa glória e gozo.” - 1 Tessalonicenses 2:20
Você pode como Paulo, dizer a irmãos de alguma igreja local a mesma coisa? Considera irmãos de uma igreja local tua alegria e coroa? Você se identifica tanto com eles assim? Paulo se refere a igrejas locais e visíveis como seu “orgulho” – “...assim como vocês nos entenderam em parte, venham a entender plenamente que podem orgulhar-se de nós, assim comonos orgulharemos de vocês no dia do Senhor Jesus.” - 2 Coríntios 1:14 – E a igreja visível dos Tessalonicenses e dos Coríntios estavam cheias de problemas – razão das cartas serem enviadas. Mas Paulo diz aos coríntios que eles eram seus “filhos” (visíveis) – “Não estou tentando envergonhá-los ao escrever estas coisas, mas procuro adverti-los, como a meus filhos amados. Embora possam ter dez mil tutores em Cristo, vocês não têm muitos pais, pois em Cristo Jesus eu mesmo os gerei por meio do evangelho.” - 1 Coríntios 4:14-15.
Paulo se sentia da mesma forma sobre a igreja dos Gálatas e com líderes visíveis da igreja (visível) Timóteo e Tito: “Meus filhos (visíveis), novamente estou sofrendo dores de parto por sua causa, até que Cristo seja formado em vocês.” - Gálatas 4:19 – “...a Timóteo, meu verdadeiro filho na fé: Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, o nosso Senhor.” - 1 Timóteo 1:2 – “...a Tito, meu verdadeiro filho em nossa fé comum: Graça e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador.” - Tito 1:4 – Paulo uniu a sua reputação a igreja (visível) como um pai faz com filho – visivelmente.
Quantas vezes não ouvimos as palavras de Paulo de amor e SAUDADE!Não podemos sentir saudade da igreja invisível... mas de irmãos visíveis, do convívio e comunhão com irmãos com os quais dividimos nossa vida e ministério. Paulo escancara seu coração e mostra como anseia que as IGREJAS (locais e visíveis) façam o mesmo: “Não lhes estamos limitando nosso afeto, mas vocês nos estão limitando o afeto que têm por nós. Numa justa compensação, falo como a meus filhos, abram também o coração para nós!” - 2 Coríntios 6:12-13
Paulo deseja vê-los ( visíveis!!  ) e estar com eles – “Anseio vê-los, a fim de compartilhar com vocês algum dom espiritual, para fortalecê-los” -Romanos 1:11 – “Portanto, meus irmãos, a quem amo e de quem tenho saudade, vocês que são a minha alegria e a minha coroa, permaneçam assim firmes no Senhor, ó amados!” - Filipenses 4:1 – “Agora, porém, Timóteo acaba de chegar da parte de vocês, dando-nos boas notícias a respeito da fé e do amor que vocês têm. Ele nos falou que vocês sempre guardam boas recordações de nós, desejando ver-nos, assim como nós queremos vê-los.” - 1 Tessalonicenses 3:6 – “Lembro-me das suas lágrimas e desejo muito vê-lo, para que a minha alegria seja completa.” - 2 Timóteo 1:4 – Paulo ANSEIA por eles com o carinho do próprio Cristo: “Deus é minha testemunha de como tenho saudade de todos vocês, com aprofunda afeição de Cristo Jesus.” - Filipenses 1:8 – Paulo sabe que a sua própria angústia é para o conforto e salvação das IGREJAS, e seu conforto é para seu conforto: “Se somos atribulados, é para consolação e salvação de vocês; se somos consolados, é para consolação de vocês, a qual lhes dá paciência para suportarem os mesmos sofrimentos que nós estamos padecendo.” - 2 Coríntios 1:6 – Paulo não deu parte de si mesmo para AS IGREJAS, segurando parte de sua vida para si mesmo – como Ananias e Safira... ele fez o oposto. Ele deu a si mesmo completamente para aquelas IGREJAS VISÍVEIS.E Paulo não amava assim apenas os cristãos maduros e prontos... muitas vezes essas igrejas tinham ambientes insalubres e não saudáveis – o que fazia Paulo sentir dor por eles... como um pai, como uma mãe com dores de parto...
Houve um tempo em que Paulo teve desprezo e ódio contra a igreja – não a invisível – mas a igreja visível que ele podia perseguir e matar seus líderes e membros. Quando Paulo perseguiu e matou a igreja visível (já que é impossível perseguir a invisível ) - Jesus disse: “É a mim que Tu persegues!” Se Estêvão não fosse um diácono visível na igreja visível ("instituição") - não teria morrido visivelmente em Jerusalém! – “...arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem chamado Saulo.” -  Atos 7:58
Que o Espírito Santo de Deus aumente nosso amor para que possamos imitar Paulo em seu amor desmedido pelas IGREJAS VISÍVEIS, como Paulo em tudo imitou Cristo: “Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo.” -  1 Coríntios 11:1

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Deus e o Gênero: Macho e Fêmea - Por John Frame


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Atualmente algumas teologias têm focalizado sobre a conveniência de se usar uma linguagem feminina para Deus. O recente teólogo evangélico Paul K. Jewett fez esta central questão em seu God, Creation, and Revelation.[1] 

Apesar de negar em seu prefácio que “tenha algum pensamento de acomodação da exposição da fé cristã ao cânons da modernidade,”[2] às vezes, usa “ela” para Deus [3] e concede muito espaço para a defesa de argumentos feministas. O livro She Who Is[4] de Elizabeth Johnson é um amplo tratado acerca da doutrina de Deus, tem como sua tese principal a necessidade de se usar uma linguagem feminina (mais ou menos exclusivamente)[5] com referência a Deus. Estes títulos são característicos de muitos.

Esta questão certamente não é a maior no que diz a respeito à própria Escritura, nem é a mais alta prioridade do presente volume. Mas, desde que a teologia é aplicação, e ela se torna importante para aplicarmos os princípios bíblicos aos interesses emitidos das pessoas contemporâneas. Certamente, há princípios bíblicos que são relevantes para esta questão.

Como Deus poderia ser Fêmea?

Podemos primeiramente esclarecer que esta questão envolve o uso da linguagem figurada. Ninguém argumentaria que Deus é literalmente macho ou fêmea, assim os cristãos em geral concordam que Deus é incorpóreo (como a Bíblia ensina).[6] Elizabeth Johnson crê que Deus é físico num sentido panenteístico: o corpo de Deus é o mundo.[7] Mas ela não baseia o seu argumento da feminilidade de Deus sobre as características físicas.

Apesar da Escritura, às vezes, representar Deus antropomorficamente pelo uso de figuras de partes do corpo humano, estas partes não incluem os órgãos sexuais.[8] Deste modo, a sexualidade não é parte das figuras visuais da Escritura. As afirmações que consideram as figuras femininas de Deus, portanto, são sutis. Elas fazem analogias entre a posição, o caráter, a personalidade e as ações de Deus, e que associamos com a mulher.

A real natureza desta questão levanta problemas para o feminismo. Existem traços do caráter ou da personalidade que são característicos na mulher em algum grau? Às vezes, feministas dizem que não. Em sua concepção, toda característica humana e traços de personalidade são comuns tanto a homens como a mulheres, e pensar de outro modo é comprometer-se com estereótipos. Em outras circunstâncias, elas têm reconhecido que há diferenças (em menor grau), mas têm preferido dar maior honra àqueles traços associados com a mulher.

Johnson e algumas outras feministas procuram ter ambos os conceitos. Ela insiste que nossa noção do feminino (logo, o Deus feminino) poderia incluir “intelectual, artístico,” e “liderança pública”, e igualmente “orgulho e ira”.[9] Ela elogia a religião de Ishtar (no Antigo Testamento, Astarte ou Astoreth, a esposa de Baal, Jz 2:13; 10:6; 1 Sm 7:3-4; 12:10) ao encontrar em sua deusa “a fonte do poder e soberania divina personificada na forma feminina,” que promove guerra e exerce julgamentos.[10] Sobre esta base, traços de masculinidade e feminilidade são essencialmente os mesmos. O que a sociedade necessita entender é que eles podem ser encontrados tanto nas mulheres como nos homens.[11]

Entretanto, esta ênfase conflita com o desagrado de Johnson pela noção de “ter o poder sobre”, o governo e submissão. Ela vê estas concepções como sendo tipicamente características masculinas que a teologia feminista poderia evitar descrever Deus. Porventura, o “ter o poder sobre” é um traço masculino que a teologia feminista poderia substituir em favor dos traços femininos? Ou ela é um traço que as feministas poderia admitir como sendo uma propriedade feminina e encontrar numa deidade feminina?

Portanto, não está claro, que espécie de deus uma deidade feminina poderia ser. Poderia ela ser mais nutridora, bondosa, receptiva e afetuosa do que a deidade masculina da teologia patriarcal? Ou, ela seria tão poderosa, dominante e agressiva como qualquer homem, não obstante, de algum modo ainda ser feminina? Johnson usualmente parece favorecer a última alternativa, com alguma inconsistência, como temos visto. Mas, qual é a característica feminina acerca desta deidade? Se a sua feminilidade não é física, podemos julgar sua natureza somente pelos traços do caráter e personalidade. Mas acerca da descrição de Johnson, os traços da deusa são comuns a machos e fêmeas. Assim, é difícil discernir o que Johnson realmente entende ao afirmar quando diz que Deus é feminino.

Figuras Femininas de Deus na Escritura

Não poderíamos continuar sem antes verificar os dados bíblicos. Poderia ser acrescentado que, apesar de Deus ser o Criador, e por isso o modelo tanto para as virtudes “masculinas” e “femininas” (mas que estas sejam bem definidas), as figuras bíblicas de Deus como gênero, lhes é relevante, e que são predominantemente masculinas. Os pronomes e verbos que se referem a Deus são sempre masculinas na Escritura, e as figuras que usa para si (Senhor, Rei, Juiz, Pai, marido) são tipicamente masculinas.[12] 

Todavia, há algumas figuras femininas de Deus na Bíblia. Em Deuteronômio 32:18, Deus, através de Moisés, repreende Israel, dizendo:

               Abandonaste a Rocha que te gerou;
               E te esqueceste do Deus que te deu o nascimento.

Nesta figura, Deus usa tanto funções masculinas como femininas na origem de Israel. Em Números 11:12, Moisés frustrado com a murmuração dos israelitas, nega que não foi ele, mas Deus, quem havia concebido aquele povo e conduzido-os. Assim ele pergunta: “porque, Tu ordenas-me para conduzi-los em meus braços, como uma ama conduz uma criança?” Talvez o pensamento expresso em Deuteronômio 32:18 descansa nas palavras de Moisés: Deus concebeu Israel e lhe deu o nascimento, e assim Deus deveria ser sua ama. Estas duas passagens são mencionadas muitas vezes na literatura feminista, mas a figura feminina não é enfatizada. No contexto, nada mais é feito pelo fato de que Deus concede o nascimento ou pode ser uma ama. A figura aqui é menos impressionante do que de Gálatas 4:19, onde o apóstolo Paulo descreve a si mesmo como em dores de parto pela igreja, e em 1 Tessalonicenses 2:7, onde diz que ele e seus cooperadores foram “carinhosos entre vocês, como uma mãe acaricia aos seus pequeninos bebês.” Ninguém sugeriria com base nestas passagens que podemos concluir que Paulo era uma mulher. Nem que Números 11:12 e Deuteronômio 32:18 nos exigem repensar o gênero de Deus.[13] 

Em Isaías 42:14, Deus declara um ameaçador julgamento:

               Por muito tempo me calei
               Estive em silêncio e me contive;
               Mas agora darei gritos como a parturiente,
               E ao mesmo tempo ofegarei,
               E estarei esbaforido.

Escritoras feministas mencionam diversas vezes esta passagem apresentando-a como uma figura de Deus. A figura aqui certamente é feminina. Uma mãe ansiosa pode passar muitos meses em modesto silêncio, mas quando chega o seu tempo de dar a luz, ela gritará! Semelhantemente, Deus demora o seu julgamento, mas quando o tempo certo vem, ele certamente fará a sua presença conhecida. De fato, a Escritura menciona muitas vezes, o sofrimento do nascimento como uma figura da maldição de Deus (Gn 3:16) e, proverbialmente, o pior sofrimento imaginável. Assim, como uma metáfora, ela se aplica natural e freqüentemente tanto a homens como a mulheres. Salmo 48:4-6 diz:

               Por isso, eis que os reis se coligaram
               E juntos sumiram-se;
               Bastou-lhes vê-los, e se espantaram,
               Tomaram-se de assombro
               E fugiram apressados.
               O terror ali os venceu,
               E sentiram dores como de parturiente.

Os reis são homens, mas eles tremeram como uma mulher em momento de parto (cf. Is 13:8; 21:3; 26:17; Jr 4:31; 6:24; Mq 4:9). Enquanto a Escritura usa esta metáfora feminina para Deus, ela não nos dá mais coragem para pensar de Deus como fêmea, do que nos dá a pensar daqueles reis como mulheres. A figura feminina usada para Deus em Is 42:14-15 é comum na Escritura, e muitas vezes é usada para personagens masculinos.

Em Lucas 15:8-10, Jesus nos conta uma parábola acerca de uma mulher que acende uma lâmpada, varre a casa, e procura cuidadosamente para encontrar uma moeda perdida. Quando ela a encontra, chama as suas amigas para junto regozijarem. Alguns crêem que a mulher representa Deus, talvez, especificamente Jesus, como faz o pastor e o pai nas outras duas parábolas em Lucas 15. Todavia, a parábola enfoca mais sobre a alegria dos amigos (i.e., os anjos, vs. 10) do que sobre o esforço doméstico. Em Mateus 23:37, Jesus compara a si mesmo a uma galinha que deseja ajuntar os seus pintinhos debaixo de suas asas. Esta é certamente uma metáfora feminina, mas certamente não é algo que leva em questão o gênero de Jesus.

Além destas passagens específicas, há algumas idéias bíblicas mais latas em que alguns pressupõem um elemento feminino de alguma espécie em Deus. Uma é o uso de rahamsplanchnizomai para compaixão divina, um uso que discuto brevemente numa nota de roda-pé anterior. Veja o capítulo 20 para maiores discussões.

Outro é o uso da palavra Espírito (heb. Ruah, gr. Pneuma). Ruah é um substantivo feminino, e Gn 1:2 ilustra o Espírito “chocando” como uma ave mãe. A Escritura também representa o Espírito como o doador da vida (Sl 104:30), particularmente do novo nascimento (Jo 3:5-6).

Não se pode, entretanto, deduzir muita coisa deste ponto gramatical. Substantivos femininos, necessariamente, não denotam personagens femininos,[14] e o termo grego correspondente pneuma é neutro. Além do mais, “pairar” é também uma interpretação possível da palavra rahaf em Gênesis 1:2. E em João 3, a palavra traduzida “nascido” (gennao) pode significar “gerado” bem como “conduzido”, podendo se referir a função masculina de procriar. Todavia, a interpretação “conduzido” é preferível em João 3:5 por causa da resposta de Nicodemos no verso 4. Poderia concluir que é possível ser um conjunto de figuras femininas do Espírito na Escritura, mas que dificilmente sugeriria que o Espírito é um personagem feminino da Trindade.[15] Se o grupo de figuras, como discutimos anteriormente, é insuficiente para justificar em falar-se da divina feminilidade, certamente que duas figuras não são suficientes para provar a feminilidade do Espírito.

Outro conceito sob discussão é acerca da sabedoria (heb. Hokmah, gr. Sophia). Os termos, tanto no grego como no hebraico, são substantivos femininos, e em Provérbios, a sabedoria é personificada como uma mulher (7:4; 8:1-9:18). Sabedoria é uma figura divina em Provérbios 8:22-31, e o Novo Testamento identifica-a com Cristo (1 Co 1:24, 30; Cl 2:3; cf. Is 11:2; Jr 23:5), ela também é usada em relação ao termo Palavra (João 1:1-18). Igualmente, têm-se concluído que a segunda pessoa da Trindade é feminina.[16] 

Contudo, este argumento é muito fraco. A primeira coisa a ser notada é que, Jesus é inquestionavelmente homem. Entretanto, a sugestão de que sabedoria requer uma personificação feminina é simplesmente errada. Pois a personificação da sabedoria em Provérbios possui perfeitamente uma óbvia razão para isto, que nada tem haver com um elemento de feminilidade na Divindade. Provérbios 1-9 apresenta ao leitor a figura de duas mulheres chamadas de “Senhora Sabedoria” e a “Senhora Loucura”. A Senhora Loucura é a prostituta que seduz um jovem para a imoralidade. A Senhora Sabedoria também chama aos homens da cidade (8:1-4), persuadindo-os a levar uma vida piedosa. A Sabedoria é uma senhora, não porque o escritor procurou afirmar um elemento de feminilidade na Divindade, mas simplesmente como um recurso literário apresentando como uma alternativa positiva para a prostituta.

Minha conclusão destas referências bíblicas é que existem poucas figuras femininas de Deus nas Escrituras, mas elas não sugerem nenhuma ambivalência sexual na natureza divina. Elas não justificam, nenhuma necessidade, do uso de “Mãe” ou pronomes femininos para Deus. Nem justifica a tentativa de reprimir o uso majoritário de figuras e pronomes masculinos em referência a Deus.

A Importância Teológica da Figura Masculina

Mas a feminista poderia replicar aqui que desde que Deus não é literalmente macho, e a Escritura contêm algumas figuras femininas assim como figuras masculinas, seria aceitável falar livremente de Deus tanto em termos masculinos como femininos. Johnson pergunta “se não significa que Deus é macho quando uma figura masculina é usada, o por que da objeção, quando figuras femininas são apresentadas?” [17] 

Esta réplica poderia ser irrefutável se a predominância de figuras masculinas na Bíblia fossem teologicamente insignificantes. As feministas argumentam enfaticamente que a Escritura coloca pouca importância sobre a masculinidade de Jesus, ou sobre a importância de falar de Deus em termos masculinos. A figura masculina, elas argumentam, é aceitável na concepção patriarcal da cultura antiga, mas ela não faz diferença na mensagem essencial da Escritura.

Todavia, existe um número de razões para pensarmos que a predominância de usos de figuras masculinas tem alguma importância teológica:

1. Como temos visto, os nomes de Deus são de grande importância teológica. Eles revelam-no. Não existe razão para assumir que as proporções das figuras masculinas e femininas não são parte desta revelação da sua natureza. Embora Johnson e outras insistem, entendo que uma mudança na balança da figura sexual não é teologicamente neutra; isto mudaria o nosso conceito de Deus.[18] Por acaso temos o direito de mudar nosso conceito bíblico de Deus?

2. Para ressaltar o último ponto, é também importante reconhecer que na Escritura, Deus nomeia a si mesmo. Seus nomes, atributos e figuras não são o resultado da especulação ou imaginação humana, mas da revelação.[19] Ele não nos autorizou de nenhuma mudança de equilíbrio das figuras de macho e fêmea, e não podemos tencionar fazer tais mudanças baseados em nossa própria autoridade.[20] 

3. Deidades femininas eram bem conhecidas pelos escritores bíblicos. Ashtoreth (Jz 10:6; 1 Sm 7:4; 12:10) foi adorada pelos cananitas como esposa de Baal. A junção de deidades masculinas e femininas foi um aspecto importante da adoração de fertilidade pagã. Assim, ao escrever sobre Yahweh, os escritores do Antigo Testamento não escolheram uma linguagem masculina irrefletidamente, inconscientes de outra alternativa. Eles não foram influenciados por um unânime consenso cultural. Antes, eles claramente rejeitaram qualquer adoração de uma deusa ou de uma junção divina.

4. Como dissemos no capítulo 15, a criação é um ato divino que produz uma realidade externa do próprio Deus, uma “outra criatura”. O mundo não é divino, nem uma emanação de sua essência. Deus não criou “formando ‘consigo’ para o não-divino.” [21] Como uma metáfora para esta concepção bíblica da criação, a função masculina na procriação é mais adequado do que o feminino.

5. Na Escritura o principal nome de Deus é Senhor, que indica sua liderança nas alianças, entre si e as suas criaturas. Na Escritura, a relação na comunidade da aliança é tipicamente uma prerrogativa masculina. Reis, sacerdotes e profetas são sempre homens. Autoridade na igreja concedida aos anciãos (1 Co 14:35; 1 Tm 2:11-15).[22] O marido é a cabeça da aliança formada pelo casamento.[23] Um desvio para a figura feminina de Deus poderia certamente diluir a sólida ênfase sobre a autoridade pactual que é centralizada na doutrina de Deus. Esta não seria a única razão, pois, como tenho indicado no capítulo 2, algumas teólogas feministas, incluindo Johnson, atualmente se opõe a idéia do senhorio de Deus.

6. Como tenho falado neste capítulo, Deus se relaciona com o seu povo, como um marido com a sua esposa. Certamente esta profunda figura pode ser obscurecida, se considerarmos Deus como feminina. Isto é importante, não apenas para a doutrina de Deus, mas também para a doutrina do homem (antropologia teológica). Ela é importante, tanto para homens como mulheres cristãs, saber e meditar profundamente sobre este fato, que na relação com Deus como sendo fêmea – esposas são chamadas para submeter-se em amor aos seus graciosos maridos. É a igreja, e não Deus, que é feminina em sua natureza espiritual.[24] 

7. Uma freqüente sugestão de compromisso é que eliminamos toda sexualidade na distinção lingüística, entre macho e fêmea, ao nos referirmos a Deus. Em vez de chamar Deus de nosso Pai, poderíamos falar de nosso Parente ou Criador.[25] Uma linguagem unissex, todavia, sugere inevitavelmente que Deus é impessoal, o que é completamente inaceitável de um ponto de vista bíblico.[26] Certamente ao eliminar Pai em favor de termos mais abstratos eliminaria algo muito precioso aos Cristãos.[27]  

8. O uso majoritário da figura masculina para Deus resulta numa opressão da mulher? [28] Existe uma precisa divisão entre feministas e não-feministas cristãs como aquelas que fazem parte da opressão. No Cristianismo tradicional, não é um rebaixamento para a mulher ser submissa ao seu marido e exclui-la dos ofícios de governo na igreja. Muitas vezes, na concepção de escritoras feministas, é um rebaixamento para alguém ser submisso a autoridade de outro, se são iguais diante de Deus. Mas, submissão à autoridade de outros é algo inevitável na vida humana, tanto para os homens quanto para as mulheres; esta é uma das mais difíceis lições que o ser humano caído tem que aprender. Muito mais pode ser declarado sobre este assunto. Certamente homens têm abusado das mulheres no decorrer da história. E certamente tanto homens, como mulheres têm, às vezes, justificado este abuso como sendo uma distorção da liderança masculina. Mas, dificilmente, argumentar que um melhor entendimento de Deus, ou que um benéfico relacionamento entre os sexos, poderia ser produzido por uma substituição da figura feminina ou impessoal de Deus. 

Minha conclusão é que podemos seguir o modelo bíblico e uso predominante da figura masculina para Deus, com uma ocasional figura feminina. Posso não desaprovar que um pregador ocasionalmente diga que Deus é a “mãe” da igreja. Como em Deuteronômio 32:18, podemos observar que apesar de nosso nascimento físico vir de duas fontes, nosso nascimento espiritual procede apenas de uma: Yahweh, que é tanto nossa mãe como nosso pai. Nem mesmo, é errado o uso do parto, a ama, uma ave fêmea, e outras figuras extra-bíblicas femininas como figuras de Deus e ilustrações para as suas ações. Como observamos, penso que muito mais poderia ser aproveitado da submissão das pessoas da Trindade de uma com a outra, como um modelo da piedosa submissão da esposa para com o seu marido. Mas não existe uma justificação bíblica para se usar predominantemente a figura feminina para Deus, ou representa-lo com pronomes femininos.

_________
Notas:
[1] Paul K. Jewett, God, Creation, and Revelation (Grand Rapids: Eerdmans, 1991).
[2] Ibid., xvi.
[3] Ibid., 336-347.
[4] Elizabeth Johnson, She Who Is (New York: Crossroad Publishing, 1996). Estarei interagindo com alguns de seus argumentos nesta seção.
[5] Ibid. 54.
[6] Veja minha discussão da incorporealidade no capítulo 25.
[7] Johnson, She Who Is, 230-233. Ela apresenta o seu panenteísmo próximo do fim do livro. Seu principal argumento não depende deste conceito.
[8] O verbo hebraico raham (“tenho compaixão) é derivado do substantivo rehem “útero”. Às vezes tem se pensado que trata-se de uma alusão ao “útero” de Deus em Sl 103:13 e Jr 31:20. Alguns argumentos foram desenvolvidos considerando o termo do Novo Testamento splanchnizomai. Todavia, este termo e suas formas correlatas nunca se referem claramente a um útero no Novo Testamento. Este argumento força a etimologia. 

domingo, 25 de janeiro de 2015

COMO LER A BÍBLIA EXPERIMENTALMENTE - Por The Reformation Heritage KJV Study Bible (p. xii):





Como eu posso ler a Bíblia experimentalmente? Em espírito de oração considere as seguintes diretrizes bíblicas:
1. Respeite a Bíblia como a única e completa autoridade sobre o todo da sua vida. Isaías disse: "À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles" (Is 8.20). Isso significa que não podemos nos apartar da Bíblia nem mesmo um pouquinho. Não somos os juízes que dizem se a Bíblia é válida ou relevante em algum ponto. Nem podem quaisquer outros livros ou tradições humanas compartilhar com a Bíblia autoridade sobre nossas vidas.
2. Não duvide que a Bíblia é precisa em todos os seus pontos. Davi diz no Salmo 19.7: "A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos simples". Davi acreditava nisso com todo o seu coração. O que ela diz que é errado ou deficiente, é verdadeiramente errado ou deficiente. O que ela diz que Deus odeia, Deus verdadeiramente odeia. O que ela diz que Deus ama, Deus verdadeiramente ama.
3. Submeta seu coração e sua vida inteiramente ao escrutínio da Bíblia. O Salmo 119.80 diz: "Seja reto o meu coração nos teus estatutos, para que não seja confundido". Para o salmista dizer isso, ele não ocultava nada da Palavra de Deus.
4. Em espírito de oração medite sobre a verdade da Escritura, levando-a com você aonde quer que você vá e não importando o que faça. A Bíblia frequentemente enfatiza a meditação como uma parte essencial da vida piedosa nesse mundo (Js 1.8; Sl 1.2; Ef 4.17-18).
5. Nunca esqueça que é Deus quem está falando a você através da sua Palavra. Ao longo da sua Palavra, Deus frequentemente nos lembra do seu caráter e discurso majestosos (Gn 1.1; Êx 20.1; Sl 50.1-6). A Escritura nos fala como um pai aos seus filhos e como um respeitoso amigo escrevendo uma carta para nós.
6. Reúna-se com o povo de Deus para adorar e ouvir a Palavra de Deus fielmente pregada. A leitura e o estudo privado da Bíblia, embora sejam importantes, não são substitutos para a proclamação fiel e oficial da Palavra de Deus por meio dos seus servos. No Salmo 87.2 nós lemos: "O SENHOR ama as portas de Sião mais do que as habitações todas de Jacó". Isso quer dizer que o lugar onde o povo de Deus se reúne para o culto corporativo e a exposição da verdade de Deus é mais preciosa ao Senhor do que todas as habitações do povo de Deus, onde cultuamos a Deus em nossas famílias. Hebreus 10.25 estabelece o mesmo ponto. Nós seremos imensamente ajudados quando estivermos na companhia de outros daqueles que temem o Senhor e guardam os seus preceitos (Sl 119.63).
7. Dependa exclusivamente da graça, de maneira que o seu coração possa se beneficiar da Palavra de Deus. Ler a Bíblia experimentalmente significa que recebemos a Palavra com mansidão. Nós precisamos de corações humildes. O orgulho nos impede de recebermos a Palavra como deveríamos. É óbvio que não podemos, por nós mesmos, curar-nos do orgulho, mas precisamos seriamente buscar o Espírito Santo para que ele nos torne ensináveis. Lembremos que a Palavra de Deus é o instrumento que Deus usa para salvar pecadores por uni-los a Cristo (Tg 1.20).
8. Olhe para o Deus Triúno para que ele transcreva a verdade de Deus em seu coração. Paulo se alegrou porque podia dizer daqueles cristãos que pastoreava: "estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações".
9. Não se contente em simplesmente "ouvir" a Palavra. Pela graça, torne-se um praticante da Palavra. Tiago é enfático: "Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, na lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar".
10. Esteja pronto para cantar a Palavra de Deus. Cantar ajuda a solidificar a verdade em nossas mentes e corações (Dt 31.19). Por exemplo, quando cantamos os Salmos, o livro de louvor dado por Deus, ajudamos a dar voz aos nossos desejos de uma maneira que, com a bênção de Deus, torna a Palavra mais preciosa para nós. Davi diz no Salmo 108.7: "Disse Deus na sua santidade: Exultarei". Pergunte a si mesmo qual dos Salmos ecoa o que você está lendo ou dá uma maneira de responder ao que você está lendo e, então, cante-o.
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