sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O Cetro de Cristo




(...) acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; e: Cetro de equidade é o cetro do seu reino. — Hebreus 1.8A verdadeira fé (...) considera Cristo e somente ele como seu Senhor (...) Muitos virão a Cristo em busca de entretenimento, mas poucos virão a Cristo para se submeterem ao seu cetro. Alguns vêm em busca da proteção do seu sangue, todavia desdenham a autoridade e o domínio da sua espada; gostam do Cristo sacerdote, não, do Cristo Senhor. 
Vou mostrar-lhes brevemente duas coisas: 
(...)
Primeira, os incrédulos não aceitarão Cristo como seu Senhor, pois o coração deles já tem outro senhor (...) O nosso senhor é aquele a quem servimos, e somos seus servos se o obedecermos (...) Basta que os anseios por lucro ou prazer conflitem com Cristo e logo se vê que o coração incrédulo seguirá seu senhor; não dará ouvidos a Cristo, pois prefere o pecado ao senhorio de Jesus. O coração incrédulo, a fim de satisfazer às próprias concupiscências, arrisca-se facilmente a desagradar a Cristo. O coração incrédulo também não consegue escolher Cristo; não suporta tê-lo como Senhor. Por que razão? Porque o domínio de Cristo é santo e celestial; é totalmente contrário a princípios e sentimentos sórdidos, os caminhos de um coração incrédulo. 
Segunda, todo crente confessa a Cristo como Senhor, assim como fez Tomé: "Senhor meu e Deus meu!" (João 20.28) (...) por isso (1) a fé curva-se ao cetro de Cristo e, com docilidade, dispõe solicitamente a alma à submissão; (2) além disso, a fé recebe Cristo totalmente e, portanto, para a fé, Cristo é o único Rei e Senhor; (3) e a fé também reconhece que a pessoa toda pertence a Cristo, o seu sangue nos comprou e pôs-nos inteiramente sob seu domínio: "fostes comprados por preço", assim disse o apóstolo (1Coríntios 6.19-20). 
Assim também, examine-se agora quanto a isto: quem é o seu senhor? 
Se pela fé tem jurado fidelidade a Cristo – apesar de todas as tentações que o assaltam para escravizar seu coração ou aliená-lo do serviço de Cristo, e em meio a todas as opressões, sim, debaixo de todos os maus-tratos, violências e interrupções causadas pelo pecado – então o seu coração clama: Não tenho outro Senhor além de Cristo, a ele obedecerei, honrarei, amarei; a ele pertenço e apesar de tudo detesto os pecados que ainda não consegui derrotar.
Autor: Obadias Sedgwick (1600-1658)Fonte: Day by Day with the English Puritans, Randall J. Pederson (org.), Hendrickson Publishers, 2004, p. 12.Tradutor: Marcos Vasconceloswww.mensreformata.blogspot.com

terça-feira, 26 de novembro de 2013

E carne oferecida ao diabo? Posso comer? Por Rev. Augustus Nicodemus Lopes







Muitos cristãos enfrentam dúvidas sinceras convivendo com a cultura que os cerca. Posso isso? Posso aquilo? É pecado aquilo outro? Dependendo da cultura, as perguntas variam, mas no fundo todas elas são resultado do fato que nem sempre a linha que divide o certo do errado é muito clara. 
Paulo enfrentou um caso destes na igreja de Corinto. Havia festivais pagãos oferecidos aos deuses nos templos da cidade, onde se sacrificavam animais e se comia a carne deles. Fazia parte da cultura pagã daqueles dias. Os novos convertidos de Corinto, grande parte deles ex-idólatras (1Cor 6:9-11), estavam cheios de dúvida se podiam ao menos comer carne, pois sempre corriam o risco de, sem saber, estarem comendo a carne de algum animal que havia sido oferecido aos ídolos e aos demônios.
Eles haviam discutido o assunto e se dividiram em dois grupos: os “fortes,” que achavam que podiam comer, e os “fracos,” que achavam que não e preferiam ficar com os legumes (leia 1Co 8—10 para ver o contexto). E mandaram uma carta a Paulo sobre isto (1Cor 8:1). Eram os crentes livres para comer carne mesmo correndo este risco? A resposta de Paulo foi tríplice:
1) O crente não deveria ir ao templo pagão para estas festas e ali comer carne, pois isto configuraria culto aos ídolos e portanto, idolatria. É referindo-se a participar do culto pagão que ele diz “não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios” (1Cor 10:19-23).
2) O crente poderia aceitar o convite de um amigo pagão e comer carne na casa dele, mesmo com o risco de que esta carne tivesse sido oferecida aos ídolos. E não deveria levantar o assunto. Se não houvesse ninguém que levantasse a questão e ninguém que fosse se sentir ofendido, o crente poderia comer a carne oferecida por seu amigo descrente. Se, todavia, houvesse alguém presente ali que se escandalizasse, o crente não deveria comer. A proibição de comer não era porque era pecado, mas porque iria ofender o irmão de consciência débil e fraca que porventura estivesse ali também, como convidado (1Cor 10:27-31).
3) E por fim, Paulo diz que o crente pode comer de tudo que se vende no mercado sem perguntar nada. O argumento dele é que a terra e a sua plenitude – isto é, tudo o que Ele criou – é de Deus e intrinsecamente bom, se usados corretamente. (1Cor 10:25-26).
Mais tarde, ele escreve a Timóteo criticando os que “exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade; pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável, porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado” (1Tim 4.3-4).
Parece claro que o raciocínio de Paulo é que a carne só se torna anátema e proibida para o crente enquanto estiver no ambiente pagão de consagração aos ídolos. Uma vez que a carne saiu de lá e foi para o açougue e de lá para a mesa do crente ou do seu vizinho descrente, não representa mais qualquer ameaça espiritual. De outra forma, Paulo não teria permitido o seu consumo em casa e na casa de um amigo. A restrição é somente no ambiente de culto e consagração pagã.
Alguns dos coríntios, para não arriscar, tinham preferido só comer legumes, com receio de ficarem contaminados com os demônios a quem a carne teria sido oferecida: “o débil come legumes” (Rm 14.2). Paulo certamente preferia que os crentes da cidade seguissem o caminho dos que ele chama de “fortes,” que é daqueles que já aprenderam que só há um Deus e um Senhor e que tudo é dele. A Igreja não pode ficar refém da ética dos “débeis” pois inevitavelmente descamba para o legalismo. Mas, ele admite que “não há este conhecimento em todos” (1Co 8.7) e determina que, em amor e consideração a estes irmãos, haja respeito e consideração uns para com os outros.
Em resumo: à exceção dos churrascos nos templos pagãos, os crentes podiam comer em casa carne comprada no mercado, e na casa de amigos descrentes quando convidados. Quem não se sentisse a vontade para fazer isto, por causa da consciência, que comesse legumes. Não havia problemas, desde que não condenassem os que se sentiam tranquilos para comer carne. E estes, não deveriam zombar e desprezar os outros.
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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Coram Deo: A essência da vida Cristã







Coram Deo é uma expressão teológica em latim cunhada no século XVI no contexto da Reforma Protestante. Mas a final de contas, o que significa Coram Deo? O conteúdo teológico por trás desta expressão é profundo e tem como objetivo primário promover a consciência de que a vida cristã é, essencialmente, viver na presença de Deus. O termo Coram Deo significa, literalmente, “diante Isso da face de Deus”. pode parecer uma novidade para alguns ou uma obviedade para outros, mas o fato é que essa questão é o coração da vida cristã. Como disse R.C. Sproul: “A grande idéia da vida cristã é Coram Deo. Coram Deo capta a essência da vida cristã. Esta frase literalmente se refere a algo que ocorre na presença de, ou perante a face de, Deus. Para viver coram Deo é preciso viver uma vida inteira na presença de Deus, sob a autoridade de Deus, para a glória de Deus”.
No catolicismo medieval era muito comum a ideia de compartimentar a vida entre o sagrado e o profano; entre o religioso e o não religioso. A distorção da verdade promoveu um tipo de espiritualidade empobrecida e esquizofrênica que não conseguia conectar a mensagem do evangelho com a vida. Foi contra esse sacrilégio que os reformadores protestaram afirmando que todos nós vivemos na presença de Deus. Portanto devemos viver para glória de Deus por meio do que somos e do que fazemos. Como ensinou o apóstolo Paulo: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. (1 Co 10.31)
A compreensão desse princípio basilar tem sérias implicações.
(1) Coram Deo é um incentivo a integridade moral. A consciência de viver diante do Deus santo serve como encorajamento a uma vida santa e piedosa. “Esta é a coisa fundamental, a mais séria de todas: que estamos sempre na presença de Deus”, ensinava Martin Lloyd Jones.
(2) Coram Deo é um incentivo a integridade vocacional. Não existe uma vocação que não seja sagrada. Kuyper esclarece: “Onde quer que o homem esteja, seja o que for que faça, ou no que aplique a sua mão, na agricultura, no comercio, na indústria, ou sua mente, no mundo da arte, e ciência, ele está, seja onde for, constantemente diante da face de Deus, está empregado no serviço de Deus, deve obedecer estritamente a seu Deus e acima de tudo deve ter como alvo a gloria de Deus.”
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Fonte: Blog do autor
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domingo, 24 de novembro de 2013

Não, você não é a Igreja! - por Frank Brito




por Frank Brito


E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à Igreja aqueles que se haviam de salvar”. (Atos 2.46-47)

“Contudo, uma vez que agora nosso propósito é discorrer acerca da Igreja visível, aprendamos, mesmo do mero título mãe, quão útil, ainda mais, quão necessário nos é seu conhecimento, quando não outro nos é o ingresso à vida, a não ser que ela nos conceba no ventre, a não ser que nos dê à luz, a não ser que nos nutra em seus seios, enfim, sob sua guarda e governo nos retenha, até que, despojados da carne mortal, haveremos de ser semelhantes aos anjos (Mt 22.30). Porque nossa habilidade não permite que sejamos despedidos da escola até que tenhamos passado toda nossa vida como discípulos. Anotemos também que fora de seu grêmio não há de esperar-se nenhuma remissão de pecados, nem qualquer salvação”. (João Calvino, Institutas da Religião Cristã, 4:1:5)

Um movimento que cresce cada vez mais em nosso país é o dos “cristãos desigrejados”. São pessoas que professam o Cristianismo, mas que, por diversos motivos, abandonaram a Igreja. Muitos são os argumentos utilizados para justificar o abandono. O objetivo deste artigo é analisar uma destas justificativas: a ideia de que a Igreja de Jesus Cristo não é visível e institucional, mas que cada cristão faz parte da Igreja, ainda que ele se recuse a frequentar qualquer culto ou se submeter a qualquer autoridade eclesiástica.

Um erro frequente entre cristãos modernos é o menosprezo e ignorância em relação ao que a Bíblia ensina sobre a Igreja visível e institucional. É uma heresia que se manifesta de muitas maneiras, mas, basicamente, se resume a ideia de que não temos a obrigação de frequentar e ser membro de uma igreja, pois, supostamente, cada cristão já “é igreja” onde quer que estejam e qualquer aglomeração de cristãos também “é igreja” e, consequentemente, basta se encontrar ocasionalmente com outros “desigrejados” para bater um papo sobre Deus que as obrigações bíblicas relacionadas à “comunhão dos santos” já terão sido cumpridas.

Na segunda vez em que a palavra “igreja” aparece no Novo Testamento, já podemos constatar o absurdo de dizer que cada cristão individualmente “é igreja” ou que qualquer aglomeração de cristãos seja uma igreja:

Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutara igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu”. (Mateus 18.15-18)

Aqui Nosso Senhor explicou como deve ser o procedimento por parte daqueles que foram seriamente ofendidos por alguém que, presume-se, é cristão. Inicialmente, o ofendido não deve expor o ofensor. Deve procurar resolver o problema a sós com o ofensor. O segundo passo, caso o ofensor não se arrependa do que fez, é chamar duas ou três testemunhas para buscar resolver o problema. Novamente, o ofensor não foi exposto publicamente. A diferença é que agora há a presença de duas ou três outras pessoas. É somente depois destes dois passos que o problema é finalmente levado a Igreja.

É aqui que devemos notar algo crucial. Todo o processo descrito por Jesus incluiria somente cristãos. A parte ofendida e as duas ou três testemunhas são cristãs e, segundo Jesus, deve-se presumir que o ofensor também seja até que todas as tentativas de conduzi-lo ao arrependimento tenham se esgotado. Mas, ainda assim, é somente no terceiro passo que Jesus falou na igreja. Ainda que Jesus tenha falado de cristãos o tempo inteiro, ele não reconheceu cada um desses cristãos como sendo igreja. A parte ofendida era um cristão. Mas, ele não era a igreja. As duas ou três testemunhas também eram cristãs. Todavia, eles também não eram a igreja. Jesus diz que eles deveriam falar a igreja. Isso demonstra que é a falsa a ideia de que cada cristão individualmente seja igreja ou que qualquer aglomeração de cristãos seja igreja. Se cada cristão individualmente fosse a igreja, então o problema já estaria sendo tratado pela igreja desde o momento em que o indivíduo que foi conversar com seu ofensor. Se qualquer aglomeração de cristãos fosse uma igreja, então o problema já estaria sendo tratado pela igreja desde o momento em que as duas ou três testemunhas foram acompanhar o indivíduo que foi ofendido. O indivíduo ofendido junto de duas ou três testemunhas somam três ou quatro cristãos. Eles eram uma igreja? Não. Pois, caso o ofensor não os escutasse, só então é que o problema seria levado à igreja. Isso mostra que a Igreja não é simplesmente as pessoas. A Igreja inclui as pessoas, mas não é simplesmente isso. A Igreja é maior do que as pessoas. A Igreja é uma instituição.

Para perceber como a visão dos desigrejados sobre a “igreja” é falsa, basta se fazer a seguinte pergunta: “Como um desigrejado poderia obedecer a Mateus 18? Como seria possível cumprir o terceiro passo da ordem de Jesus?”

O Governo Eclesiástico

A Igreja de Cristo não é uma anarquia. Ela tem um governo. Acima de tudo, há o governo de Cristo, pois Deus “sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da Igreja” (Ef 1.22). E, abaixo de Cristo, Deus instituiu também um governo humano para Sua Igreja:

E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, [Paulo e Barnabé] voltaram para Listra, Icônio e Antioquia, confirmando as almas dos discípulos, exortando-os a perseverarem na fé, dizendo que por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus. E, havendo-lhes feito eleger presbíteros em cada igreja e orado com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido”. (Atos 14.21-23)

Aqui nós aprendemos que os apóstolos, neste caso Paulo e Barnabé (At 14.14), depois de estabelecerem novas igrejas em novos lugares, promoviam uma eleição em cada igreja para que homens fossem ordenados a presbíteros. Antes da eleição, eles eram membros comuns das igrejas. Depois da eleição, recebiam a autoridade para governar a Igreja. A palavra presbítero é πρεσβύτερος (presbuteros) no grego bíblico. A palavra também pode ser traduzida como ancião. Em outros textos, aprendemos também que o ofício do presbítero (πρεσβύτερος – presbuteros) era equivalente ao ofício do bispo (ἐπίσκοπος – episkopos) e ao de pastor (ποιμήν – poimēn). As três palavras eram usadas como sinônimas:

E de Mileto mandou a Éfeso, a chamar os presbíteros (πρεσβύτερος – presbuteros) da igreja… Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho (ποίμνιον – poimnion) sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos (ἐπίσκοπος – episkopos), para apascentardes (ποιμαίνω – poimainōa) a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si”. (Atos 20.17,28-30)

Aqui o Apóstolo Paulo falou às autoridades eclesiásticas de Efésios sobre como os presbíteros/bispos/pastores foram instituídos por Deus para governar Sua Igreja, o que inclui a necessidade de protegê-la de falsos mestres. Ele escreveu essencialmente o mesmo nas cartas a Tito e Timóteo:

Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros (πρεσβύτερος – presbuteros), como já te mandei: Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes. Porque convém que o bispo (ἐπίσκοπος – episkopos) seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância; Mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante; Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes”. (Tito 1.5-9)

Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado (ἐπισκοπή – episkopē), excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo (ἐπίσκοπος – episkopos) seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo”. (I Timóteo 3.1-7)

Aqui nós vemos o Apóstolo Paulo estabelecendo os critérios para que alguém fosse presbítero/bispo/pastor. Primeiro, ele menciona características morais. O presbítero/bispo/pastor deve ser um cristão moralmente “irrepreensível” (Tt 1.7; I Tm 3.2). Caso o candidato seja demasiadamente dominado por fraquezas, ele não é não é apto para se tornar “despenseiro da casa de Deus” (Tt 1.7). Além disso, Paulo compara a função que o presbítero/bispo/pastor exerce na igreja com a função que o pai de família exerce em casa: “que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com todo o respeito. pois, se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?”. (I Tm 3.4-5) Assim como o pai tem a responsabilidade de governar sua esposa (Ef 5.24; I Co 11.3) e filhos (Ef 6.1; Cl 3.20), o presbítero/bispo/pastor tem a responsabilidade de governar a igreja de Deus.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Amor maravilhoso




"Senhor, a ti ofereço meu coração sincero e espontaneamente." - Moto de João Calvino
Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado. — 1João 4.12

O Pai enviou o Filho, pois quis que ele viesse a este mundo. É disso que o apóstolo dá testemunho. E todo aquele que confessa que Jesus é o Filho de Deus, Deus habita nele e ele, em Deus. Essa confissão tem por alicerce a fé no coração, os lábios a manifestam para a glória de Deus e de Cristo e a vida e a conduta dão testemunho dela, contra lisonjas e desaprovações do mundo. Haverá, sem dúvida, um dia de juízo universal. Felizes os que terão ousadia santa diante do Juiz naquele dia, por saberem que ele é seu Amigo e Advogado! Felizes os que têm ousadia santa na antevisão desse dia, que anseiam e esperam por ele e pelo surgimento do justo Juiz! Para os crentes, o verdadeiro amor a Deus é garantia do amor de Deus por eles. O amor nos ensina a sofrer por Cristo e com ele, assim podemos ter a certeza de que também seremos glorificados com ele. Precisamos distinguir entre o temor a Deus e ter medo de Deus. O temor a Deus significa elevadas consideração e veneração por Deus. A obediência e as boas obras motivadas pelo princípio do amor não são como a labuta servil dos que trabalham árdua e de má vontade por temerem da ira de seu senhor, são como as ações praticadas com boa vontade pelo filho solícito que serve a um pai amoroso e faz o bem a seus irmãos. Quando nossas dúvidas, temores e apreensões acerca de Deus forem muitas, é sinal que nosso amor está longe de ser perfeito. Que o céu e a terra se extasiem perante o amor de Deus [...] O amor de Deus em Cristo, no coração dos crentes, motivado pelo Espírito de adoção, é a grande prova de conversão.



[Leia 1João 4.14-21]


Autor: Matthew Henry (1662–1714)
Fonte: Daily Readings, Randall J. Perderson (org.), Chistian Focus Publications, 2009, "August 23".
Tradutor: Marcos Vasconcelos
www.mensreformata.blogspot.com

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O Segredo da Perseverança na Fé




Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos – Lucas 22.32
Lemos acima o que o nosso Senhor disse a Pedro: "roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça". Foi por causa da intercessão de Cristo que Pedro não caiu totalmente.

A existência contínua da graça no coração do crente é um milagre grandioso e permanente. Seus inimigos são tão poderosos, e a sua força tão pequenina, o mundo é tão cheio de ciladas, e o seu coração tão fraco, que à primeira vista lhe parece impossível alcançar o céu. A passagem diante de nós explica essa segurança: ele tem à direita de Deus um amigo poderoso que vive sempre para interceder em seu favor; atendendo todas as suas necessidades diárias e obtendo suprimentos diários de misericórdia e graça para a sua alma. A graça do crente nunca se esgota, pois Cristo vive sempre para interceder por ele (Hebreus 7.25).

Se formos cristãos de verdade descobriremos que é essencial à nossa consolação na fé entender com clareza o ofício sacerdotal de Cristo e a sua intercessão. Cristo vive e, por isso, a nossa fé não falhará. Guardemo-nos de considerá-lo apenas como alguém que morreu por nós; jamais nos esqueçamos que ele vive para sempre.

O apóstolo Paulo manda que nos lembremos especialmente que ele ressuscitou, está à direita de Deus e também intercede por nós (Romanos 8.34). A obra que ele faz pelo seu povo ainda não acabou. Jesus ainda aparece na presença de Deus em favor deles e faz pela alma deles o mesmo que fez pela de Pedro. A vida presente do Salvador em favor de seu povo é tão importante quanto a sua morte na cruz dois mil anos atrás. Cristo vive, e por isso os cristãos verdadeiros também viverão (João 14.19).


 
Autor: J. C. Ryle (1816–1900)
Fonte: Day by day with J. C. Ryle, Eric Russell, Christian Focus Pub., p. 221
Tradutor: Marcos Vasconcelos
www.mensreformata.blogspot.com

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Coragem, Sucesso e Meditação




O que você faria se Deus lhe encarregasse de levar dois milhões de pessoas para dentro de uma terra estranha e ocupada por guerreiros terríveis?

O que faria se tivesse de substituir um dos maiores líderes da Bíblia – Moisés –, o qual trouxe Israel para fora do Egito, abriu ao meio o Mar Vermelho, esteve face a face com Deus, recebeu os Dez Mandamentos, bateu na rocha com seu cajado e a água jorrou dela. Imagine ser convocado para assumir o lugar dele. Foi o que Josué teve de fazer:
Sucedeu, depois da morte de Moisés, servo do SENHOR, que este falou a Josué, filho de Num, servidor de Moisés, dizendo: Moisés, meu servo, é morto; dispõe-te, agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, à terra que eu dou aos filhos de Israel.
Eu teria dito: “Quem, eu? E se eu não conseguir?” Deus mandou Josué ter coragem. Que pegasse o touro à unha.
Como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei, nem te desampararei. Sê forte e corajoso, porque tu farás este povo herdar a terra que, sob juramento, prometi dar a seus pais. Tão somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido. Não to mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o SENHOR, teu Deus, é contigo por onde quer que andares. (Josué 1.1-9)
Por três vezes Deus ordenou a Josué: Sê forte e corajoso.

Por que Josué devia ser corajoso? Como poderia ele saber se seria bem-sucedido? Porque Deus estaria com ele e ele tinha a palavra de Deus para o guiar.
Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido.
Na vida cristã, o sucesso ocorre quando meditamos na palavra de Deus dia e noite. Quando ruminamos as promessas divinas. Quando decidimos crer na palavra de Deus e obedecê-la a despeito de tudo. Quando interpretamos os eventos da nossa vida pelas lentes da Escritura, não pelas das circunstâncias.

Quando olhamos nossas circunstâncias elas podem parecer desesperadoras. De onde virá o dinheiro? Como vou achar com quem casar? O que farei da vida? Como vou superar essas provações com meus filhos adolescentes? As circunstâncias dizem que Deus lhe abandonou; que Deus não bom, nem fiel nem cuida de você.

Nessa hora temos de agarrar a mente pelo colarinho, dá-lhe uns sopapos e dizer:MAS A PALAVRA DE DEUS DIZ…

Deus está no controle. Ele é fiel. Ele pode prover a partir do nada. Ele pode alimentar toda uma multidão com poucos pães e peixes. Ele pode guardar uma moeda de ouro na boca do peixe. Ele diz: SEJA FORTE E CORAJOSO! Ele está com você. Ele prometeu ser fiel. Ele lhe mostrará o que fazer.

O segredo do sucesso no Reino? Creia na promessa de Deus, de que ele é fiel. Medite em sua palavra dia e noite, seja corajoso e faça o que deve fazer.

Fonte: The Blazing Center – connecting God’s truth to real life
Tradutor: Marcos Vasconcelos

domingo, 17 de novembro de 2013

Semeadores e pregadores


E de muitas coisas lhes falou por parábolas e dizia: Eis que o semeador saiu a semear...           – Mt 13.3A obra do pregador assemelha-se à do semeador. Assim como o semeador, o pregador tem de semear boa semente; tem de semear a pura Palavra de Deus e não as tradições da igreja nem as doutrinas dos homens. Sem isso o seu labor será inútil. O pregador pode andar de um lado para o outro, parecer que diz muito e que se esfalfa na correria semanal das obrigações do ministério; mas não haverá colheita de almas para o céu, não resultará em vidas, nem em conversão.
Assim como o semeador, o pregador tem de ser diligente; não deve economizar esforços; precisa usar de todos os meios possíveis para fazer prósperar sua labuta; é-lhe indispensável semear "junto a todas as águas" [Is 32.20] e "lavrar com esperança" [1Co 9.10]; precisa estar pronto "a tempo e fora de tempo" [2Tm 4.2]; não deve ser detido por dificuldades nem desânimos: "Quem observa o vento nunca semeará" [Ec 11.4]. Sem dúvida, o sucesso do pregador não depende só do seu labor e diligência, mas sem labor e diligência não se alcança o sucesso (Is 32.20; 2Tm 4.2; Ec 11.4).
Assim como o semeador, o pregador não tem poder para dar vida. Pode lançar a semente entregue ao seu cuidado, mas não pode ordenar que ela germine; pode apresentar a Palavra da Verdade às pessoas, mas não tem poder para obrigá-las a recebê-la e a fazê-las produzir frutos. Dar a vida é prerrogativa solene de Deus: "O espírito é o que vivifica". Somente Deus é "que dá o crescimento" (Jo 6.63; 1Co 3.7).
Deixemos que essas reflexões penetrem nosso coração. Não é fácil ser um verdadeiro ministro da Palavra de Deus. Ser um obreiro indolente e formal na igreja é fácil; ser um semeador fiel é terrivelmente difícil. Em nossas orações, devíamos interceder de maneira especial pelos pregadores.
Autor: J. C. Ryle (1816–1900)Fonte: Day by day with J. C. Ryle, org. Eric Russell, Christian Focus Pub., p.179Tradutor: Marcos Vasconcelos

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A pescaria do diabo





O mundo é a isca de Satanás. Ele raramente lança um anzol a nu. Apresentem-se o homicídio, a fraude, a mentira ou a idolatria sem seus disfarces torpes e dentre as pessoas instruídas e moralmente corretas ele fisgará só algumas. Mas o diabo esconde o seu gancho num engodo piedoso e, como o pescador experimentado, sabe como usar a tentação mais apropriada ao nosso gosto... Para este, usa a isca do ouro; para aquele, a do prazer; para o terceiro, fama e honraria mundanas. Além disso, ele joga a sua linha de pesca em toda a parte: em nosso local de trabalho, nossas famílias, nossos gabinetes, sobre nossas mesas e travesseiros.

Fonte: A Puritan at HeartAutor: Arthur Jackson (1593?-1666)Tradutor: Marcos Vasconcelos

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

As mal-aventuranças de Satanás




Vendo Satanás a hoste dos que o seguiam, desceu ao vale árido e, abrindo a boca, ensinava-os dizendo:

Mal-aventurados os implacáveis, independentes, autossuficientes, os "posso porque quero", porque deles é o reino do inferno.

Mal-aventurados os que não choram pelos próprios pecados, mas só se arrependem rasa e mundanamente das suas consequências, porque o coração se lhes endurecerá.

Mal-aventurados os arrogantes posudos, cercados de aduladores, que fazem o próximo tropeçar, legislam em causa própria e buscam o próprio interesse, porque eles herdarão o inferno.

Mal-aventurados os indiferentes à impiedade na própria vida e ao redor de si, pois certamente transbordarão de pecados nesta vida.

Mal-aventurados os faltos de misericórdia os quais exigem que toda ofensa seja paga, que se ofendem com tudo e revidam com calúnia, maledicência e brutalidade aos seus opositores, porque eles receberão o mesmo em troca.

Mal-aventurados os que deixam a impureza lhes encharcar o coração por meios de aparente inocência, como a Internet, os relacionamentos e seussmartphones, porque não verão a face de Deus.

Mal-aventurados os que causam conflitos, criam divisões, se deleitam com contendas e jogam um contra o outro, porque serão chamados filhos de Satanás.

Mal-aventurados os que conseguem driblar a perseguição evitando de forma silenciosa e "inofensiva" as manifestações públicas de piedade, porque habitarão nas mansões infernais.

Mal-aventurados sois quando, por minha causa, vos considerarem fantásticos, divertidos, legais, safos e o "cara", sem o qual a festa não tem graça. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso sofrimento no inferno; pois assim trataram os ímpios que viveram antes de vós.




Autor: Srephen Altrogge, 14/3/2012
Fonte: The Blazing Center – connecting God’s truth to real life
Adaptação: Marcos Vasconcelos

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A obra do Espírito Santo na Nova Criação - J ohn Owen






.Por John Owen
O grande privilégio profetizado quanto à era do evangelho, que faria a igreja do Novo Testamento mais gloriosa do que a do Antigo Testamento, foi o maravilhoso derramar da promessa do Espírito Santo sobre todos os crentes. É o vinho melhor que foi deixado por último (Is 35.7; 44.3; Jl 2.28; Ez 11.19; 36.27).
O ministério do evangelho pelo qual somos novamente nascidos é chamado de ministério do Espírito (2Co 3.8). No Novo Testamento a promessa do Espírito Santo é para todos os crentes e não para apenas alguns poucos especiais (Rm 8.9; Jo 14.16; Mt 28.20). Somos ensinados a orar para que Deus nos dê o seu Espírito Santo, para que com o seu auxílio possamos viver para Deus na santa obediência que ele requer (Lc 11.9-13; Mt 7.11; Ef 1.17; 3.16; Cl 2.2; Rm 8.26). O Espírito Santo foi prometido solenemente por Jesus Cristo quando estava para deixar o mundo (Jo 14.15-17; Hb 9.15-17; 2Co 1.22; Jo 14.27; 16.13). Portanto, o Espírito Santo é prometido e dado como a única causa de todo o bem que podemos partilhar nesse mundo. 
Não há bem que recebamos de Deus senão o que nos é trazido e em nós operado pelo Espírito Santo. Nem há em nós bem nenhum para com Deus, nenhuma fé, amor, obediência à sua vontade, exceto o que somos capacitados a fazer pelo Espírito Santo. Pois em nós, isto é, na nossa carne, não há bem nenhum, como nos diz Paulo. 
A nova criação 
A grande obra que Deus planejou foi a restauração de todas as coisas por meio de Jesus Cristo (Hb 1.1-3). Deus intentou revelar a sua glória, e o principal meio para fazê-lo seria através da mais perfeita revelação de si mesmo e das suas obras que o mundo jamais vira. Esta perfeita revelação nos foi dada pelo seu Filho, o Senhor Jesus Cristo, quando tomou sobre si a nossa natureza para que Deus pudesse graciosamente reconciliar-nos com ele mesmo.
Jesus Cristo é “a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15), é o “resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hb 1.3). Na face de Jesus Cristo resplandece a glória de Deus (2Co 4.6). Ao planejar, constituir e colocar em prática a sua grande obra, Deus, portanto, fez a mais gloriosa revelação de si mesmo tanto aos anjos quanto aos homens (Ef 3.8-10; 1Pe 1.10-12). Ele fez isso para que pudéssemos conhecer, amar, confiar, honrar e obedecer-lhe em todas as coisas como Deus, em conformidade com a sua vontade. 
De um modo particular, nessa nova criação, Deus tem se revelado especialmente como três Pessoas em um único Deus. O supremo propósito e planejamento de tudo é atribuído ao Pai. Sua vontade, sabedoria, amor, graça, autoridade, propósito e desígnio são revelados constantemente como o fundamento de toda a obra (Is 42.1-4; Sl 40.6-8; Jo 3.16; Is 53.10-12; Ef 1.4-12). Muitos foram também os atos do Pai para com o Filho, quando o enviou, deu e designou para a sua obra. O Pai lhe preparou um corpo, e o confortou e amparou na sua obra. Ele também o recompensou ao lhe dar um povo para ser o seu próprio povo.
O Filho a si mesmo se humilhou e concordou em fazer tudo o que o Pai havia planejado que fizesse (Fp 2.5-8). Por essa causa o Filho deve ser honrado da mesma maneira que honramos ao Pai.
A obra do Espírito Santo é fazer concluir aquilo que o Pai planejou realizar através de seu Filho. Por causa disso, Deus se nos deu a conhecer, e somos ensinados a confiar nele._____Capítulo 5 da obra "O Espírito Santo" de John Owen a ser publicada pela editora Os Puritanos ainda este ano.
Fonte: Projeto Os Puritanos

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Sem a tua presença não me faças prosseguir - Por Pr. J Miranda


Moisés ao voltar para aquele povo, vê aquele bezerro e o destrói (Êxodo 32.18-19). Naquele momento, o Senhor diz a Moisés que faria que eles subissem a terra que prometera àquele povo, porém O Senhor não estaria mais no meio deles.
Então Moisés faz essa oração: Se a Tua presença não vai comigo, não me faça subir deste lugar (êxodo 33.15).
Sabe o que isto significava? Moisés estava dizendo: Se o Senhor não estiver comigo, não quero terra que mana leite e mel, não quero a paz e nem a prosperidade que teríamos naquele lugar. Se o Senhor não estiver no nosso meio, de nada vale nada disto.
E o Senhor atendeu a oração de Moisés. Esteve com ele, e mostrou toda a sua bondade a Moisés.
Como tem sido sua vida? Você quer a terra que mana leite e mel ou quer o Senhor? Você deseja as bênçãos que Deus pode te dar ou deseja o Senhor das bênçãos? Você pode ter tudo o que o homem pode um dia sonhar, se o Senhor não estiver contigo, de nada vale. Não há esperança, não há plenitude.


Em um de seus escritos, Charles Spurgeon, relata que era ainda jovem, quando viveu com os seus avós durante quase seis anos, que foram dedicados ao Senhor. Seu avó foi pregador do evangelho e pastor de uma mesma igreja durante 54 anos. Spurgeon pode ver a presença de Deus na vida daquele velho pregador. É marcante a presença de Deus em nossa vidas, sem ela não teria sentido a caminhada cristã, ou seja, seria um desastre, como tem sido na vida de bilhões de pessoas que vivem sem a presença de Deus.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Esposo santificado e filhos santos


Comentário sobre 1 Coríntios 7.14
Paulo resolve uma dificuldade que poderia deixar os crentes preocupados. A intimidade conjugal é singular, porque a esposa é a metade do homem e ambos se tornam uma só carne; e o esposo é a cabeça da esposa e ela é a companheira do esposo em todas as formas. Assim, aparentemente é impossível a um homem crente viver com uma esposa descrente, ou vice-versa, sem que haja contaminação numa relação tão íntima. Paulo, pois, aqui declara que esse matrimônio não é em nada menos santo e legítimo, e que não deve pairar qualquer temor de haver contaminação, como se a esposa fosse poluir o esposo. Além disso, lembremo-nos de que ele aqui não está falando de novos contraentes conjugais, e, sim, da manutenção daqueles que já consumaram o contrato. Porque onde se indaga se um homem crente se casaria com um homem descrente, então este conselho se faz relevante: “Não vos ponhais em jugo desigual entre os incrédulos, porque não há harmonia entre Cristo e Belial!” [2Co 6.14, 15]. Mas o homem que já está casado não mais tem a liberdade de escolha; por essa razão se torna distinto o conselho que ele apresenta.
Embora haja quem interprete a santificação referida aqui em termos diferentes, eu a considero como aplicável simplesmente ao matrimônio. Meu ponto de vista é como segue: em todos os aspectos, uma esposa crente parece tornar-se impura no contato com o esposo descrente, de modo que a parceria se torna ilícita. Todavia, isso é diferente, porque a piedade de um faz o matrimônio mais santo do que a impiedade do outro em torná-lo impuro. Consequentemente, um crente pode viver com um descrente com sua consciência limpa, porque, no que diz respeito aos atos sexuais e às relações ordinárias do dia a dia, o descrente é santificado, de modo que ele ou ela não contamina o parceiro crente com sua impureza [pessoal]. Entretanto, esta santificação não é para o benefício pessoal do parceiro descrente. Seu valor se limita ao fato de que o parceiro crente não é contaminado pelo contato sexual com o parceiro descrente, e o próprio matrimônio não é profanado.
No entanto, daqui surge uma dúvida. Se a fé de um esposo cristão, ou de uma esposa cristã, santifica o matrimônio, segue-se que todos os matrimônios entre os descrentes são impuros e se põem na mesma categoria da fornicação. A isso respondo: para os descrentes nada é puro, visto que conspurcam, através de sua impureza, até mesmo as mais excelentes e as mais amáveis criações de Deus. Assim, é por esse mesmo prisma que eles também conspurcam o matrimônio, visto que não reconhecem Deus como a fonte do matrimônio, e por essa razão não possuem a mínima capacidade de genuína santificação, e, com suas consciências culpadas, abusam do matrimônio. Seria ingênuo concluir disso que o matrimônio, no caso deles, está no mesmo nível da fornicação, visto que, não importa quão impuro seja para eles, não obstante permanece puro em sua própria natureza, visto que o mesmo foi ordenado por Deus. Ele cumpre as funções de preservar a respeitabilidade na sociedade, e controla os desejos promíscuos. E assim, à luz desses propósitos, ele é aprovado por Deus, como o são as demais partes da ordem social [ordinis politici]. Portanto, deve-se fazer sempre uma distinção entre a natureza de uma coisa e o uso abusivo dela.

Este é um argumento com base no efeito: “Se vosso matrimônio fosse impuro, então vossos filhos também nasceriam impuros; no entanto, eles são santos, visto que vosso matrimônio é também santo. Portanto, assim como a impiedade de um dos pais não impede o filho de nascer santo, assim ela não impede o matrimônio de ser inerentemente imaculado.” Alguns gramáticos explicam esta passagem como uma referência à santidade civil [de sanctitate civili], ou seja, os filhos são considerados legítimos. Não obstante, precisamente a mesma coisa pode-se dizer sobre os filhos dos descrentes. Daí esta explicação cai por terra. Além do mais, é verdade que Paulo desejava aqui mitigar as consciências atribuladas, de modo que ninguém concluísse que ele estivesse restringindo a impureza, como já ficou expresso. Portanto, esta passagem é mui notável e se acha fundamentada na mais profunda teologia. Pois ela revela que os filhos dos crentes são separados dos demais por um privilégio especial, de modo que são considerados santos na Igreja.
Entretanto, de que forma esta declaração se harmoniza com o que Paulo ensina em Efésios 2.3 – que somos todos “por natureza filhos da ira” –, bem como o clamor de Davi: “Eu nasci em iniquidade” etc. [Sl 51.5]? A isso respondo que há na semente de Adão uma propagação universal tanto do pecado quanto da condenação. Daí, todos estão incluídos nessa maldição, sejam eles nascidos dos crentes ou dos ímpios, pois não é na qualidade de regenerados pelo Espírito que os crentes geram filhos segundo a carne. Consequentemente, todos se acham na mesma condição natural, de modo que são vassalos não só do pecado, mas também da morte eterna. Quanto ao fato de o apóstolo aqui atribuir privilégio especial aos filhos dos crentes, isso emana da bênção do concerto, por cuja intervenção a maldição da natureza é destruída, e por isso os que por natureza eram impuros, agora são consagrados a Deus em decorrência de sua graça. Assim Paulo argui em Romanos 11.16, dizendo que todos os descendentes de Abraão são santos, visto que Deus consumou um concerto de vida com ele. “Se a raiz é santa, então os ramos também o são”, diz ele. E Deus chama meus filhos a todos os que descenderam de Israel. Agora que o muro divisório foi derrubado, o mesmo concerto de salvação, o qual teve seu início na semente de Abraão, nos é comunicado. À luz do fato de que os filhos dos crentes são feitos exemplos da comum condição da humanidade, para que sejam separados para o Senhor, por que deveríamos subtrair deles o sinal [do concerto]? Se o Senhor os admite em sua Igreja, através de sua Palavra, por que deveríamos negar-lhes o sinal? Não obstante, precisamente como os filhos dos crentes são santos, e como muitos deles, a despeito de tudo, se tornam degenerados, o leitor encontrará o tema explicado nos capítulos 10 e 11 de Romanos, onde trato deste assunto ao comentar estes capítulos.
 
Fonte: João Calvino, 1 Coríntios (Edições Parakletos), p. 217-219.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O que o Senhor disse? por Michael Horton








Tal profeta, tal povo: "Assim direis, cada um ao seu próximo, e cada um ao seu irmão: Que respondeu o Senhor? e que falou o Senhor? Mas nunca mais vos lembrareis do peso do Senhor; porque a cada um lhe servirá de peso a sua própria palavra; pois torceis as palavras do Deus vivo, do Senhor dos Exércitos, o nosso Deus." [Jeremias 23.35,36]. O profeta adverte quanto ao julgamento divino sobre aqueles que, quer profetas ou pessoas comuns, afirmam ouvir do Senhor uma revelação além da sua Palavra revelada. 
Esta advertência foi dada durante um período de revelação ativa dos profetas, quando a Escritura ainda estava sendo escrita. Quanto mais ela se aplica a nós hoje, após ter Deus falado completa e finalmente em seu Filho (Hb 1.1). Se desejamos ver um verdadeiro avivamento em nossos dias, devemos recusar separar o que Deus uniu. A Palavra sem o Espírito seria ineficaz, e o Espírito sem a Palavra não é o Espírito - mas as ilusões mentirosas de nossa mente imaginativa e falível.
É tempo de recuperarmos nossa confiança na Palavra e no Espírito novamente. Devemos nos recusar a aceitar qualquer versão de espiritualidade que busque a Palavra sem o Espirito doador da vida, ou o Espírito sem a real proclamação, ensino e clareza doutrinária do texto real das Sagradas Escrituras. À parte da boa doutrina e da vívida pregação da verdade bíblica, o Espírito Santo permanece silencioso; quando essa Palavra é fielmente proclamada, o Espírito Santo age. Surge, então, um grande ruído, quando os ossos começam a se juntar um a um, formando um exército do Senhor no vale da morte.
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Fonte: A face de Deus. Editora Cultura Cristã, p. 144-145.

Coram Deo: A essência da vida Cristã - Por Judiclay Santos




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Por Judiclay Santos


Coram Deo é uma expressão teológica em latim cunhada no século XVI no contexto da Reforma Protestante. Mas a final de contas, o que significa Coram Deo? O conteúdo teológico por trás desta expressão é profundo e tem como objetivo primário promover a consciência de que a vida cristã é, essencialmente, viver na presença de Deus. O termo Coram Deo significa, literalmente, “diante Isso da face de Deus”. pode parecer uma novidade para alguns ou uma obviedade para outros, mas o fato é que essa questão é o coração da vida cristã. Como disse R.C. Sproul: “A grande idéia da vida cristã é Coram Deo. Coram Deo capta a essência da vida cristã. Esta frase literalmente se refere a algo que ocorre na presença de, ou perante a face de, Deus. Para viver coram Deo é preciso viver uma vida inteira na presença de Deus, sob a autoridade de Deus, para a glória de Deus”.

No catolicismo medieval era muito comum a ideia de compartimentar a vida entre o sagrado e o profano; entre o religioso e o não religioso. A distorção da verdade promoveu um tipo de espiritualidade empobrecida e esquizofrênica que não conseguia conectar a mensagem do evangelho com a vida. Foi contra esse sacrilégio que os reformadores protestaram afirmando que todos nós vivemos na presença de Deus. Portanto devemos viver para glória de Deus por meio do que somos e do que fazemos. Como ensinou o apóstolo Paulo: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. (1 Co 10.31)

A compreensão desse princípio basilar tem sérias implicações.

(1) Coram Deo é um incentivo a integridade moral. A consciência de viver diante do Deus santo serve como encorajamento a uma vida santa e piedosa. “Esta é a coisa fundamental, a mais séria de todas: que estamos sempre na presença de Deus”, ensinava Martin Lloyd Jones.

(2) Coram Deo é um incentivo a integridade vocacional. Não existe uma vocação que não seja sagrada. Kuyper esclarece: “Onde quer que o homem esteja, seja o que for que faça, ou no que aplique a sua mão, na agricultura, no comercio, na indústria, ou sua mente, no mundo da arte, e ciência, ele está, seja onde for, constantemente diante da face de Deus, está empregado no serviço de Deus, deve obedecer estritamente a seu Deus e acima de tudo deve ter como alvo a gloria de Deus.”

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Fonte: Blog do autor
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domingo, 3 de novembro de 2013

A reforma protestante e sua importância para a juventude






A Reforma Protestante foi um passo decisivo para a sociedade ocidental. Seu alcance não se restringiu ao aspecto eclesiásticos. Nas mais diversas áreas da existência humana, podemos ver sua influência, devido à liberdade de pensamento e expressão que ela garantiu ao enfrentar o domínio católico da produção intelectual da humanidade. Certamente, os jovens têm muito que aprender com esse movimento tão decisivo para a humanidade, iniciado por um jovem monge agostiniano.
A Reforma iniciou-se no dia 31 de outubro de 1517. Martinho Lutero cuidava da igreja do Castelo de Wittemberg, Alemanha, enviado para lá pelo seu mentor, este do convento em que estudava. O intuito era ajudar o jovem Lutero a resolver suas dúvidas de fé. No tempo que se seguiu à sua chegada a Wittemberg, o jovem monge dedicou-se ao estudo e à leitura da Bíblia. Focado em Romanos, Martinho Lutero chegou à conclusão que a prática da Igreja Católica estava errada e que uma reforma era necessária.
No dia mencionado, Lutero pregou suas famosas 95 teses, que ia de encontro à autoridade papal, a cobrança de indulgências e a salvação pelas obras. Diferentemente do que parece, isso não trouxe uma reação imediata. Wittemberg até hoje é uma cidade pequena e as teses foram escritas em Latim, numa época em que poucos sabiam ler, ainda mais em Latim. Demoraram alguns meses para que tudo chegasse ao conhecimento do alto clero católico, mas quando isso se concretizou, a reação foi rápida e severa.
Nos dias que se seguiram, Martinho foi interrogado, ameaçado e desafiado. Suas obras foram proibidas, queimadas e execradas pela "autoridade espiritual' da época. Não fora o apoio de poderosos que se convenceram que Lutero estava certo, sua morte seria uma questão de dias. Ainda assim, a ação deste homem de Deus e daqueles que o seguiram muito tem nos dizer. Devemos olhar para a Reforma buscando algo além da teologia, da doutrina, da hermenêutica e outros aspectos importantes do estudo da Bíblia. Ela nos ensina sobre atitudes importantes quanto ao nosso relacionamento com Deus. 
Primeiro, a Reforma nos fala sobre fidelidade a Deus e à sua Palavra. Com uma igreja completamente desviada da verdade das Escrituras, Martinho, certamente, teve a graça de Deus ao seu lado para ter uma visão completamente diferente da dominante na Igreja Romana. Atualmente, o desvio das Escrituras pode ser visto por todos os lados, em diversas denominações cristãs. Assim como a Igreja Católica, elas se cercam de misticismos e ritos estranhos, porém, que impressionam e causam admiração. Por isso, é de extrema importância que o jovem, sempre à procura de novidades, não se deixe levar por emoções e pelo visual das coisas, buscando sempre adequar-se ao que a Palavra de Deus nos ensina e vivendo pela graça.
Em segundo lugar, a Reforma nos ensina sobre a coragem em defender a verdade. Nos tempos de Lutero, o herege era morto. Aqueles que discordavam do alto clero eram considerados traidores de Deus. Nosso reformador não se deixou levar pela intimidação e foi fiel à sua consciência, cativa à Palavra de Deus. Em certa ocasião, na chamada Dieta de Worms, proclamada pelo Imperador Carlos V, Lutero foi intimado para confirmar ou negar seus ensinos. Sua resposta foi um brado pelo que hoje denominamos liberdade de expressão:
"Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros argumentos da razão, porque não acredito nem no Papa nem nos concílios já que está provado amiúde que estão errados, contradizendo-se a si mesmos - pelos textos da Sagrada Escritura que citei, estou submetido a minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem quero retratar-me de nada, porque fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável."
Será que teríamos essa coragem? Em nossos dias, somos desafiados a defender a verdade. Infelizmente, muitos são os covardes que, por medo da desaprovação dos amigos, ou por simples pressão no local de trabalho, na faculdade, ou mesmo na família, sede a ideias contrárias às Escrituras. Pior ainda, não são poucos que sucumbem totalmente e negam as verdades bíblicas só para fugir da possibilidade de ficar isolado. Enquanto pré-reformadores com John Huss, ou reformadores como Lutero agiram com coragem, como você tem reagido às pressões do dia a dia?
Em último lugar, gostaria de olhar para dependência epistêmica desses homens. Essas palavras parece difícil, mas ela se refere a uma coisa bem simples: conhecimento. Homens como Lutero, Calvino, Huss, Wyclif, Martin Bucer foram totalmente submissos às Escrituras. Por mais que haja diferença entre os pensamentos destes teólogos, resultado das incertezas e debilidades humanas, todos eram submissos à Bíblia. Se no tempo desses homens foi um fator decisivo serem dependentes de Deus para se alcançar conhecimento verdadeiro, hoje, com os avanço e com a relativização da verdade, é salutar que o jovem, servo do Senhor Jesus, sinta-se dependente de Deus para alcançar tal conhecimento. Por mais convincentes que algumas descobertas pareçam ser, mesmo aquelas que contradizem diretamente a Bíblia, precisamos confiar que a Palavra de Deus é a revelação infalível do Criador. Basta lembramos que a ciência  vive em idas e vindas em suas descobertas, tendo suas principais postulações cheias de furos e contradições. Por sua vez, a Bíblia é a mesma desde os tempos antigos, mostrando que devemos tê-la como óculos pelos quais enxergaremos o mundo. 
Fidelidade, coragem e dependência: um legado invejável e honroso. Somos jovens protestantes que têm muita história para contar e raízes profundas com as quais firmamos nossos passos. Nesses [496] anos de Reforma protestante, lembre-se que não só tivemos nossas doutrinas definidas, mas que temos desafios grandiosos a fim de nos relacionarmos com Deus e sermos testemunhas de sua verdade. Termino com as palavras de João Calvino:
"Para que nossa fé repouse verdeira e firmemente em Deus, devemos levar em consideração, ao mesmo tempo, estas duas partes de seu caráter - seu imensurável poder, pelo qual ele pode manter o mundo inteiro sob seus pés; e seu amor paternal, o qual manisfestou em sua Palavra. Quando estas duas coisas vão juntas, não há nada que possa impedir nossa fé de desafiar todos os inimigos que porventura se ergam contra nós, nem devemos ter dúvidas de que Deus nos socorrerá, uma vez que já nos prometeu fazê-lo" (João Calvino: Edições Paracletos, 1999, p.335,336). 
***Autor: Rev. Ricardo Moura
Fonte: Revista Mocidade Presbiteriana, Nº 38 - 4º Trimestre 2011, p. 17-18
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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A Doutrina da Reforma -Por: Prof. Paulo Cristiano




    
No dia 31 de Outubro de 1517, na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, Lutero afixou as suas 95 teses que acabaram provocando o grande movimento religioso, conhecido como a Reforma do Século XVI. Nelas Lutero convidava os interessados a debater a questão das indulgências (que eram vendidas para a construção da Basílica de S. Pedro, em troca de perdão de pecados) e os males que esse tráfico religioso podia acarretar. Era costume na época afixar em lugares públicos temas ou teses para debate e convidar os interessados para discuti-los. Embora ninguém tivesse comparecido para o debate, em pouco tempo toda a Alemanha conhecia as teses de Lutero, que lhe custaram a bula de excomunhão, mas que representaram também o começo da obra de purificação da Igreja e seu retorno à verdade.
Em suas teses, Lutero questionava o poder (ou mesmo a intenção) do Papa de perdoar pecados ou de isentar alguém de penas, a não ser aquelas por ele mesmo impostas. Negava que esse perdão (de penas ou penitências) pudesse se estender aos que já haviam morrido e que, porventura, estivessem no purgatório. Para ele, só o arrependimento, seguido de atos de amor e penitência, com ou sem carta de perdão (indulgência) podia realmente perdoar pecados. Destacava o valor da Palavra de Deus, a qual não deveria ser silenciada em benefício da pregação das indulgências. A intenção do Papa, dizia, deve ser esta: se a concessão dos perdões - que é matéria de pouca importância - é celebrada pelo toque de um sino, com uma procissão e com uma cerimônia, então o Evangelho - que é a coisa mais importante - deve ser pregado com o acompanhamento de cem sinos, de cem procissões e de cem cerimônias (tese 55) e, ainda, o verdadeiro tesouro da Igreja é o sacrossanto Evangelho da glória e da graça de Deus (tese 62). Negava que a cruz adornada com as armas papais (que era carregada pelos vendedores de indulgências) tivesse o mesmo efeito que a cruz de Cristo (tese 79). Muitas outras questões foram levantadas nas teses, as quais acabavam batendo na própria autoridade do Papa e na lisura de suas intenções. Lutero afirmava: Essa licenciosa pregação dos perdões torna difícil, mesmo a pessoas estudadas, defender a honra do Papa contra calúnia, ou pelo menos contra as perguntas capciosas dos leigos. Esses perguntam: Por que o Papa não esvazia o purgatório por um santíssimo ato de amor e das grandes necessidades das almas; isto não seria a mais justa das causas, visto que ele resgata um número infinito de almas por causa do sórdido dinheiro dado para a edificação de uma basílica que é uma causa bem trivial? ... Que misericórdia de Deus e do Papa é essa de conceder a uma pessoa ímpia e hostil a certeza, por pagamento de dinheiro, de uma alma pia em amizade com Deus, enquanto não resgata por amor espontâneo uma alma que é pia e amada, estando ela em necessidade?... As riquezas do Papa hoje em dia excedem muito à dos mais ricos Crassos; não pode ele então construir uma basílica de S. Pedro com seu próprio dinheiro, em vez de fazê-lo com o dinheiro dos fiéis? ... Abafar esses estudados argumentos dos fiéis apelando simplesmente para a autoridade papal em vez de esclarecê-los mediante uma resposta racional, é expor a Igreja e o Papa ao ridículo dos inimigos e tornar os cristãos infelizes (teses 81, 82, 84, 86 e 90).
Com essas e outras proposições Lutero alcançou mais do que podia imaginar. Atingiu o ponto crucial do problema: a situação de distanciamento do Evangelho em que se encontrava a Igreja. Os males da Igreja não eram apenas os seus desvios morais, econômicos e políticos, que a colocavam em descrédito perante o povo. Seu problema principal, responsável também por estes, era o afastamento das doutrinas fundamentais da Palavra de Deus. A Reforma trouxe a Igreja de volta às Escrituras e ao Evangelho pregado pelos apóstolos. O próprio Lutero, de início, não estava totalmente livre dos erros pregados por sua Igreja, como muito bem atesta sua crença no purgatório (teses 10, 11, 15, 16, 17, 22, etc), e no valor da penitência (sofrimento) e do perdão do Papa para certos pecados (teses 6, 7, 8,12, 34, 38, 40, etc.). Foi o estudo da Bíblia que revelou quão longe a Igreja estava afastada da verdade e a trouxe de volta à pureza de sua crença primitiva. A Reforma restituiu à Igreja a crença em doutrinas chaves, que se tornaram essenciais para a sua pregação e para distingui-la dos erros que continuaram e ainda são mantidos pela Igreja Romana até os nossos dias. É a importância dessas doutrinas, conhecidas por sua designação latina Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia, Sola Fide e Soli Deo Gloria, que queremos apresentar, ainda que de forma breve, neste estudo.
1. Sola Scriptura - "Somente a Escritura", ou a autoridade e suficiência das Escrituras.
Para os reformadores, somente a Escritura Sagrada tem a palavra final em matéria de fé e prática. É o que ficou consubstanciado nas Confissões de Fé de origem reformada. A Confissão de Fé de Westminster, que adotamos, afirma: Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, ... todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e de prática..
A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus... O Velho Testamento em Hebraico... e o Novo Testamento em Grego..., sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são por isso autênticos e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal... O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura.(I, 2,4,8,10).
A Igreja Católica Romana também aceita as Escrituras como Palavra de Deus, mas não só as Escrituras. Ela acredita que as decisões da Igreja através dos seus concílios e do Papa, quando fala oficialmente (ex cathedra) em matéria de fé e de moral, são igualmente a palavra de Deus, infalível. É o que se chama de Tradição da Igreja. Sobre a autoridade da Igreja e do Papa, assim diz um autor católico: "Cristo deu à Igreja a tarefa de proclamar sua Boa-Nova (Mt 28, 19-20). Prometeu-nos também seu Espírito, que nos guia"para a verdade" (Jo 16,13). Este mandato e esta promessa garantem que nós, a Igreja, jamais apostataremos do ensinamento de Cristo. Esta incapacidade da Igreja em seu conjunto de extraviar-se no erro com relação aos temas básicos da doutrina de Cristo chama-se infalibilidade... A infalibilidade sacramental da Igreja é preservada pelo seu principal instrumento de infalibilidade, o Papa. A infalibilidade que toda a Igreja possui, pertence ao Papa dum modo especial. O Espírito de verdade garante que quando o Papa declara que ele está ensinando infalivelmente como representante de Cristo e cabeça visível da Igreja sobre assuntos fundamentais de fé ou de moral, ele não pode induzir a Igreja a erro. Esse dom do Espírito se chama infalibilidade papal. Falando da infalibilidade da igreja, do Papa e dos Bispos, o Concílio Vaticano II diz: "Esta infalibilidade, da qual quis o Divino Redentor estivesse sua Igreja dotada... é a infalibilidade de que goza o Romano Pontífice, o Chefe do Colégio dos Bispos, em virtude de seu cargo... A infalibilidade prometida à Igreja reside também no Corpo Episcopal, quando, como o Sucessor de Pedro, exerce o supremo magistério" (Lúmen Gentium, nº 25) - (http://www.geocities.com/Augusta/3540/doutrina.htm).
Sobre a relação entre as Sagradas Escrituras e a Tradição, diz esse mesmo autor: O Concílio Vaticano II descreve a Sagrada Tradição e as Sagradas Escrituras como sendo "semelhante a um espelho em que a Igreja peregrinante na terra contempla a Deus" (Constituição Dogmática Dei Verbum, sobre a Revelação Divina, nº 7). A palavra revelada de Deus chega até você mediante palavras faladas e escritas por seres humanos. A Escritura Sagrada é a Palavra de Deus "enquanto é redigida sob a moção do Espírito Santo" (Dei Verbum, nº 9). A Sagrada Tradição é a transmissão da Palavra de Deus pelos sucessores dos apóstolos. Juntas, a Tradição e a Escritura constituem um só sagrado depósito da palavra de Deus, confiado à Igreja"(Dei Verbum, nº 10). E mais adiante acrescenta: A Sagrada Tradição é a transmissão da Palavra de Deus. Esta transmissão é feita oficialmente pelos sucessores dos apóstolos, e não oficialmente por todos os que cultuam, ensinam e vivem a fé, tal como a Igreja a entende. (Ibidem).
No dias de Lutero a Igreja Romana já pensava assim e assim pensa até hoje. Na prática, a Tradição está acima da Bíblia para o catolicismo. Já que cabe à Igreja transmitir e interpretar a Bíblia, com igual autoridade e infalibilidade, é a palavra da Igreja, em última instância, que tem valor. O escritor católico, acima referido, diz: O Vaticano II fez o que a Igreja docente sempre tem feito: expressou o conteúdo imutável da revelação, traduzindo-o para formas de pensamento do povo de acordo com a cultura de hoje. Mas esta "tradução do conteúdo imutável" não é como que vestir notícias velhas com linguagem nova. Como afirmou o Vaticano II: "Esta Tradição, oriunda dos Apóstolos, progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Cresce, com efeito, a compreensão tanto das coisas como das palavras transmitidas... no decorrer dos séculos, a Igreja tende continuamente para a plenitude da verdade divina, até que se cumpram nela as palavras de Deus". (Dei Verbum, nº 8).
Pelo Vaticano II a Igreja deu ouvidos ao Espírito, empenhou-se na sua "tarefa de perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho" (Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no Mundo Moderno, nº 4). Nem sempre é claro aonde o Espírito está nos conduzindo. Mas o terreno no qual nós, a Igreja, caminhamos adiante da nossa peregrinação é firme: o Evangelho de Cristo. Nesta etapa da nossa história, um de nossos instrumentos básicos de Tradição - de transmissão da fé - são os documentos do Vaticano II (Ibidem).
Por este texto percebe-se que a Igreja Romana arroga a si não só a autoridade de interpretar e contextualizar a Bíblia, de modo infalível, mas a de continuar a sua revelação. Por isso a leitura da Bíblia pelos leigos não é vista como necessária; e, em alguns casos, é tida até como perigosa. A Reforma ensinou o livre exame das Escrituras. Qualquer pessoa tem o direito e até o dever de examinar, por si mesma, se o ensino da Igreja está de acordo com as Escrituras. Foi o que fizeram os crentes de Beréia, pelo que foram elogiados (At 17:11). A Igreja pode errar e tem errado. A infalibilidade deve ser atribuída apenas ao texto bíblico, não aos que o interpretam. Em nenhum lugar da Bíblia lemos que a promessa, dada aos apóstolos, de que o Espírito os conduziria a toda a verdade se estenderia aos demais líderes da Igreja, em todos os tempos. Jesus prometeu-lhes que o Espírito não só os guiaria a toda verdade (Jo 16:13), mas lhes ensinaria todas as coisas e os faria lembrar de tudo o que lhes tinha dito (Jo 14:26). Isto só poderia aplicar-se a eles, os apóstolos. Só eles ouviram o que Jesus disse para poder lembrar-se depois, não os bispos nem os papas. A infalibilidade do Papa (e, por extensão, da Igreja) só foi declarada como dogma em 1870, no Concílio Vaticano I. Tal dogma, naturalmente, serviu ao propósito de dar "legitimidade" aos inúmeros ensinos contrários às Escrituras, tanto os já anteriormente estabelecidos como outros que viriam depois, como a oração pelos mortos (310), a instituição da missa substituindo o culto (394), o culto a Maria (431), a invenção do purgatório (503), a veneração de imagens (783), a canonização dos santos (933), o celibato clerical (1074), o perdão através da venda de indulgências (1190), a hóstia substituindo a Ceia (1200), a adoração da hóstia (1208), a transubstanciação (1215), a confissão auricular (1216), os livros apócrifos como parte do cânon (1546), o dogma da Imaculada Conceição de Maria (1854) e o dogma da Assunção de Maria (1950), dentre outros.
Lutero se opôs naturalmente a esse ensino da Igreja. Já nas suas teses proclamava que comete-se uma injustiça para com a palavra de Deus se no mesmo sermão se concede tempo igual, ou mais longo, às indulgências do que à palavra de Deus (tese 54) e que o verdadeiro tesouro da Igreja é o sacrossanto Evangelho da glória e da graça de Deus (tese 62). Comparava o Evangelho como "redes com que, desde a antiguidade, se pescam homens de bem" enquanto que as indulgências eram "redes com que agora se pescam os bens dos homens" (teses 65 e 66). Mas foi na Dieta de Worms, em 1521, que demonstrou estar totalmente convencido de que as Escrituras eram a sua única autoridade reconhecida. Quando perguntado se estava disposto a se retratar das afirmações que fizera, negando autoridade a certas decisões de alguns concílios, sua resposta foi: É impossível retratação, a não ser que me provem que estou laborando em erro, pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão evidente; não posso confiar nas decisões dos concílios e dos Papas, pois é evidente que eles não somente têm errado, mas se têm contradito uns aos outros. Minha consciência está alicerçada na Palavra de Deus, e não é seguro nem honesto agir-se contra a consciência de alguém. Assim Deus me ajude. Amém.
Tanto a autoridade única como também a suficiência das Escrituras têm sido doutrinas preciosas para as igrejas reformadas. Só a Escritura e toda a Escritura! Não precisamos de outra fonte para saber o que devemos crer e como devemos agir. Hoje há uma tendência para se colocar a experiência humana e supostas revelações do Espírito no mesmo nível de autoridade das Escrituras, por parte de alguns grupos evangélicos. Na prática, às vezes essas experiências acabam se tornando mais desejadas e tidas como mais valiosas do que o próprio ensino das Escrituras. Tomam hoje o lugar que, no passado, tomava a Tradição. É preciso que voltemos ao princípio da Sola Scriptura, se queremos ser realmente reformados em nossas convicções e práticas. A Escritura, e não a nossa experiência subjetiva, deve ser o nosso critério de verdade. Nossa pregação não deve visar o que agrada aos homens, mas o que agrada a Deus. Já dizia Lutero que os tesouros das indulgências eram muito mais populares dos que os tesouros do Evangelho (teses 63 e 64), e isso, certamente, porque faziam as pessoas se sentirem bem, aliviadas do sentimento de culpa, pela promessa, ainda que falsa, de perdão de pecados. Só a pregação da Lei associada ao Evangelho pode realmente trazer o homem ao arrependimento e ao perdão divino. As Escrituras são a espada do Espírito. É por elas, e não independente delas, que o Espírito age. Nossas experiências espirituais só têm valor se forem produzidas pela persuasão da Palavra.
2. Solus Christus - "Somente Cristo", ou a suficiência e exclusividade de Cristo.
O Catolicismo Romano afastou-se do Evangelho e instituiu o culto a Maria, já em 431, o culto às imagens, em 787, e a canonização dos santos, em 933. Instituiu também a figura do sacerdote como vigário de Cristo, a quem devem ser confessados os pecados e a quem supostamente foi conferido poder para perdoá-los, mediante a prescrição de penitências. Um dos pontos centrais das teses de Lutero tinha a ver exatamente com o poder do Papa e dos sacerdotes de perdoar pecados, que ele questionava, pelo menos no que diz respeito aos mortos. Dizia ele: O Papa não tem o desejo nem o poder de perdoar quaisquer penas, exceto aquelas que ele impôs por sua própria vontade ou segundo a vontade dos cânones. O Papa não tem o poder de perdoar a culpa a não ser declarando ou confirmando que ela foi perdoada por Deus; ou, certamente, perdoando os casos que lhe são reservados. Se ele deixasse de observar essas limitações a culpa permaneceria. Os cânones da penitência são impostos unicamente sobre os vivos e nada deveria ser imposto aos mortos segundo eles (teses 5, 6 e 8). Mas admitia o sacerdote como vigário de Deus, perante quem Deus podia perdoar a culpa, mediante humilhação do penitente ( tese 7). Só mais tarde Lutero se libertou totalmente de alguns desses ranços de sua formação católica. Nem poderia ser diferente. Quando ele escreveu as teses, era ainda um monge católico romano.
O que o catolicismo ensina a respeito de Cristo não é diferente daquilo que professamos em nossos credos. A encarnação, nascimento virginal, divindade, morte vicária e ressurreição são cridos e ensinados. O problema é que a Igreja Romana não crê na suficiência e exclusividade da obra de Cristo para a salvação. Maria é erigida à posição de intercessora e até co-redentora (não oficialmente, ainda) e os santos entram também com os méritos de sua intercessão para a obra salvífica. O autor católico, acima citado, assim se refere a Maria: No seu livro "Maria em Sua Vida Diária", o teólogo Bernardo Häring observa: "O Concílio Vaticano II coroou a Constituição Dogmática sobre a Igreja com um belo capítulo sobre Maria, como protótipo e modelo da Igreja. A Igreja não pode chegar a entender plenamente a união com Cristo e o serviço a seu Evangelho, sem um amor e um conhecimento profundos de Maria, Mãe de Nosso Senhor e nossa Mãe". Com uma visão penetrante na natureza profundamente pessoal da salvação, o Vaticano II abordou o influxo de Maria em nossas vidas.
Por ser mãe de Jesus, Maria é a Mãe de Deus. É o que afirma o Vaticano II: "Na Anunciação do Anjo, a Virgem Maria recebeu o Verbo de Deus no coração e no corpo, e trouxe ao mundo a Vida. Por isso, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor"(Lumen Gentium, nº 53).
Como Mãe do Senhor, Maria é uma pessoa inteiramente singular. Como seu Filho, ela foi concebida como ser humano (e viveu toda a sua vida) isenta de qualquer vestígio do pecado original, isto se chama sua Imaculada Conceição. Antes, durante e após o nascimento de seu filho Jesus, Maria permaneceu fisicamente virgem. No final da sua vida Maria foi assunta - isto é, elevada - ao céu, de corpo e alma; a isso chamamos sua Assunção.
Na qualidade de Mãe de Cristo, cuja vida vivemos, Maria é também a mãe de toda a Igreja. Ela é membro da Igreja, mas um membro totalmente singular. O Vaticano II exprime sua relação conosco como a de um membro supereminente e de todo singular da Igreja, como seu modelo... na fé e na caridade. "E a Igreja católica, instruída pelo Espírito Santo, honra-a com afeto de piedade filial como mãe amantíssima"(Lumen Gentium, nº 53).Como Mãe do Senhor, Maria é uma pessoa inteiramente singular. Como seu Filho, ela foi concebida como ser humano (e viveu toda a sua vida) isenta de qualquer vestígio do pecado original, isto se chama sua Imaculada Conceição. Antes, durante e após o nascimento de seu filho Jesus, Maria permaneceu fisicamente virgem. No final da sua vida Maria foi assunta - isto é, elevada - ao céu, de corpo e alma; a isso chamamos sua Assunção.
Na qualidade de Mãe de Cristo, cuja vida vivemos, Maria é também a mãe de toda a Igreja. Ela é membro da Igreja, mas um membro totalmente singular. O Vaticano II exprime sua relação conosco como a de um membro supereminente e de todo singular da Igreja, como seu modelo... na fé e na caridade. "E a Igreja católica, instruída pelo Espírito Santo, honra-a com afeto de piedade filial como mãe amantíssima"(Lumen Gentium, nº 53).
Como uma mãe que aguarda a volta dos seus filhos adultos para casa, Maria nunca cessa de influenciar o curso de nossas vidas. Diz o Vaticano II: "Ela concebeu, gerou, nutriu a Cristo, apresentou-o ao Pai no templo, compadeceu com seu Filho que morria na cruz... Por tal motivo ela se tornou para nós Mãe, na ordem da graça"(Lumen Gentium, nº 61). "por sua maternal caridade cuida dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam na terra rodeados de perigos e dificuldades, até que sejam conduzidos à feliz pátria"(Lumen Gentium, nº 62).
Essa Mãe, que viu seu próprio Filho feito homem morrer pelo resto de seus filhos, está esperando e preparando seu lugar para você. Ela é, nas palavras do Vaticano II, seu "sinal da esperança segura e do conforto" (Lumen Gentium, nº 68) (Ibidem)
Com relação aos santos, diz esse autor: A igreja venera também os outros santos que já estão com o Senhor no céu. São pessoas que serviram a Deus e ao próximo dum modo tão notável, que foram canonizados, isto é, a Igreja declarou oficialmente heróicos, e nos exorta a rezarmos a eles, pedindo sua intercessão por todos nós junto a Deus. E ainda, A Comunhão dos santos é uma rua de mão dupla:.. o Vaticano II afirma que, assim como você na terra pode ajudar aqueles que sofrem o purgatório, assim os que estão no céu podem ajudá-lo na sua peregrinação, intercedendo por você junto de Deus (Ibidem).
Embora a Igreja Católica não tenha ainda proclamado oficialmente o dogma de Maria como co-redentora, o que vem sendo buscado por muitos de seus cultuadores (até agosto de 1997 o atual papa já havia recebido 4.340.429 assinaturas de 157 países solicitando que ele exercesse o poder da sua infalibilidade para proclamar o dogma de que "a Virgem Maria é co-redentora, mediadora de todas as graças e advogada do povo de Deus", cf. http://www.msantunes.com.br/juizo/odesvirt.htm), na prática ela é assim considerada e com o apoio e ensino explícito do clero. No boletim diocesano da cidade de Itabuna (BA), assim se expressa Dom Ceslau Stanula, bispo da diocese: "Maria Co-Redentora - Mês de maio, um dos mais lindos do ano, a humanidade dedicou a Nossa Senhora. Quase em todas as igrejas e capelas diariamente neste mês, o povo se reúne para cantar ladainhas e louvores a nossa Senhora. Nossa Senhora é invocada, venerada e cultuada pelas razões muito profundas e bíblicas. Maria é a Mãe de Jesus que é Deus, Filho de Deus nosso Salvador, e portanto ela é a Co-Redentora da humanidade". E para consusbstanciar sua declaração cita documento do Concílio Vaticano II que diz: "Assim de modo inteiramente singular, pela obediência, fé, esperança e caridade, ela cooperou na obra do Salvador para a restauração da vida sobrenatural das almas. Por tal motivo ela se tornou para nós mãe na ordem da graça". (LG 61) (http://www.snow.icestorm.net/siteverde/boletim1.htm)
Certamente este não é o ensino da Bíblia. Ela nos diz que "há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem" (1Tm 2:5), que, "por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hb 7:25) e que "não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (At 4:12). Não precisamos de intercessão de Maria ou dos santos, nem têm eles qualquer poder para tal. Quem disse "na casa de meu Pai há muitas moradas... vou preparar-vos lugar", foi Jesus e não Maria (Jo 14:2). A obra de Cristo é suficiente para a nossa salvação. Maria e todos os demais crentes só puderam ser salvos pela graça e mediação eficaz de Cristo. Assim cantou ela: "A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome" (Lc 1:46-49). Quando o povo de Listra quis adorar a Paulo e Barnabé, sua resposta foi a seguinte: Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles (At 14:15). Os verdadeiros santos nunca reivindicaram qualquer poder, glória ou honra para si mesmos. Certamente é falsa esta aspiração atribuída a Maria: "Até que eu seja reconhecida no lugar em que a Santíssima Trindade desejou que eu estivesse, eu não poderei exercer meu poder totalmente, no trabalho materno de co-redenção e de mediação universal das graças... (Nossa Senhora a Padre Gobbi, 14/06/80)" (http://www.geocities.com/Athens/Delphi/3665/milesp2.html)
Uma outra conseqüência do princípio do Solus Christus foi a doutrina que ficou conhecida como a do "Sacerdócio Universal dos Crentes". Não necessitamos de outro sacerdote ou mediador entre nós e Deus que não seja o Senhor Jesus Cristo. Cada um pode chegar-se a Ele diretamente, sem intermediários humanos. Como diz o autor aos Hebreus: "Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna" (Hb 4:14-16).
A Reforma trouxe à Igreja o Evangelho simples dos apóstolos, centrado na suficiência e exclusividade da obra de Cristo para a salvação. A velha confissão de Paulo foi de novo a confissão dos reformadores: "Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado" (1Co 2:2)
3. Sola Gratia - "Somente a Graça", ou a única causa eficiente da salvação
Intimamente ligado ao princípio do Solus Christus está o da Sola Gratia. A Bíblia ensina que o homem é totalmente incapaz de fazer qualquer coisa para a sua salvação. Está espiritualmente morto em delitos e pecados. Um morto nada pode fazer sem que antes seja vivificado. Paulo ensina como se operou a nossa salvação: "Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados ... e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, - pela graça sois salvos" (Ef 2:1,5). Foi "pela graça", diz Paulo, que fomos vivificados, estando nós mortos. A doutrina da inabilidade total do homem para salvar-se foi um dos marcos da Reforma. No seu livro De Servo Arbitrio ("A Escravidão da Vontade"), Lutero nega que o homem tenha livre arbítrio, ou seja, a capacidade de escolher entre o bem e o mal, depois da queda. Vendido ao pecado, o homem não tem mais a habilidade para escolher o bem, pois sua vontade está presa ou escravizada pelo pecado. Só pode e só quer escolher o pecado. A salvação é, portanto, exclusivamente ato da livre e soberana graça de Deus. Não só Calvino, como geralmente se pensa, mas também Lutero e os demais reformadores deram grande ênfase na necessidade da graça soberana de Deus para a salvação do homem. É por isso que a eleição divina é incondicional.
Todavia, não era isso que a Igreja ensinava nos dias da Reforma. O catolicismo, seguindo o pensamento de Pelágio e, principalmente, de Tomás de Aquino, acreditava e ainda acredita que o homem não está totalmente corrompido em sua vontade e natureza. Ele precisa da graça de Deus, mas não no sentido regenerador, como cremos. Segundo a teologia romana o homem pode conhecer a Deus através de sua razão, conhecimento que é chamado de Teologia Natural. O documento 1806 (Denzinger) do Concílio Vaticano I (1869-1870) diz: "(Contra os que negam a teologia natural) - Qualquer que disser que o Deus verdadeiro, nosso Criador e nosso Senhor, não pode ser conhecido com verdadeira exatidão pelas coisas que foram feitas, pela luz natural da razão humana, seja anátema (cf. 1785) (Cf. Denzinger 1810, 1812, 1816) (cf F.H. Klooster, Introduction to Systematic Theology (Grand Rapids: Calvin Theological Seminary, 1985, pp. 182-183).
No artigo católico que temos citado, encontramos como eles entendem o pecado original: Com exceção de Jesus Cristo e de sua Mãe Maria, todo ser humano nascido neste mundo está contaminado pelo pecado original. Como São Paulo declara em Rom, 5, 12: "Por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e pelo pecado a morte, e assim a morte passou a todos os homens porque todos pecaram".
Embora continue a mostrar que há o mal neste mundo, a Igreja não está sugerindo que a natureza humana esteja corrompida. Ao contrário, a humanidade é capaz de fazer muito bem. Não obstante sintamos uma "tendência para baixo", ainda mantemos o controle essencial sobre nossas decisões. Permanece a vontade livre. E - o que é mais importante - Cristo, nosso Redentor, venceu o pecado e a morte pela sua morte e Ressurreição. Essa vitória cancelou não apenas nossos pecados pessoais, mas também o pecado original e seus propalados efeitos. A doutrina do pecado original, portanto, entende-se melhor como um escuro pano de fundo contra o qual pode ser aplicada, fazendo contraste, a brilhante redenção adquirida para nós por Cristo, nosso Senhor. (http://www.geocities.com/Augusta/3540/doutrina.htm).
Assim, o catolicismo estabeleceu os sacramentos da Igreja (que para eles são sete e não dois) como meios pelos quais o problema do pecado pode ser tratado e a graça recebida. A Igreja torna-se medianeira ou mediadora da graça de Deus. Daí o ensino de que "fora da Igreja não pode haver salvação", entendida "Igreja" aqui não como o número total dos eleitos (sentido espiritual) mas como a organização (visível) que, supostamente, detém o poder de distribuir e administrar a graça de Deus. No século XVI o cardeal Roberto Belarmino assim descreveu a Igreja Romana: "A única e verdadeira Igreja é a comunidade de homens reunidos pela profissão da mesma fé cristã e pela comunhão dos mesmos sacramentos, sob o governo dos legítimos pastores e especialmente do vigário de Cristo na terra, o Romano Pontífice" (Ibidem). Mas vem de longa data esse ensino. Assim se expressaram alguns dos papas do passado: Papa São Gregório I (590-604): "Agora a Santa Igreja Universal proclama que apenas dentro dela Deus pode ser realmente adorado, e que fora dela ninguém pode ser salvo." Papa Inocêncio III (1198-1216): "Realmente, existe apenas uma Igreja Universal dos fiéis, fora da qual ninguém é salvo. (...) Cremos com nossos corações e confessamos com nossos lábios que existe apenas uma Igreja, não a dos hereges, mas a Santa Igreja Católica e Apostólica Romana, fora da qual acreditamos que ninguém pode ser salvo." Papa Bonifácio VIII (1294-1303): "Nós declaramos, dizemos, definimos e proclamamos que é absolutamente necessário para a salvação de toda a criatura humana estar sujeita ao Pontífice Romano." Papa Eugênio IV (1431-1439): "A Santa Igreja Romana acredita, professa e prega que todo aquele que permanece fora da Igreja Católica, não apenas os pagãos, mas também judeus, heréticos e cismáticos, não tomarão parte da vida eterna, mas irão para o fogo perpétuo, que foi preparado para o diabo e seus anjos, a não ser que antes da morte eles se unam à Igreja. É de tal modo importante a união com o corpo da Igreja, que seus sacramentos são úteis para a salvação apenas para aqueles que permanecem dentro dela, e jejuns, esmolas e outros trabalhos piedosos, assim como a prática da guerra cristã, só proporcionarão recompensas eternas a eles tão-somente." Papa Leão X (1512-1517): "Onde a necessidade de salvação se referir a todos os fiéis de Cristo, deverá estar sujeita ao Pontífice Romano, como nos foi ensinado pelas Sagradas Escrituras, pelo testemunho dos santos padres e pela constituição do nosso predecessor de feliz memória, Bonifácio VIII." ( http://www.msantunes.com.br/juizo/odesvirt.htm. )
E não pensemos que a Igreja Romana mudou. Recentemente o cardeal Joseph Ratzinger, da Congregação para a Doutrina da Fé, o novo nome da velha "Congregatio Propaganda Fide", mais conhecida como Inquisição, "causou escândalo" por afirmar na declaração Dominus Iesus, aprovada pelo papa, que "a Igreja Católica é o verdadeiro caminho para a salvação" (Folha de S. Paulo, de 27/09/2000, p. E8). Os mais ingênuos, que acreditam na sinceridade do diálogo do Vaticano com as outras religiões (ecumenismo), consideraram isso um retrocesso. Nada mais óbvio para a Igreja Católica, que jamais abdicará desta posição, sob pena de admitir seus erros e reconhecer-se falível.É por essa razão que a Igreja se julgava no direito de distribuir o perdão de pecados através da venda das indulgências, pela prescrição de penitências e outros atos de contrição. Foi a Reforma que trouxe à luz a verdade da Sola Gratia, ensinada nas Escrituras. Onde a total inabilidade do homem for negada e os pretensos méritos humanos forem cridos, não haverá verdade bíblica. O homem nem mesmo pode cooperar com a graça regeneradora do Espírito. A salvação não é, em nenhum sentido, obra humana. Não são os métodos ou técnicas humanas que operam a salvação, mas tão somente a graça regeneradora do Espírito. A fé não pode ser produzida por uma natureza decaída e morta. "Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros. Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador" (Tt 3:3-5)
4. Sola Fide - "Somente a Fé", ou a exclusividade da Fé como meio de Justificação.
Falando da eleição, Paulo argumenta: E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça (Rm 11:6). A graça exclui totalmente as obras. O homem nada pode e nada tem para oferecer a Deus por sua salvação. A única coisa que lhe cabe fazer é aceitar o dom da salvação, pela fé, quando esta lhe é concedida. Fé na obra suficiente de Cristo, que lhe é imputada (creditada em sua conta) gratuitamente. Essa obra consiste na sua vida de perfeita obediência à lei de Deus, em lugar do homem, obediência que nem Adão nem qualquer de sua descendência pôde prestar, dada a sua condição de morte espiritual. Por isso Cristo é chamado de o segundo ou o último Adão (1Co 15:45). Ela consiste também, e principalmente, de sua morte sacrificial em lugar do pecador eleito, através da qual é pago o preço exigido pela justiça de Deus para a justificação. A justiça de Deus exige punição do pecado. Ele é aquele que "não inocenta o culpado" (Ex 34:7). Exige justiça perfeita. Para que Deus pudesse punir o pecador, mas ao mesmo tempo declará-lo justo (que é o significado bíblico de justificar), foi preciso que alguém, sem culpa e com méritos divinos, assumisse o seu lugar. Foi o que o próprio Deus fez através de Cristo. Assumiu a culpa do pecador eleito e morreu em seu lugar, satisfazendo assim a justiça de Deus, ofendida pela pecado. Nada menos do que isso foi suficiente para justificar o pecador. É o que se chama na teologia de "expiação". Desta forma, Paulo pôde falar em Deus como "aquele que justifica o ímpio" (Rm 4:5) e da morte de Cristo como a manifestação da sua justiça, para que ele pudesse ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus. Diz ele: "sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus" (Rm 3: 24-26). É por isso também que os reformadores chamavam o crente de simul justus et peccator - ao mesmo tempo justo e pecador.
Esta foi a doutrina central da Reforma. Lutero, de início, não podia compreender como a "justiça de Deus se revela no evangelho" ("visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé". Rm 1:17). Para ele, a justiça de Deus só poderia condenar o homem, não salvá-lo. Tal justiça não seria "boas novas" (evangelho). Só quando compreendeu que a justiça de que Paulo fala nesse texto não é o atributo pelo qual Deus retribui a cada um conforme os seus méritos (o que implicaria em condenação para o homem), mas o modo como Ele justifica o homem em Cristo, é que a luz raiou em seu coração e a verdade aflorou em sua mente. Tornou-se, então, um homem livre, confiante e certo do perdão dos seus pecados. Compreendeu o evangelho! O Evangelho é a manifestação dessa justiça de Deus, que é recebida somente pela fé. Não é produzida pelas obras, pois o homem não as tem. ("Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado"... "concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei" Rm 3:20,28).
É pela fé que o justo viverá. Quando Paulo cita esta passagem de Habacuque, ele a usa para ensinar que é através da fé, e não das obras, que alguém é declarado justo em Cristo. Isto está mais claro na outra citação em Gl 3:11, quando ele diz: "E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé". Cristo é a justiça de Deus ("mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção" - 1Co 1:30) e pela fé nele nós também somos feitos "justiça de Deus" ("Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus" (2Co 5:21). A fé, todavia, é apenas o meio, dado pelo próprio Deus, pelo qual essa justiça é imputada ao pecador, não a sua causa ou motivo. Do contrário, a própria fé seria "obra humana". Per fidem propter Christum - "pela fé, por causa de Cristo", como deixou claro a Reforma. A fé não é a base nem a causa meritória da justificação, mas o meio pelo qual ela é comunicada.
Quão longe estava a Igreja dessa verdade simples do Evangelho quando ensinava que o perdão podia ser comprado com dinheiro e a salvação adquirida com o mérito dos santos. Tetzel, o vendedor das indulgências do Papa Leão X na Alemanha, dizia que "ao som de cada moeda que cai neste cofre, uma alma se desprende do purgatório e voa até o paraíso", refrão que seus ridicularizadores rimaram no que em português equivaleria a "no que a moeda na caixa cai, uma alma do purgatório sai" ("sobald das Geld im Kasten Klingt, di Seele aus dem fegfeuer springt")
(http://www.infohouse.com.br/usuarios/zhilton/Luteranismo.html).
Mas não pensemos que a Igreja Católica mudou. Ainda agora, neste ano considerado o do Jubileu 2000, o Vaticano criou novas indulgências para reduzir ou anular as penas dos pecados. Um "Manual de Indulgência", de 115 páginas, apresenta algumas das obras que podem aliviar a punição dos pecadores no purgatório, dentre as quais estão um dia sem fumar, rezar com o Papa em frente à televisão, ajudar refugiados, orar mentalmente com surdos-mudos, não comer carne, etc, (cf. artigo "Igreja Católica cria novas indulgências", Folha de S. Paulo de 19/09/2000), além das que são permanentemente concedidas como visitar o Vaticano e peregrinar por lugares sagrados. Isto na mesma época em que a Igreja assinou, juntamente com luteranos da Federação Luterana Mundial, um acordo em que os dois grupos professam que : " a salvação decorre da graça de Deus e não das boas obras; só se chega à salvação pela fé; e, embora não levem à salvação, as boas obras são conseqüência natural da fé" (cf. artigo "Católicos e luteranos se reconciliam", da mesma edição da Folha de S. Paulo, já citada). O acordo não é levado a sério pelos que conhecem o catolicismo e o modo como age, e recebeu críticas inclusive da parte de igrejas luteranas fiéis à sua origem. É visto apenas como uma manobra para promover o ecumenismo e, principalmente, para combater o mercantilismo das igrejas neo-pentecostais, que vêm tirando adeptos das igrejas tradicionais, principalmente do catolicismo, com sua pregação da "teologia da prosperidade" (cf. artigo "Acordo visa combater 'mercantilismo'", da referida edição da Folha).
A ênfase na doutrina da justificação somente pela fé é tão oportuna e necessária agora quanto nos dias de Lutero, e não só porque o catolicismo não mudou, mas porque o protestantismo mudou. São poucos os evangélicos hoje que ainda dão ênfase ao aspecto objetivo da justificação unicamente pela fé. Experiências subjetivas, avivamentos emocionais, respostas a apelos e outras práticas estão tomando o lugar da pregação dos temas chaves da Reforma. As doutrinas do pecado original, da expiação vicária, da eleição incondicional e da justificação somente pela fé estão sendo negadas hoje por muitos evangélicos que buscam uma acomodação à cultura da modernidade.
5. Soli Deo Gloria - "A Deus somente, a glória", ou a exclusividade do serviço e da adoração a Deus.
Coroando estes temas que a Reforma nos legou está o da "glória somente a Deus". Dar glória somente a Deus significa que ninguém, nem homens nem anjos, deve ocupar o lugar que pertence a Ele, no mundo e em nossa vida, porque somente Ele é o Senhor. É o que exige o 1º mandamento: "Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim" (Ex 20:1-2). A história do homem é uma história de quebra desse mandamento. Depois do pecado, o homem tem constituído deuses para si em lugar do Deus verdadeiro. Geralmente, esse deus é ele próprio. Quando decide o que deve ou não crer, o que pode ou não ser verdadeiro, está dizendo que ele é o seu próprio deus. Sua razão (distorcida pelo pecado) é o seu critério de verdade. Quando a Igreja se coloca na posição de julgar o que deve ou não aceitar da Bíblia, e se arvora em sua intérprete infalível, está assumindo para si o lugar de Deus. Quando ela prega a devoção a Maria e aos santos (ainda que diga que venera mas não adora), está usurpando a Deus da prerrogativa de sua glória exclusiva ("Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura"; Isa 42:8). A doutrina católica, com sua ênfase nos méritos e obras humanos, rouba a Deus de sua glória exclusiva.
A glória de Deus é o fim para o qual Ele criou todas as coisas. Não é só o fim principal do homem (conforme o nosso Breve Catecismo), mas o fim de todas as coisas. É o fim do próprio Deus, como crê John Piper, porque Ele é o bem supremo (cf. Desiring God, Leicester: Inter-varsity Press, 1990, p. 13). Todas as coisas, e isso inclui a salvação, visam a glória de Deus, não o bem estar dos homens (Ef 1:6,12,14). Por isso Deus é glorificado também nos que se perdem. É o que chamamos de "teocentrismo".
Michael Horton afirma que Lutero lutou para distinguir sua obra de 'reformas' anteriores. Semelhantes a muitos dos movimentos frenéticos de reforma, renovação e avivamento dos nossos dias, as outras reformas se preocupavam com moralidade, vida da igreja e mudanças estruturais, mas Lutero disse: 'Nós visamos a doutrina'. Não que fossem sem importância essas outras áreas, mas seriam secundárias. Contudo, com sua 'Revolução Copernicana', nasceu um movimento teocêntrico que teve enormes efeitos sobre a cultura mais ampla. A orientação da vida e do pensamento centrados em Deus começou no culto, em que o enfoque era na ação de Deus em sua Palavra e sacramento, em vez de estar em deslumbrar e entreter as pessoas com pompa e aparato. Quando os crentes estavam centrados em volta de Deus e sua obra salvífica em Cristo, seus cultos ajustavam sua visão a outro grau: deixavam de servir como pessoas mundanas para verem-se como pecadores redimidos, cuja vida só poderia ter um propósito: glorificar a Deus e gozá-lo para sempre" (Reforma Hoje, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p.124).
E foi devido a esse conceito de que vivemos para Deus e de que para ele devemos fazer o melhor que a Reforma contribuiu para uma grande revolução não só no campo religioso, mas no mundo das artes, da ciência e da cultura em geral. Soli Deo Gloria passou a ser o lema não só de reformadores, mas de músicos (como Bach), pintores (como Rembrandt) e escritores (como Milton), que apunham às suas obras esta expressiva dedicatória ( Ibidem)
Esta visão teocêntrica a Reforma encontrou na Bíblia. Depois de tratar das doutrinas da salvação, Paulo declara: "Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!" (Rm 11:36) e, ao concluir sua epístola aos Romanos, louva ao Senhor com estas palavras: "ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém! (16:27). A glória de Deus também foi o tema do cântico dos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, e de todas as criaturas que João ouviu em suas visões, os quais diziam: "Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor" (Ap 5:12) e '"Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos" (Ap 5:13) e ainda "Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação...O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém!" Ap 7:10-12.
Quero concluir citando a esse respeito as palavras de James M. Boice, ex-pastor da 10ª Igreja Presbiteriana da Filadélfia, recentemente falecido. Ele diz: Meu argumento é que o motivo pelo qual a igreja evangélica atual está tão fraca e o porquê de não experimentarmos renovação, embora falemos sobre nossa necessidade de renovação, é que a glória de Deus foi, em grande, parte esquecida pela igreja. Não é muito provável vermos avivamento de novo enquanto não recuperarmos as verdades que exaltam e glorificam a Deus na salvação. Como podemos esperar que Deus se mova entre nós, enquanto não pudermos dizer de novo, com verdade: "Só a Deus seja a glória"? O mundo não pode dizer isso. Ao contrário, está preocupado com sua própria glória. Como Nabucodonozor, ele diz: Veja essa grande Babilônia que construí pelo meu poder e para minha glória" . Os arminianos não podem dizê-lo. Podem dizer "a Deus seja a glória", mas não podem dizer "só a Deus seja a glória", porque a teologia arminiana tira um pouco da glória de Deus na salvação e a dá para o indivíduo, que tem a palavra final em dizer se vai ou não ser salvo. Mesmo aquelas pessoas do campo reformado não podem dizê-lo, se o principal que estão tentando fazer nos seus ministérios é edificar seus próprios reinos e tornar-se importantes no cenário religioso. Nunca vamos experimentar a renovação na doutrina, no culto e na vida enquanto não pudermos dizer honestamente: "só a Deus seja a glória" (Reforma Hoje, pp. 192-193).
A Reforma nos legou esses grandes temas, que são doutrinas preciosas da Bíblia. Cabe a nós hoje, seus legatários, dizer se somos ou não dignos herdeiros dessa herança e continuadores dessa obra. O que cremos e o que pregamos representa nossa resposta.
Fonte: [ CACP ]
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