segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A importância da Educação Cristã Escolar - Por Rev. Mauro Meister









Educar pra quê?
Podemos pensar em diversas razões. Algumas delas são:

  • Capacitação financeira (o bem estar financeiro do aluno),
  • Capacitação cultural
  • Qualidade de vida
  • Futuro das gerações
  • Futuro do próprio planeta

Mas, por que uma educação “religiosa”?
O cristianismo sempre teve a grande preocupação de educar e ensinar. A motivação era descobrir a verdade de Deus para a glória de Deus, tanto a verdade de Deus nas Escrituras, como na Natureza.
Harvard, considerada a melhor universidade pela Times Higher Education (THE), foi fundada pelo pastor John Harvard. A faculdade Mackenzie foi fundada há 142 anos por protestantes. Contudo, com o tempo perdemos a noção da importância da educação e deixamos a educação nas mãos dos incrédulos. Deixamos de ser cristãos que pensam e refletem sobre todos os aspectos da vida para viver um cristianismo sentimental e enclausurado.
Não existe educação “neutra”.
Algumas escolas tem a noção de que existem dois tipos de educação: educação secular + educação cristã. Contudo, não existe educação neutra. Sempre existirá uma ideologia por trás da educação. Não necessariamente uma ideologia política, mas sempre existirá uma “religião” por trás da educação, um pressuposto, uma cosmovisão que influenciará naquilo que o educador ensina.
Cosmovisão são como lentes sobrepostas (pressuposições) pelas quais vemos o mundo e há várias camadas de interpretação que formam a nossa cosmovisão pessoal, conforme mostra a imagem abaixo.

Clique p/ ampliar
A educação cristã… consiste em ensinar tudo, de ciências e matemática a literatura e artes, dentro da estrutura de uma visão de mundo bíblica e integrada. Significa ensinar os estudantes a relacionarem todas as disciplinas à verdade de Deus e sua auto-revelação nas Escrituras, enquanto detectam e criticam as afirmativas da visão de mundo não-bíblica. (Colson & Piercey, E Agora Como Viveremos?)
Em uma escola cristã não existe educação secular, pois toda educação cristã procede da cosmovisão das Escrituras, quer ciência, quer teologia. Sendo assim, uma escola cristã não é aquela que faz somente um culto durante a semana, ou uma oração antes da aula, mas aquela que ensina seu conteúdo sob a perspectiva cristã.
O que nos leva a educar?
Nós temos uma visão reducionista, achando que a Bíblia só é aplicável dentro das paredes da igreja, achando que quando a bíblica fala de educação, ela está falando somente de EBD (Ensino Bíblico Dominical).
Estes, pois [repetição dos dez mandamentos], são os mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o SENHOR, teu Deus, se te ensinassem, para que os cumprisses na terra a que passas para a possuir; para que temas ao SENHOR, teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida; e que teus dias sejam prolongados. Ouve, pois, ó Israel, e atenta em os cumprires, para que bem te suceda, e muito te multipliques na terra que mana leite e mel, como te disse o SENHOR, Deus de teus pais. [...] Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. (Dt 6:1-3, 6-7)
Neste texto vemos que a ordem do ensino vem de Deus e que o ensino tem um propósito dado por Deus; e o próprio Deus concede a autoridade do ensino aos pais. Deus também concede dons de ensino e equipa pessoas específicas para ensinarem o corpo de Cristo. Sendo assim, a escola cristã é um auxílio aos pais que delegam sua autoridade a escola para ensinar seus filhos. Contudo, a escola jamais pode substituir e jamais conseguirá substituir os pais.

Conheça a ACSI
A Associação Internacional de Escolas Cristãs-ACSI é uma organização internacional de escolas cristãs sem fins lucrativos, com seu escritório central em Colorado Springs, EUA.
Foi formada em 1978 como resultado da união de várias associações de escolas cristãs nos Estados Unidos e Canadá. Conta com mais de 25 mil escolas associadas, em mais de 115 países, tendo mais de um 5.5 milhões de alunos. Existem 16 escritórios regionais ao redor do mundo, sempre respeitando a identidade cultural de cada nação.
A filosofia educacional da ACSI, fundamentada na Palavra de Deus, promove uma educação cristocêntrica, orientada para desenvolver uma cosmovisão bíblica por meio de cada educador, cada matéria acadêmica e cada parte do programa escolar.
Conheça mais sobre a ACSI, clicando aqui!
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Palestra dada no 1º Encontro Nacional de Escolas Cristãs (ENAEC) realizado pela ASCI, com apoio da VINACC e da 15ª Consciência Cristã.
Fonte: Voltemos ao Evangelho
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domingo, 29 de setembro de 2013

Em um mundo de mentiras e heresias, seja um cristão que pensa e examina as Escrituras - Por Spurgeon



O apóstolo Paulo escrevendo a sua carta aos Efésios trata de um assunto importante para os nossos dias: “... não sejamos mais meninos, inconstantes, levados ao redor por todo o vento de doutrina”. Creio profundamente que devemos examinar essa orientação bem de perto diante de tantas bobagens adentrando em nossas igrejas como também ensinamentos que não estão de acordo com sã doutrina das Escrituras. 
Diz o apóstolo que devemos deixar de sermos “meninos”. Essa colocação paulina é importante ser notada, pois ele usa a figura da criança para falar do nosso comportamento e desenvolvimento como servos de Cristo.
Quais seriam as suas características?
Bem, as crianças são instáveis, volúveis, indoutas. Gostam de novidade, de brincadeiras, entretenimento e agitação; não gostam de ser levadas a pensar e a raciocinar. São predispostas a espetáculos e ao ilusório, mas, sobretudo, tem a tendência de deixar-se enganar pelo que é falso. Assim sendo, parece que a idéia do apostolo era em relação às pessoas agindo e sendo vítimas como crianças em sua caminhada cristã. E quando olhamos o nosso contexto percebemos também no meio evangélico homens falsos, trapaceiros e astutos enganando a muitos com suas simulações e desonestidades, ensinando uma doutrina doente e que na verdade não passam de pessoas que deliberadamente atendem aos seus próprios interesses e crentes instáveis, enredados por qualquer novidade, em busca de coisas prontas, promessas antibíblicas, agitação, crente que não pensa e que não examina as Escrituras, como os bereanos, que liam a Palavra para conferir se o que ouviam eram de fato os ensinos das sagradas Escrituras.
Diante desta lamentável situação não podemos nos comprometer com esses traiçoeiros e atraentes pregadores que dizem que estão falando da parte de Deus e na verdade estão dizendo mentiras e um evangelho distorcido sem o poder de Deus; e devemos lutar contra essa vergonha como se fosse lutar contra a própria peste na terra. Não se desvie por algum ensino pérfido que se mascara com o nome de cristianismo, no entanto, não passa de mentira e estratagema do próprio satanás.
Saí fora dessas perigosas e falsas doutrinas, e seja um crente bereano, maduro, com discernimento espiritual para combater essas idéias filosóficas existencialistas e humanistas que ferem diretamente aos princípios fundamentais da nossa fé cristã.
Termino por agora com as palavras do puritano Richard Baxter sobre as direções e persuasões seguras:

“Se você não quer que a obra da sua conversão venha a ser abortada, uma vez entendido o que lhe é oferecido, 'examine as Escrituras todos os dias para ver se as coisas são de fato assim ou não' (At 17:11).
Assim fizeram os Bereanos, e o texto 'diz que por causa disso creram' (At 17:12). Nós não queremos enganá-lo, por isso não queremos que você aceite qualquer coisa que dissermos, mas aquilo que pudermos provar pela palavra de Deus ser realmente verdade. Não desejamos guiá-lo nas trevas, mas, pela luz do evangelho, queremos retirá-lo das trevas. Assim sendo, não recusamos submeter toda a nossa doutrina a um teste justo. Embora não desejemos que você se torne culpado por desconfiar de nós injustamente, ainda assim, não desejamos que aceite este ensinos importantes e preciosos, confiado meramente nas nossas palavras; porque neste caso, a sua fé seria colocada no homem; e, então seria de admirar que viesse a ser fraca, ineficaz, e facilmente abalada. Você pode confiar em um homem hoje e não mais confiar amanhã; um homem pode merecer o maior crédito de você este ano, mas no ano seguinte pode ser que outro homem, com pensamentos contrários, venha a merecer mais crédito aos seus olhos. Assim, não queremos que acredite em nós mais do que o suficiente para conduzí-lo a Deus, e para que o ajudemos a entender aquelas palavras nas quais você precisa crer.
O nosso desejo, portanto, consiste em que você examine as Escrituras, e teste se as coisas que lhe dizemos são verdadeiras. A nossa palavra nunca alcançará o seu propósito em você, até que veja e ouça a Deus nelas, e compreenda que é Ele, e não apenas homens, quem está lhe falando”.[1]
Pense nisso e examine as Escrituras!.
Marcos Sampaio
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NOTA:
[1] BAXTER, Richard; Medita estas Coisas, Editora Clássicos Evangélicos.
Fonte: [ Olhar Protestante ]

sábado, 28 de setembro de 2013

D.A. Carson fala sobre Adoração - Por D. A. Carson


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Em uma era crescentemente desconfiada do pensamento (linear), há muito mais respeito pelos "sentimentos" em relação às coisas - seja um filme ou um culto da igreja. É perturbadoramente fácil fazer pesquisas sobre pessoas, especialmente pessoas jovens, migrando de igrejas com excelente pregação e ensino para alguma outra com música excelente porque, segundo é dito, há uma “melhor adoração” lá. Entretanto, precisamos pensar cuidadosamente sobre esse assunto. Vamos nos restringir, por enquanto, à adoração coletiva. Apesar de haver uma série de coisas que podem ser feitas para melhorar a adoração coletiva, há um sentido profundo em que a adoração de excelente qualidade simplesmente não pode ser obtida procurando-se adoração de excelente qualidade. Da mesma forma que, de acordo com Jesus, você não pode se encontrar até que você se perca, também você não pode achar adoração coletiva excelente até que você deixe de tentar achar adoração coletiva excelente e passe a procurar o próprio Deus. Apesar dos protestos, é de se perguntar se nós não estamos começando a adorar a adoração em lugar de adorar a Deus. Como um irmão certa vez colocou para mim, é algo parecido com aquelas pessoas que começam admirando o pôr-do-sol e logo começam a se admirar admirando o pôr-do-sol.
Este ponto é confirmado em uma música de louvor como “Esqueçamos de nós mesmos, exaltemos a Deus, e o adoremos". A dificuldade é que depois que você cantou este refrão repetidamente três ou quatro vezes, você não avançou nada. O modo com que você se esquece de você mesmo é focalizando em Deus - não é cantando sobre fazer isto, mas fazendo isto. É claro que também há muitas canções, cultos e sermões que ampliam nossa visão de Deus - seus atributos, suas obras, seu caráter, suas palavras. Alguns pensam que a adoração coletiva é boa porque está sendo viva quando poderia estar sendo sombria e tediosa. Mas ela também pode ser superficial quando está viva, deixando as pessoas descontentes e inquietas depois de alguns meses. Ovelhas deitam-se quando estão bem alimentadas (cf. Salmo 23:2); é mais provável que elas estejam inquietas quando estiverem com fome. "Alimente minhas ovelhas", Jesus ordenou a Pedro (João 21); e muitas ovelhas estão sem alimento. Se você deseja aprofundar a adoração do povo de Deus, acima de tudo aprofunde o entendimento dele quanto à inefável majestade em Sua Pessoa e em Suas obras.
Nós não esperamos que um mecânico discorra longamente sobre as maravilhas das suas ferramentas; nós esperamos que ele conserte o carro. Ele tem que saber usar as suas ferramentas, mas não deve perder de vista o alvo. Assim nós não ousamos focar na mecânica da adoração coletiva, perdendo de vista nossa meta. Nós focamos no próprio Deus, e assim nos tornamos mais piedosos e aprendemos a adorar – e, como efeito colateral, também aprendemos a edificar uns aos outros, suportar uns aos outros e desafiar uns aos outros.
Fonte: Bom Caminho.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Estou cansado de ouvir - Renato Vargens





Estou cansado de ouvir determinadas canções. Não aquento escutar em meio ao louvor com música, “restitui eu quero de volta o que é meu”, ou ainda “onde colocar as minhas mãos prosperará”. Não suporto mais ver os crentes andando para a direita, ou para esquerda, cantando que por todo lado que é abençoado.

Pois é, boa parte das músicas evangélicas tem pecado pela propagação de heresias e mensagens totalmente contrárias aos ensinamentos bíblicos. Infelizmente muitos hinos e cânticos populares têm ensinado aos cristãos valores e conceitos absolutamente antagônicos as Sagradas Escrituras. Na verdade, nosso cancioneiro está cheio de aberrações teológicas onde mantras repetitivos são entoados em cultos de louvor. Para piorar a coisa, algumas destas canções fazem apologia a teologia da prosperidade ou confissão positiva dizendo ao crente que ele vai prosperar. Além disso, inúmeras canções pedem chuva, fogo, poder , cujo propósito final é a satisfação pessoal.

Ah! quero lhe confessar uma coisa: Estou cansado dessa história de Gospel! Estou cansado de gente que se locupleta em nome de Deus! Estou cansado do mercantilismo evangélico, da prosperidade desprovida da ética, bem como dos profetas mercadores dessa geração. Que saudade da boa música, ministrada, cantada, com unção, cujo interesse era simplesmente engrandecer o nome de Deus! Que saudade, do louvor apaixonado, que brotava do peito dos adoradores como um grito de paixão e amor.

Pois é, como já escrevi anteriormente parece que nos últimos anos, a igreja se perdeu no caminho em direção ao trono do Altíssimo, Isto porque, as letras de canções como estas, são empobrecidas teologicamente, simplistas e sem graça. Além disso, falta oração, busca de Deus, consagração e compromisso com a Palavra.

Definitivamente a coisa está feia! Minha oração é que o Senhor nosso Deus nos reconduza a sala do trono e que lá possamos adorá-lo integralmente entendendo assim, que a glória, o louvor, a soberania pertence exclusivamente a Ele.

Pense nisso!

Renato Vargens

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A Provável Causa de Muitos dos Nossos Problemas - A Provável Causa de Muitos dos Nossos Problemas






Fico me perguntando se uma das explicações para alguns dos problemas que afligem as igrejas evangélicas – qualquer que seja a sua linha – não é o fato de que tem muita gente, nos bancos e nos púlpitos, que nunca nasceram de novo.
Eu não estou dizendo que pessoas que são genuinamente regeneradas pelo Espírito, que foram iluminadas salvadoramente por Deus e que foram perdoadas e aceitas por Deus, justificadas de seus pecados e adotadas na família de Deus, - sim, não estou dizendo que elas não sejam capazes de cometer pecados, e pecados graves. Há vários exemplos disto na própria Bíblia. Mas, como Davi, estas pessoas se arrependeram, choraram seus pecados, se penitenciaram e voltaram atrás – como Pedro após negar Jesus.
Mas, é que fica realmente difícil compreender como uma pessoa que foi iluminada pelo Espírito, conheceu a graça de Deus em Cristo, experimentou o perdão de pecados, teve acesso ao trono da graça mediante Jesus, seja capaz de espalhar mentiras, agredir irmãos, levantar calúnias, falsear a verdade, espalhar a cizânia, viver na prática da imoralidade, ser movida pelo ódio, pelo amor ao dinheiro e ao poder, sem jamais demonstrar um mínimo de remorso, de arrependimento ou tristeza pelos seus atos. E isto, anos a fio.
Teoricamente, é possível alguém ter uma capa de religiosidade e, por dentro, ser um lobo devorador. É possível alguém se passar por homem ou mulher de Deus e ainda assim não conhecer a Deus e nem a seu Filho Jesus Cristo. Estou me referindo a passagens da Bíblia como estas abaixo:
Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas. (Fil 3:18-19 ARA).
 Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos. (Rom 16:17-18 ARA) 
Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras. (2Co 11:13-15 ARA) 
Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade. (Mat 7:22-23 ARA). 
Quando o dono da casa se tiver levantado e fechado a porta, e vós, do lado de fora, começardes a bater, dizendo: Senhor, abre-nos a porta, ele vos responderá: Não sei donde sois. Então, direis: Comíamos e bebíamos na tua presença, e ensinavas em nossas ruas. Mas ele vos dirá: Não sei donde vós sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais iniqüidades. (Lucas 13:25-27 ARA) 
Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará. (1Co 13:1-3 ARA) 
Surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. (Mat 24:24 ARA) 
Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos. (Mat 24:5 ARA) 
Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência, que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de graça (1Ti 4:1-3 ARA).
Acho que as passagens acima são suficientes para mostrar a preocupação do Senhor Jesus e dos seus apóstolos para com a presença de pessoas que não eram realmente convertidas em meio ao povo de Deus.
Acredito que há pessoas que resolveram se tornar cristãs, mas não pelo motivo correto. Foram admitidas nas igrejas, o que é extremamente fácil em umas e relativamente mais difícil em outras. Mas, uma vez dentro, assumiram um papel religioso externo – um descrente pode orar em voz alta, usar linguagem evangélica, contribuir para a igreja, cantar e ouvir sermões. E por serem pessoas de talento, capacidade ou terem tido sucesso na vida secular, foram consagradas pelas igrejas como presbíteros, pastores, líderes – em algumas igrejas isto é muito fácil. Pode ser que alguns deles consigam manter o papel por muito tempo sem causar problemas, mas a natureza não regenerada cedo ou tarde vai se manifestar na forma de ódio, amor ao poder, dissimulação, falsos ensinos, perseguição, intolerância, autoritarismo e a busca da própria glória.
Fica muito difícil dizer que uma pessoa não é convertida por causa de atitudes erradas e pecados cometidos, pois admitimos que um verdadeiro crente pode errar. Mas, pensemos bem: não será que a razão pela qual algumas destas pessoas continuam anos a fio fazendo estas mesmas coisas sem arrependimento e mudança de vida, indo, na verdade, de mal a pior, sem quebrantamento e contrição sincera, não é resultado de uma natureza não regenerada?
Infelizmente, tenho a impressão de que temos mais gente não convertida nos bancos e nos púlpitos do que imaginamos.
Fonte: O Tempora! O Mores!
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terça-feira, 24 de setembro de 2013

O que é a "liberdade no Espírito"? - Por Rev. Augustus Nicodemus Lopes



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Um dos argumentos mais usados para se justificar coisas estranhas que acontecem nos cultos evangélicos neopentecostais é a declaração de Paulo em 2Coríntios 3:17:
"Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade."
O raciocínio vai mais ou menos assim: quando o Espírito de Deus está agindo num culto, Ele impele os adoradores a fazerem coisas que aos homens podem parecer estranhas, mas que são coisas do Espírito. Se há um mover do Espírito no culto, as pessoas têm liberdade para fazer o que sentirem vontade, já que estão sendo movidas por Ele, não importa quão estranhas estas coisas possam parecer. E não se deve questionar estas coisas, mesmo sendo diferentes e estranhas. Não há regras, não há limites, somente liberdade quando o Espírito se move no culto.
Assim, um culto onde as coisas ocorrem normalmente, onde as pessoas não saltam, não pulam, não dançam, não tremem e nem caem no chão, este é um culto frio, amarrado, sem vida. O argumento prossegue mais ou menos assim: o Espírito é soberano e livre, Ele se move como o vento, de forma misteriosa. Não devemos questionar o mover do Espírito, quando Ele nos impele a dançar, pular, saltar, cair, tremer, durante o culto. Tudo é válido se o Espírito está presente.
Bom, tem algumas coisas nestes argumentos com as quais concordo. De fato, o Espírito de Deus é soberano. Ele não costuma pedir nossa permissão para fazer as coisas que deseja fazer. Também é fato que Ele está presente quando o povo de Deus se reúne para servir a Deus em verdade. Concordo também que no passado, quando o Espírito de Deus agiu em determinadas situações, a princípio tudo parecia estranho. Por exemplo, quando Ele guiou Pedro a ir à casa do pagão Cornélio (Atos 10 e 11). Pedro deve ter estranhado bastante aquela visão do lençol, mas acabou obedecendo. Ao final, percebeu-se que a estranheza de Pedro se devia ao fato que ele não havia entendido as Escrituras, que os gentios também seriam aceitos na Igreja.
Mas, por outro lado, esse raciocínio tem vários pontos fracos, vulneráveis e indefensáveis. A começar pelo fato de que esta passagem, "onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade" (2Cor 3:17) não tem absolutamente nada a ver com o culto. Paulo disse estas palavras se referindo à leitura do Antigo Testamento. Os judeus não conseguiam enxergar a Cristo no Antigo Testamento quando o liam aos sábados nas sinagogas pois o véu de Moisés estava sobre o coração e a mente deles (veja versículos 14-15). Estavam cegos. Quando porém um deles se convertia ao Senhor Jesus, o véu era retirado. Ele agora podia ler o Antigo Testamento sem o véu, em plena liberdade, livre dos impedimentos legalistas. Seu coração e sua mente agora estavam livres para ver a Cristo onde antes nada percebiam. É desta liberdade que Paulo está falando. É o Senhor, que é o Espírito, que abre os olhos da mente e do coração para que possamos entender as Escrituras.
A passagem, portanto, não tem absolutamente nada a ver com liberdade para fazermos o que sentirmos vontade no culto a Deus, em nome de um mover do Espírito.
E este, aliás, é outro ponto fraco do argumento, pensar que liberdade do Espírito é ausência de normas, regras e princípios. Para alguns, quanto mais estranho, diferente e inusitado, mais espiritual! Mas, não creio que é isto que a Bíblia ensina. Ela nos diz que o fruto do Espírito é domínio próprio (Gálatas 5:22-23). Ela ensina que o Espírito nos dá bom senso, equilíbrio e sabedoria (Isaías 11:2), sim, pois Ele é o Espírito de moderação (2Tim 1:7).
Além do uso errado da passagem, o argumento também parte do pressuposto que o Espírito de Deus age de maneira independente da Palavra que Ele mesmo inspirou e trouxe à existência, que é a Bíblia. O que eu quero dizer é que o Espírito não contradiz o que Ele já nos revelou em sua Palavra. Nela encontramos os elementos e as diretrizes do culto que agrada a Deus.
Liberdade no Espírito não significa liberdade para inventarmos maneiras novas de cultuá-lo. Sem dúvida, temos espaço para contextualizar as circunstâncias do culto, mas não para inventar elementos. Seria uma contradição do Espírito levar seu povo a adorar a Deus de forma contrária à Palavra que Ele mesmo inspirou.
Um culto espiritual é aquele onde a Palavra é pregada com fidelidade, onde os cânticos refletem as verdades da Bíblia e são entoados de coração, onde as orações são feitas em nome de Jesus por aquelas coisas lícitas que a Bíblia nos ensina a pedir, onde a Ceia e o batismo são celebrados de maneira digna. Um culto espiritual combina fervor com entendimento, alegria com solenidade, sentimento com racionalidade. Não vejo qualquer conexão na Bíblia entre o mover do Espírito e piruetas, coreografia, danças, gestos. A verdadeira liberdade do Espírito é aquela liberdade da escravidão da lei, do pecado, da condenação e da culpa. Quem quiser pular de alegria por isto, pule. Mas não me chame de frio, formal, engessado pelo fato de que manifesto a minha alegria simplesmente fechando meus olhos e agradecendo silenciosamente a Deus por ter tido misericórdia deste pecador.
***Fonte: O Tempora! O Mores!.

domingo, 22 de setembro de 2013

Vivendo "já" com vistas ao "ainda não" - por Rev. Heber Carlos de Campos Junior.






O cenário brasileiro tem experimentado um influxo impressionante de livros que abordam o tema da cosmovisão. Simplificando um assunto bastante complexo, cosmovisão diz respeito a pressuposições que todo o ser humano possui (esteja ele consciente ou não) que residem em nosso mais interior (coração) formando assim uma orientação de vida, um comprometimento com verdades pelas quais você vive e morre. Trata-se de um conjunto de motivações, crenças, certezas, valores e ideais que formam o instrumento interpretativo da realidade, além de ser a base de nossas ações e decisões.
Devido à tradição reformada refletir sobre esse assunto há mais tempo do que qualquer outro segmento da cristandade (com nomes como James Orr, Abraham Kuyper, Herman Dooyeweerd, Francis Schaeffer, etc.), os autores modernos tratam de certos marcos históricos do cristianismo como fundamentos da cosmovisão reformada: criação, queda e redenção. Esse tripé tem sido uma das características mais comuns entre os livros que tratam de cosmovisão. Não que outros cristãos não afirmem tais acontecimentos na história da humanidade, mas são os reformados que costumam enfatizar com maior frequência a importância de considerar a praticidade desses eventos para o nosso dia a dia.
Esses pilares históricos não devem ser vistos como meros conceitos ou categorias intelectuais. Não se tratam de proposições atemporais. A cosmovisão é uma história, a história da humanidade, a nossa história. Esse elemento existencial não pode ser esquecido no estudo de cosmovisões. Sendo assim, é quando encarnamos as verdades dessa história, e vivemos conscientes dessa história, que nossa cosmovisão se coaduna com a revelação bíblica. Viver à luz da criação significa, por exemplo, relacionar-se com as pessoas mais complicadas à luz do fato de ainda serem imagem e semelhança de Deus. Viver à luz da queda implica em não nutrir sonhos utópicos resultantes do esforço humano para construir uma sociedade melhor. Viver à luz da redenção envolve a noção de uma redenção tão abrangente que afeta pessoas não só em sua espiritualidade, mas em todas as áreas de sua vida, inclusive o seu habitat.
Na área da redenção é que calvinistas têm o perigo de comunicar uma mensagem indevida. Se por um lado, atacam corretamente o pessimismo do mundo evangélico em não integrar a fé às várias áreas de nossa atuação secular, por outro lado, correm o risco de criarem uma falsa expectativa de nossa atuação no reino de Deus. Desde a célebre obra de H. Richard Niebuhr,Cristo e Cultura, os calvinistas têm sido descritos como possuindo uma visão transformacionista da cultura. De acordo com Niebuhr, os calvinistas não são essencialmente contra a cultura, nem a recebem indiscriminadamente, não colocam a fé em um patamar acima da vida comum, nem mantém a fé e a vida comum em constante tensão. Eles se colocam como agentes transformadores da cultura. Autores modernos têm perpetuado essa leitura de Niebuhr e falado da importância de uma fé holítisca no engajamento cultural. Os proponentes dessa visão falam de ir além de envolvimento cultural. [1] Os cristãos devem trazer os efeitos da obra redentora de Cristo para as várias esferas da vida.
Precisamos de cautela para não sermos nem pessimistas demais, nem otimistas demais. Aos cristãos cabe o redirecionamento da cultura numa direção redentiva que a restaure, o máximo possível, dos efeitos do pecado. Isto não significa que nossa postura é de "transformação", uma palavra otimista demais. Nossa atitude é de Reforma, participando dos movimentos de Deus em restaurar certas áreas da sociedade inclinada ao mal. Podemos ser instrumentos de Deus para frear a derrocada moral e espiritual como foram os reis de Judá que operaram Reforma após períodos de grande incredulidade e vileza (Ex: Asa, Ezequias, Josias). A Reforma Protestante do século 16, o Grande Despertamento na América colonial e Inglaterra do século 18, foram movimentos em que Deus freou a decadência de um povo e permitiu que certas áreas da sociedade fossem reformuladas segundo o padrão bíblico. A linguagem de Reforma impede que sejamos pessimistas quanto ao que Deus pode fazer neste mundo antes da segunda vinda de Jesus.
Todavia, para que não sejamos otimistas demais, faz-se necessário acrescentar ao tripé reformado um quarto pilar: o da consumação. Tal inclusão ajuda-nos a separar o "já" e o "ainda-não" da história da redenção. Isto é, a consumação é o completar da redenção, mas não é para esta vida e não é operada pela igreja. Se, por um lado, somos e devemos ser "sal da terra" (Mt 5.13) no sentido de contribuir para o retardamento da putrefação de nossa sociedade – esse aspecto está de acordo com a visão transformacionista –, por outro lado, a parábola do joio (Mt 13.24-30, 36-43) é uma demonstração de que a construção de uma sociedade com a consequente retirada do mal no mundo será uma realização de Deus por intermédio dos seus anjos (isto é, sem a participação do ser humano) e não ocorrerá nesta vida (como é o anseio de muitos seres humanos).
David VanDrunnen faz uma ressalva à visão transformacionista de representantes modernos como Henry R. Van Til (O Conceito Calvinista de Cultura), Cornelius Plantinga (O Crente no Mundo de Deus) e Albert M. Wolters (A Criação Restaurada). Ele chama atenção para um elemento preocupante da escatologia dos transformacionistas:
"Os autores transformacionistas tendem a colocar muita ênfase no caráter já manifesto do reino escatológico. Embora eles obviamente reconheçam que Cristo está voltando e que somente então é que todas as coisas serão perfeitamente restauradas, é curioso que a sua comum divisão tripartida da história em criação, queda, e redenção não inclua a quarta categoria de consumação. Lendo nas entrelinhas, eu sugiro que o relacionamento muito solto entre a transformação da cultura agora e a transformação final a ser realizada no retorno de Cristo contribua substancialmente para a ausência dessa quarta categoria... [Para eles] A obra de trazer a realização perfeita do reino escatológico na presente terra começa já nos esforços culturais do cristão aqui e agora. Consumação parece ser o clímax de um processo de redenção que já está a caminho ao invés de um evento único e radical na história." [2]
VanDrunnen acertadamente nos lembra do aspecto radical e único da consumação. Cristo não irá só completar o que começou. Ele irá mudar tudo radicalmente. Após o amor esfriar, a apostasia se alastrar, e este mundo ser permeado por um governo maligno, Deus irá eliminar todo o mal com fogo (2 Pe 3.10-13) e para o fogo (Ap 21.10) a fim de criar Novo Céu e Nova Terra.
A ênfase no envolvimento com a cultura, por parte dos transformacionistas, é positiva. Afinal, não fomos remidos para vivermos em um gueto cristão, nos relacionando somente com crentes, realizando tarefas eclesiásticas, criando uma cultura separatista. Porém, nós não fomos chamados para remir a cultura que, de acordo com a Escritura, tende a piorar devido à apostasia. Somos instrumentos para remir pessoas, isso sim. A mensagem de Paulo no Areópago não transformou a cultura de Atenas, mas alcançou pessoas. Só Deus, e isto na consumação, é que promoverá a extinção das culturas pecaminosas e a santificação dos costumes e do conhecimento humano. Só Deus conseguirá plena redenção da cultura.
Kevin DeYoung, avaliando a perspectiva missiológica da igreja moderna, afirma que o que "está faltando na maioria das conversas sobre o reino é alguma doutrina de conversão ou regeneração. O reino de Deus não é essencialmente uma nova ordem da sociedade. Isso era o que pensavam os judeus nos dias de Jesus... Creio que entendo o que as pessoas querem dizer quando falam sobre redimir a cultura ou ser parceiras de Deus na redenção do mundo, mas o fato é que precisamos encontrar outra palavra. A redenção já foi realizada na cruz. Não somos parceiros na redenção de nada. Somos chamados a servir, dar testemunho, proclamar, amar, fazer o bem a todos e embelezar o evangelho com boas obras, mas não somos parceiros de Deus na obra da redenção. De modo similar, não há um texto nas Escrituras que fale que os cristãos constroem o reino. Ao falar sobre o reino, o Novo Testamento usa verbos como entrar, buscar, anunciar, ver, receber, olhar e herdar... no Novo Testamento nunca somos aqueles que trazem o reino." [3]
Essa observação é muito perspicaz. O problema fundamental dessa tendência, de acordo com DeYoung, é que eles "estão repletos de 'já' e carentes de 'ainda não' em sua escatologia." [4]
Creio que o equilíbrio foi estabelecido pelo nosso Salvador nas parábolas do reino em Mateus 13. Se por um lado a parábola do joio nos apresenta uma redenção completada pelo Salvador sem a nossa participação, por outro lado temos as parábolas do grão de mostarda e do fermento (Mt 13.31-33) que falam do crescimento e da influência dos princípios do reino na sociedade. Não podemos ser extremados em nosso entendimento escatológico. Toda escatologia que enfatiza só o que Deus já fez, e está fazendo, produz uma cosmovisão ufanista demais. Toda escatologia que destaca o que Deus irá fazer na segunda vinda de seu Filho, sem levar em conta a redenção que se iniciou na primeira vinda, gera uma visão pessimista do crente no mundo. Precisamos de equilíbrio em nos sa cosmovisão. Precisamos viver o "já" com vistas ao "ainda não".

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Manuseando sabiamente os sábios dizeres da Bíblia - Por R. C. Sproul






Toda cultura parece ter a sua própria e única coletânea de sabedoria - brevesinsights de seus sábios. Muitas vezes, essas porções de sabedoria são preservadas na forma de provérbios. Nós temos provérbios na cultura americana. Refiro-me a ditados como “um homem prevenido vale por dois” ou “dinheiro poupado é dinheiro ganho”.
A Bíblia, obviamente, tem um livro inteiro desses pequenos dizeres – o livro de Provérbios. No entanto, essa compilação de sábios dizeres é diferente de todas as outras coletâneas, visto que tais palavras refletem não apenas a sabedoria humana, mas a sabedoria divina, pois esses provérbios são inspirados por Deus. Ainda assim, é preciso ter muito cuidado na forma como abordamos e implementamos esses sábios dizeres. Simplesmente o fato de serem inspirados não significa que os provérbios bíblicos são como leis, que impõem uma obrigação universal. Mas algumas pessoas os tratam como se fossem mandamentos divinos. Se nós os considerarmos dessa forma, incorreremos em todos os tipos de problemas. Os Provérbios, mesmo sendo divinamente inspirados, não se aplicam necessariamente a todas as situações da vida. Antes, refletem percepções que são, em geral, verdadeiras.
Para ilustrar esse ponto, deixe-me lembrá-lo de dois provérbios da nossa própria cultura. Primeiro, dizemos frequentemente: “Pense bem antes de agir!”. Essa é uma percepção valiosa. Mas nós temos outro provérbio que parece contradizê-lo: “Quem não arrisca, não petisca”. Se tentarmos aplicar esses dois provérbios ao mesmo tempo e da mesma forma, em todas as situações, ficaríamos completamente confusos. Em muitas situações, a sabedoria sugere que examinemos cuidadosamente onde devemos pisar, de forma que não nos movamos cegamente. Ao mesmo tempo, não podemos ficar tão paralisados, analisando os prós e contras do nosso próximo passo, que hesitemos demasiadamente antes de tomar uma decisão, ao ponto de perdermos as oportunidades quando elas se apresentarem a nós.
Naturalmente, não nos incomoda encontrar provérbios aparentemente contraditórios em nossa própria sabedoria cultural. Mas quando os descobrimos na Bíblia, nos encontramos lutando com perguntas sobre a confiabilidade das Escrituras. Deixe-me citar um exemplo bem conhecido. O livro de Provérbios diz: “Não responda ao insensato com igual insensatez” (26:4a). No versículo seguinte, lemos: “Responda ao insensato como a sua insensatez merece” (26:5a). Como podemos seguir essas instruções opostas? Como ambas podem ser declarações de sabedoria?
Novamente, conforme o exemplo dado acima, a resposta depende da situação. Há certas circunstâncias nas quais não é sábio responder ao tolo segundo a sua tolice, mas há outras circunstâncias nas quais é sábio responder ao tolo segundo a sua tolice. Provérbios 26:4 diz: “Não respondas ao insensato segundo a sua estultícia, para que não te faças semelhante a ele” (grifo nosso). Se alguém está falando tolices, geralmente não é sábio tentar falar com ele. Tal discussão não levará a lugar nenhum, e aquele que tenta continuar a discussão com o insensato está em perigo de cair na mesma tolice. Em outras palavras, há circunstâncias em que é melhor ficarmos calados.
Em outras ocasiões, todavia, pode ser útil responder ao tolo segundo a sua tolice. Provérbios 26:5 diz: “Responda ao insensato como a sua insensatez merecedo contrário ele pensará que é mesmo um sábio” (grifo nosso). Apesar de ser mais conhecida como uma forma de arte utilizada pelos antigos filósofos gregos, os hebreus já entendiam e usavam, por vezes no ensino bíblico, uma das formas mais eficazes de argumentação. Refiro-me a reductio ad absurdum, que reduz o argumento da outra pessoa ao absurdo. Por meio dessa técnica é possível mostrar a uma pessoa a conclusão necessária e lógica que flui de seu argumento e, então, demonstrar que as suas premissas levam, em última análise, a uma conclusão absurda. Portanto, quando uma pessoa possui uma premissa tola e dá um argumento tolo, isso, às vezes, pode ser usado de forma muito eficaz para responder ao tolo segundo a sua tolice. Você entra em seu território e diz: “Certo, eu vou assumir o seu argumento, levá-lo à conclusão lógica e te mostrarei a tolice que há nele”.
Assim, o livro de Provérbios tem o objetivo de nos dar orientações práticas para experiências diárias. É um tesouro negligenciado do Antigo Testamento, com riquezas incalculáveis em suas páginas, que está à nossa disposição, com o intuito de guiar as nossas vidas. Ele detém conselho real e concreto, que vem da mente do próprio Deus. Se quisermos sabedoria, esta é a fonte da qual devemos beber. Aquele que é tolo negligenciará esta fonte. Aquele que está com fome da sabedoria de Deus beberá sempre dela. Precisamos ouvir a sabedoria de Deus para darmos fim às muitas distrações e confusões da vida moderna. Porém, como deve acontecer em toda a Palavra de Deus, precisamos ser zelosos para aprender a lidar com o livro de Provérbios corretamente.
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Fonte: Editora Fiel
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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Quem tem o direito de batizar? 1/2 - Por Frank Brito


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“Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. (Mateus 28:19)
“E ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado por Deus”. (Hebreus 5:4)
Jesus mandou batizar as nações em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Mas a quem é dado esse dever e responsabilidade? Quem tem esse direito? Qualquer cristão pode administrar o batismo? Ou somente aqueles que foram devidamente ordenados? Essa pergunta causa dúvidas em muita gente.
A confusão existe por um entendimento equivocado do verdadeiro sentido de “ensinar” (Mt 28:19) e “pregar o Evangelho” (Mc 16:15) na Grande Comissão. Se todos os cristãos têm a obrigação de “pregar o evangelho a toda criatura” (Mc 16:15), por que não teriam o direito de batizar (Mc 16:16)? O fato é que “ensinar” e “pregar o Evangelho” nestas passagens não se refere às obrigações de todos os cristãos, mas especificamente à função dos ministros da Palavra:
"Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si mesmo mais alto conceito do que convém; mas que pense de si sobriamente, conforme a medida da fé que Deus, repartiu a cada um. Pois assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma função, assim nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e individualmente uns dos outros. De modo que, tendo diferentes dons segundo a graça que nos foi dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria". (Romanos 12:3-8)
Aqui Paulo está se referindo aos diferentes dons e vocações na Igreja. Diferentes cristãos têm diferentes chamados como parte do corpo. O último que ele cita é o “que usa de misericórdia” (Rm 12:8). Mas como isso pode ser um dom específico para alguns cristãos? A obrigação de ser misericordioso não é uma obrigação de todo cristão? O fato dele se referir ao “uso de misericórdia” como um chamado específico deixa claro que ele está se referindo à uma função específica na Igreja. João Calvino comentou:
"O cuidado dos pobres foi confiado aos diáconos. Todavia, na Epístola aos Romanos lhes são atribuídas duas modalidades: ’Aquele que distribui’, diz Paulo aí, ‘faça-o com simplicidade; aquele que exerce misericórdia, com alegria’ (Rm 12.8). Uma vez que certamente ele está falando dos ofícios públicos da Igreja, necessariamente houve dois graus distintos de diáconos. A não ser que me engane o juízo, no primeiro membro da cláusula ele designa os diáconos que administravam as esmolas; no segundo, porém, aqueles que se dedicaram a cuidar dos pobres e dos enfermos, como, por exemplo, as viúvas das quais faz menção a Timóteo [1Tm 5.9, 10]".
Paulo diz também, “se é ensinar, haja dedicação ao ensino” (Rm 12:8). Claramente, “ensinar” aqui não se refere ao que qualquer cristão pode fazer em sua vida diária, compartilhando a Palavra de Deus com amigos, familiares, colegas de trabalho, etc. Ele se refere aos que exercem o ministério da Palavra. Neste sentido, alguns são chamados para pregar e ensinar e outros não, alguns são pregadores e mestres e outros não:
“E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro mestres… Porventura são todos apóstolos? São todos profetas? São todos mestres?” (I Coríntios 12:28-29)
“Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do altar? Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho”. (I Coríntios 9:13-14)
Aqui o Apóstolo Paulo estava defendendo o direito dos ministros da Palavra de receberem um salário. “Os que anunciam o Evangelho”, portanto, não são todos os cristãos. Se fossem todos cristãos, então todo e qualquer cristão teria o direito de ser sustentado pela igreja. Quando Paulo se refere aos “que anunciam o evangelho”, ele está se referindo aos ministros da Palavra, como era o caso dele mesmo, um apóstolo. Ele claramente distingue entre os cristãos de forma geral daqueles que são especialmente encarregados de anunciar o Evangelho. É sobre isso que ele fala aos Romanos:
“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas”. (Romanos 10:14-15)
O sentido é mesmo de I Coríntios 9:13-14. Ele não se refere à qualquer cristão, mas aos que exercem o ministério da Palavra. É por isso que ele se refere aos pregadores como sendo “enviados”, como ele mesmo foi:
“E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram. E assim estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre”. (Atos 13:2-4)
E também:
“Mas, irmãos, em parte vos escrevi mais ousadamente, como para vos trazer outra vez isto à memória, pela graça que por Deus me foi dada; Que seja ministro de Jesus Cristo para os gentios, ministrando o evangelho de Deus, para que seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espírito Santo. De sorte que tenho glória em Jesus Cristo nas coisas que pertencem a Deus. Porque não ousarei dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para fazer obedientes os gentios, por palavra e por obras; Pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus; de maneira que desde Jerusalém, e arredores, até ao Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus Cristo. E desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo foi nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio; Antes, como está escrito: Aqueles a quem não foi anunciado, o verão, E os que não ouviram o entenderão”. (Romanos 15:15-21)
Como os demais apóstolos:
“E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da Palavra. (Atos 6:2-4)
“Os que anunciam o evangelho” (Rm 10:15) são os que exercem o “ministério da Palavra” e os que “servem as mesas” são os diáconos. Foi aos ministros da Palavra que Nosso Senhor mandou:
“Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. (Mateus 28:19)
“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”. (Marcos 16:15-16)
A ordem de batizar, então, não é dada aqui a todos os cristãos, mas somente “aos que anunciam o evangelho” (I Co 9:13-14; Rm 10:15), isto é, os que foram especialmente vocacionados, separados e enviados por Jesus Cristo para exercer o “ministério da Palavra” (At 6:4), como foram os apóstolos. Este é o padrão que encontramos por todo o Novo Testamento. Somos informados que o batismo foi administrado pelo profeta João (Mt 3; Mc 1; Lc 3; Jo 1), pelos apóstolos (Jo 4:1; At 16:33), pelo evangelista Filipe (At 8:36-38; 21:8), mas em nenhum momento somos informados de batismo sendo administrados por qualquer outro se não aqueles que exerciam o ministério da Palavra. Como escreveu João Calvino:
"Nesta matéria é também preciso saber que é impróprio a pessoas particulares assumirem a administração do batismo, visto que este é um ofício do ministério eclesiástico, seja a ministração deste sacramento, como também da Ceia. Pois Cristo não deu mandamento a nenhum homem ou mulher que ministrasse o batismo; antes, àqueles a quem ele constituíra apóstolos… As palavras de Cristo são claras: ‘Ide, ensinai a todos os povos e batizai’ [Mt 28.19]. E se ele não designa a outros como ministros para batizar senão aos que designou para pregar o evangelho; e se o Apóstolo testifica que ninguém deve usurpar esta honra senão aquele que foi chamado, como Arão [Hb 5.4], qualquer que sem vocação legítima batiza, age mal, assumindo o ofício de outro [1Pe 4.15]".(Institutas da Religião Cristã, 4:15:20,22)
Esta posição foi atacada pelo teólogo e escritor Vincent Cheung:
“Também, os reformados até mesmo registraram em algumas de suas confissões que somente pessoas devidamente ordenadas poderiam batizar ou servir a santa ceia. Trata-se de uma grande bobagem. Não existe base bíblica para isso. Antes, a Bíblia diz que todos os cristãos são sacerdotes em Cristo; já que somos sacerdotes, e por também não existir qualquer exceção explícita a isso, até mesmo uma criança ou mulher cristã podem em princípio servir a ceia, assim como uma criança ou mulher podem ensinar e pregar a palavra de Deus. A única proibição a elas é autoridade oficial na igreja. É uma grande diferença. Por questão de ordem na igreja, alguns indivíduos, mais provavelmente ministros, são designados a batizar e servir a ceia, mas isso não significa que somente eles podem fazê-lo. É uma negação direta do sacerdócio de todos os crentes restringir funções sacerdotais a ministros ordenados ― como se houvesse uma elite entre os crentes, que é precisamente aquilo a que os reformados dizem se opor”.
O argumento de Vincent Cheung, baseado no sacerdócio universal dos crentes, é extremamente frágil. De fato, a Bíblia ensina o sacerdócio universal dos crentes, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento (Ex 19:6; Ap 1:6; I Pd 2:5). Mas a Bíblia também ensina que “nem todos os membros têm a mesma operação" (Rm 12:3-4). O fato de todos os crentes serem sacerdotes não significa que são chamados para exercer os mesmos ofícios. Alias, um dos maiores males do Brasil hoje é o excesso de pastores sem a vocação para pregar e ensinar. “Porventura são todos apóstolos? São todos profetas? São todos mestres?” (I Coríntios 12:28-29) Não, ainda que todos sejam sacerdotes. Além disso, o sacerdócio universal dos crentes não dá o direito das mulheres pregarem (I Co 14:34, 35; I Tm 2:12). O sacerdócio universal de todos os crentes, então, não dá o direito de todos fazerem qualquer coisa. O fato é que ordem de batizar foi dada somente “aos que anunciam o evangelho” (I Co 9:13-14; Rm 10:15), isto é, aos que foram especialmente vocacionados, separados e enviados por Jesus Cristo para exercer o “ministério da Palavra” (At 6:4).
Essa distinção é semelhante a que já havia no Antigo Testamento:
“E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel”. (Êxodo 19:6)
“Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a Lei porque ele é o mensageiro do SENHOR dos Exércitos. Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na Lei; corrompestes a aliança de Levi, diz o SENHOR dos Exércitos. Por isso também eu vos fiz desprezíveis, e indignos diante de todo o povo, visto que não guardastes os meus caminhos, mas fizestes acepção de pessoas na Lei”. (Malaquias 2:7-9)
Em certo sentido, todo homem no Antigo Testamento poderia e deveria ensinar ao seu próximo sobre a Lei e os mandamentos do Senhor, como parte do sacerdócio universal. Mas, estritamente falando, somente os mestres de Israel eram os sacerdotes levitas. Da mesma forma, em certo sentido poderíamos dizer que todo cristão deve pregar e ensinar. Mas, estritamente falando, os pregadores são somente os ministros da Palavra. Os ministros da Palavra do Novo Testamento são os sucessores dos sacerdotes levitas no Antigo Testamento, quanto ao ofício de pregar e ensinar e quanto ao ofício de administrar os sacramentos. Essa é a base da comparação de Paulo: ”Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do altar? Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho”. (I Coríntios 9:13-14) Na Grande Comissão, Jesus Cristo não estava somente mandando ensinar e batizar, mas estava também separando e enviando aqueles que haveriam de ser os pregadores. A Confissão Belga resume isso ao identificar os pastores como aqueles que foram encarregados do ofício de pregar a Palavra e administrar os sacramentos:
“Cremos que esta verdadeira igreja deve ser governada conforme a ordem espiritual, que nosso Senhor nos ensinou na sua Palavra. Deve haver ministros ou pastores para pregarem a Palavra de Deus e administrarem os sacramentos". (Confissão Belga, Artigo 30, “O Governo da Igreja”)
Continua... 
***Fonte: Resistir e Construir

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Uma Palavra aos Pais - Arthur W. Pink




Uma das mais infelizes e trágicas características de nossa civilização é a excessiva desobediência aos pais da parte dos filhos, quando menores, e a falta de reverência e respeito, quando grandes. Infelizmente, isto se evidencia de muitas maneiras, inclusive em famílias cristãs. Em nossas abundantes viagens nestes últimos trinta anos, fomos recebidos em muitos lares. A piedade e a beleza de alguns deles ainda permanecem em nossos corações como agradáveis e singelas recordações. Outros lares, porém, nos transmitiram as mais dolorosas impressões. Os filhos obstinados ou mimados não apenas trazem para si mesmos perpétua infelicidade, mas também causam desconforto para todos que se relacionam com eles e prenunciam coisas ruins para os dias vindouros.
 

Na maioria dos casos, os filhos são menos culpados do que seus pais. A falta de honra aos pais, onde quer que a achemos, deve-se em grande medida aos pais afastarem-se do padrão das Escrituras. Atualmente, o pai imagina que cumpre suas obrigações ao fornecer alimento e vestuário para os filhos e, ocasionalmente, ao agir como um tipo de policial de moralidade. Com muita frequência, a mãe se contenta em desempenhar a função de uma criada doméstica, tornando-se escrava dos filhos, realizando várias tarefas que estes poderiam fazer, para deixá-los livres em atividades frívolas, ao invés de treiná-los a serem pessoas úteis. A consequência tem sido que o lar, o qual deveria ser, por causa de sua ordem, santidade e amor, uma miniatura do céu, degenerou-se em "um ponto de parada para o dia e um estacionamento para a noite", conforme alguém, sucintamente, afirmou.
 

Antes de esboçarmos os deveres dos pais em relação aos filhos, devemos ressaltar que eles não podem disciplinar adequadamente seus filhos, a menos que primeiramente tenham aprendido a governar a si mesmos. Como podem eles esperar que a obstinação de suas crianças sejam dominadas e controladas as manifestações de ira, se eles mesmos dão livre curso à seus próprios sentimentos. O caráter dos pais é amplamente reproduzido em seus descendentes. "Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem" (Gn 5.3). Os pais devem, eles mesmos, viver em submissão a Deus, se desejam obediência da parte de seus filhos. Este princípio é enfatizado muitas e muitas vezes nas Escrituras. "Tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo?" (Rm 2.21). A respeito do pastor ou presbítero da igreja está escrito que ele tem de ser alguém "que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)" (1 Tm 3.5). E, se um homem ou uma mulher não sabem como dominar seu próprio espírito (Pv 25.28), como poderão cuidar de seus filhos?
 

Deus confiou aos pais um solene e valoroso privilégio. Não exageramos ao afirmar que em suas mãos estão depositadas a esperança e a bênção ou a maldição e a ruína da próxima geração. Suas famílias são os berçários da Igreja e do Estado, e, de acordo com o que agora cultivam, tais serão os frutos que colherão posteriormente. Eles deveriam cumprir seu privilégio com bastante diligência e oração. Com certeza, Deus lhes pedirá contas referentes à maneira de criarem seus filhos, que a Ele pertencem, sendo-lhes confiados para receberem cuidado e preservação. A tarefa que Deus confiou aos pais não é fácil, em especial nestes dias excessivamente maus. Entretanto, poderão obter a graça de Deus, se a buscarem com sinceridade e confiança. As Escrituras nos fornecem as regras pelas quais devemos viver, as promessas das quais temos de nos apropriar e, precisamos acrescentar, as terríveis advertências, para que não realizemos essa tarefa de maneira leviana.
 

Instrua seu filho
 

Queremos mencionar aqui quatro dos principais deveres confiados aos pais. Primeiro, instruir seus filhos. "Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te" (Dt 6.6-7). Este dever é sobremodo importante para ser transferido aos outros; Deus exige dos pais, e não dos professores da Escola Dominical, a responsabilidade de educarem seus filhos. Tampouco essa tarefa deve ser realizada de maneira esporádica ou ocasional, mas precisa receber constante atenção. O glorioso caráter de Deus, as exigências de sua lei, a excessiva malignidade do homem, o maravilhoso dom de seu Filho e a terrível condenação que será a recompensa de todos aqueles que O desprezam e rejeitam; estas coisas precisam ser apresentadas constantemente aos filhos. "Eles são pequenos demais para entendê-las" é o argumento de Satanás, visando impedir os pais de cumprirem seu dever.

"E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor" (Ef 6.4). Temos de observar que os "pais" são especificamente mencionados neste versículo, por duas razões: eles são os cabeças das famílias e o governo desta lhes foi confiado; os pais são inclinados a transferir sua responsabilidade às esposas. Essa instrução deve ser ministrada através da leitura da Bíblia e de explicar aos filhos as coisas adequadas à sua idade. Isto deveria ser acompanhado de ensinar-lhes um catecismo. Um constante falar aos mais novos não se mostra tão eficiente quanto a diversificação com perguntas e respostas. Se nossos filhos sabem que serão questionados após ou durante a leitura bíblica, ouvirão mais atentamente: fazer perguntas os ensina a pensarem por si mesmos. Este método também leva a memória a reter mais os ensinos, pois o responder perguntas definidas fixa ideias específicas em nossas mentes. Observe quantas vezes Jesus fez perguntas aos seus discípulos.
 

Seja um bom exemplo
 

Segundo, boas instruções precisam ser acompanhadas de bons exemplos. O ensino proveniente apenas dos lábios provavelmente será ineficaz. Os filhos são espertíssimos em detectar inconsistências e rejeitar a hipocrisia. Neste aspecto, os pais precisam humilhar-se diante de Deus, buscando todos os dias a graça que, desesperadamente, necessitam e somente Ele pode dar. Que cuidado eles precisam ter, para que diante de suas crianças não digam e façam coisas que tendem a corromper suas mentes ou produzam más consequências, se elas as imitarem! Os pais necessitam estar constantemente alertas contra aquilo que pode torná-los desprezíveis aos olhos daqueles que deveriam respeitá-los e honrá-los. Não apenas devem instruir seus filhos no caminho da santidade, mas eles mesmos devem andar neste caminho, mostrando por sua prática e conduta quão agradável e proveitoso é ser orientado pela lei de Deus.
 


No lar de pessoas crentes, o supremo alvo deve ser a piedade familiar, honrar a Deus em todas as ocasiões, e as outras coisas, subordinadas a este alvo. Quanto à vida familiar, nem o esposo nem a esposa deve transferir para o outro toda a responsabilidade pelo aspecto espiritual da vida da família. A mãe, com certeza, tem a incumbência de suplementar os esforços do pai, pois os filhos desfrutam mais de sua companhia. Se existe a tendência de os pais serem muito rígidos e severos, as mães são propensas a serem muito brandas e clementes; portanto, têm de vigiar mais contra qualquer coisa que enfraquecerá a autoridade do pai. Quando este proibir alguma coisa, ela não deve consenti-la às crianças. É admirável observar que a exortação dada em Efésios 6.4 é precedida por "Enchei-vos do Espírito" (Ef 5.18); enquanto a exortação correspondente em Colossenses 3.21 é precedida por "habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo" (v. 16), demonstrando que os pais não podem cumprir seus deveres, a menos que estejam cheios do Espírito Santo e da Palavra de Deus.
 

Discipline seu filho
 

Terceiro, a instrução e o exemplo precisam ser reforçados mediante a correção e a disciplina. Antes de tudo, isto implica no exercício de autoridade, a correta aplicação da lei divina. A respeito de Abraão, o pai dos fiéis, Deus afirmou: "Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito" (Gn 18.19). Pais crentes, meditem nestas palavras com cuidado. Abraão fez mais do que simplesmente dar conselhos: ele ensinou com vigor a lei de Deus e ordenou sua casa. As regras com que ele administrou seu lar tinham o objetivo de seus filhos guardarem "o caminho do SENHOR", aquilo que era correto aos olhos de Deus. Este dever foi cumprido pelo patriarca, a fim de que a bênção de Deus estivesse sobre sua família. Nenhuma família pode crescer adequadamente sem leis familiares, que incluem recompensas e castigos. Isto é especialmente importante na primeira infância, quando ainda o caráter moral não está formado e as crianças não apreciam ou entendem seus motivos morais.
 

As regras devem ser simples, claras, lógicas e flexíveis, tais como os Dez Mandamentos, poucas, mas relevantes regras morais, ao invés de centenas de restrições insignificantes. Uma das maneiras de provocarmos desnecessariamente nossos filhos à ira é atrapalhá-los com muitas restrições insignificantes e regras detalhadas e arbitrárias, procedentes de pais perfeccionistas. É de vital importância para o bom futuro dos filhos que estes sejam trazidos em submissão desde cedo. Uma criança malcriada representa um adulto ímpio. Nossas prisões estão superlotadas com pessoas que tiveram a liberdade de seguirem seus próprios caminhos durante sua infância. A mais leve ofensa de uma criança quebrando as regras do lar não deve ficar sem a devida correção; pois, se ela achar clemência ao transgredir uma regra, esperará a mesma clemência em relação a outras ofensas, e sua desobediência se tornará mais frequente, até que os pais não tenham mais controle, exceto através do exercício de força brutal.
 

O ensino das Escrituras é claro quanto a este assunto. "A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela" (Pv 22.15; ver também 23.13-14). Por isso, Deus afirmou: "O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina" (Pv 13.24). E, ainda: "Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo" (Pv 19.18). Não permita que uma afeição insensata o impeça de cumprir seu dever. Com certeza, Deus ama seus filhos com um sentimento paternal mais profundo do que você ama seus filhos, mas Ele nos diz: "Eu repreendo e disciplino a quantos amo" (Ap 3.19; cf. Hb 12.6). "A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe" (Pv 29.15). A severidade tem de ser utilizada nos primeiros anos de uma criança, antes que a idade e a obstinação endureçam-na contra o temor e a pungência da correção. Poupe a vara e você arruinará seu filho; não a utilize e terá de sofrer as consequências.
 

É quase desnecessário salientar que as Escrituras citadas anteriormente não têm o propósito de incutirmos a ideia de que nosso lar deve ser caracterizado por um reino de terror. Os filhos podem ser governados e disciplinados de tal maneira, que não percam o respeito e as afeições por seus pais. Estejamos atentos para não estragarmos seus temperamentos, por fazermos exigências ilógicas, e provocá-los à ira, por castigá-los expressando nossa própria ira. O pai tem de punir um filho desobediente não porque ficou bravo, e sim porque é correto fazer isso, Deus o exige, bem como a rebeldia de seu filho. Nunca faça uma ameaça, se não tenciona cumpri-la. Lembre que estar bem informado é bom para seu filho, mas ser bem controlado é ainda melhor.

Esteja atento às inconscientes influências que cercam seu filho. Estude meios para tornar seu lar atraente, não pela utilização de recursos carnais e mundanos, mas por servir- se de ideais nobres, por incutir-lhes um espírito de altruísmo e desenvolver uma comunhão agradável e feliz. Não permita que seus filhos se associem a más companhias. Verifique cautelosamente as revistas e livros que entram em seu lar, observe os amigos que ocasionalmente seus filhos convidam para vir ao lar e as amizades que eles estabelecem. Antes mesmo de o reconhecerem, muitos pais permitem seus filhos relacionarem-se com pessoas que arruínam a autoridade paternal, transtornam seus ideais e semeiam frivolidade e pecado.
 

Ore por seus filhos
 

Quarto, o último e mais importante dever, no que se refere ao bem-estar físico e espiritual de seus filhos, é a intensa súplica a Deus em favor deles. Sem isto, todos os outros deveres são ineficazes. Os meios são inúteis, exceto quando o Senhor os abençoa. O trono da graça tem de ser fervorosamente buscado, para que sejam coroados de sucesso os nossos esforços em educar os filhos para a glória de Deus. É verdade que precisa haver uma humilde submissão à soberana vontade de Deus, um prostrar-se ante a verdade da eleição. Por outro lado, o privilégio da fé consiste em apropriar-se das promessas divinas e em recordar que a ardente e eficaz oração de um justo produz muitos resultados. A Bíblia nos diz que o piedoso Jó "chamava...a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles" (Jó 1.5). Uma atmosfera de oração deve permear o lar e ser respirada por todos os que dele compartilham.
 


Arthur W. Pink (1886-1952) foi um dos autores evangélicos mais influentes da segunda metade do século XX. Erudito bíblico de persuasão reformada e puritana, Pink escreveu várias obras literárias e pastoreou diversas igrejas nos EUA, além de ter servido como ministro na Inglaterra e Austrália.
  

Fonte: Editora Fiel