domingo, 31 de julho de 2011

Apostasia – (1Tm 4.1) – João Calvino

Mas o Espírito expressamente diz. O apóstolo tem transmitido a Timóteo conselhos criteriosos sobre muitos temas, e agora mostra por que tal cuidado era necessário, visto ser sensato tomar medidas contra um perigo que o Espírito Santo declara estar chegando, a saber, que viriam falsos mestres oferecendo suas próprias invenções fúteis como se as mesmas fossem o ensino da fé, e que, ao transformar a santidade em observâncias externas, obscureceriam aquele culto espiritual devido a Deus, o qual é o único legítimo. E nesse ponto tem-se realmente travado constante batalha entre os servos de Deus e os homens tais como os descritos por Paulo aqui. Pois, visto que os homens são naturalmente inclinados à hipocrisia,

Satanás facilmente os persuade, dizendo que Deus pode ser corretamente cultuado através de cerimônias, disciplinas e coisas externas. Realmente, sem necessidade de mestre, quase todos têm esta convicção profundamente arraigada em seus corações. Afinal, a astúcia de Satanás é adicionada para completar o erro, e o resultado é que em todas as épocas tem existido impostores que recomendam o falso culto, através do qual a verdadeira piedade é levada à ruína. Afinal, essa praga traz outra em seu comboio, pela qual usa a compulsão para sobrecarregar os homens em relação a questões que são indiferentes. Pois o mundo facilmente permite a proibição de coisas que Deus tem declarado lícitas, a fim de que seja permitido transgredir as leis de Deus impunemente. Aqui, pois, Paulo adverte não só a igreja de Efeso através de Timóteo, mas também a todas as igrejas, em todos os lugares, contra os falsos mestres que, introduzindo o falso culto e emaranhando as consciências com novas leis, adulteram o verdadeiro culto divino e corrompem a genuína doutrina da fé. Eis o propósito real desta passagem, o qual devemos especialmente conservar em nossas mentes.

Além do mais, para que todos recebessem o que ele está para dizer, com atenção mais atilada, primeiramente declara que essa é uma profecia do Espírito Santo, inequívoca e perfeitamente luminosa. Naturalmente, não há razão para se duvidar que tudo quanto o apóstolo diz é também inspirado pelo Espírito; mas ainda que devamos ouvi-lo sempre como o próprio instrumento de Cristo, todavia aqui, num assunto de imensa relevância, ele particularmente desejava declarar com explicitude que nada prescreveu que não fosse pela operação do Espírito de profecia. Por conseguinte, mediante esta solene certeza, ele nos recomenda esta profecia; e não satisfeito ainda, acrescenta que ela é clara e isenta de toda e qualquer ambigüidade.

Nos últimos tempos. Naquele tempo, ninguém poderia esperar que, com a meridiana luz do evangelho, fosse possível que alguém caísse. Mas isso é precisamente o que Pedro diz [2 Pe 3.3], ou seja, que assim como falsos mestres uma vez perturbaram o povo de Israel, também perturbarão sempre a Igreja de Cristo. E como se Paulo dissesse: 'Agora o ensino do evangelho floresce, mas não passará muito tempo sem que Satanás tente sufocar a boa semente com as ervas daninhas." Tal advertência era útil no próprio tempo de Paulo, para que os pastores e os demais prestassem cuidadosa atenção à sã doutrina se guardassem de ser enganados. Ela não nos é menos útil hoje quando vemos tudo acontecer segundo a expressa profecia do Espírito. Notemos especialmente a grande solicitude de Deus por sua Igreja, prevenindo-a em tempo hábil sobre os perigos que se aproximam. Satanás possui muitos artifícios pelos quais nos conduz ao erro e nos assalta com estratagemas extraordinários; Deus, porém, nos fornece uma armadura eficaz, porquanto nós mesmos não pretendemos deixar-nos enganar. Não temos, pois, razão alguma para queixar-nos de que as trevas são mais fortes que a luz, ou que a verdade é vencida pela falsidade; antes, porém, quando somos desviados do correto caminho da salvação, estamos recebendo o castigo por nossa própria displicência e indolência.

Mas aqueles que condescendem com seus próprios erros, alegam que dificilmente é possível decidir que gênero de pessoa Paulo está descrevendo aqui. Como se houvesse qualquer propósito na mente do Espírito para pronunciar esta profecia e publicá-la com tanta antecedência. Pois se não houvesse nenhuma indicação infalível do que era pretendido por ela, a presente advertência seria tanto supérflua quanto ridícula. Não ousamos, porém, concluir que o Espírito de Deus nos assuste sem causa, ou que, quando preanuncia algum perigo, também não nos mostre como precaver-nos dele. As próprias palavras de Paulo são por si mesmas plenamente suficientes para refutar essa falsa censura, pois ele põe o seu dedo naquele mal, contra o qual nos adverte para que o evitemos. Ele não fala simplesmente, em termos gerais, sobre os falsos profetas, senão que também nos dá um expresso exemplo do falso ensino, ensino esse que, ao fazer a piedade consistir de exercícios externos, perverte e profana o culto espiritual de Deus, segundo afirmei acima.

Alguns apostatarão da fé. Não fica muito claro se ele está falando dos mestres ou dos ouvintes, mas prefiro tomá-lo como uma aplicação aos últimos, visto que prossegue tratando dos mestres quando os chama de espíritos sedutores. E mais enfático dizer que não só haverá quem divulgue os ensinos ímpios e corrompa a pureza da fé, mas também dizer que não faltarão alunos que sejam atraídos para suas seitas. E quando uma mentira aumenta sua influência, ela avoluma as dificuldades. Mas ele não está falando de um erro trivial, e, sim, de um mal terrível, a apostasia da fé, embora à primeira vista não pareceria ser tão mal assim à luz do ensino que ele menciona. Pois como é possível ser a fé completamente subvertida pela proibição de certos alimentos ou do matrimônio? Devemos, porém, levar em conta uma razão mais ampla, ou seja, que aqui os homens estão inventando um culto divino pervertido para a satisfação de seu ego; e ao ousarem proibir o uso de coisas saudáveis que Deus permitiu, estão alegando que são os mestres de suas próprias consciências. E tão logo a pureza do culto é pervertida, não permanece nada íntegro e saudável, e a fé é completamente subvertida. Por isso, ainda que os papistas debochem de nós, ao criticarmos suas leis tirânicas acerca de observâncias externas, temos consciência de que estamos lidando com um assunto seríssimo e importantíssimo; porque, assim que o culto divino é contaminado com tais corrupções, a doutrina da fé é também subvertida. A controvérsia não é acerca de carne e peixe, ou acerca das cores preto ou cinza, acerca de quarta-feira ou sexta-feira, e, sim, acerca das más superstições dos homens que desejam obter o favor divino por meio de tais futilidades e pela invenção de um culto carnal, fabricando para si ídolos no lugar de Deus. Quem ousaria negar que fazer isso é apostatar da fé?

Espíritos sedutores. Ele está se referindo a profetas ou mestres, aplicando-lhes esse título porque se vangloriavam de possuir o Espírito, e ao procederem assim estavam causando impressão sobre o povo. Em geral, é deveras verdade que todas as classes de pessoas falam da inspiração de um espírito, mas não o mesmo espírito que inspira a todos. Pois às vezes Satanás passa por espírito mentiroso na boca dos falsos profetas, com o fim de iludir os incrédulos que merecem ser enganados [1 Rs 22.21-23]. Mas todos quantos atribuem a Cristo a devida honra falam pelo Espírito de Deus, no dizer de Paulo [1 Co 12.3]. Esse modo de expressar-se teve sua origem na reivindicação feita pelos servos de Deus, a saber, que todos os seus pronunciamentos públicos lhes vieram por revelação do Espírito; e, visto que eram os instrumentos do Espírito, lhes foi atribuído o nome do Espírito. Mais tarde, porém, os ministros de Satanás, através de uma falsa imitação, como fazem os símios, começaram a fazer a mesma reivindicação em seu favor, e da mesma forma falsamente assumiram o mesmo nome. Eis a razão por que João diz: "provai os espíritos, se realmente procedem de Deus" [1 Jo 4.1].

Além do mais, Paulo explica o que quis dizer, acrescentando: e doutrinas de demônios, o que equivale dizer: "atentando para os falsos profetas e suas doutrinas diabólicas". Uma vez mais digamos que isso não constitui um erro de somenos importância ou algo que deva ser dissimulado, quando as consciências dos homens são constrangidas por invenções humanas, ao mesmo tempo que o culto divino é pervertido.

Meu coração não santificado contamina tudo - Thomas Watson (1620-1686)


1.      Pelo contato com a Palavra de Deus: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo 17.17). A Palavra é tanto um espelho para nos mostrar as manchas de nossa alma quanto uma banheira para nos lavar. A palavra tem uma virtude transformadora em si, ela ilumina a mente e consagra o coração.


2.      Tenha fé no sangue de Cristo. "Purificando-lhes pela fé o coração" (At 15.9). A mulher que tocou na vestimenta de Cristo, no evangelho, foi curada. Um toque de fé purifica. Nada pode ter mais força sobre o coração, para santificá-lo, que a fé. Se eu creio que Cristo e seus méritos são meus, como posso pecar contra ele? A fé da justificação faz isso em um sentido espiritual, ela é miraculosa, ela remove montanhas, as montanhas do orgulho, da luxúria e da inveja. A fé e o amor ao pecado são inconsistentes.


3.      Viva pelo Espírito. Isso é chamado de "Santificação do Espírito" (2Ts 2.13). O Espírito santifica o coração como o relâmpago purifica o ar e o fogo refina metais. A ação do Espírito gera sua própria imagem em todo lugar. O Espírito imprime sua própria santidade no coração, como o carimbo imprime autenticidade sobre o documento. O Espírito de Deus em um homem perfuma com santidade e torna seu coração um mapa para o céu.


4.      Associe-se com pessoas santificadas. Por meio de seus santos conselhos e exemplos, elas podem incentivar você a ser mais santo. Assim como a comunhão dos santos está em nosso Credo Apostólico, deveríamos também pensar a respeito de nossas companhias: "Quem anda com os sábios será sábio" (Pv 13.20). A associação produz assimilação.


5.      Ore pedindo santificação. Jó propõe uma questão: "Quem da imundícia poderá tirar coisa pura?" (Jó 14.4). E a resposta é: Deus pode.
De um coração imundo ele pode produzir graça. Façamos da oração de Davi a nossa oração: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro" (SI 51.10). Apresente seu coração diante de Deus e diga: "Senhor, meu coração não santificado contamina tudo o que toca. Não é conveniente que eu viva com tal coração, pois não posso honrar ao Senhor; nem morrer com tal coração, pois não poderei ver o Senhor. Cria em mim, ó Deus, um novo coração. Senhor, consagre meu coração e faça dele o teu templo e teus louvores serão entoados nele para sempre".


Deus produziu algo puro de algo impuro? Ele santificou a sua vida? Use esta jóia da santificação com gratidão: "Dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz" (Cl 1.12). Cristão, você pode se c

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Pensamento Superficial sobre o Pecado – S. Bolton (1606-1654)


Agora, para que vocês possam ter conceitos mais adequados sobre a magnitude dele, para que sejam capazes de ver o pecado como algo excessivamente maligno, irei apresentá-lo resumidamente sob seis aspectos.

1. Olhem para ele sob o prisma da natureza a qual, embora seja um cristal pouco transparente, é um refletor autêntico. O pecado tem ofuscado essa lente, ainda assim ela é capaz de revelar-nos muito do mal do pecado. Mesmo os pagãos têm visto e julgado por eles mesmos, muitos pecados como sendo o maior dos males.

Embora os pecados espirituais fossem ocultos a eles, sua luz não era capaz de descobrir a infidelidade e os pecados íntimos. Todavia eles têm descoberto os pecados morais, e os evitado, e prefeririam correr o risco de sofrer do que cometer tais pecados. Os exemplos de Platão, Cipião, Catão, e muitos outros irão elucidar isso. Tudo isso foi descoberto pelo prisma da natureza, feito por ela própria, porém não pela mera natureza caída, e sim pela natureza bem administrada, pela natureza desenvolvida, pela implantação de princípios morais juntamente com a graça restringedora e de outros dons comuns do Espírito.

O grande ódio que sentem pelo pecado, o grande cuidado que têm para evitá-lo, o grande sofrimento que experimentam por não quererem cometer pecado, deveriam ser suficientes para revelar-nos quão grande é o mal do pecado - mas interromperemos o assunto aqui.

2. A segunda lente pela qual vocês podem ver até onde vai o pecado é a lente da lei, a lente que revela o pecado em todas as suas dimensões: a culpa, o demérito, a corrupção e a malignidade do pecado. Portanto, o apóstolo diz em Rom. 7:7 "... mas eu não conheci o pecado senão pela lei..." Isto é, eu não teria conhecido o pecado como sendo tão abominável quanto ele o é, eu não teria conhecido o pecado em sua amplitude e latitude. Eu não teria conhecido a gravidade do pecado se não tivesse sido pela lei, se a lei não tivesse sido a lente para revelar o pecado a mim.

Ela revelou a grandeza do pecado para Davi: "A toda a perfeição vi limite, mas o teu mandamento éamplíssimo " (Sal. 119:26), isto é, por revelar a extensão do pecado em proporção a sua amplitude e grandeza.

Que lástima! Isso irá revelar a vocês mais nudez num pecado do que o mundo todo pode cobrir, mais indigência num pecado do que todos os tesouros da justiça disponível são capazes de suprir; mais obliqüidade e injustiça num pecado, num pensamento errado, do que a morte de todos os homens e o extermínio dos anjos seriam capazes de expiar.

Procurem na lei e vocês descobrirão milhares de pecados que caem sob toda e qualquer lei de Deus. Eis aqui a lente!

3. Olhem para o pecado sob a lente das dores, feridas penetrantes e tristezas, as quais os santos encontraram em seu acesso e primeira entrada no estado de graça, em suas reincidências e retornos à insensatez.

Para o primeiro, vejam que gemidos e humilhações tiveram que suportar em sua primeira admissão ao estado de graça - Manasses em II Crôn. 33:12, Paulo em Atos, capítulo nove, os judeus convertidos em Atos 2:37 - admissão semelhante à ocasião quando os pregos perfuraram Cristo, agora cravados em seus corações como a lança no lado de um animal.

Quantos dos muitos santos que já existiram estiveram presos num leito de miserável angústia, acamados sob os golpes da justiça possi velmente por muitos anos, e tudo isso por causa do pecado. Em todas as épocas houve milhares de exemplos dessa natureza.

Olhem para as angústias e quebrantamentos que os santos tiveram quesuportar por causa de suas reincidências no pecado. Vejam nos em Pedro e em Davi. Leiam as tristes expressões que ele tem no Sal. 6:1-7 e no Sal. 32:3-5. Do mesmo modo no Sal. 51. Como ele lamenta pela sua alma perturbada, seus ossos quebrados, seus olhos consumidos pela tristeza, sua cama está encharcada com lágrimas! E tudo isso por causa do pecado. Aqui está a lente pela qual pode-se ver o mal do pecado como sendo o maior mal. Sim, quando Deus o enfoca, o menor pecado resultará em tudo isso.

4. Olhem para o pecado em Adão e vejam a extensão dele. Aquele único pecado de Adão trouxe todas as misérias, doenças, morte e outras desgraças, sobre toda a sua posteridade desde aquele tempo. O pecado tem sido a maldição de milhares de homens e ainda continua sendo. A justiça de Deus ainda não foi satisfeita. Se ela tivesse sido, haveria um fim. Não morreríamos, nem ficaríamos doentes jamais, etc. Oh, aqui vocês podem ver o pecado em sua extensão!

5. Olhem para o pecado sobre Cristo. Vejam que humilhações, que quebrantamentos, que feridas cruciantes, que ira isso trouxe sobre o próprio Cristo. Foi isso que misturou aquele cálice amargo com ingredientes tão terríveis, os quais, se tivéssemos que libá-lo quando assim estava temperado, teriam colocado nossas almas debaixo de uma ira pior do que aquela que todos os condenados sofremno inferno. Cristo suportou plena justiça por causa do pecado.

Isso fez com que Ele que era tanto Deus quanto homem, santificado pelo Espírito para essa missão, fortalecido pela Deidade, suasse gotas de sangue, e até lutasse, parecendo recuar e orar contra a obra de Sua própria misericórdia, querendo desistir do propósito de Sua própria vinda ao mundo.

Ah, ninguém sabe senão Cristo, nem é o finito entendimento humano capaz de conceber, o que Cristo suportou quando estava para carregar o pecado e com isso lutou contra a infinita ira e justiça do infinito Deus, os terrores da morte, e os poderes do mundo vindouro. Aqui está uma lente pela qual vocês podem ver a grandeza, a amplitude, a culpa, o demérito do pecado, tudo o que é revelado ao indivíduo na morte, sofrimentos, quebrantamentos e feridas do Filho de Deus.

Você, amigo, que despreza o pecado, vá para Cristo e pergunte a Ele quão duro isso foi, aquilo que você despreza esmagou-O contra o chão. E o menor pecado esmagaria você e todos os pilares do céu para o fundo do inferno para sempre.

6. A sexta lente: olhem para o pecado na condenação eterna da alma, que nada satisfaria à justiça de Deus a não ser a destruição da criatura. Nem doenças, nem prisões, nem sangue, nem sofrimentos, a não ser os sofrimentos do inferno! E esses não por um tempo, mas para sempre! Ah, vejam aqui a enormidade do pecado, o qual poderia ser ainda mais ampliado considerando-se a preciosidade da alma, a qual o pecado arruina por toda a eternidade. E portanto, vocês conheceriam o pecado? Perguntem aos condenados: o que é pecado? Volvam seus ouvidos ao inferno e ouçam todos aqueles berros, aqueles gritos, aqueles rugidos dos condenados, e tudo isso por causa do pecado. Oh, eles foram os prazeres custosamente comprados, os quais precisam ser conseqüentemente pagos com dores sem fim.

Assim através destas lentes vocês vêem o que é o pecado. E por conseguinte como devemos ser humilhados por causa de nossa indiferença em relação ao pecado, o qual é um mal tão grande!

A Tragédia do pecado não abandonado – Jonathan Edwards

As instruções para você auto-examinar-se quanto a algum pecado do qual talvez você não esteja crente já foram dadas. Como estão as coisas na sua vida? Você acha que está vivendo em algum caminho mau? Não estou perguntando se você está livre de pecado. Isso não é o esperado, pois não há quem não peque (lRs 8.46). Mas há algum tipo de pecado incorporado ao seu estilo de vida e prática? Sem dúvida alguns estão limpos nessa questão, alguns "irrepreensíveis no seu caminho, que andam na lei do Senhor... que guardam as suas prescrições, e o buscam de todo coração; não praticam a iniqüidade e andam nos seus caminhos" (SI 119.1-3).

Permita que sua consciência responda sobre como você vê sua própria vida. Você pratica algum pecado pela força do hábito? Você se deu permissão para isso? Se esse for o caso, considere o seguinte:

Se você tem procurado a salvação e ainda não a encontrou, a razão disso pode ser algum tipo de pecado em sua vida. Talvez tenha se perguntando qual é o problema que o deixa tão preocupado em relação à sua salvação — quando diligentemente você a tem buscado — e ainda não teve retorno. Muitas vezes já implorou a Deus, e ele ainda não atentou para você. Outros recebem conforto, mas você ainda permanece em trevas. Mas isso não deve surpreender, se você se agarrou a algum pecado por muito tempo. Não é isso uma razão suficiente para que todas as sua orações e todas as suas pretensões deixem de ser atendidas?

Se você tem tentado reter seu pecado enquanto busca o Salvador, você não está buscando a salvação da maneira correta. O caminho certo é abandonar sua perversidade. Se você tem algum membro corrupto e não o corta fora, corre o risco de ele o levar para o inferno (Mt 5.29,30).

Se a graça parece que estar definhando ao invés de florescer na sua alma, talvez a causa disso seja algum tipo de pecado. A maneira de crescer na graça é andar em obediência, e ser muito determinado nisso. A graça vai florescer no coração de todo aquele que vive dessa maneira. Se você vive em algum caminho mau, ele será como uma doença incubada sugando sua vitalidade.

O pecado então o manterá pobre, fraco e desfalecido. Basta que um pecado seja praticado habitualmente para anular sua prosperidade espiritual e frear o crescimento e a força da graça em seu coração. Ele entristecerá o Espírito Santo (Ef 4.30). Ele impedirá a boa influência da Palavra de Deus. O tempo que ele permanecer será como uma úlcera, que o mantém fraco e deficiente, embora você se alimente da melhor e mais proveitosa comida espiritual.

Se você caiu em grande pecado, talvez algum tipo de pecado na sua vida tenha sido a raiz fundamental do seu grande fracasso. Uma pessoa que não evita o pecado e não é meticulosamente obediente, não pode ser guardada dos grandes pecados. O pecado em que vive será sempre uma abertura, uma porta aberta, pela qual Satanás encontrará a entrada. E como uma brecha na fortaleza, por onde o inimigo pode entrar e encontrar seu caminho. Se você caiu num pecado terrível, talvez seja essa a razão.

Ou se você permite algum tipo de pecado como um escape para sua corrupção, ele será como uma brecha numa represa que, se abandonada, se abrirá sempre mais até que não seja mais possível contê-la.
Se você vive em trevas espirituais, sem sentir a presença de Deus, a razão disso pode ser algum tipo de pecado. Se você lamenta não ter um pouco da doce comunhão com Senhor; se sente que Deus o desertou; se Deus parece ter lhe escondido sua face e raramente lhe mostra evidências da sua glória e graça; ou se parece que você foi deixado tateando e vagueando no deserto — essa pode ser a razão. Talvez você clame a Deus freqüentemente.

Talvez você passe noites em claro e dias tristes. Se está vivendo desta maneira, é muito provável que essa seja a causa, a raiz dos seus desenganos, o seu Acã, o causador de problemas que ofende a Deus e traz tantas nuvens de trevas sobre sua alma. Você está entristecendo o Espírito Santo, e por isso você não recebe o seu conforto.

Cristo prometeu que se revelaria aos seus discípulos, mas com a condição de que eles guardassem os seus mandamentos: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele" (Jo 14.21). Mas se você rotineiramente vive em desobediência aos seus mandamentos, não é de se admirar que ele não se manifeste a você. A maneira de receber o favor divino é andar perto dele.

Se você duvida da sua salvação, talvez algum tipo de pecado na sua vida tenha levantado essas dúvidas. O melhor jeito de se ter a clara evidência da sua salvação é por meio de um andar junto a Deus. Isso, como já notamos, é também a maneira de se ter a graça florescendo na alma. E quanto mais graça vigorosa de Deus em nós, mais provável é que seja vista. E quando Cristo se revela a nós, temos a certeza do seu amor e favor.

Mas se você vive com algum tipo de pecado, não é de surpreender que isso diminua grandemente a sua certeza. Afinal de contas, isso subjuga o exercício da graça e esconde a luz da face de Deus. E pode acontecer de você nunca saber se é um verdadeiro cristão até que tenha abandonado totalmente o pecado no qual vive.

Se Deus o reprovou, talvez algum tipo de pecado em sua vida explique o motivo. Provavelmente a prática de um hábito pecaminoso ou o fato de tolerar um ato maldoso tenha sido a razão de ter recebido uma reprovação e um castigo dolorosos. Às vezes, Deus é excessivamente severo no trato com seu povo pelos seus pecados neste mundo. Deus não permitiu que Moisés e Arão entrassem na Terra Prometida porque o haviam desobedecido e pecado com seus lábios nas águas de Meribá. E como Deus foi terrível quando tratou com Davi! Que aflição levou para sua família! Um dos seus filhos violentou sua irmã; outro matou o irmão e depois de expulsar seu pai do trono na vista de todo Israel, deflorou a concubina de seu pai perante todos. O seu fim foi terrível; machucou completamente o coração de seu pai (2Sm 18.33). Imediatamente depois, aconteceu a rebelião de Seba (2Sm 20). No fim da vida , Davi viu seu outro filho usurpar o trono.

Quão severamente Deus tratou Eli por ele ter vivido no pecado, não refreando seus filhos da maldade! Os dois filhos foram mortos no mesmo dia, e o próprio Eli morreu violentamente. A arca foi levada cativa (ISm 4). A casa de Eli foi amaldiçoada para sempre; o próprio Deus jurou que a iniqüidade da casa de Eli nunca seria expiada por meio de sacrifícios e ofertas (ISm 3.13,14). O sacerdócio foi tirado de Eli e transferido para outra linhagem. Nunca mais houve um sacerdote na família de Eli (2Sm 12.31).

O motivo das repreensões divinas que recebeu é algum tipo de pecado na sua vida? Na verdade, no tocante aos acontecimentos da Providência, você não pode ser julgado pelo seus vizinhos, porém com certeza você deveria se perguntar se Deus esta contendendo com você (Jó 10.2).

Se a morte lhe causa medo, talvez seja porque você está vivendo em algum tipo de pecado. Quando pensa na morte, você se encolhe a esse pensamento? Quando tem uma doença, ou quando alguma coisa ameaça sua vida, você sente medo? Os pensamentos de morte e a eternidade alarmam você, embora seja um cristão?

Se você vive num caminho mau, provavelmente essa seja razão de seus medos. O pecado deixa a sua cabeça sensual e mundana e, portanto o impede de desfrutar de uma alegria celestial. O pecado diminui a graça e impede o desfrute das antecipações do conforto celestial que, de outra maneira, você desfrutaria. O pecado impede o sentimento da presença e do favor divinos. Sem isso, não é de espantar que você não veja a morte diante de si sem temor.

Não permaneça em qualquer tipo de pecado. Se, ao ler este texto, você percebeu que vive em um tipo de pecado, considere que de agora em diante, se viver da mesma maneira, estará vivendo com um pecado conhecido. Se era ou não era conhecido no passado, você talvez tenha vivido assim inadvertidamente. Mas, agora, que é consciente dele, se continuar nele, seu pecado não será um pecado da ignorância, mas você se mostrará como um dos que vivem intencionalmente em caminhos de pecados conhecidos.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O Aplauso dos Homens


O aplauso dos homens era o vento que impulsionava a vela dos religiosos nos dias de Jesus...

O aplauso dos homens era o vento que impulsionava a vela da vida dos Fariseus..

O Fruto do Orgulho Espiritual – John MacArthur



Não é nenhuma surpresa que Lucas 4.28 registre que os judeus presentes na sinagoga, "ouvindo estas coisas, se encheram de ira". Nada é pior do que orgulho espiritual, pois é uma barreira que as pessoas egoisticamente erguem e que os separa de sua própria salvação. O Senhor afirmou: "Eu vim para salvar e esta é a verdade. Mas apenas posso salvar os pobres, os prisioneiros, os cegos e os oprimidos. Não importa que seja uma viúva gentia ou um leproso sírio. Importa apenas que a pessoa perceba sua bancarrota e sua indigência e que venha a mim como aquele odiado coletor de impostos que batia em seu peito cheio de culpa e implorava: 'O Deus, sê propício a mim, pecador!' (Lc 18.13), ou o homem que disse: 'Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé!' (Mc 9.24). Essa pessoa pode não saber tudo o que existe para saber, e sua fé pode não ser plena, mas se ela apenas for em sua desesperança e disser: 'Eu não tenho escolha. Eu sei quem sou e sei o que o senhor pode fazer por mim', então ela saberá que eu sou o Messias".

Não podemos conhecer a Jesus como Messias até que nos submetamos a ele. Eu não pude conhecê-lo como meu Salvador enquanto não entreguei minha vida a ele. Então eu soube. Desfilar um número infinito de milagres na minha frente não teria provado nada. Os milagres não vêm ao caso. Nunca saberemos se Jesus pode salvar nossa alma do inferno, dar-nos vida nova, recriar nossa alma, colocar ali o seu Espírito Santo, perdoar nossos pecados e levar-nos para o céu até que tenhamos entregado nossa vida inteiramente a ele. Isso é auto-renúncia, tomar a cruz e segui-lo obedientemente.

Todos os ouvintes de Jesus podiam concluir qual era o ponto vital dessa história: eles valiam menos que os gentios. Estavam furiosos com Jesus porque ele insistira em que, a não ser que eles se considerassem em nada melhor do que um terrorista sírio e leproso, em nada melhor que uma viúva gentia pagã, em nada melhor que os proscritos, eles não receberiam salvação. E isso era absolutamente intolerável para aqueles assíduos frequentadores da sinagoga du¬rante a vida inteira — judeus sérios e devotos. Era impensável porque estavam absolutamente comprometidos com sua autojustificação, fruto da crença de que poderiam obter sua salvação pelos seus próprios méritos e religião. Como poderiam eles ser humildes quando conseguiam sua entrada no céu pelo fato de serem judeus, leais à moralidade tradicional e à lei religiosa?

Assim, como está escrito em Lucas 4.29, eles "se levantaram". De repente o tumulto explodiu na sinagoga lotada. Agarraram Jesus com a violência e o ódio cego de uma turba de linchadores e saíram da cidade vociferando até a beirada de um precipício. Estavam prontos para lançar Jesus lá de cima e vê-lo arrebentar-se contra as pedras lá embaixo. Deuteronômio 13 dava aos judeus a licença para matar um falso profeta. Estavam tão entrincheirados em seu orgulho hipócrita, tão pouco dispostos a reconhecer seu pecado que, quando Jesus finalmente os visitou, eles tentaram matá-lo. Depois de esperar durante tanto tempo pelo seu Messias e Rei prometido, eles preferiam destruí-lo a permitir que ele ameaçasse sua autojustificação.

Sempre termina assim, embora não de modo tão violento. Há apenas uma razão pela qual as pessoas que conhecem a verdade do evangelho não se sintam dispostas a arrepender-se e crer. É porque não querem considerar-se como pobres, prisioneiras, cegas e oprimidas. Não há nenhuma relação com o estilo de música que sua igreja oferece, com as dramatizações que são montadas ou com a qualidade de um espetáculo de feixes de laser. Mas tem tudo a ver com a morte espiritual e a cegueira do orgulho. Deus não oferece nada àqueles que estão satisfeitos com sua própria condição, a não ser julgamento. Se você não acha que está a caminho do inferno, não pensa que necessita de perdão, você não valoriza o evangelho da graça.

Segundo o próprio entendimento deles, esses judeus da sinagoga de Nazaré eram os respeitáveis. Eles eram os piedosos, os escolhidos, os verdadeiros adoradores, os leais à Lei, os cerimonialistas, os participantes da aliança. Os gentios eram os miseráveis idólatras, os indigentes proscritos. Os judeus nunca poderiam considerar-se como espiritualmente viúvos ou leprosos. Religiosos como eram, os vizinhos, amigos e parentes de Jesus odiaram tanto o que ele disse que tentaram matá-lo. Odiaram a mensagem de modo tão violento porque se recusavam ser humilhados. Não podemos pregar salvação, conduzir alguém à salvação nem tampouco sermos nós mesmos salvos a não ser que ' estejamos dispostos a ser humilhados e a reconhecer nossa condição pecaminosa. Novamente é uma questão de auto-renúncia, não é?

Eles tentaram matá-lo, mas não tinham poder para tanto, porque não era o método de Deus e não era sua hora. Lucas 4.30 descreve um momento sobrenatural, calmo: "Jesus, porém, passando por entre eles, retirou-se". Não sabemos como aconteceu. Mas, de alguma maneira miraculosa, ele simplesmente desapareceu. Eis o milagre que eles exigiram, mas o milagre o retirou do meio deles, simbolizando o julgamento que trouxeram sobre si mesmos por sua incredulidade cheia de ódio. Que tristeza. O que poderia ter sido - perdão e plenitude de alegria para sempre - eles recusaram.

E você? Você quer saber se Jesus é realmente aquele que ele disse ser? Em primeiro lugar, é necessário confrontar-se com seu diagnóstico sobre sua condição espiritual. Confesse sua absoluta pecaminosidade. Negue-se a si mesmo, e entregue sua vida a ele. Esse é o único caminho mediante o qual você poderá saber. Você se considera um entre os pobres, prisioneiros, cegos e oprimidos? Se sua resposta é não, você pode testemunhar todos os milagres debaixo do sol, reais ou falsos, pode ver todo o desfile de testemunhos, e nada o convencerá. Há apenas um caminho para saber que Jesus pode salvar sua alma do inferno, mudar sua vida e levá-lo para o céu com todos os pecados perdoados. Esse único caminho é ser suficientemente honesto e estar desesperado para admitir o seu pecado. Esse é o único tipo de pessoa que Jesus pode salvar. Tome sua vida pobre e iníqua, entregue-a nas mãos dele e veja o que ele pode fazer com ela. Isso é o que você deve fazer, e esse é o convite que temos para proclamar.

terça-feira, 26 de julho de 2011

O Milagre da Redenção - Thomas Watson


Na criação, Deus operou somente um milagre, ele pronunciou sua palavra; mas, na conversão. Deus executa muitos milagres. O cego vê, o morto é ressuscitado, o surdo ouve a voz do Filho de Deus. Quão infinito é o poder de Jeová. Ante o seu cetro, os anjos se cobriam e se prostravam, os reis lançavam suas coroas aos seus pés. "Porque o Senhor, o SENHOR dos Exércitos, é o que toca a terra, e ela se derrete" (Am 9.5). "Quem move a terra para fora do seu lugar, cujas colunas estremecem" (Jó 9.6). Um terremoto faz que a terra trema sobre seus pilares, mas Deus pode remover a terra de seu centro.

O eu precisa ser crucificado, e Cristo deve reinar - J. C. Ryle (1816-1900)



O que se requer não é um conserto ou uma alteração, uma pequena limpeza e purificação, um pouco de pintura e remendo, uma folha nova no caderno da vida. É a entrada de algo totalmente novo, o semear em nós de uma nova natureza, de um novo ser, de um novo princípio, de uma nova mente; só isso, e nada menos que isso, poderá vir de encontro às necessidades da alma do homem. Não precisamos apenas de pele nova; precisamos de um coração novo.


Cortar um bloco de mármore e esculpir dele uma nobre estátua, transformar um vasto deserto em um jardim de flores, derreter uma barra de ferro e forjá-la em molas de relógio - todas essas são mudanças imensas. Contudo, nada são em comparação com a mudança que todo filho de Adão requer, pois aquelas são meramente o mesmo material sob nova forma, a mesma substância noutro formato. Mas o homem requer ser transformado em aquilo que antes ele não possuía. Precisa de uma transformação tão grande quanto a ressurreição dos mortos; precisa tornar-se nova criatura. As coisas antigas terão que passar, e tudo terá que ser novo. Precisa nascer de novo - nascer do alto, de Deus. O nascimento natural não é mais necessário à vida do corpo do que o nascimento espiritual é necessário à vida da alma (ver 2 Cor. 5.17; João 3.3).


Bem sei que são palavras duras. Sei que os filhos do mundo não gostam de ouvir que têm de nascer novamente. Isso espicaça suas consciências; faz com que se sintam mais longe do céu do que estão dispostos a admitir. Parece uma porta estreita diante da qual estão indispostos a se curvar para entrar, e eles teriam prazer em alargar tal porta, ou subir por outro caminho. Mas não ouso ceder quanto a essa questão. Não posso iludi-las nesta questão, dizendo que as pessoas devem apenas arrepender-se um pouco, despertar algum dom que possuam em seu interior, a fim de se tornarem cristãos genuínos. Não ouso empregar outra forma de linguagem que não a da própria Bíblia; digo, portanto, nas palavras que foram escritas para o nosso aprendizado: "Todos nós precisamos nascer de novo; todos estamos naturalmente mortos, e carecemos de revivificação".


Se pudéssemos ver Manasses, rei de Judá, em certa época enchendo Jerusalém de ídolos, matando seus filhos em honra a falsos deuses, e depois purificando o templo, acabando com a idolatria e vivendo vida piedosa; se pudéssemos ver Zaqueu, o publicano de Jericó, em certa época enganando, lesando e cobiçosamente levando o que não lhe pertencia, e depois, seguindo a Cristo, dando metade dos seus bens aos pobres; se pudéssemos ver os servos da casa de Nero, em certa época conformando-se com os modos pérfidos de seu senhor, e depois, sendo de um só coração e mente com o apóstolo Paulo; se pudéssemos ver o antigo pai da igreja, Agostinho, em certa época fornicador, e noutra, andando junto a Deus; se pudéssemos ver o reformador Latimer, num certo tempo pregando sinceramente contra a verdade que se encontra em Jesus, e depois, gastando-se e deixando-se desgastar, até à morte, na causa de Cristo - se tivéssemos visto de perto qualquer dessas maravilhosas mudanças, pergunto a cada pessoa sensível; O que diríamos? Ficaríamos satisfeitos em chamar tais transformações apenas de emendas ou alterações? Ficaríamos contentes em dizer apenas que Agostinho "reformou sua conduta", e que Latimer "começou uma nova página de sua vida"? Se disséssemos apenas isso, as próprias pedras clamariam.


Em todos esses casos, nada menos que um novo nascimento ocorreu, uma ressurreição da natureza humana, uma vivificação dos mortos. São estas as palavras certas. Outros termos seriam fracos, pobres, mendicantes, não-biblicos, e estariam aquém da verdade.


Não posso esquivar-me de dizer claramente que todos nós precisamos da mesma espécie de mudança, se tivermos de ser salvos. A diferença entre nós e qualquer um dos que citei é muito menor do que parece. Tirando a casca exterior, encontraremos a mesma natureza em nós e neles - uma natureza iníqua, que requer mudança total. A face da terra é muito diferente nos diversos lugares, de climas diversos. Mas o coração da terra, creio eu, é o mesmo em toda parte. Não importa onde formos, sempre encontraremos o granito ou outras rochas primitivas, sob nossos pés, se nos aprofundarmos o suficiente. Dá-se o mesmo com os corações humanos. Seus costumes, suas cores, suas maneiras e suas leis poderão ser totalmente diferentes uns dos outros, mas o homem interior é sempre o mesmo. Seus corações são todos iguais no fundo - pedregosos, duros, ímpios, todos carentes de uma transformação total. O brasileiro e o aborígene de Nova Guiné se encontram no mesmo nível nesta questão: ambos estão mortos por natureza, ambos precisam reviver. Ambos são filhos do mesmo pai Adão que caiu pelo pecado, e ambos precisam nascer de novo e serem feitos filhos de Deus.


Não importa a parte do globo em que vivamos, nossos olhos precisam ser abertos; por natureza, não vemos a nossa pecaminosidade, a nossa culpa e o perigo que corremos. Não importa a nação a que pertençamos, nossa compreensão tem que ser iluminada; por nós mesmos conhecemos pouco ou nada a respeito do plano de salvação; como os construtores de Babel, planejamos chegar ao céu pelo nosso próprio caminho. Não importa a que igreja pertençamos, nossa vontade terá que ser inclinada na direção certa; por natureza, nunca escolhemos as coisas que nos dão a paz; por natureza, jamais veríamos a Cristo. Não importa a posição que ocupemos na vida, nossos afetos têm que ser voltados para as coisas de cima; naturalmente, só vemos as coisas terrenas, sensuais, efêmeras e vãs. O orgulho tem de dar lugar à humildade, a auto-justificação tem de dar lugar à auto-condenação; o descuido à seriedade, o mundanismo à santificação, a incredulidade à fé. 0 domínio de Satanás deve ser eliminado em nós, e o reino de Deus edificado. O eu precisa ser crucificado, e Cristo deve reinar. Enquanto essas coisas não ocorrerem, estaremos mortos como as pedras. Quando essas coisas começam a ocorrer, mas não antes, começamos a viver.

A Alegria é Intencionada – J. I. Packer


Deixe-me dizer isso por extenso. A Escritura mostra que Deus cria os seres humanos tendo em vista sua alegria. "O fim principal do homem é glorificar a Deus e agindo assim desfrutá-lo para sempre" (Catecismo Menor de Westminster, resposta à pergunta 1). Alegria foi o plano de Deus para o homem desde o início. O propósito de Deus, que nós tivéssemos prazer nele, diretamente na comunhão direta face a face, e indiretamente pelo prazer naquilo que ele criou, se mostra no fato de o lar terreno dado a Adão e Eva ter sido um jardim de prazeres (o Éden) onde Deus mesmo andava na fresca da tarde.

O salmista recupera uma sanidade espiritual que havia quase perdido quando declara: "Estou sempre contigo; tu me seguras pela minha mão direita, tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória. Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra... Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre.... Bom é estar junto a Deus" (SI 73.23-28). O pensamento é o mesmo encontrado em Salmos 43.4 onde Deus é chamado de "a minha grande alegria". O Novo Testamento nos conta que nossa redenção e vida em Cristo inverte a situação de maldição e morte que tínhamos em Adão (veja Rm5.12-19; ICo 15.21 ss.), que Deus "tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento" (lTm 6.17), e que os santos glorificados têm prazer perpétuo no Deus a quem perpetuamente adoram (ver Ap 7.9-17; 21.1-4; 22.1-5).

Assim parece que a atividade salvadora vindica, restaura, e cumpre seu propósito original de alegria para o homem que a malícia satânica e o pecado humano frustraram. Alegria para o mundo continua sendo o alvo de Deus.
O Novo Testamento leva-nos um passo adiante na compreen¬são disso. No Evangelho de João é descortinado o amor e a honra mútuos que ligam Pai, Filho e Espírito Santo na união do único Deus eterno (ver João2.16ss.; 4.34; 5.19-30; 6.38-40; 12.27ss.; 14.31; 16.13-15), e Jesus ora ao Pai pedindo que seus discípulos sejam "um... em nós... como nós o somos: eu neles e tu em mim" (João 17.21-23). Ele afirma seu desejo para "que eles tenham o meu gozo completo em si mesmos" (v. 13). O propósito original de Deus era que os humanos compartilhassem a unidade alegre da Trindade; e o evangelho de Cristo, que proclama libertação do pecado, e que se apoia na bondade providencial de Deus (ver At 14.17; Rm 2.4), é um convite para entrar para este gozo através do culto penitente e confiante. É no amor ao Pai e ao Filho — amor que se espelha no amor do Filho para com o Pai — que a plenitude da alegria será finalmente encontrada.

Mas o pecado — auto-adoração, transgres¬são, descrença, impenitência — separa-nos da alegria de Deus e nos expõe, ao contrário, a uma eternidade ímpia, sem Deus (ver Jo 3.16-21; Rm 1.18 - 2.16; Ap 22.11-15). Só que o convite do evangelho ainda está de pé, e a culpa é só nossa se abraçarmos o pecado e deixarmos de conhecer a alegria no presente e no futuro. Pare agora e pergunte-se: Conheço eu a alegria como elemento principal, como base central, realidade constante na minha vida? "Raramente tu vens,/Espírito do deleite", escreveu o poeta Shelley, e não nos deve causar surpresa a experiência dele, porque ele foi um teimoso e ardoroso defensor do ateísmo. O cristão, no entanto, descobre que, embora viver nesse mundo decaído e desordenado nunca seja "um piquenique", contudo poderá ser um passeio pelo "caminho da alegria" em resposta ao chamado de Deus.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Três pilares da Fé Reformada - por Jason A. Van Bemme


Nos céus, estabeleceu o SENHOR o Seu trono, e o Seu reino domina sobre tudo. - Salmos 103:19


Você se lembra de quando descobriu que seu pai não era todo-poderoso? Quando era menino, eu realmente achava que meu pai podia fazer qualquer coisa. Meu pai é bastante habilidoso e grande (mais de 1,98 m), e para um garoto de 6 anos, ele se parecia com o Super Homem. No entanto, como todos vocês, eu tive que enfrentar a dura e lenta constatação de que meu pai não era, de fato, onipotente, até que, quando adolescente, passei a imaginar se o meu pai podia realmente fazer alguma coisa certa.

Algumas pessoas (mesmo aquelas que se intitulam "cristãs") acham que as nossas típicas experiências da infância com nossos pais terrenos é um modelo para aquilo que deve acontecer em relação a nossa visão de Deus ao longo do tempo, à medida que amadurecemos em nossa fé. As crises e os conflitos vêm, razão pela qual devemos ver que um mundo cheio de maldade é incompatível com um Deus todo-poderoso e completamente bom. Uma vez que todos nós acreditamos que Deus é bom, devemos então abandonar a idéia de que Deus é todo-poderoso em favor de um Deus que se parece muito mais como nossos pais limitados e falíveis.


A Bíblia não nos dá qualquer espaço para uma visão tão pálida de Deus. EmEscritura após Escritura, Deus brilha com esplendor como o grande e glorioso Rei do Universo. "Porque para Deus não haverá impossíveis", a Bíblia proclama corajosamente e repetidas vezes (ver Lucas 1:37 e Marcos 10:27). "Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar”, Deus relembra o seu povo duvidoso em Isaías 59. "Ninguém há como o SENHOR, nosso Deus”, nos é dito repetidas vezes e nos é dito exatamente o que isso significa: Ninguém é como Deus em majestade, em santidade, na soberania e na fidelidade dos pactos (mantendo suas promessas absolutamente).


Dois encontros com Soberania

Uma forma de analisar a soberania absoluta de Deus é através dos olhos de duas pessoas que estiveram cara a cara com Ele de maneiras diferentes: Jó e Nabucodonosor. Jó era um homem de Deus justo, que viu a soberania de Deus em ação nos seus momentos de provações. Nabucodonosor foi um imperador orgulhoso que aprendeu a lição da soberania de Deus da maneira mais difícil, por ser destituído de seu poder e de sua sanidade por Deus.

Imagine ser tão fiel a Deus a ponto de Deus perceber e começar a se gabar de você. Deus estava tão orgulhoso da justiça de Jó que Ele se gabou de Jó com Satanás. Em resposta à aprovação de Deus sobre Jó, Satanás fez um trato com Deus e conseguiu permissão para testá-lo severamente. Contudo, não perca o ponto aqui: Satanás teve que obter autorização de Deus antes que pudesse tocar em Jó. Deus está no controle, inclusive das atividades de Satanás contra o Seu povo.

No ponto mais profundo de seu desespero, Jó desejou nunca ter nascido e questionou as razões de Deus por enviar tais provações à sua vida. Embora Jó nunca tenha pecado contra Deus em acusá-Lo de injustiça, ele quis saber dos motivos que Deus teria para prová-lo de forma tão severa (de uma forma que pareceu a Jó como uma severa punição). Jó não entendia porque seus filhos morreram, porque perdeu toda a sua riqueza ou porque seu corpo estava coberto de chagas. Ele não tinha respostas, e seus amigos foram de pouca ajuda, mas ele sabia que a mão de Deus devia estar por trás daquelas suas horas escuras. E ele estava certo.

Sobre as perguntas de Jó, Deus proferiu suas próprias perguntas. Em uma furiosa tempestade, a voz de Deus surge para desafiar Jó e para relembrá-lo de quem é quem no universo. “Onde estavas tu", Deus começou, "quando eu lançava os fundamentos da terra?" Em outras palavras: "Quem exatamente você pensa que é para questionar Deus?”.

No final das contas, a resposta de Jó a Deus foi simples, profunda e a única verdade que todos nós precisamos saber, em última análise: "Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.” (Jó 42: 2, 5-6). Jó tinha aprendido que Deus era Deus, e isso foi o bastante para ele.

Ao contrário de Jó, Nabucodonosor não era um servo de Deus, justo e humilde. Na verdade, ele era um governante arrogante que construiu um ídolo de 27 metros para si mesmo e ordenou que todos se curvassem e o adorassem. No entanto, este pecador perverso precisava, tanto quanto o justo servo de Deus, saber a verdade sobre quem realmente estava no trono e era digno de adoração. Então Deus deu ao Rei Nebby (Nabucodonosor) um sonho.

No sonho, tal como interpretado por Daniel, Nabucodonosor soube que ele estaria, em breve, despojado de toda a sua dignidade e sanidade, e iria viver como um animal selvagem no deserto. Por quê? Nabucodonosor, havia se tornado orgulhoso e achava que sozinho era responsável pelo grande reino que havia construído. Ao olhar para fora sobre a gloriosa Babilônia, ele proclamou: "Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder e para a glória da minha majestade? (Dn 4:30).

Depois que Deus humilhou Nabucodonosor, seu coração foi mudado e ele reconheceu que somente Deus é soberano sobre as questões das nações. Nabucodonosor proclamou:

“Pois seu domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” - Daniel 4:34-35


Através da vida e exemplo de Jó, aprendemos que Deus é soberano sobre o nosso sofrimento. Todo sofrimento vem da mão de Deus e serve aos seus propósitos últimos, embora o sofrimento possa vir através de uma variedade de causas secundárias (doença, desastres naturais, opressão demoníaca, pecado, etc.). Através da vida e exemplo de Nabucodonosor, aprendemos que Deus também é soberano sobre as nações e os governantes do mundo. Ele levanta reis e presidentes e os usa para a Sua vontade, muitas vezes para abençoar uma nação e, muitas vezes para trazer juízo e destruição. Mais uma vez Deus usa as causas secundárias (eleições, revoluções, etc.), mas a mão por trás de tudo isso é a Sua, e a Sua somente.



Soberano Sobre Tudo

A completa soberania de Deus sobre todas as coisas é um dos principais temas da Bíblia e é ensinada explicitamente em vários lugares e também mostrada em repetidos exemplos. Algumas vezes a mão de Deus é mais visível e, algumas vezes mais escondida, mas Sua mão está sempre atuando e Sua vontade é sempre realizada. Na verdade, toda a história da Bíblia é a história da atividade soberana de Deus no mundo. Considere o que aprendemos com os seguintes livros da Bíblia:

• Gênesis nos ensina que Deus é soberano sobre a criação e julgamento (o Dilúvio, Babel, Sodoma e Gomorra) e a eleição (a chamada de Abraão, a escolha de Jacó sobre Esaú).

• Êxodo nos ensina que Deus é soberano sobre a libertação do seu povo e seus padrões morais (os 10 Mandamentos).

• Levítico e Números nos ensinam que Deus é soberano sobre a organização do seu povo e sobre a adoração corporativa.

• Deuteronômio, mais uma vez, enfatiza o senhorio de Deus sobre seu povo e Seu direito absoluto para abençoar e amaldiçoar conforme os padrões da Sua aliança, ou do Seu Pacto.

• Josué nos ensina a soberania de Deus sobre as vitórias e derrotas do Seu povo (a batalha em Ai).

• Juízes ensina o poder e o controle de Deus sobre a opressão e livramento do Seu povo.

• Ruth nos ensina a soberania de Deus na vida dos estrangeiros e na linhagem do Messias.

• Os livros de SamuelReis e Crônicas mostram a mão de Deus na história da nação de Israel, para abençoar e amaldiçoar como Ele prometeu fazer em Deuteronômio.


Poderíamos continuar e continuar. A Bíblia nunca se acanha em afirmar a soberania absoluta de Deus, mesmo quando as coisas são mostradas a partir de um ponto de vista humano e o rosto de Deus é mais velado no desenrolar da história.


Soberano Sobre a Salvação

Iremos lidar com esta área da vida de forma mais explícita em posts futuros, mas devemos fazer uma pausa neste ponto e enfatizar o ensino bíblico de que a soberania de Deus se estende a nossa salvação também. A salvação pessoal dos indivíduos não é uma área que Deus tenha deixado fora de seu interesse pessoal e controle. Pensar desta forma realmente compartimenta a nossa fé do resto da "realidade" e minimiza o impacto que a nossa salvação tem sobre o resto de nossas vidas e o impacto que a fé do povo de Deus tem tido sobre a história humana.

Pense nisso por um minuto: Se Deus está no controle completo do mundo e da história humana, é possível que ele não controle quem é salvo e quem não é? Isso tornaria a salvação um fator sem importância nos assuntos do mundo e da história humana. Se a salvação é o que a Bíblia diz que é, o mais importante de todos os assuntos humanos, é possível que Deus pudesse deixar apenas esta área intocada por Sua vontade soberana?

Felizmente, a Bíblia não nos deixa no escuro com estas questões. Através de exemplos humanos e ensinamentos explícitos, a Bíblia estabelece o senhorio de Deus sobre a salvação. Considere os seguintes exemplos pessoais da Bíblia:


1. A Chamada de Abraão (Gênesis 12)

2. A escolha de Jacó sobre Esaú (Malaquias 1:2-3 e Romanos 9:13)

3. A Chamada de Moisés para a liderança sobre Israel (Êxodo 3)

4. A escolha do próprio Israel dentre as nações do mundo (cf. Ezequiel 16, entre outros)

5. A chamada de Jeremias (Jeremias 1)

6. A vocação dos Discípulos nos Evangelhos

7. A salvação de Saulo na estrada de Damasco (Atos 9)


E considere os seguintes versos através de toda a Bíblia:

"Porquanto amou teus pais, e escolheu a sua descendência depois deles, e te tirou do Egito, ele mesmo presente e com a sua grande força" Deuteronômio 4:37

"E clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação." - Apocalipse 7:10

"De longe se me deixou ver o SENHOR, dizendo: Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí" - Jeremias 31:3

"Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça." Efésios 1:4-6

"Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda." João 15:16

"Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus; o SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra." - Deuteronômio 7:6

"Teu servo está no meio do teu povo que elegeste, povo grande, tão numeroso, que se não pode contar." I Reis 3:8

"Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;" -1 Pedro 2:9

O conceito de escolha soberana de Deus na salvação não é um conceito secundário, obscuro, escondidos em algum canto escuro da Bíblia. Ele é claro, repetidamente afirmado como fato e ilustrado com exemplos pessoais. Repito, vamos olhar para isto de forma mais cuidada e atenta em post futuros, mas por enquanto já podemos dizer o seguinte: Um Deus verdadeiramente soberano também deve ser soberano sobre a salvação dos indivíduos, ou então ele não é realmente soberano.



Um Deus Verdadeiramente Soberano: Nossa Única Esperança e o Único Verdadeiro Deus

Se você vem até mim e me diz que conhece minha esposa, eu provavelmente lhe faria algumas perguntas quase que imediatamente: Como é que você a conhece? Há quanto tempo você a conhece? O que você acha dela? Suas respostas a estas perguntas me confirmariam se a pessoa que você conhece é de fato a minha esposa ou não. Se você disser que a conheceu na escola secundária em Kansas e que você a conhece desde então, há quase 20 anos, e que ela é uma pessoa muito severa e zangada, eu saberia, com certeza, que você não conheceu, de fato, a minha esposa. Nenhuma dessas coisas são verdadeiras a respeito dela, e assim, você estaria, obviamente, enganado sobre quem você acha que conhece.

Conhecer a Deus é um pouco mais difícil, mas não é uma questão fundamentalmente diferente. Eu conheço Deus. Eu me encontro com Ele regularmente em Sua Palavra e na oração. Eu O conheço pela maior parte da minha vida, e descobri que Ele é santo e bom, misericordioso e justo. Milhões de cristãos ao redor do mundo compartilham o meu conhecimento de Deus e de Seu caráter, como revelado nas Escrituras.

Outras pessoas no mundo também dizem conhecer a Deus. Na verdade, a maioria das pessoas dizem conhecê-Lo de alguma forma, mas para a maioria delas, o deus que conhecem não é o Deus vivo da Bíblia. Eles imaginam Deus como "a grande força" ou "Alá do profeta Maomé", ou "brâmane", ou como uma espécie de observador impotente do universo que Ele criou. Nenhum desses conceitos de Deus é preciso, e nenhuma das pessoas que afirmam conhecer a Deus dessa forma, absolutamente O conhecem de fato. Eles encontraram alguma outra pessoa, talvez um produto da sua imaginação de um personagem da ficção de outra pessoa, mas não encontraram Deus.

É possível, é claro, conhecer a Deus verdadeiramente sem saber tudo o que Ele revelou com precisão. Todos nós estamos nesta posição, em um grau ou outro. Nenhum ser humano jamais poderá conhecer a Deus de forma exaustiva, e todos nós que O conhecemos verdadeiramente, somos continuamente surpreendido por aspectos do seu caráter e somos regularmente desafiados pela Sua Palavra da verdade. Contudo, para alegar conhecer a Deus verdadeiramente, você deve conhecer um nível mínimo da verdade sobre Ele.

A soberania de Deus não é um nível avançado de conhecimento sobre Deus. Não é um mistério escondido, nem é ela um conceito mais elevado só para os crentes maduros. Ela é a essência do que queremos dizer quando dizemos Deus. Quem é Deus? Deus é o soberano, o criador e o Rei do universo. Embora possamos jamais compreender completamente todas as profundas complexidades da soberania de Deus, devemos reconhecer que Ele é realmente soberano. Ele é o Senhor. Ele governa sobre tudo. Ele é Deus.

Algumas pessoas temem a soberania de Deus. Podem pensar que, de algum modo, ela comprometa a bondade de Deus – de que se Deus está no controle de calamidades e catástrofes do mundo, que Ele não pode ser totalmente bom. Eles também podem pensar que um Deus absolutamente soberano conflita com a sua compreensão do livre-arbítrio humano. Talvez isso ocorra mesmo.

Os maiores filósofos e teólogos do mundo têm lutado por milênios para explicar como a soberania de Deus interage com Sua bondade e com as nossas escolhas. As respostas podem nunca serem completamente conhecidas, e a Bíblia não nos dá, necessariamente, uma explicação exata. O que ela faz de forma clara e categórica é afirmar que Deus é soberano, que Ele é bom e que Ele nos mantém responsáveis por nossas escolhas. Provavelmente seja necessária a mente de Deus para entender exatamente como estas coisas funcionam em conjunto.

Permitam-me explicar como a soberania de Deus me dá conforto quando penso sobre a bondade de Deus e o problema do mal, bem como sobre minhas próprias escolhas. Sabendo que Deus é o Senhor é o único modo em que encontro alguma paz neste mundo tão cheio de maldade. A minha escolha é esta: Ou Deus tem um bom motivo e um plano por trás de todo o mal e sofrimento que vejo no mundo, ou então o mal e o sofrimento que vejo é sem sentido e até mesmo além do controle de Deus. A primeira opção me dá esperança e me leva a adorar, mesmo nos momentos mais sombrios. A segunda só me enche de desespero.

O mesmo pode ser dito de minhas próprias escolhas. Se eu fosse o rei da minha própria vida, o capitão do meu próprio destino, eu nunca teria um momento de descanso. Eu estaria eternamente repensando o que fiz e me afligindo para entender por que minha vida passou por tantas reviravoltas. Tantas coisas estão fora do meu controle e tantas das minhas escolhas são baseadas em motivações pecaminosas ou informações incompletas. No final das contas, devo descansar na mão de Deus, que está em ação em cada segundo da minha vida. Isto não desculpa o meu pecado de forma alguma, nem me alivia da minha responsabilidade por minhas escolhas, mas me dá uma paz que ultrapassa a minha limitada compreensão.

O Deus soberano, "aquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade", é o Deus da Bíblia, o Deus único e verdadeiro. Fé em Sua soberania é a única esperança para a minha vida, e a única esperança para este mundo aparentemente caótico em que vivemos. Ou Ele é Deus, ou Ele não é. Ou Ele está no seu trono e no controle, ou então o mundo e todos os seus habitantes vivem em uma anarquia cósmica. A Bíblia é clara sobre qual opção é verdadeira. Em qual você vai acreditar?

O SENHOR, porém, está no seu santo templo;
cale-se diante dele toda a terra. - Habacuque 2:20

 Reina o SENHOR;
tremam os povos.
Ele está entronizado acima dos querubins;
abale-se a terra.

O SENHOR é grande em Sião

e sobremodo elevado acima de todos os povos. - Salmo 99:1-2