sábado, 26 de fevereiro de 2011

Eis o servo do Senhor – M. Loyd-Jones

Cristão é aquele que por necessidade tem que estar interessado em guardar a lei de Deus. . . Não estamos «sob a lei», mas a intenção de Deus ainda é que a guardemos; a «justiça da lei» é para ser «cumprida em nós», diz o apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos. . . Assim, é cristão aquele que está sempre interessado em viver e cumprir a lei de Deus. Aqui se lhe faz lembrar como é que se deve fazer isso.
Volto a dizer que uma das coisas mais óbvias e essenciais quanto ao cristão é que ele vive sempre cônscio de que está na presença de Deus. O mundo não vive desta maneira; essa é a grande diferença existente .entre o cristão e o não-cristão. O cristão. . . não é, por assim dizer, um livre agente. Ele é filho de Deus, de modo que tudo quanto faz o faz do ponto-de-vista de estar sendo agradável aos olhos de Deus. Aí está porque o cristão, necessariamente, deve ver tudo o que lhe sucede neste mundo de maneira inteiramente diversa de toda gente. . .
O cristão não se aflige por causa de comida, bebida, casa e roupas. Não é que ele diga que essas coisas não lhe importam, mas elas não constituem o seu principal interesse, não são as coisas pelas quais ele vive. O cristão não se apega demais a este mundo e seus lidares. Por que? Porque pertence a outro reino e a outro modo de ser. Ele não se retira do mundo; esse foi o erro do monasticismo da Igreja Católica Romana.
O Sermão da Montanha não lhe ordena que fuja da > vida para viver a vida cristã. Porém diz, isto sim, que a sua L atitude é por completo diferente da do não-cristão, por causa da relação que há entre você e Deus, e por causa de sua total dependência dEle.

A Experiência da Presença de Deus – M. Lloyd-Jones

. . .precisamos dar-nos conta de que estamos na presença de Deus. Que significa isso? Significa a percepção de algo de quem Deus é e do que Ele é. Antes de começar a proferir palavras, devemos sempre • proceder assim. Devemos dizer-nos a nós mesmos: «Estou entrando agora na sala de audiências daquele Deus, o Todo-poderoso, o absoluto, o eterno e grande Deus, com todo o Seu poder, força e majestade, aquele Deus que é fogo consumidor, aquele Deus que é luz, e não há nele treva nenhuma, aquele perfeito, absoluto e Santo Deus. É isso que estou fazendo» . . . Mas, acima de tudo, nosso Senhor insiste em que devemos aperceber-nos de que, além de tudo aquilo, Ele é nosso Pai. . .
Oh, que compreendamos essa verdade! Se tão-somente entendêssemos que este Deus onipotente é nosso Pai mediante o Senhor Jesus Cristo! Se tão-somente compreendêssemos que . . .toda vez que oramos é como um filho dirigindo-se a seu pai! Ele sabe todas as coisas que nos dizem respeito; Ele conhece cada uma de nossas necessidades antes que Lhas contemos. . . Ele deseja abençoar-nos muitíssimo mais do que desejamos ser abençoados. Ele tem opinião formada a nosso respeito, Ele tem um plano e um programa para nós, Ele tem uma ambição a favor de nós, digo-o com reverência, uma inspiração que transcende o nosso mais elevado pensamento e imaginação. . .


Ele cuida de nós. Ele já contou os cabelos de nossa cabeça. Ele disse que nada nos pode suceder fora dEle. Depois, é preciso que lembremos o que Paulo declara tão gloriosamente em Efésios 3. Ele é «poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos,, ou pensamos». Esse é o verdadeiro conceito da oração, diz Cristo. Não se trata de ir fazer girar a roda de orações. Não basta contar as contas. Não diga: «Devo passar horas em oração; decidi-me a fazê-lo e tenho que fazê-lo» . . . Temos que despojar-nos dessa noção matemática da oração. O que devemos fazer, antes de tudo, é dar-nos conta de quem é Deus, do que Ele é, e de nossa relação com Ele.

A Autoridade de Jesus Cristo. – M. Lloyd-Jones

A Autoridade de Jesus Cristo. – M. Lloyd-Jones
Os evangelhos foram escritos com um definido e deliberado objetivo em vista. Não foram escritos apenas como registros ou meras coletâneas de fatos. Não. . . Todos eles apre¬sentam o Senhor Jesus Cristo como o Senhor, como Autoridade final.
A mensagem de João Batista era essencialmente idêntica. Ei-lo sozinho, depois de pregar e de batizar o povo no Jordão. . . o povo diz: «Certamente este há de ser o Cristo. Nunca antes ouvimos pregação como esta. Por certo este deve ser o Messias que aguardamos. João se volta para eles... e diz : «Eu não sou o Cristo» ...(Lucas 3.16-18). «Eu sou o precusor, o arauto. Ele é a Autoridade. Ele ainda está por vir.» Como os Evangelhos são cuidadosos quanto a levar avante essa reivindicação!

Há algo mais. . . É o relato que os Evangelhos dão do que aconteceu por ocasião do batismo de nosso Senhor. Ali Ele se submete ao batismo ministrado por João. . . Mas. ... o Espírito Santo desce sobre Ele, como pomba. Mais impor¬tante ainda é aquela Voz. . . «Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo» (Mateus 3.17). ..No Monte da Transfiguração é empregada uma linguagem parecida, mas há um acréscimo da maior significação e importância. . . «. . .a ele ouvi» (Mateus 17.5). . . «Este é Aquele a quem deveis ouvir.

Estais aguardando uma palavra. Estais esperando resposta às vossas perguntas. Estais procurando solução para os vossos problemas. Haveis consultado os filósofos; tendes estado a ouvir; tendes levantado a pergunta: «Onde podemos encon¬trar a autoridade final? Eis a resposta oriunda do Céu, de Deus: «A Ele ouvi». Outra vez, como se vê, Ele é indicado, Ele é posto diante de nós como a última palavra, a Autoridade final, Aquele a quem nos devemos submeter, a quem devemos ouvir

Conhece-te a ti mesmo – Martyn Lloyd-Jones

Todos concordamos em que devemos examinar-nos a nós mesmos, mas também concordamos em que a introspecção e a morbidez são ruins. Mas, qual a diferença entre examinar-nos a nós mesmos e nos tornarmos introspectivos? Entendo que cruzamos a fronteira entre o auto-exame e a introspecção quando, em certo sentido, nada mais fazemos senão examinar-nos, e quando esse auto-exame se torna o fim -dominante e principal da nossa vida. É de esperar que periodicamente procedamos a um exame de nós mesmos; mas se o fazemos sempre, sempre pondo, por assim dizer, nossa alma em um recipiente para dissecá-la, isto é introspecção. E se passamos o tempo todo falando aos outros de nós e de nossos problemas e inquietações, e se vamos toda a vida a eles com uma carranca, dizendo: «Estou com um grande problema», isso bem pode significar que ficamos o tempo todo centralizados em nós mesmos. Isso é introspecção e, por sua vez, leva-nos à condição conhecida como morbidez.

Eis aqui, pois, o ponto de que devemos partir. Conhecemo-nos a nós mesmos? Conhecemos o perigo específico de cada um de nós? Sabemos bem a que estamos especialmente! sujeitos? A Bíblia está repleta de ensinamentos sobre isso. A Bíblia nos exorta a que sejamos cuidadosos quanto à nossa força e à nossa fraqueza. Pensemos, por exemplo, em Moisés. É-nos dito que ele era o homem mais manso que o mundo já conhecera; e contudo. . . seu grande fracasso teve ligação precisamente com esse tema. Afirmou sua própria vontade e se zangou. Temos que vigiar nosso ponto forte, e temos que vigiar nosso ponto fraco. . . Se sou naturalmente introvertido, tenho que tomar cuidado com isso, e devo alertar-me a mim mesmo, não seja o caso de que inconscientemente venha a deslizar para a condição de morbidez.
O extrovertido deve, do mesmo modo, conhecer-se e estar vigilante contra a ten¬tação peculiar à sua natureza. Alguns, por sua natureza e tipo de personalidade que os caracterizam, são mais dados a esta . . .depressão espiritual do que outros. Pertencemos ao mesmo grupo de Jeremias, João Batista, Paulo, Lutero e muitos outros. Grandiosa companhia! Sim. . . mas você não pode fazer parte dela sem estar sujeito a essa exata provação.

Honrando a Pureza de Deus – J. I. Packer

Primeiro, somente por meio do arrependimento constante e profundo nós, pecadores, podemos honrar a pureza de Deus.
O Deus, a quem declaramos amar e servir, tem prazer na justiça e odeia o pecado. A Bíblia é muito clara a esse respeito.
Pois tu não és Deus que se agrade com a iniqüidade, e contigo não subsiste o mal. (SI 5.4)
Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar. (He 1.13)
Abomináveis para o Senhor são os perversos de coração, mas os que andam em integridade são o seu prazer. Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor, mas os que obram fielmente são o seu prazer. (Pv 11.20; 12.22)
Seis coisas o Senhor aborrece (...) olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos. (Pv 6.16-19)
A pureza de Deus é apenas outra matreira de expressar o que foi dito acima. Devemos entender que, ao nos chamar à pureza (SI 24.4; Mt 5.8; lTm 1.5; 5.22; IJo 3.3), Deus está nos exigindo que cultivemos a mesma repulsa no nosso coração.
Portanto a Palavra de Deus para todo o seu povo é: "Aborrecei o mal, e amai o bem" (Am 5.15). "Detestai o mal, apegando-vos ao bem" (Rm 12.9). E a nossa resposta correta é: "Tomara sejam firmes os meus passos, para que eu observe os teus preceitos. (...) detesto todo caminho da falsidade. Jurei e confirmei o juramento de guardar os teus retos juízos. Apartai-vos de mim, malfeitores; quero guardar os mandamentos do meu Deus" (SI 119.5,104,cf. 128,106,115).
Mas como devemos lidar com o fato de que nossa obediência sempre prova ser imperfeita?
Aqueles que negligenciam a disciplina do total arrependimento por seus erros, além do auto-exame regular com o propósito de discernir esses erros, estão agindo como se Deus simplesmente fechasse os olhos para as nossas falhas morais para amigos em Cristo o que é, na verdade, um insulto a ele, uma vez que essa indiferença seria, por si só, uma falha moral. Mas Deus não é moralmente indiferente, e não devemos tratá-lo como se fosse. A verdade é que a única maneira de mostrar verdadeiro respeito pela real pureza de Deus é firmando-nos de fato contra o pecado. Isto não significa apenas um propósito sincero de agradar a Deus pelo zelo de guardar a sua lei, mas também significa arrependimento. E o arrependimento não significa mera rotina de palavras de arrependimento, como as daquele que pede perdão sem envolver o coração, mas uma confissão deliberada, uma auto-humilhação explícita e uma sensação de vergonha na presença de Deus uma vez que se contempla as próprias falhas. Pois a pureza de Deus, como vimos, leva-o a odiar o mal. Sua exigência para que sejamos como ele, requer que também aborreçamos o mal, começando com o mal que achamos dentro de nós mesmos.
Observar um texto bíblico clássico que traça o perfil do arrependimento que vem de dentro nos será útil aqui. No Salmo 51, de acordo com a tradição, Davi publicamente poetiza a penitência que expressou a Deus depois de ter-se convencido do seu pecado na questão de Bate-Seba e Urias. Ele quebrou o décimo mandamento ao desejar a mulher do seu próximo; o oitavo, ao roubá-la; o sétimo, ao adulterar com ela; o nono, indiretamente, ao tentar enganar Urias para que cuidasse da criança que estava por nascer como se fosse sua; e o sexto, diretamente, matando Urias à longa distância. Então, como observamos anteriormente, Davi passou um ano indiferente ao que havia feito até que o profeta Nata, falando em nome de Deus, mostrou-lhe o descontentamento divino pela situação (2Sm 11-12). Mas, no Salmo 51, encontramos um Davi consciente, e que agora expressa total arrependimento em seis etapas distintas:

1. Os versículos 1 e 2 são uma súplica por misericórdia e perdão. Revelam uma verdadeira compreensão da aliança divina. Davi apela ao "inesgotável amor" ("benignidade" e "bondade" em outras traduções) de Deus, ou seja, à fidelidade da aliança divina com quem ele mesmo se comprometeu. A aliança pela qual Deus e os seres humanos se comprometem em pertencer um ao outro para sempre é a base de toda a religião baseada na Bíblia.
Quando os servos de Deus tropeçam e caem, a fidelidade de Deus à aliança para com a qual seus servos foram infiéis é sua única esperança. O relacionamento nesta aliança é, enfaticamente, um dom da graça de Deus.
E ele quem inicia e sustenta essa aliança, suportando todas as loucuras e vícios de seus parceiros que a constituem. Pois os santos de Deus foram, são e continuarão sendo criaturas loucas e pecadoras, que só podem che-gar à sua presença por meio do constante perdão de seus constantes pecados. No entanto, o arrependimento é o único caminho que leva ao perdão.

2. Os versículos 3 a 6 são um reconhecimento da culpa e a punição que merecemos por nossos pecados. Mostram a compreensão do pecado como a perversidade inata do nosso coração que encontra sua expressão nos pecados, atos específicos de maldade e erro aos olhos de Deus. As profundas verdades encontradas aqui são: primeiro, não somos pecadores porque pecamos, mas, pelo contrário, pecamos porque somos pecadores (v. 5,6); segundo, todos os nossos pecados, nossas crueldades e nossas idolatrias são pecados contra Deus (v. 4).

3. Os versículos 7 a 9 são um pranto vindo do coração para a purificação do pecado e anulação da culpa. Mostram a compreensão da salvação como uma obra de Deus que restaura a alegria da comunhão com ele mesmo por meio da convicção de perdão dos pecados. Os "ossos" de Davi (sua própria consciência, quem ele sabe que é) são "esmagados" (incapazes de funcionar propriamente) como conseqüência de sua consciência acusadora. Ele pede que seus "ossos" literalmente "dancem" ("exultem", como encontramos em diversas traduções)por causa desta garantia (v. 8) - uma metáfora vivida para a revitalização da vida interior de uma pessoa que a compreensão de seu pecado produz.

4. Os versículos 10 a 12 são uma petição para a vivificação e renovação em Deus. Mostram uma compreensão da vida espiritual como, em essência, a resposta firme e positiva do espírito do Homem para Deus - uma resposta que é produzida e mantida pelo ministério regenerativo do próprio Espírito de Deus que habita em nós. E a maneira que Deus usa para remover nosso demérito, nossa corrupção e nossos desvios. Ele não nos salva em nossos pecados, mas dos nossos pecados. Aquele a quem ele justifica, também santifica. Onde não existe vestígio algum de um coração puro (um coração que abomina o pecado e que reflete a pureza de Deus) ou de um espírito "voluntário" (uma disposição para honrar e obedecer a Deus, e resistir as tentações do pecado), podemos duvidar se a pessoa está realmente em um estado de graça de qualquer modo. Certamente, buscar uma renovação em justiça e afastar-se do pecado é, daqui em diante, a essência do arrependimento. Sem isto, a pessoa não manifestará contrição, e não é, de modo nenhum, penitente.

5. Os versículos 13 a 17 são uma promessa de proclamar a misericórdia perdoadora de Deus por meio do testemunho e da adoração. Mostram uma compreensão de ministério para Deus e para o nosso próximo: para o santo Deus, por meio do louvor que expressa gratidão; e para os pecadores, pela declaração da graça que salva. Observemos que os santos são salvos para servir - celebrar e compartilhar o que Deus lhes tem dado. Uma dedicação renovada para fazê-lo, além de todas as outras boas obras, é uma prova da realidade do arrependimento.

6. Os versículos 18 e 19 são uma oração que pede a bênção da igreja, a Jerusalém de Deus, o povo na terra que leva o seu nome. Os versículos mostram uma compreensão do que mais agrada a Deus - pecadores salvos, penitentes que agora estão perdoados e prosperam espiritualmente, que são movidos pela gratidão e alegria a oferecer "sacrifícios de justiça" (v. 19). (A idéia aqui é de oferecer presentes a Deus com amor, embora talvez os sacrifícios de novilhos, sobre os quais Davi fala, não sugiram isto para o leitor moderno). A intercessão de Davi por todo o povo de Deus não indica, na verdade, uma mudança do tema da penitência que ele estava expressando anteriormente. A intercessão brota naturalmente das experiências do amor perdoador de Deus que o arrependimento desencadeia. Uma pessoa que sabe que é amada mostrará amor pelos outros, e esse amor irá levá-la a orar por eles.
Davi honrou a pureza de Deus pelo modo como se arrependeu de seus vergonhosos atos. Ao se humilhar, ele reconheceu o desafio que havia lançado, procurou libertação do poder e da culpa de seus pecados e ofereceu-se novamente para realizar a obra de Deus e progredir em seu louvor. Este foi um ato de verdadeiro arrependimento, e, como tal, serve como modelo para nós.
Os cristãos, em seus sonhos e desejos, ainda que não mostrem isto em suas atitudes exteriores, também têm suas falhas no que se refere à cobiça, lascívia, avareza, malícia e engano. Os cristãos, como outros, são tentados a ser indulgentes consigo mesmos, abusar e explorar o seu próximo, usar sua autoridade como um direito no campo dos relacionamentos e, de vez em quando, desejar a morte de outros. Se Deus, em sua providência, nos impede ou não de realizar esses "sonhos" não é a questão. O ponto é que existem os desejos desordenados e quando o nosso coração se envolve com eles, ele está no caminho errado. Este é o motivo pelo qual precisamos nos arrepender.

Algumas formas do assim chamado ensino da santidade nos encorajam a ser insensíveis ou despreocupados com os pensamentos e motivos impuros que estão ocultos dentro de nós, mas um indício da santidade verdadeira é uma consciência crescente desses pensamentos e motivos, um aborrecimento crescente em relação a eles e um profundo arrependimento por eles quando nos vemos fomentando-os no nosso coração. Vimos este santo aborrecimento na vida de John Bradford, e Deus quer vê-lo em nós todos, pois sua pureza não pode ser honrada de outra forma

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Não me, Siga Estou Perdido!

“Se você é sábio, deixe o mundo passar, para não passar com o mundo”. – Agostinho. Esse é um tipo de sabedoria perdida na igreja dos nossos dias. A sociedade humana, sua cultura, o mundo e o poder por trás dele, nunca nos indicará o caminho que nos leva a Deus e a santidade. O grande Puritano Thomas Brooks dizia: “Seria mais fácil fazer os dois pólos se encontrarem do que unir o amor a Cristo e o amor ao mundo”. Ah! Mas como nós temos tentando, como temos tentado! O mundo nunca será parceiro da verdadeira igreja. Está em luta contra ela pois está em luta contra Deus. Isso porque santidade é exatamente o oposto da direção que esse mundo se lança com avidez.
Nosso mundo não é pior do que o dos dias dos apóstolos, Reformadores, Puritanos... Isso sempre foi assim e continuará sendo quando tivermos partido daqui para casa.
Muitas vezes ouvimos na igreja que o homem está buscando Deus em sua busca por prazeres, que busca Deus na transformasção do sexo em um deus, nos bares, boates... MENTIRA! Isso é papo de uma igreja que vê o homem de maneira oposta ao que a Bíblia descreve.
A Bíblia diz: “Não há quem entenda, não há quem busque a Deus” (Rm 3.22).
As culturas tentaram interpretar a busca do homem – sendo mundo, são interpretações patéticas; mas não menos patéticas do que aquela proclamada pelo evangelho moderno e ‘relevante’
A Grécia disse... seja sábio, conheça-se.
Roma disse... seja forte, discipline-se.
O epicurismo diz... seja sensual, goste-se.
A educação diz... seja habilidoso, gaste-se.
A Psicologia diz... seja confiante, realiza-se.
O materialismo diz... seja gastador, agrade-se.
O orgulho diz... seja superior, promova-se.
O ascetismo diz... seja inferior, reprima-se.
A diplomacia diz... seja razoável, controle-se.
O comunismo diz... seja coletivo, regule-se.
O humanismo diz... seja competente, confie em si mesmo.
A filantropia diz... seja altruísta, doe-se
Poderíamos continuar e continuar... Mas onde está Deus nisso tudo? Em que filosofia humana Deus é buscado e reverenciado? Você pode experimentar qualquer prato do pensamento e sabedoria (que os homens acham o máximo ) humana, e descobrirá que Deus jamais esteve no pensamento humano. Se farte no banquete da filosofia humana e terminará com uma indigestão inimaginável.
Com tudo isso, com todas essas tentativas, o que podemos dizer do mundo e de sua filosofia, o Apóstolo Paulo já disse. Apesar de que visão do mundo que a ‘igreja’ acredita hoje, nada tem a ver com a de Paulo. Será ele um pessimista? Vejamos:
“Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados. (2 Timóteo 3:13)
A sua descrição da sociedade é: Porque também nós éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros. (Tito 3:3).

A comida servida no banquete da filosofia do mundo pode até cheirar bem e satisfazer seu retórico paladar durante o tempo em que você estiver entre os insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros... mas depois deixará você no mesmo lugar que estava antes...

Em que essas filosofias podem ajudar na proclamação do Reino do amor e da santidade de Deus? Esqueça, nenhum homem O está buscando. O homem desde o princípio não BUSCA Deus, ele FOGE de Deus desde o Paraíso.
A igreja faz hoje uma salada de todas essas buscas e finge estar proclamando o Evangelho.
A reação da igreja ao mundo devia ser a mesma que Daniel teve na Babilônia: “Resolveu Daniel, firmemente, não se contaminar com as finas iguarias do rei” (Dn 1.8) – Ele não apenas rejeitou as iguarias grosseiras da Babilônia, recusou as finas iguarias também– Como os que se dizem protestantes hoje adoram as finas iguarias – buscam a Deus para obtê-las. Poder, diversão, dinheiro entretenimento, sexo... A busca da igreja hoje e a busca do mundo é a mesma, não admire eles terem dado as mãos.
Você não tira nenhum proveito de qualquer entrevista com qualquer pop evangélico – Pastor, cantor,...
Mas imagine Daniel sendo entrevistado na babilônia – viaje no tempo:
Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei. Daniel 1:8
- Bem-vindos ao Babilônia Hoje, o jornal de notícias, cultura e entretenimento do império babilônico! - Uma jornalista loira senta-se em frente a um cenário de pôr-do-sol, sorrindo atrás de uma camada de maquiagem. - Nosso primeiro convidado de hoje - diz a mulher - é o criador da popular "Dieta de Daniel", uma nova onda de saúde que está conquistando o império. - Ela vira na cadeira e a câmera focaliza um jovem rapaz, vestido com roupas finas, sentado ao lado dela. - Conte para nós - ela diz - como surgiu esta dieta.
Ele encolhe os ombros e quase não consegue abrir os olhos com a claridade das luzes. - Eu, bem, não foi minha intenção começar esta onda - ele diz. - Eu estava treinando para o serviço do rei...
- Do nosso rei Nabucodonosor - longa vida ao rei! - diz a mulher sorrindo para a câmera.
- Ah! é - responde Daniel. - Bom, quando estávamos treinando, eles nos deram refeições muito fartas de carne, gordura e vinho. Mas, veja bem, eu sou um judeu, e um judeu tem fortes restrições alimentares. Para encurtar a história, eu pedi ao homem encarregado de nosso treinamento permissão para comer coisas saudáveis.

- Você recusou a comida do rei? - a mulher perguntou. - Você não teve medo?
Daniel concorda com a cabeça. - Acho que sim. Mas eu já tinha me decidido a não me contaminar. - Ele vira e encara a câmera. - E muito mais fácil fazer a coisa certa quando você se decide com antecedência. Eu decidi, quando fui trazido a este país, que eu não esqueceria o meu Deus e os mandamentos que Ele deu. Quando eu comecei o treinamento para o serviço do rei, eu sabia que a comida seria um problema. Então eu decidi o que fazer antes que viesse a tentação. Isto facilitou evitar a comida do rei e só comer produtos vegetais e água.
- Você - você mandou a comida de volta para a cozinha do rei? - perguntou a mulher encarando Daniel como se ele tivesse duas cabeças. Ela limpou a garganta e sorriu um pouco nervosa. - Ahn! mui-muito obrigada por ter contado esta história... Ãhn, nós voltaremos após o intervalo.
Como aqueles que são nutridos pelo mundanismo pregado nos cultos hoje agiriam se fossem, como gostam de dizer – “honrados” com as iguarias finas de Nabucodonosor? Diriam que comeriam, e participariam plenamente daquela cultura para tornar Deus e a Verdade dele ‘relevante’ na Babilônia.
Desculpas! Desculpas para sermos simplesmente mundanos. Se alguém mostrou a santidade e a verdade de Deus a sua geração, esse foi Daniel.
Nosso mundo é agitado em excesso, mas como diz Rollo May sobre a busca dos homens hoje: “É irônico o hábito dos seres humanos correr rapidamente quando estão perdidos”.
O que acontece todos os dias? Olhe no escritório onde você trabalha... você verá sem dúvida um exemplo vivo de alguém correndo e buscando – NÃO A DEUS – mas satisfação interior. Ao sair de casa, olhe para os lados... rugido de automóveis... olhe as casas ao redor... Topa essa agitação e busca – Deus não faz parte dela.
Todo esse barulho mostra pessoas que de tragédia em tragédia, filosofia em filosofia, não sabem mais onde estão. Podem se esforçar, mas quanto mais aumentam a velocidade mas cegas, entediadas e confusas elas são. Tudo que você pensar está sendo tentado... menos a verdadeira busca de Deus – “não há quem o busque” –
“A massa humana leva uma vida de desespero silencioso” – diz Henry Thoreau.
E qual mensagem a igreja do evangelho relevante, ou gospel, do entretenimento, da cobiça, do amor ao dinheiro... está proclamando hoje? Caminho que o homem mesmo em sua depravação total pode buscar sem ajuda divina. Estar perdida no mesmo ponto que o mundo faz a igreja está mais perdida que o mundo.
Se houvesse o mínimo de sinceridade no evangelho moderno e relevante ( e muitos tentam esconder a cobiça mundana dizendo que as pessoas que a propagam são sinceras apesar do erro) – a igreja moderna e relevante escreveria nas suas portas os dizeres que vi num carro – NÃO ME SIGA... ESTOU PERDIDO!
Assim a igreja moderna e relevante ajudaria mais o mundo, pois pelo menos não os faria perder suas almas chancelando suas cobiças com clichês gospel.
NÃO ME SIGA... ESTOU PERDIDO! Que bela frase para descrever o evangelicalismo moderno.
Pilatos, famoso governador da Judéia, ficou cara a cara com Jesus de Nazaré – o Deus encarnado. No meio de todo aquele processo ouviu Jesus dizer: “todos aqueles que são da verdade...” – Pilatos interrompeu: “O que é a verdade?” – Essa pergunta pesada está pendurada no fino cabo da razão nos pensamentos de muitos nesse instante. Pilatos nunca esperou por uma resposta – o mundo hoje e a igreja moderna também não.
Era só retórica vazia de um homem que já estava decidido agradar a multidão, manter seu poder, pompa, riqueza...
Ninguém com essa propósito esperará a resposta – não é isso que está buscando. Mesmo que tivessem, como Pilatos, a oportunidade de estar cara a cara com o Deus encarnado – que dirá ouvindo algumas vozes clamando no deserto.

Spurgeon disse com razão: “Os adeptos da Teologia Moderna dizem: "As maravilhas nunca cessarão"; mas tais maravilhas nunca começaram”.
Devemos lembrar o que o mundanismo por mais fino (finas iguarias) que seja representam: Ao escolhermos a miséria, por mais belamente disfarçada que se mostre, escarnecemos do Deus que dá vida.- John Piper


Josemar Bessa

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sem Desculpas! - John Flavel - (1628-1691)

Desde o momento em que Deus interrogou Adão e Eva sobre o primeiro pecado, os homens e mulheres têm apresentado desculpas pelo seu comportamento. Aqui estão algumas dessas desculpas que apresentam quando resmungam.
"Não estou me queixando, apenas estou expondo os fatos". É ótimo que os cristãos olhem para sua situação de forma realística; todavia, eles não deveriam resmungar. Pelo contrário, estar conscientes dos fatos é estar ciente do quanto Deus é grande em Sua misericórdia para com eles. Se pensam mais sobre seus problemas do que sobre as misericórdias de Deus, então eles têm uma visão distorcida dos fatos. Estar ciente dos fatos não impede o cristão de servir a Deus como ele deve servi-Lo, mas o resmungar sim, isso impede. Sejamos realistas, encaremos os fatos, mas isso deveria tornar-nos gratos a Deus, não apenas pelo que Ele nos tem feito, mas também por aquilo que Ele tem feito para outras pessoas. Se nós as invejarmos, isso mostra que estamos pensando demais sobre nossos problemas e não suficientemente sobre a bondade de Deus.
"Eu não estou reclamando: somente estou consciente do peca do". É fácil dizer isso, porém se a causa do pecado for tirada, o suposto senso de transgressão desaparece, e isso simplesmente mostra que não houve nenhuma convicção real de pecado. Cristãos que de fato estão preocupados sobre o pecado não desejarão acrescentar nada à sua culpa por resmungar; pelo contrário, eles se sentirão felizes submetendo-se à disciplina de Deus.
"Sou infeliz porque sinto que Deus não está comigo". Mas só porque estamos sofrendo, não significa que Deus nos abandonou. Um pai não se vira contra o filho porque ele teve de discipliná-lo. Deus prometeu estar com Seu povo, especialmente em tempos de tribulações. "Quando passares pelas águas, estarei contigo; quando passares pelos rios, eles não te submergirão" (Isaías 43:2). Portanto Deus está junto na situação, porém pode ser que às vezes os cristãos não o sintam porque seu espírito de murmuração afastou deles o senso da presença de Deus. Se quiserem senti-10 perto, devem ficar quietos e obedientes e ter o zelo de ser o tipo de pessoa que Ele deseja que Seus filhos sejam.
"Não é o sofrimento, e sim a atitude de outras pessoas que não consigo suportar". Até mesmo a atitude das outras pessoas está sob o controle de Deus; inclusive os perversos podem ser usados para Seus propósitos, embora os cristãos devessem lembrar de que os ímpios estão sob o julgamento de Deus, e deveriam ser motivo de suas orações. Não importa quão severo seja o tratamento recebido de outras pessoas, os cristãos deveriam sempre lembrar que Deus jamais deixa de ser bom para com Seus filhos. Eles deveriam louvá-lO: não há desculpas para a murmuração
"Jamais esperava isso". Os cristãos devem esperar problemas nesta vida e precisam estar preparados para os momentos de dificuldades, para que quando vierem eles possam estar prontos para enfrentá-los. E quantas vezes eles são capazes de dizer: "Jamais esperava isso", quando Deus tem sido especialmente bom para com eles!
"Meu problema é pior do que os dos outros". Como você sabe disso, meu amigo? Talvez sua murmuração o tenha levado a exagerar. Mas supondo que seja o caso, isso indica que Deus lhe deu uma oportunidade de glorificá-lO ainda maior do que a que deu aos outros. Quando os incrédulos virem como você enfrenta um grande problema, eles louvarão a Deus e talvez sejam auxiliados com problemas menores.
"Meu problema não me deixa servir a Deus". Às vezes ocorre que os cristãos não conseguem servir a Deus como gostariam devido às circunstâncias que enfrentam. É bom querermos servir a Deus, e é natural ficarmos tristes quando não conseguimos isso. Mas isso não é desculpa para murmuração. Somos membros do corpo de Cristo. É melhor ser um membro inexpressivo do corpo de Cristo do que ser uma pessoa importante, a qual não é membro desse corpo. Todos os cristãos têm um chamado espiritual para cumprir, não importa quão insignificantes eles pensem que sejam. Deus Se alegra mais com os atos mais simples de um cristão humilde do que com todas as obras mais famosas da história. O que Ele exige não é fama ou realizações brilhantes, e sim fidelidade e paciência. Os que demonstram tais qualidades serão recompensados no céu. Quando cristãos humildes vêem isso, percebem que não têm razões para resmungar.
"Não agüento minhas circunstâncias, porque elas sempre são instáveis". Se as nossas circunstâncias são incertas talvez a razão seja para nos ensinar a confiar em Deus em cada passo do caminho. De qualquer forma nosso estado espiritual é seguro, e nossa vida eterna assegurada. Enquanto isso, Cristo nos concede muitas bênçãos, "pois todos nós temos recebido da sua plenitude, e graça sobre graça" (João 1:16).

"Eu era rico mas agora sou pobre". Isso não é desculpa para murmuração. Você não consegue ser grato pelo fato de ter sido rico e ter tido a oportunidade de se preparar para esse tempo de pobreza? Ou que você uma vez desfrutou de boa saúde e teve a oportunidade de se preparar para esse período de enfermidade? Ou que esteve em liberdade e teve a oportunidade de se preparar para esse tempo de perseguição? Um navegador experiente utiliza os dias de calmaria para preparar seu barco para enfrentar a tempestade. Deus não tem obrigação de dar coisa alguma aos cristãos, por isso deveriam ser gratos pelas bênçãos imerecidas que receberam, tanto no passado quanto no presente. Seria justo murmurar por causa de umas peque nas adversidades ocorridas numa jornada que doutra forma, teria sido satisfatória? Mas talvez o que realmente esta desculpa signifique seja: "Suportei terríveis dores para conquistar isso e não é justo que eu o perca". No entanto, antes que os cristãos se preocupem com qualquer coisa, deveriam certificar-se que têm a atitude correta para com ela. Eles devem estar dispostos a abrir mão daquilo que ambicionam se outra coisa que honre mais a Deus for o que realmente seja melhor para eles.

A Justificação leva a Santificação - Richard Sibbes (1577 - 1635)

             Quão desencaminhados estão aqueles que fazem Cristo ser-nos somente justiça e não santificação, exceto por imputação, já que é uma grande parte de nossa felicidade estar sob um tal Senhor, que não somente nos nasceu, e foi para nós dado, mas tem, da mesma forma, o governo sobre seus ombros (Is 9.6,7, ARA). Ele é nosso Santificador tanto quanto nosso Salvador, nosso Salvador também pelo poder eficaz de seu Espírito sobre o poder do pecado, também pelo mérito da morte dele sobre a culpa disso; conquanto que estas coisas sejam lembradas:
1. O primeiro e principal fundamento de nosso conforto é que Cristo, como sacerdote, ofereceu-se como sacrifício a seu Pai por nós. A alma culpada foge primeiramente para Cristo crucificado, feito maldição por nós. Por isso é que Cristo tem direito de nos governar; por isso é que ele nos dá seu Espírito como nosso guia para nos conduzir ao lar.
2. No curso de nossa vida, após estarmos em um estado de graça, se somos surpreendidos em qualquer pecado, devemos lembrar de recorrer primeiro à misericórdia de Cristo para nos perdoar e, então, à promessa de seu Espírito para nos governar.
3. E, quando nos sentirmos frios na afeição e no dever, a melhor maneira é nos aquecermos nesse fogo de seu amor e misericórdia, ao dar a si mesmo por nós.
4. Outra vez, lembre-se disto, que Cristo nos rege por um espírito de amor, de um sentido de seu amor, pelo qual seus mandamentos nos são fáceis. Ele nos conduz por seu livre Espírito, um Espírito de liberdade. Seus súditos são voluntários. A coação que ele põe sobre eles é a de amor. Ele nos atrai docemente com as cordas de amor. Todavia, lembre-se também que ele nos atrai fortemente por um Espírito de poder, pois não é bastante que tenhamos motivos e encorajamentos para amar e obedecer a Cristo daquele seu amor, pelo qual ele se deu por nós para nos justificar; porém, o Espírito de Cristo precisa, igualmente, submeter nossos corações, e santificá-los para amá-lo, sem o que todos os motivos seriam ineficazes.
Nossa disposição deve ser transformada. Devemos ser novas criaturas. Buscam pelo céu no inferno aqueles que procuram amor espiritual em um coração não mudado. Quando uma criança obedece a seu pai é por motivo da persuasão dele e, igualmente, de uma natureza infantil que corrobora aquela. É natural para um filho de Deus amar Cristo visto ser ele regenerado, não apenas por persuasão da razão para assim amar, mas, igualmente, por um princípio e obra da graça interiores, de onde tais causas têm sua força principal. Primeiro, somos feito participantes da natureza divina, e depois somos facilmente induzidos e guiados pelo Espírito de Cristo às obrigações espirituais.



Fonte: josemarbessa.com

Implicações da Eternidade de Deus – Thomas Watson (1620-1686)

                Aqui está um trovão e um relâmpago para o ímpio. Deus é eterno, portanto os tormentos do ímpio são eternos. Deus vive para sempre e pelo tempo que viver punirá o condenado. A conseqüência deve ser como a da escrita na parede: "as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos batiam um no outro" (Dn 5.6). O pecador peca com liberdade, quebra a lei de Deus como uma fera selvagem que estoura a cerca e entra em pasto proibido. O pecador peca insaciavelmente, o mais rápido que pode (Ef 4.19). Mas lembre-se, um dos nomes de Deus é Eterno e, conquanto seja eterno, tem tempo suficiente para tratar de todos os seus inimigos. Para fazer os pecadores tremerem. Que pensem nestas três coisas: os tormentos do condenado são ininterruptos, são puros e são eternos.
              Os tormentos dos condenados são ininterruptos. Suas dores devem ser agudas e pungentes, sem alívio. O fogo não deverá se apaziguar ou cessar. "E não têm descanso algum, nem de dia nem de noite" (Ap 14.11). É como alguém colocado numa máquina de esticar, que estica continuamente, que não tem descanso. A ira de Deus é comparada a um ribeiro de enxofre (Is 30.33). Por que um ribeiro? Porque um ribeiro corre sem cessar, a ira de Deus flui assim como um ribeiro que manda água sem cessar. Nas dores desta vida há abatimento e alívio. A febre passa, uma convulsão vem, mas passa e o paciente fica tranqüilo. Contudo, as dores do inferno são na mais alta intensidade e na pior violência. A alma condenada nunca dirá que está mais tranqüila que antes.
Os tormentos dos condenados são sem misturas. O inferno é um lugar de pura justiça. Nesta vida, Deus, quando irado, lembra-se da misericórdia e mistura compaixão com sofrimento, à semelhança da tribo de Aser, cujos sapatos eram de ferro, porém, imersos no azeite (Dt 33.25). A aflição é o sapato de ferro, mas a misericórdia está misturada com a aflição. Mas, os tormentos do condenado não têm mistura alguma. "Esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado sem mistura, do cálice da sua ira" (Ap 14.10). Nenhuma mistura de misericórdia. Contudo, o cálice da ira também está cheio de mistura. "Porque na mão do SENHOR há um cálice cujo vinho espuma, cheio de mistura, dele dá a beber; servem-no, até às escórias, todos os ímpios da terra" (SI 75.8). O livro de Apocalipse diz que é sem mistura e no salmo diz que não. O cálice é cheio de mistura no que se refere aos ingredientes que o fazem amargo. O bicho, o fogo, a maldição de Deus são ingredientes hostis. O cálice é misturado e, ao mesmo tempo. puro. Não haverá nada que possa produzir consolo, nenhuma mistura de misericórdia, por isso é sem mistura. Na oferta de ciúmes (Nm 5.15), nenhum azeite era adicionado, da mesma maneira nos tormentos do condenado, não há azeite de misericórdia para fazer cessar seus sofrimentos.
Os tormentos dos condenados são eternos. Os prazeres do pecado só duram um período, mas os tormentos do ímpio são para sempre. Pecadores têm uma alegria passageira, mas uma longa retribuição. Orígenes4" erroneamente pensou que após mil anos o condenado deveria ser liberto de suas misérias, porém o verme, o fogo e a prisão são eternos. "A fumaça de seu tormento sobe pelos séculos dos séculos" (Ap 14.11). Próspero48 (da Aquitânia) disse assim: "Os tormentos do inferno punem continuamente, nunca terminam".
A eternidade é um mar sem fundo e sem praias. Depois de milhões de anos, não há sequer um minuto desperdiçado na eternidade. O condenado deve ser queimado para sempre, mas nunca consumido, sempre morrendo, mas nunca morto. "Os homens buscarão a morte e não a acharão" (Ap 9.6). O fogo do inferno é um fogo que multidões de lágrimas não o saciarão, uma grande quantidade de tempo não o findará. O frasco da ira de Deus sempre gotejará sobre o pecador. Conquanto Deus seja eterno, vive para se vingar do ímpio.
Oh! eternidade! Eternidade, quem pode medi-la? Os marinheiros têm suas sondas para medir as profundezas do mar, mas que linha ou que sonda usaremos para medir a profundeza da eternidade? O sopro do Senhor alimenta o lago infernal (Is 30.33). Onde encontraremos bombas d'água ou baldes para apagar tal fogo? Oh! eternidade! Se toda a massa da terra e do mar fosse transformada em areia, e todo o ar até o céu estrelado fosse areia, e um pequeno pássaro viesse a cada mil anos e apanhasse com o bico a décima parte de um grão de toda essa imensidão de areia, seriam necessários inúmeros anos até que a imensidão de areia fosse toda transportada. Porém, se ao final de todo esse tempo, o pecador pudesse sair do inferno, haveria alguma esperança, mas a palavra "sempre" quebra o coração. "A fumaça de seu tormento sobe pelos séculos dos séculos." Que terror é isso para o ímpio, o suficiente para fazê-lo suar frio e pensar. Conquanto Deus seja eterno, vive para se vingar do ímpio.
Aqui pode ser feita uma pergunta: Por que um pecado que é cometido por pouco tempo deve ser punido eternamente? Devemos entender como Agostinho que "os julgamentos de Deus sobre o ímpio podem ser secretos, mas nunca injustos". A razão pela qual um pecado cometido em um curto espaço de tempo é eternamente punido é que cada pecado é cometido contra a infinita essência, e nada menos que a punição eterna pode satisfazê-lo. Se a traição contra a pessoa de um rei, que é sagrada, é punida com o confisco e a morte, muito mais contra a coroa e a dignidade de Deus, que é de uma natureza infinita e cheia de ira contra o pecado. Não pode ser satisfeita com menos que a punição eterna.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

AS DEZ PRAGAS

Estas terríveis pragas tiveram por fim levar Faraó (Faraó, era o título dado ao monarca do Egito) a reconhecer e a confessar que o Deus dos hebreus era supremo, estando o seu poder acima da nação mais poderosa que era então o Egito (Ex 9.16; 1Sm 4.8) cujos habitantes deveriam ser julgados pela sua crueldade e grosseira idolatria.
1 - Águas em Sangue:

Os egípcios tributavam honras divinas ao rio Nilo, e reverenciavam-no como o primeiro dos seus deuses. Diziam que ele era o rival do céu, visto como regava a terra sem o auxílio de nuvens e de chuva. O fato de se tornar em sangue a água do sagrado rio, durante sete dias, era uma calamidade, que foi causa de consternação e terror. (Ex 7.14...)
2- A praga das rãs:

Na praga das rãs foi o próprio rio sagrado um ativo instrumento de castigo, juntamente com outros dos seus deuses. A rã era um animal consagrado ao Sol, sendo considerada um emblema de divina inspiração nas suas intumescências. O repentino desaparecimento da praga foi uma prova tão forte do poder de Deus, como o seu aparecimento. (Ex 8.1...)
3- Piolhos:

A praga dos piolhos foi particularmente uma coisa horrorosa para o povo egípcio, tão escrupulosamente asseado e limpo. Dum modo especial os sacerdotes rapavam o pelo de todo o corpo de três em três dias, a fim de que nenhum parasitos pudessem achar-se neles, enquanto serviam os seus deuses. Esta praga abalou os próprios magos, pois que, em conseqüência da pequenez desses insetos, eles não podiam produzi-los pela ligeireza de mãos, sendo obrigados a confessar que estava ali o "dedo de Deus" (Ex 8.19).
4- Moscas:

As três primeiras pragas sofrem-nas os egípcios juntamente com os israelitas, mas por ocasião da separou Deus o povo que tinha escolhido (Ex 8.20-23). Este milagre seria, em parte, contra os sagrados escaravelhos, adorados no Egito.
5- Peste no gado:

A quinta praga se declarou no dia seguinte, em conformidade com a determinação divina (Ex 9.1). Outra vez é feita uma distinção entre os egípcios e os seus cativos. O gado dos primeiros é inteiramente destruído, escapando à mortandade o dos israelitas. Este milagre foi diretamente operado pela mão de Deus, sem a intervenção de Arão, embora Moisés fosse mandado a Faraó com o usual aviso.
6- Úlceras e tumores:

(Ex 9.8) A sexta praga mostra que, da parte de Deus, tinha aumentado a severidade contra um monarca obstinado, de coração pérfido. E aparecia agora também Moisés como executor das ordens divinas; com efeito, tendo ele arremessado no ar, na presença de Faraó, uma mão cheia de cinzas, caiu uma praga de úlceras sobre o povo. Foi um ato significativo. A dispersão de cinzas devia recorda aos egípcios o que eles costumavam fazer no sacrifício de vítimas humanas, concorrendo o ar, que era também uma divindade egípcia, para disseminar a doença.
7- A Saraiva:

(Ex 9.22) Houve, com certeza. algum intervalo entre esta e a do nº 6, porque os egípcios tiveram tempo de ir buscar mais gado à terra de Gósen, onde estavam os israelitas. É também evidente que os egípcios tinham por esta ocasião um salutar temor de Deus de Israel, e a tempo precaveram-se contra a terrível praga dos trovões e da saraiva. (Ex 9.20).
8- Os gafanhotos:

Esta praga atacou o reino vegetal. Foi um castigo mais terrível que os outros, porque a alimentação do povo constava quase inteiramente de vegetais. Nesta ocasião os conselheiros de Faraó pediram com instância ao rei que se conformasse com o desejo dos mensageiros de Deus, fazendo-lhes ver que o país já tinha sofrido demasiadamente (Ex 10.7). Faraó cedeu até certo ponto, permitindo que somente saíssem do Egito os homens; mas mesmo isto foi feito com tão má vontade que mandou sair da sua presença a Moisés e Arão (Ex 10.7-11). Foi então que uma vez mais estendeu Moisés o seu braço à ordem de Deus, cobrindo-se a terra de gafanhotos, destruidores de toda a vegetação que tinha escapado da praga da saraiva. Outra vez prometeu o monarca que deixaria sair os israelitas, mas sendo a praga removida, não cumpriu a sua palavra.
9- Três dias de escuridão:

A praga das trevas mostraria a falta de poder do deus do sol, ao qual os egípcios prestavam culto. Caiu intempestivamente a nova praga sobre os egípcios, havendo uma horrorosa escuridão sobre a terra durante 3 dias (Ex 10.21). Mas, os israelitas tinham luz nas suas habitações. Faraó já consentia que todo o povo deixasse o Egito, devendo contudo, ficar o gado. Moisés, porém rejeitou tal solução. Sendo dessa forma a cegueira do rei, anunciou a última e a mais terrível praga que seria a destruição dos primogênitos do Egito (Ex 10.24-11.8). Afastou-se Moisés irritado da presença de Faraó cujo coração estava ainda endurecido (Ex 11.9,10).

10- A morte dos primogênitos:

Foi esta a última e decisiva praga (Ex 11.1). E foi, também, a mais claramente infligida pela direta ação de Deus, não só porque não teve relação alguma com qualquer fenômeno natural, mas também porque ocorreu sem a intervenção de qualquer agência conhecida. Mesmo as famílias, onde não havia crianças, foram afligidas com a morte dos primogênitos dos animais. Os israelitas foram protegidos, ficando livres da ação do anjo exterminador, pela obediência às especiais disposições divinas.



Dicionário Bíblico Universal

Anjos, Querubins & Serafins

1- ANJOS


Seres celestiais mais elevados do que o homem em dignidade, Sl 8.6; Hb 2.7, que não se casam nem se dão em casamento, Mt 22.30. Pela sua natureza, são chamados filhos de Deus, pelo menos em poesia, Jó 1.6; 37.7, e pelo seu caráter, são chamados santos, Jó 5.1; Si 89.5,7. O seu oficio é determinado pela palavra anjo. Em outros livros da Bíblia, há indícios de duas categorias de anjos em oficio e dignidade, como sejam os arcanjos (chefes) e outros de inferior posição, 1Ts 4.16; Jd 9. Estas duas classes não são as únicas. Há os anjos caídos e os que não caíram; há tronos e domínios, principados e potestades, Rm 8.38; Ef 1.21; 3.10; Cl 1.16; 2.15. Querubins e Serafins, todos os quais parecem pertencer à classe angélica.

As forças inanimadas da natureza pelas quais se opera todo o movimento econômico do universo são mensageiros de Deus, Sl 104.4. A pestilência e a morte, quando obedecem a atos especiais do governo divino, são representadas como operando sob a direção dos anjos, 2Rs 24.16; 19.25; Zc 1.7-17. Escapando à vista humana, acampam-se a roda dos que temem a Deus, Sl 34.7; Gn 28.12; 48.16; 2Rs 6.17; Is 43.9.

O Anjo do Senhor apareceu em forma humana a Abraão, a Agar, a Ló, a Moisés e a Josué; aos israelitas em Boquim, a Gideão e a Manoé. Um anjo do Senhor apareceu a Elias e a Daniel. Os anjos ocupam lugar saliente na história de Jesus, anunciando o seu nascimento e o de seu precursor, proclamando o seu advento aos pastores, servindo-o depois de sua vitória no deserto e de sua angústia no jardim, Lc 22.43, Foram ainda os anjos que deram as boas novas aos discípulos na ressurreição e ascensão. Um anjo assistiu a Pedro, outro a Paulo.

Alguns destes mensageiros de Deus são conhecidos pelos seus nomes, como Gabriel, Dn 8.16; 9.21; Lc 1.19,20: e Miguel, Dn 10.13,21; Jd 9; Ap 12.7. Há alguns anjos, enviados a executar ordens divinas, que são chamados Anjo do Senhor, 2Sm 24.16: 1Rs 19.5-7. Também se menciona um anjo, que em certas circunstâncias parece ser distinto de Jeová e que, no entanto se identifica com ele, Gn 16.10,13,14,33; 22.11,12,15,16; 31.11,13; Ex 3.2,4; Js 5.13-15; 6.2; Zc 1.10-13: 3.1,2. Assim, em Gn 32.30, se menciona um anjo em que se revelava a face de Jeová que tinha o nome de Jeová, e cuja presença equivalia a presença de Jeová, Gn 22.11; Ex 32:14: 33.14; Is 63.9. O anjo do Senhor aparece como uma manifestação de Jeová, um com ele e, todavia diferente dele.

2- QUERUBINS

Nome do guardião que o Senhor pôs à entrada do Éden para impedir que nossos primeiros pais se aproximassem da árvore da Vida, depois de serem expulsos do Paraíso, Gn 3.24. Quando se construiu a Arca para o Tabernáculo, foram trabalhados dois querubins, feitos de puro ouro, e colocados sobre a arca com as faces voltadas um para o outro, e cobrindo-a com as asas estendidas, Ex 25.18-20; 37.7-9.

Simbolizavam a presença de Jeová, cuja glória se manifestava entre eles, Lv 16.2, e que habitava no meio de seu povo, estando presente no tabernáculo para receber a sua adoração, Ex 25.22; Lv 1.1. Há freqüentes referências à habitação de Jeová entre querubins, Nm 7.89; 1Sm 4.4; 2Sm 6.2; 2Rs 19.15; Sl 80.1; 99.1; Is 37.16. As cortinas do Tabernáculo eram bordadas com as figuras de querubins, Ex 26.1.

No oráculo do Templo foram postos dois gigantescos querubins de quase seis metros de altura, cujas asas estendidas tinham igual comprimento à altura. Eram feitos de pau de oliveira e cobertos de ouro, 1Rs 6.23-28; 8.7; 2Cr 3.10-13; 5.7,8; Hb 9.5.

As paredes do Templo eram esculpidas em roda de entalhes e molduras, com querubins e palmas, 2Rs 6.29, Em um poema, Davi representa Jeová montado sobre querubins e voando sobre as asas dos ventos, 2Sm 22.11; Sl 18.10. Ezequiel teve uma visão de querubins perto do rio Cobar, cada um deles tinha quatro faces e quatro asas, Ez 10.1-22; comp. 9. 3. Os quatro querubins parecem ser idênticos às criaturas que ele viu, cada uma com quatro faces com rosto de homem, rosto de leão, rosto de boi e rosto de águia, cp. 1.5-12; com 10.20,21.

Estes querubins sustentavam o trono de Jeová, 1.26-28; 9.3. Finalmente, o apóstolo João descreve no Apocalipse quatro animais com rostos semelhantes aos já descritos, Ap 4.6-9. Em toda a Bíblia os querubins são apresentados como seres, entes animados, com a inteligência de homem, com a força do boi, com a coragem do leão e com movimentos livres como a águia para dominar o espaço. Eles representam uma ordem de anjos.

3- SERAFINS

Nome de entes celestiais que estavam à roda do trono de Deus, na visão de Isaías. Cada um deles tinha seis asas: com duas cobria a face, e com outras duas cobriam os pés e com duas voavam. E clamavam um para o outro, e diziam: “Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dos Exércitos cheia está toda a terra da sua glória”, Is 6. 2,3.

Tendo o profeta confessado ser homem de lábios impuros, um dos serafins voou para ele levando na mão uma brasa viva, que havia tomado do altar com uma tenaz, e tocou com ela a boca do profeta dizendo: “Eis aqui tocou esta brasa os teus lábios, e será tirada a tua iniqüidade, e lavado será o seu pecado”.A Escritura nada mais diz a respeito de serafins, senão o que se contém nesta passagem. Quem eram eles? Os serafins eram uma ordem superior de anjos, segundo o entendimento dos judeus.



Fonte: Dic. Bíblia John Davis

O CHAMADO DOS APÓSTOLOS

No começo do seu ministério Jesus escolheu doze homens que o acompanhassem em suas viagens. Teriam esses homens uma importante responsabilidade: Continuariam a representá-lo depois de haver ele voltado para o céu. A reputação deles continuaria a influenciar a igreja muito depois de haverem morrido.


Por conseguinte, a seleção dos Doze foi de grande responsabilidade. "Naqueles dias retirou-se para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. E quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolo" (Lc 6.12-13).

A maioria dos apóstolos era da região de Cafarnaum, desprezada pela sociedade judaica refinada por ser o centro de uma parte do estado judaico e conhecida, em realidade, como "Galiléia dos gentios". O próprio Jesus disse: "Tu, Carfanaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao inferno" (Mt 11.23). Não obstante, Jesus fez desses doze homens líderes vigorosos e porta-vozes capaz de transmitir com clareza a fé cristã. O sucesso que eles alcançaram dá testemunho do poder transformador do Senhorio de Jesus.

Nenhum dos escritores dos Evangelhos deixou-nos traços físicos dos doze. Dão-nos, contudo, minúsculas pistas que nos ajudam a fazer "conjeturas razoáveis" sobre como pareciam e atuavam. Um fato importante que tem sido tradicionalmente menosprezado em incontáveis representações artísticas dos apóstolos é sua juventude. Se levarmos em conta que a maioria chegou a viver até ao terceiro e quarto quartéis do século e que João adentrou o segundo século, então eles devem ter sido não mais do que jovens quando aceitaram o chamado de Cristo.
Os apóstolos foram:

1) André;

2) Bartolomeu (Natanael);

3) Tiago (Filho de Alfeu);

4) Tiago (Filho de Zebedeu);

5) João;

6) Judas (não o iscariotes);

7) Judas Iscariotes;

8) Mateus;

9) Filipe;

10) Simão Pedro;

11) Simão Zelote;

12) Tomé;

13) Matias (Substituindo a Judas e depois veio aquele que seria um fora de tempo: Paulo)



                                              Resumo sobre a vida dos Apóstolos:

1) André

No dia seguinte àquele em que João Batista viu o ES descer sobre Jesus, ele o apontou para dois de seus discípulos, e disse: "Eis o Cordeiro de Deus" (Jo 1.36). Movidos de curiosidade, os dois deixaram João e começaram a seguir a Jesus. Jesus notou a presença deles e perguntou-lhes o que buscavam. Responderam: "Rabi, onde assistes?" Jesus levou-os à casa onde ele se hospedava e passaram a noite com ele. Um desses homens chamava-se André (Jo 1.38-40). André foi logo à procura de seu irmão, Simão Pedro, a quem disse: "Achamos o Messias..." (Jo 1.41). Por seu testemunho, ele ganhou Pedro para o Senhor.

André é tradução do grego Andreas, que significa "varonil". Outras pistas do Evangelhos indicam que André era fisicamente forte, e homem devoto e fiel. Ele e Pedro eram donos de uma casa (Mc 1.29) Eram filhos de um homem chamado Jonas ou João, um próspero pescador. Ambos os jovens haviam seguido o pai no negócio da pesca. Eram Pescadores.

André nasceu em Betsaida, nas praias do norte do mar da Galiléia. Embora o Evangelho de João descreva o primeiro encontro dele com Jesus, não o menciona como discípulo até muito mais tarde (Jo 6.8). O Evangelho de Mateus diz que quando Jesus caminha junto ao mar da Galiléia, ele saudou a André e a Pedro e os convidou para se tornarem discípulos (Mt 4.18,19). Isto não contradiz a narrativa de João; simplesmente acrescenta um aspecto novo. Uma leitura atenta de João 1.35-40 mostra-nos que Jesus não chamou André e a Pedro para seguí-lo quando se encontraram pela primeira vez.

André e outro discípulo chamado Filipe apresentaram a Jesus um grupo de gregos (Jo 12.20-22). Por este motivo podemos dizer que eles foram os primeiros missionários estrangeiros da fé cristã.

Diz a tradição que André viveu seus últimos dias na Cítia, ao norte do mar negro. Mas um livreto intitulado: Atos de André (provavelmente escrito por volta do ano 260 dC) diz que ele pregou primariamente na Macedônia e foi martirizado em Patras. Diz ainda, que ele foi crucificado numa cruz em forma de "X", símbolo religioso conhecido como Cruz de Sto André.
2) Bartolomeu (Natanael)

Falta-nos informação sobre a identidade do Apóstolo chamado Bartolomeu. Ele só é mencionado na lista dos apóstolos. Além do mais, enquanto os Evangelhos sinóticos concordam em que seu nome era Bartolomeu, João o dá como Natanael (Jo 1.45). Crêem alguns estudiosos que Bartolomeu era o sobrenome de Natanael.

A palavra aramaica bar significa "filho", por isso o nome Bartolomeu significa literalmente, "filho de Talmai". A Bíblia não identifica quem foi Talmai.

Supondo que Bartolomeu e Natanael sejam a mesma pessoa, o Evangelho de João nos proporciona várias informações acerca de sua personalidade. Jesus chamou Natanael de "israelita em quem não há dolo" (Jo 1.47). Diz a tradição que ele serviu como missionário na Índia e que foi crucificado de cabeça para baixo.
3) Tiago - Filho de Alfeu

Os Evangelhos fazem apenas referências passageiras a Tiago, filho de Alfeu (Mt 10.3; Lc 6.15). Muitos estudiosos crêem que Tiago era irmão de Mateus, visto a Bíblia dizer que o pai de Mateus também se chamava Alfeu (Mc 2.14). Outros crêem que este Tiago se identificava como "Tiago, o Menor", mas não temos prova alguma de que esses dois nomes se referiam ao mesmo homem (Mc 15.40). Se o filho de Alfeu era, deveras, o mesmo homem Tiago, o Menor, talvez ele tenha sido primo de Jesus (Mt 27.56; Jo 19.25). Alguns comentaristas da Bíblia teorizam que este discípulo trazia uma estreita semelhança física com Jesus, o que poderia explicar por que Judas Iscariotes teve de identificar Jesus na noite em que foi traído. (Mc 14.43-45; Lc 22.47-48). Diz as lendas que ele pregou na Pérsia e aí foi crucificado. Mas não há informações concretas sobre sua vida, ministério posterior e morte.
4) Tiago - Filho de Zebedeu

Depois que Jesus convocou a Simão Pedro e a seu irmão André, ele caminhou um pouco mais ao longo da praia da Galiléia e convidou a "Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes" (Mc 1.19). Tiago e seu irmão responderam imediatamente ao chamado de Cristo. Ele foi o primeiro dos doze a sofrer a morte de mártir. O rei Herodes Agripa I ordenou que ele fosse executado ao fio da espada (At 12.2). A tradição diz que isto ocorreu no ano 44 dC, quando ele seria ainda bem moço.

Os Evangelhos nunca mencionam Tiago sozinho; sempre falam de "Tiago e João". Até no registro de sua morte, o livro de Atos refere-se a ele como "Tiago, irmão de João" (At 12.2) Eles começaram a seguir a Jesus no mesmo dia, e ambos estiveram presentes na Transfiguração (Mc 9.2-13). Jesus chamou a ambos de "filhos do trovão" (Mc 3.17).

A perseguição que tirou a vida de Tiago infundiu novo fervor entre os cristãos (At 12.5-25). Herodes Agripa esperava sufocar o movimentos cristão executando líderes como Tiago. "Entretanto a Palavra do Senhor crescia e se multiplicava" (At 12.24).

As tradições afirmam que ele foi o primeiro missionário cristão na Espanha.
5) João

Felizmente, temos considerável informação acerca do discípulo chamado João. Marcos diz-nos que ele era irmão de Tiago, filho de Zebedeu (Mc 1.19). Diz também que Tiago e João trabalhavam com "os empregados" de seu pai (Mc 1.20).

Alguns eruditos especulam que a mãe de João era Salomé, que assistiu a crucificação de Jesus (Mc 15.40). Se Salomé era irmã da mãe de Jesus, como sugere o Evangelho de João (Jo 19.25), João pode ter sido primo de Jesus.

Jesus encontrou a João e a seu irmão Tiago consertando as redes junto ao mar da Galiléia. Ordenou-lhes que se fizessem ao largo e lançassem as redes. arrastaram um enorme quantidade de peixes - milagre que os convenceram do poder de Jesus. "E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram" (Lc 5.11) Simão Pedro foi com eles.

João parece ter sido um jovem impulsivo. Logo depois que ele e Tiago entraram para o círculo íntimo dos discípulos de Jesus, o Mestre os apelidou de "filhos do trovão" (Mc 3.17). Os discípulos pareciam relegar João a um lugar secundário em seu grupo. Todos os Evangelhos mencionavam a João depois de seu irmão Tiago; na maioria das vezes, parece, Tiago era o porta-voz dos dois irmãos. Paulo menciona a João entre os apóstolos em Jerusalém, mas o faz colocando o seu nome no fim da lista (Gl 2.9).

Muitas vezes João deixou transparecer suas emoções nas conversas com Jesus. Certa ocasião ele ficou transtornado porque alguém mais estava servindo em nome de Jesus. "E nós lho proibimos", disse ele a Jesus, "porque não seguia conosco" (Mc 9.38). Jesus replicou: "Não lho proibais... pois quem não é contra a nós, é por nós" (Mc 9.39,40). Noutra ocasião, ambiciosos, Tiago e João sugeriram que lhes fosse permitido assentar-se à esquerda e à direita de Jesus na sua glória. Esta idéia os indispôs com os outros discípulos (Mc 10.35-41).

Mas a ousadia de João foi-lhe vantajosa na hora da morte e da ressurreição de Jesus. Jo 18.15 diz que João era " conhecido do sumo sacerdote". Isto o tornaria facilmente vulnerável à prisão quando os aguardas do sumo sacerdote prenderam a Jesus. Não obstante, João foi o único apóstolo que se atreveu a permanecer ao pé da cruz, e Jesus entregou-lhe sua mãe aos seus cuidados (Jo 19.26-27). Ao ouvirem os discípulos que o corpo de Jesus já não estava no túmulo, João correu na frente dos outros e chegou primeiro ao sepulcro. Contudo, ele deixou que Pedro entrasse antes dele na câmara de sepultamento (Jo 20.1-4,8).

Se João escreveu, deveras, o quarto Evangelhos, as cartas de João e o Apocalipse, ele escreveu mais texto do NT do que qualquer dos demais apóstolos. Não temos motivo para duvidar de que esses livros não são de sua autoria.

Diz a tradição que ele cuidou da mãe de Jesus enquanto pastoreou a congregação em Éfeso, e que ela morreu ali. Preso, foi levado a Roma e exilado na Ilha de Patmos. Acredita-se que ele viveu até avançada idade, e seu corpo foi devolvido a Éfeso para sepultamento
6) Judas - Não o Iscariotes

João refere-se a um dos discípulos como "Judas, não o Iscariotes" (Jo 14.22). Não é fácil determinar a identidade desse homem.

O NT refere-se a diversos homens com o nome de Judas - Judas Iscariotes; Judas, irmão de Jesus (Mt 13.55; Mc 6.3); Judas, o galileu (At 5.37) e Judas, não o Iscariotes. Evidentemente, João desejava evitar confusão quando se referia a esse homem, especialmente porque o outro discípulo chamado Judas não gozava de boa fama.

Mateus e Marcos referem-se a esse homem como Tadeu (Mt 10.3; Mc 3.18). Lucas o menciona como "Judas, filho de Tiago" (Lc 6.16; At 1.13).

Não sabemos ao certo quem era o pai de Tadeu.

O Historiador Eusébio diz que Jesus uma vez enviou esse discípulo ao rei Abgar da Mesopotâmia a fim de orar pela sua cura. Segundo essa história, Judas foi a Abgar depois da ascensão de Jesus, e permaneceu para pregar em várias cidades da Mesopotâmia. Diz outra tradição que esse discípulo foi assassinado por mágicos na cidade de Suanir, na Pérsia. O mataram a pauladas e pedradas.
7) Judas Iscariotes

Todos os Evangelhos colocam Judas Iscariotes no fim da lista dos discípulos de Jesus. Sem dúvida alguma isso reflete a má fama de Judas como traidor de Jesus.

A Palavra aramaica Iscariotes literalmente significa "homem de Queriote". Queriote era uma cidade próxima a Hebrom (Js 15.25). Contudo, João diz-nos que Judas era filho de Simão (Jo 6.71). Se Judas era, de fato, natural desta cidade, dentre os discípulos, ele era o único procedente da Judéia. Os habitantes da Judéia desprezavam o povo da Galiléia como rudes colonizadores de fronteira. Essa atitude pode ter alienado Judas Iscariotes dos demais discípulos.

Os Evangelhos não nos dizem exatamente quando Jesus chamou Judas pra juntar-se ao grupo de seus seguidores. Talvez tenha sido nos primeiros dias, quando Jesus chamou tantos outros (Mt 4.18-22). Judas funcionava como tesoureiro dos discípulos, e pelo menos em uma ocasião ele manifestou uma atitude sovina para com o trabalho. Foi quando uma mulher por nome Maria derramou ungüento precioso sobre os pés de Jesus. Judas reclamou: "Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários, e não se deu aos pobres?" (Jo 12.5). No versículo seguinte João comenta que Judas disse isto "não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão."

Enquanto os discípulos participavam de sua última refeição com Jesus, o Senhor revelou saber que estava prestes a ser traído e indicou Judas como o criminoso. Disse ele a Judas: "O que pretendes fazer, faze-o depressa" (Jo 13.27). Todavia, os demais discípulos não suspeitavam do que Judas estava prestes a fazer. João relata que "como Judas era quem trazia a bolsa, pensaram alguns que Jesus lhe dissera: Compra o que precisamos para a festa da Páscoa..." (Jo 13.28-29).

Judas traiu o Senhor Jesus, influenciado ou inspirado pelo maligno ( Lc 22.3; Jo 13.27). Tocado pelo remorso, Judas procurou devolver o dinheiro aos captores de Jesus e enforcou-se. (Mt 27.5)
8) Mateus

Nos tempos de Jesus, o governo romano coletava diversos impostos do povo palestino. Pedágios pra transportar mercadorias por terra ou por mar eram recolhidos por coletores particulares, os quais pagavam uma taxa ao governo romano pelo direito de avaliar esses tributos. Os cobradores de impostos auferiam lucros cobrando um imposto mais alto do que a lei permitia. Os coletores licenciados muitas vezes contratavam oficiais de menor categoria, chamados de publicanos, para efetuar o verdadeiro trabalho de coletar. Os publicanos recebiam seus próprios salários cobrando uma fração a mais do que seu empregador exigia. O discípulo Mateus era um desses publicanos; ele coletava pedágio na estrada entre Damasco e Aco; sua tenda estava localizada fora da cidade de Cafarnaum, o que lhe dava a oportunidade de, também, cobrar impostos dos pescadores.

Normalmente um publicano cobrava 5% do preço da compra de artigos normais de comércio, e até 12,5% sobre artigos de luxo. Mateus cobrava impostos também dos pescadores que trabalhavam no mar da Galiléia e dos barqueiros que traziam suas mercadorias das cidades situadas no outro lado do lago.

O judeus consideravam impuro o dinheiro dos cobradores de impostos, por isso nunca pediam troco. Se um judeu não tinha a quantia exata que o coletor exigia, ele emprestava-o a um amigo. Os judeus desprezavam os publicanos como agentes do odiado império romano e do rei títere judeu. Não era permitido aos publicanos prestar depoimento no tribunal, e não podiam pagar o dízimo de seu dinheiro ao templo. Um bom judeu não se associaria com publicanos (Mt 9.10-13).

Mas os judeus dividiam os cobradores de impostos em duas classes. a primeira era a dos gabbai, que lançavam impostos gerais sobre a agricultura e arrecadavam do povo impostos de recenseamento. O Segundo grupo compunha-se dos mokhsa era judeus, daí serem eles desprezados como traidores do seu próprio povo. Mateus pertencia a esta classe.

O Evangelho de Mateus diz-nos que Jesus se aproximou deste improvável discípulo quando ele esta sentado em sua coletoria. Jesus simplesmente ordenou a Mateus: "Segue-me!" Ele deixou o trabalho pra seguir o Mestre (Mt 9.9).

Evidentemente, Mateus era um homem rico, porque ele deu um banquete em sua própria casa. "E numerosos publicanos e outros estavam com eles à mesa" (Lc 5.29). O simples fato de Mateus possuir casa própria indica que era mias rido do que o publicano típico.

Por causa da natureza de seu trabalho, temos certeza que Mateus sabia ler e escrever. Os documentos de papiro, relacionados com impostos, datados de cerca de 100 dC, indicam que os publicanos eram muito eficientes em matéria de cálculos.

Mateus pode ter tido algum grau de parentesco com o discípulo Tiago, visto que se diz de cada um deles ser "filho de Alfeu" (Mt 10.3; Mc 2.14). Às vezes Lucas usa o nome Levi para referir-se a Mateus (Lc 5.27-29). Daí alguns estudiosos crerem que o nome de Mateus era Levi antes de se decidir-se a seguir a Jesus, e que Jesus lhe deu um novo nome, que significa "dádiva de Deus". Outros sugerem que Mateus era membro da tribo sacerdotal de Levi.

De todos os evangelhos, o de Mateus tem sido, provavelmente, o de maior influência. A literatura cristã do segundo século faz mais citações do Evangelho de Mateus do qu de qualquer outro. Os pais da igreja colocaram o Evangelho de Mateus no começo do cânon do NT provavelmente por causa do significado que lhes atribuíam. O relato de Mateus desta a Jesus como o cumprimento das profecias do AT. Acentua que Jesus era o Messias prometido.

Não sabemos o que aconteceu com Mateus depois do dia de Pentecostes. Uma informação fornecida por John Foxe, declara que ele passou seus últimos anos pregando na Pártia e na Etiópia e que foi martirizado na cidade Nadabá em 60 dC. Não podemos julgar se esta informação é digna de confiança.
9) Filipe

O Evangelho de João é o único a dar-nos qualquer informação pormenorizada acerca do discípulos chamado Filipe. Jesus encontrou-se com ele pela primeira vez em Betânia, do outro lado do Jordão (Jo 1.28). É interessante notar que Jesus chamou a Filipe individualmente enquanto chamou a maioria dos outros em pares. Filipe apresentou Natanael a Jesus (Jo 1.45-51), e Jesus também chamou a Natanael (ou Bartolomeu) para seguí-lo.

Ao se reunirem 5 mil pessoas para ouvir a Jesus, Filipe perguntou ao Seu Senhor como alimentariam a multidão. "Não lhes bastariam duzentos denários de pão, para receber cada um o seu pedaço", disse ele (Jo 6.7). Noutra ocasião, um grupo de gregos dirigiu-se a Filipe e pediu-lhe que o apresentasse a Jesus. Filipe solicitou a ajuda de André e juntos levaram os homens para conhecê-lo (Jo 12.20-22).

Enquanto os discípulos tomavam a última refeição com Jesus, Filipe disse: "Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta" (Jo 14.8). Jesus respondeu que nele eles já tinham visto o Pai.

Esses três breves lampejos são tudo o que vemos acerca de Filipe. A igreja tem preservado muitas tradições a respeito de seu último ministério e morte. Segundo algumas delas, ele pregou na França; outras dizem que ele pregou no sul da Rússia, na Ásia Menor, ou até na Índia. Nada de concreto portanto.
10) Simão Pedro

Era um homem de contrastes. Em Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou: "Mas vós, quem dizeis que eu sou?" Ele respondeu de imediato: "Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo" (Mt 16.15-16). Alguns versículos adiante, lemos: "E Pedro chamando-o à parte, começou a reprová-lo..." Era característico de Pedro passar de um extremo ao outro.

Ao tentar Jesus lavar-lhe os pés no cenáculo, o imoderado discípulo exclamou: "Nunca me lavarás os pés." Jesus, porém, insistiu e Pedro disse: "Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça" (Jo 13.8,9).

Na última noite que passaram juntos, ele disse a Jesus: "Ainda que todos se escandalizem, eu jamais!" (Mc 14.29). Entretanto, dentro de poucas horas, ele não somente negou a Jesus mas praguejou (Mc 14.71).

Este temperamento volátil, imprevisível, muitas vezes deixou Pedro em dificuldades. Mas, o Espírito Santo o moldaria num líder, dinâmico, da igreja primitiva, um "homem-rocha" (Pedro significa "rocha") em todo o sentido.

Os escritores do NT usaram quatro nomes diferentes com referência a Pedro. Um é o nome hebraico Simeon (At 15.14), que pode significar "ouvir". O Segundo era Simão, a forma grega de Simeon. O terceiro nome era Cefas palavra aramaica que significa "rocha". O quarto nome era Pedro, paralavra grega que significa "Pedra" ou "rocha"; os escritores do NT se referem ao discípulo com estes nomes mais vezes do que os outros três.

Quando Jesus encontrou este homem pela primeira vez, ele disse: "Tu és Simão, o filho de João; tu serás chamado Cefas" (Jo 1.42). Pedro e seu irmão André eram pescadores no mar da Galiléia (Mt 4.18; Mc 1.16). Ele falava com sotaque galileu, e seus maneirismos identificavam-no como um nativo inculto da fronteira da galiléia (Mc 14.70). Foi levado a Jesus pelo seu irmão André. (Jo 1.40-42)

Enquanto Jesus pendia na cruz, Pedro estava provavelmente entre o grupo da Galiléia que "permaneceram a contemplar de longe estas coisas" (Lc 23.49). Em 1Pe 5.1, ele escreveu: "...eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo..."

Pedro encabeça a lista dos apóstolo em cada um dos relatos dos Evangelhos, o que sugere que os escritores do NT o consideravam o mais importante dos doze. Ele não escreveu tanto como João ou Mateus, mas emergiu como o líder mais influente da igreja primitiva. Embora 120 seguidores de Jesus tenha recebido o ES no dia do Pentecoste, a Bíblia registra as palavras de Pedro (At 2.14-40). Ele sugeriu que os apóstolos procurassem um substituto para Judas Iscariotes (At 1.22). Ele e João foram os primeiros a realizar um milagre depois do Pentecoste, curando um paralítico na Porta Formosa (At 3.1-11).

O livro de Atos acentua as viagens de Paulo, mas Pedro também viajou extensamente. Ele visitou Antioquia (Gl 2.11), Corinto (2Co 1.12) e talvez Roma.

Pedro sentiu-se livre para servir aos gentios (At 10), mas ele é mais bem conhecido como o apóstolo dos judeus (Gl 2.8). À medida que Paulo assumir um papel mais ativo na obra da igreja e à medida que os judeus se tornavam mais hostis ao Cristianismo, Pedro foi relegado a segundo plano na narrativa do NT.

A tradição diz que a Basílica de São Pedro em Roma está edificada sobre o local onde ele foi sepultado. Escavações modernas sob a antiga igreja exibem um cemitério romano muito antigo e alguns túmulos usados apressadamente para sepultamentos cristãos. Uma leitura cuidadosa dos Evangelhos e do primitivo segmento de Atos tenderia a apoiar a tradição de que Pedro foi figura preeminente da igreja primitiva.
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11) Simão Zelote

Mateus refere-se a um discípulo chamado "Simão, o Cananeu", enquanto Lucas e o livro de Atos referem-se a "Simão, o Zelote". esses nomes referem-se à mesma pessoa. Zelote é uma palavra grega que significa "zeloso"; "cananeu" é transliteração da palavra aramaica kanna'ah, que também significa "zeloso"; parece, pois, que este discípulo pertencia à seita judaica conhecida como zelotes.

A Bíblia não indica quando Simão, foi convidado para unir-se aos apóstolos. Diz a tradição que Jesus o chamou ao mesmo tempo em que chamou André e Pedro, Tiago e João, Judas Iscariotes e Tadeu (Mt 4.18-22).

Temos diversos relatos conflitantes acerca do ministério posterior deste homem e não é possível chegar a uma conclusão.
12) Tomé

O Evangelho de João dá-nos um quadro mais completo do discípulo chamado Tomé do que o que recebemos dos Sinóticos ou do livro de Atos. João diz-nos que ele também era chamado Dídimo (Jo 20.24). A palavra grega para "gêmeos" assim como a palavra hebraica t'hom significa "gêmeo". A Vulgata Latina empregava Dídimo como nome próprio.

Não sabemos quem pode ter sido Tomé, nem sabemos coisa alguma a respeito do passado de sua família ou de como ele foi convidado para unir-se ao Senhor. Sabemos, contudo, que ele juntou-se a seis outros discípulos que voltaram aos barcos de pesca depois que Jesus foi crucificado (Jo 21.2-3). Isso sugere que ele pode ter aprendido a profissão de pescador quando jovem.

Diz a tradição que Tomé finalmente tornou-se missionário na Índia. Afirma-se que ele foi martirizado ali e sepultado em Mylapore, hoje subúrbio de Madrasta. Seu nome é lembrado pelo próprio título da igreja Martoma ou "Mestre Tome"
13) Matias - Substituto de Judas Iscariotes

Após a morte de Judas, Pedro propôs que os discípulos escolhessem alguém para substituir o traidor. O discurso de Pedro esboçava certas qualificações para o novo apóstolo ( At 1.15-22). O apóstolo tinha de conhecer a Jesus "começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas". Tinha de ser também, "testemunha conosco de sua ressurreição" (At 1.22).

Os apóstolos encontraram dois homens que satisfaziam as qualificações: José, cognominado Justo, e Matias (At 1.23). Lançaram sortes para decidir a questão e a sorte recaiu sobre Matias.

O nome Matias é uma variante do hebraico Matatias, que significa "dom de Deus". Infelizmente, a Bíblia nada diz a respeito do ministério de Matias.

O Chamado de Paulo com o último dos apóstolos: Foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo. Porque eu sou o menor dos apóstolos ... Note que Paulo diz que ele foi o último dos apóstolos - 1 Coríntios 15:7-9
A conversão de um pecador é sempre algo, assim, fantástico e dramático. E o SENHOR Jesus sempre mostra no final quem realmente domina sobre quem. Com Paulo também não foi diferente.

Em sua posição de ser um bom e zeloso judeu, Paulo era uma pessoa extremamente arrogante para com os cristãos. Era uma pessoa cheia de si. Mas, ele já estava prestes a aprender que não era um bom negócio opor-se ao SENHOR Jesus Cristo, o dono na Igreja!

O SENHOR Jesus tem um método muito bom e infalível para converter pecadores, descrentes e arrogantes. Este método é também apresentado a nós aqui na conversão de Paulo.

Paulo estava bem adiantado em seu caminho para a cidade de Damasco. O seu desejo era um só: Prender os cristãos e levá-los para a prisão.

Mas Cristo age em favor do seu povo amado! E o arrogante Paulo vai para o chão. Ele aprende uma lição do próprio SENHOR Jesus. Lucas 9 - nos diz assim nos versículos 3 e 4a: “Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do seu brilhou ao seu redor, e, caindo por terra,...”.

O método do SENHOR Jesus está aqui. O tão arrogante perseguidor da Igreja do SENHOR foi derrubado ao nível mais baixo



Fonte: O Mundo do Novo Testamento - Editora Vida – Pesquisa do Pr. Miranda

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Charles Haddon Spurgeon

Um dos maiores pregadores de todos os tempos




Houve época em que o simples fato de optar pela religiăo evangélica equivalia a colocar a cabeça a prêmio. No século 15, Carlos V, o imperador espanhol, queimou milhares de evangélicos em praça pública. Seu filho, Filipe II, vangloriava-se de ter eliminado dos países baixos da Europa cerca de 18 mil "hereges protestantes". Para fugir da perseguiçăo implacável, outros milhares de cristăos foram para a Inglaterra. Dentre eles, estava a família de Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), o homem que se tornaria um dos maiores pregadores de todo o Reino Unido. Charles obteve tăo bom resultado em seu ministério evangelístico que, além de influenciar geraçơes de pastores e missionários com seus sermơes e livros, até hoje é chamado de Príncipe dos pregadores.

O maior dos pecadores - Spurgeon era filho e neto de pastores que haviam fugido da perseguiçăo. No entanto, somente aos 15 anos, ocorreu seu verdadeiro encontro com Jesus. Segundo os livros que contam a história de sua vida, Spurgeon orou, durante seis meses, para que, "se houvesse um Deus", Este pudesse falar-lhe ao coraçăo, uma vez que se sentia o maior dos pecadores. Spurgeon visitou diversas igrejas sem, contudo, tomar uma decisăo por Cristo.

Certa noite, porém, uma tempestade de neve impediu que o pastor de uma igreja local pudesse assumir o púlpito. Um dos membros da congregaçăo - um humilde sapateiro - tomou a palavra e pregou de maneira bem simples uma mensagem com base em Isaías 45.22a: Olhai para mim e sereis salvos, vós todos os termos da terra. Desprovido de qualquer experiência, o pregador repetiu o versículo várias vezes antes de direcionar o apelo final. Spurgeon năo conteve as lágrimas, tamanho o impacto causado pela Palavra de Deus.

Início de uma nova caminhada - Após a conversăo, Spurgeon começou a distribuir folhetos nas ruas e a ensinar a Bíblia na escola dominical para crianças em Newmarkete Cambridge. Embora fosse jovem, Spurgeon tinha rara habilidade no manejo da Palavra e demonstrava possuir algumas características fundamentais para um pregador do Evangelho. Suas pregaçơes eram tăo eletrizantes e intensas que, dois anos depois de seu primeiro sermăo, Spurgeon, entăo aos 20 anos, foi convidado a assumir o púlpito da Igreja Batista de Park Street Chapel, em Londres, antes pastoreada pelo teólogo John Gill. O desafio, entretanto, era imenso. Afinal, que chance de sucesso teria um menino criado no campo (Anteriormente, Spurgeon pastoreava uma pequena igreja em Waterbeach, distante da capital inglesa), diante do púlpito de uma igreja enorme que agonizava?

Localizada em uma área metropolitana, Park Street Chapel havia sido uma das maiores igrejas da Inglaterra. No entanto, naquele momento, o edifício, com 1.200 lugares, contava com uma platéia de pouco mais de cem pessoas. A última metade do século 19 foi um período muito difícil para as igrejas inglesas. Londres fora industrializada rapidamente, e as pessoas trabalhavam durante muitas horas. Năo havia tempo para as pessoas se dedicarem ao Senhor. No entanto, Spurgeon aceitou sem temor aquele desafio.

Tamanha audiência - O sermăo inaugural de Spurgeon, naquela enorme igreja, ocorreu em 18 de dezembro de 1853. Havia ali um grupo de fiéis que nunca cessou de rogar a Deus por um glorioso avivamento. No início, eu pregava somente a um punhado de ouvintes. Contudo, năo me esqueço da insistência das suas oraçơes. As vezes, parecia que eles rogavam até verem a presença de Jesus ali para abençoá-los. Assim desceu a bênçăo, a casa começou a se encher de ouvintes e foram salvas dezenas de almas, lembrou Spurgeon alguns anos depois.

Nos anos que se seguiram, o templo, antes vazio, năo suportava a audiência, que chegou a dez mil pessoas, somada a assistência de todos os cultos da semana. O número de pessoas era tăo grande que as ruas próximas à igreja se tomaram intransitáveis. Logo, as instalaçơes do templo ficaram inadequadas, e, por isso, foi construído o grande Tabernáculo Metropolitano, com capacidade para 12 mil ouvintes. Mesmo assim, de três em três meses, Spurgeon pedia às pessoas, que tivessem assistido aos cultos naquele período, que se ausentassem a fim de que outros pudessem estar no templo para conhecer a Palavra.

Muitas congregaçơes, um seminário e um orfanato foram estabelecidos. Com o passar do tempo, Charles Spurgeon se tornou uma celebridade mundial. Recebia convites para pregar em outras cidades da Inglaterra, bem como em outros países como França, Escócia, Irlanda, País de Gales e Holanda. Spurgeon levava as Boas Novas năo só para as reuniơes ao ar livre, mas também aos maiores edifícios de 8 a 12 vezes por semana.

Segundo uma de suas biografias, o maior auditório em que pregou continha, exatamente, 23.654 pessoas: este imenso público lotou o Crystal Palace, de Londres, no dia 7 de outubro de 1857, para ouvi-lo pregar por mais de duas horas.

Sucesso - Mais de cem anos depois de sua morte, muitos teólogos ainda tentam descobrir como Spurgeon obtinha tamanho sucesso. Uns o atribuem às suas ilustraçơes notáveis, a habilidade que possuía para surpreender a platéia e à forma com que encarava o sofrimento das pessoas. Entretanto, para o famoso teólogo americano Ernest W. Toucinho, autor de uma biografia sobre Spurgeon, os fatores que atraíam as multidơes eram estritamente espirituais: O poder do Espírito Santo, a pregaçăo da doutrina să, uma experiência de religioso de primeira-măo, paixăo pelas almas, devoçăo para a Bíblia e oraçăo a Cristo, muita oraçăo. Além disso, vale lembrar que todas as biografias, mesmo as mais conservadoras, narram as curas milagrosas feitas por Jesus nos cultos dirigidos pelo pregador inglês.

As pessoas que ouviam Spurgeon, naquela época, faziam consideraçơes sobre ele que deixariam qualquer evangélico orgulhoso. O jornal The Times publicou, certa ocasiăo, a respeito do pastor inglês: Ele pôs velha verdade em vestido novo. Já o Daily Telegraph declarou que os segredos de Spurgeon eram o zelo, a seriedade e a coragem. Para o Daily Chronicle, Charles Spurgeon era indiferente à popularidade; um gênio, por comandar com maestria, uma audiência. O Pictorial World registrou o amor de Spurgeon pelas pessoas.

Importância - O amor de Spurgeon tinha raízes. Casou-se em 20 de setembro de 1856 com Susannah Thompson e teve dois filhos, os gêmeos năo-idênticos Thomas e Charles. Fazíamos cultos domésticos sempre; quer hospedados em um rancho nas serras, quer em um suntuoso quarto de hotel na cidade. E a bendita presença do Espírito Santo, que muitos crentes dizem ser impossível alcançar, era para nós a atmosfera natural. Vivíamos e respirávamos nEle, relatou, certa vez, Susannah.

A importância de Charles Haddon Spurgeon como pregador só encontra parâmetros em seus trabalhos impressos. Spurgeon escreveu 135 livros durante 27 anos (1865-1892) e editou uma revista mensal denominada A Espada e a Espátula. Seus vários comentários bíblicos ainda săo muito lidos, dentre eles: O Tesouro de Davi (sobre o livro de Salmos), Manhă e Noite (devocional) e Mateus - O Evangelho do Reino. Até o último dia de pastorado, Spurgeon batizou 14.692 pessoas. Na ocasiăo em que ele morreu - 11 de fevereiro de 1892 -, seis mil pessoas leram diante de seu caixăo o texto de Isaías 45.22a: Olhai para mim e sereis salvos, vós todos os termos da terra.



Fonte: Revista Graça, ano 2 nº 19 – Fevereiro/2001 www.ongrace.com

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Vigor Espiritual

Pr. J Miranda


O vigor, o poder e o conforto de nossa vida espiritual dependem da mortificação das obras da carne

Não existe, poder força e vigor espiritual sem mortificação de pecado

Para Owen, a mortificação não é o esse, mas o benne esse da vida cristã. Ele desaprovou qualquer sugestão de que alguém possa obter vida ou merecer o favor de Deus pelo processo da mortificação. De acordo com ele, apenas "o vigor, o poder e o conforto de nossa vida espiritual dependem da mortificação das obras da carne." Desta forma, mortificação não é mutilação própria, mas é "arrancar o princípio de todo o seu vigor, força e poder [do pecado arraigado], de tal maneira que ele não possa agir ou se empenhar, ou realizar qualquer ato próprio." Mas, para experimentar as delícias da vida cristã, o crente não deve "cessar o seu trabalho um dia sequer; mate o pecado ou ele o matará." Então, a mortificação é um chamado fundamental na vida cristã.

Para enfatizar a urgência do chamado para a mortificação na vida cristã, Owen usou vários argumentos, entre os quais três parecem ser seus preferidos. Primeiro, a realidade do pecado arraigado. Segundo, a constância da tentação para pecar. E terceiro, a obra do agente eficaz da mortificação.

1. O Pecado Arraigado

Owen enfatizou a verdade de que o domínio do pecado foi completamente destronado na vida do cristão. Ele também reconheceu que o tornar-se um cristão não anula a tendência pecaminosa. Segundo Owen, "há um poder remanescente do pecado arraigado nos crentes, com uma tendência constante ao mal … apesar de seu domínio ter sido quebrado, sua força enfraquecida e debilitada, suas raízes mortificadas, ele ainda é uma lei de grande força e eficácia." Além disso, Owen enfatizou seis princípios a respeito da contínua realidade do pecado arraigado na vida cristã. Primeiramente, "há um certo grau de pecaminosidade que reside em nós enquanto estamos no mundo." Em segundo lugar, "o pecado não apenas continua habitando em nós, mas está ativo, atuando continuamente para produzir as obras da carne." Em terceiro lugar, se nós deixamos o pecado em um canto, sem mortificá-lo prontamente cada dia, "ele produzirá frutos enormes, malditos, escandalosos, destruidores da alma." Em quarto lugar, uma das principais razões pelas quais o Espírito e uma nova natureza foram dados a nós é para que possamos nos opor ao pecado. Em quinto lugar, a negligência na área da mortificação lança o crente em grande contradição. Finalmente, esse é o dever presente do crente – seguir a santidade. Concluindo, Owen sustenta o princípio de que "o pecado – já completamente vencido na cruz – deve ser tratado implacavelmente e cortado pela raiz, ou ele reviverá e continuará a saquear seu coração [do cristão] e a minar seu vigor espiritual."

Para realçar a importância da pecaminosidade arraigada, Owen sustenta a idéia de que o seu efeito é inimizade contra Deus; e "inimigos podem ser reconciliados, mas não a inimizade; então, a única maneira de reconciliar inimigos é destruir a inimizade." Além disso, desde que "a graça transforma a natureza do pecado," o único tratamento adequado ao pecado na vida cristã é a mortificação. Owen não interpreta mortificação como perfeição, nem como "dissimulação de um pecado." Ele insistiu também em que mortificação não é o aperfeiçoamento do temperamento das pessoas, nem consiste em distrair o pecado. Pelo contrário, ele argumentou que "aquele que é incumbido de matar um inimigo faz apenas metade de seu trabalho se, após atingi-lo, sai antes que o mesmo morra." Portanto, o conceito de mortificação para Owen é o enfraquecimento da carne na vida cristã, como um homem pregado na cruz, cuja morte é certa.

2. A Constância da Tentação

Através da sua exposição de Mateus 26:41, fica claro que para Owen "o homem pode estar descontente com o pecado, mas freqüentemente disposto à tentação; sem que ele tema a tentação, nunca terá vitória sobre os seus resultados." Tentação, segundo ele, "é qualquer coisa, estado, maneira ou condição que, sob qualquer circunstância, tem a força ou eficácia de seduzir, retirar a mente e o coração de um homem da obediência que Deus requer dele diante de qualquer pecado, em qualquer grau." Conseqüentemente, a tentação tem um duplo propósito: 1) despertar a manifestação do mal existente no coração do ser humano, e 2) desviar o ser humano da comunhão com Deus. Deve-se, contudo, atentar para o fato de que o ser humano só peca quando ele cai em tentação.

A tentação pode ser interna ou externa, mas "todo pecado vem de tentação… O pecado é um fruto que vem apenas daquela raiz." O mal da tentação é ativo; ela entra e comunga com o coração, debate com a mente e ainda atrai e seduz os sentimentos." Além disso, quando a tentação vence, afeta o ser humano como um todo.

Para se preservar da tentação, duas coisas devem ser feitas: orar e vigiar. A importância da oração, segundo Owen, está no fato de que "não existe qualquer coisa em nosso próprio poder que nos mantenha e nos preserve de entrar em tentação." Com respeito a "vigiar," Owen defendeu que isto significa "estar de guarda, prestar atenção, considerar todas as maneiras e métodos através dos quais um inimigo possa nos abordar." Ele também ofereceu algumas instruções gerais a serem observadas neste sentido, tais como: 1) Sempre ter em mente "o grande perigo que entrar em tentação significa para qualquer alma," 2) Observar períodos "nos quais os homens geralmente entram em tentação," 3) Insistir em conhecer a condição de nosso próprio coração, e 4) Ter alguma provisão "contra a proposta de qualquer tentação." Estes princípios gerais, de acordo com Owen, são passos essenciais a serem tomados no processo da mortificação.

3. O Agente Eficaz da Mortificação

A urgência do chamado à mortificação, de acordo com Owen, está intimamente ligada ao agente eficaz na realização desse dever, que é o Espírito Santo. Owen enfatizou que "todas as outras maneiras de mortificação são vãs, toda ajuda nos deixa desamparados, esta tarefa deve ser executada pelo Espírito." Primeiro, porque a base para a mortificação é a obra do Espírito na regeneração. Segundo, a habitação do Espírito no coração do crente tem o propósito de mortificar o pecado. Owen criticou o catolicismo romano por seus "meios e métodos equivocados de mortificação." Ele enfatizou que o pecado não pode ser mortificado através de rituais, cerimônias ou do monasticismo. Portanto, os recursos humanos nunca terão sucesso final na mortificação de pecados, pois: 1) "Muitos dos métodos que eles usam e nos quais insistem nunca foram indicados por Deus para serem

utilizados com esse propósito," e 2) Aqueles recursos que foram apontados por Deus, não são usados por eles em seus devidos lugares e ordem." Com relação ao processo usado pelo Espírito na mortificação do pecado na vida do pecador, Owen destacou três princípios. Primeiramente, ele atua "fazendo nossos corações abundarem em graça e nos frutos, que são contrários à carne." Essa renovação do Espírito Santo é, então, um grande método de mortificação. Em segundo lugar, "ao trabalhar na raiz e hábito de pecar, para enfraquecer, destruir e extinguir o pecado." O Espírito é chamado Espírito de julgamento e fogo através do qual "ele queima até o final a raiz da lascívia." E em terceiro lugar, o Espírito traz a cruz de Cristo ao coração do pecador pela fé e dá ao mesmo união com Cristo. Vale a pena lembrar que o Espírito "trabalha em nós e conosco, e não contra nós ou sem nós." Assim, Owen enfatizou dois aspectos essenciais na santificação: 1) Deus dá o que ele mesmo ordena e 2) Deus e o ser humano cooperam na mortificação.

B. A Mortificação é um dos Maiores Deleites da Vida Cristã

A mortificação do pecado não é apenas um chamado à luta, mas também um chamado ao deleite. As delícias da mortificação resultam de sua utilidade na vida cristã. De acordo com Owen, "a vida, o vigor e o conforto de nossa vida espiritual dependem muito de mortificarmos o pecado que está em nós." Como estes resultados são os mais íntimos desejos do coração do verdadeiro crente, seu cumprimento é motivo de grande deleite.

Mesmo destacando a importância da mortificação como um convite ao deleite espiritual, Owen cuidadosamente afirmou que o primeiro não é a razão final do segundo. A mortificação se relaciona ao deleite espiritual apenas como um meio, não como uma fonte última. Segundo ele, o deleite espiritual está necessariamente ligado à mortificação. Por sua vez, vida, vigor, consolação, etc. são privilégios imediatos de nossa adoção, não da mortificação. Mas na nossa caminhada diária com Deus, a mortificação é conditio sine qua non para nosso vigor e conforto na vida cristã normal. Com a distinção feita acima, Owen negou qualquer possibilidade de uma fórmula mágica para alcançar bênçãos espirituais à parte de uma unidade espiritual com Cristo. Além disso, ele também realçou a contradição prática de estar unido com Cristo e negligenciar mortificação de pecados na vida diária.

A importância da mortificação para se atingir deleite espiritual, segundo Owen, é baseada em três fatores: Primeiro, ela impede que o pecado prive o crente da força espiritual necessária no dia-a-dia. Segundo, ela possibilita ao crente reconhecer "os favores divinos e providencia lugar para os mesmos crescerem em nossos corações." E terceiro, ela alimenta sinceridade na vida, que é essencial para a paz e força espiritual. Como resultados práticos, "o orgulho é enfraquecido pela implantação e crescimento da humildade, a ira pela paciência, a impureza pela castidade de mente e consciência."

CONCLUSÃO

Diferentes contextos culturais podem produzir expressões teológicas que, apesar da distância histórica e cultural, estão relacionadas entre si por alguns elementos comuns. Com esta pressuposição em mente, tentei avaliar o ensino acerca do "crente carnal." Entendo que essa idéia é uma falácia, uma contradição do ensino bíblico quanto à mortificação do pecado. Como exposto anteriormente, estes dois ensinos são mutuamente exclusivos. Enquanto a doutrina do crente carnal defende uma atitude de descanso [uma poltrona], o segundo defende um instrumento de guerra e luta [uma espada] como uma descrição verdadeira do empenho cristão em direção à santidade. Enquanto o primeiro defende passividade e quietude em relação à santidade, a doutrina da mortificação insiste que a vida cristã é uma luta contínua contra a carne. A validade dos mesmos, no entanto, deve ser julgada pela exatidão da interpretação das passagens bíblicas que se utilizam, bem como de seus resultados práticos.

Com relação ao suporte bíblico, está claro que a exegese sugerida pela teoria do crente carnal é superficial, sem evidências claras e equivocada. Além disso, como Reisinger declara, "interpretar I Coríntios 3:1-4 de modo a classificar os homens em três categorias é violar uma regra básica para a interpretação da Escritura, a saber, que cada passagem em particular deve ser interpretada à luz do todo." A ênfase de Owen na mortificação, por outro lado, surge de uma salutar interpretação bíblica. O valor dos conceitos pastorais de Owen baseia-se na exatidão do suporte bíblico dos mesmos. Por isto, a razão teológica de Owen é realista, ao passo que a teologia por detrás da teoria do crente carnal é enganadora.

No campo prático, mesmo que as evidências mostrem que a teoria do crente carnal tem influenciado uma grande parte da comunidade evangélica, esta influência resulta em grande perigo para o cristianismo como um todo e para o cristão como indivíduo. O perigo para o cristianismo encontra-se na elaboração de um evangelho diluído, no qual fé salvadora e fé enganadora – não genuína – não são diferenciadas, uma falsa garantia é ensinada, o antinomianismo é propagado, uma dicotomia cristológica com implicações soteriológicas é defendida e um segundo trabalho da graça é tornado necessário. A ênfase de Owen na mortificação, por outro lado, encoraja humildade, atividade e crescimento espiritual. Conseqüentemente, ela promove um viver saudável e isso precisa ser urgentemente reconquistado pela comunidade cristã atual.

Fonte de Pesquisa: Bíblia de Genebra; Escritos e citações de J Owen