A salvação é uma obra inteiramente do Senhor? Ou, teria Eleja feito tudo que poderia e, agora, espera pela decisão dos pecadores? As Escrituras são claras. Se a salvação dependesse da iniciativa do pecador, ninguém jamais seria salvo. "Não há quem entenda, não há quem busque a Deus" (Rm 3.11). "Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer" (Jo 6.44). O próprio Deus inspira a fé naqueles a quem Ele destinou à vida eterna (At 13.48). Após, esse inspirar, a busca começa, como em Isaías 55.6,7: "Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar". Esse texto é seguido por uma afirmação da soberania de Deus, nas palavras clássicas do versículo 11: "Assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei". E, se tal paradoxo é confuso, os versos 8 e 9 talvez ajudem a explicá-lo: "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos que os vossos pensamentos".
Deus ordena a todos que se arrependam (At 17.30) — mas, em última análise, é Ele mesmo que precisa outorgar o arrependimento (At 5.31; 11.18: 2 Tm 2.25). Embora Deus exija uma resposta de fé, é imperativo que Ele mesmo, graciosamente, incline e habilite a resposta nos corações de seus eleitos (At 18.27). O coração humano é tão depravado que, se fôssemos deixados sozinhos, nenhum de nós jamais haveria de crer. Se, por nós mesmos pudéssemos gerar a fé, certamente teríamos algo de que nos gloriar. Mas as Escrituras afirmam: "Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas" (Ef 2.8-10).
Essas verdades não estão escondidas em passagens isoladas das Escrituras, mas, conforme sugeriu Spurgeon, são "a essência da Bíblia", confirmadas em todo o texto sagrado. Desejo, entretanto, considerar uma breve passagem das Escrituras que é muito clara em falar a respeito da soberania de Deus na salvação:
"Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas. Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcessível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo" (1 Pe 1.1-5).
A escolha soberana é uma daquelas verdades que provam ser a Bíblia a Palavra de Deus. Não é uma verdade que a razão humana poderia ou acabaria inventando. A única razão pela qual alguém crê é porque a doutrina da escolha soberana está cristalinamente revelada na Palavra de Deus. Não podemos compreendê-la com nossas faculdades limitadas; precisamos tão-somente recebê-la pela fé. E temos de recebê-la. De outro modo, não estaremos atribuindo a Deus a glória que Lhe é devida como o Senhor soberano, onisciente e perfeitamente justo, que nos escolheu. Pelo contrário, em última análise, estaremos recebendo, para nós mesmos, os méritos por aquilo que, na realidade, é uma obra de Deus em nós.
John MacArthur