quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Qual a magia da virada de ano? Por Rev. Augustus Nicodemus Lopes




Como eu gosto de escrever com base em textos bíblicos estou meio que sem inspiração para escrever sobre o ano novo. Onde nas Escrituras eu poderia encontrar uma passagem, uma narrativa, um salmo ou qualquer outra referência que me desse o apoio para escrever que a passagem de um ano para o outro representa um novo começo, uma vida nova, a hora de tomar resoluções, uma espécie de momento mágico de virada onde as coisas que deram errado em 2014 ficaram para trás e tudo se faz novo em 2015?

Eu sei que não preciso de um versículo explícito sobre um assunto para poder falar dele biblicamente, se tão somente eu puder derivar de vários textos o conceito em foco. Mas mesmo assim continuo com problemas. Não encontro no Antigo Testamento nenhuma referência de que a mudança de um ano para o outro tivesse qualquer significado meio que miraculoso. Ao que parece, os judeus marcavam a passagem de um ano para o outro (que acontecia no primeiro dia do sétimo mês, aparentemente) com uma convocação ao som de trombetas para uma reunião solene, onde eram oferecidos sacrifícios ao Senhor (cf. Lev 23:23-25; Num 29:1-6). 

Existe muita polêmica entre os estudiosos sobre o Ano Novo judaico, quanto à data e à maneira como era celebrado. A razão principal é a falta de maiores informações sobre o evento, diante da enorme quantidade de informações sobre as festas religiosas como Páscoa e Pentecostes, o que mostra que a festa de Ano Novo não era tão importante assim. De qualquer forma, o Ano Novo era celebrado em Israel como um memorial ao Senhor, com direito a sacrifícios e convocação com trombetas. Não encontro nada que diga que os israelitas prometiam que naquela convocação fariam no novo ano aquilo que não fizeram no ano findo. Na verdade, o que encontro é que os israelitas tinham que amar a Deus e fazer a vontade dele o ano todo, cada ano de suas vidas. A celebração era provavelmente de gratidão a Deus.

No Novo Testamento não encontramos absolutamente nenhum sinal de que os cristãos celebravam a passagem de ano. Mas, tem uma reclamação de Paulo de que os crentes da Galácia, seguindo costumes judaicos, estavam guardando “dias, e meses, e tempos, e anos” (Gal 4:10).

Posso entender os cultos e festividades do Ano Novo como expressões culturais dos cristãos que aproveitam a oportunidade para fazer um balanço espiritual de suas vidas e igrejas no ano findo e propósitos e alvos para o ano que chega. Mas sempre fica a pergunta: se eu não estou andando com Deus em 2014, devo esperar a virada do ano para prometer fazer em 2015 aquilo que não fiz o ano todo? O que a Bíblia me diz é que “hoje” é o dia da salvação e que “agora” é o tempo de arrependimento e retorno a Deus, e que devo buscar ao Senhor “enquanto” eu posso achá-lo (Isa 55:6; 2Cor 6:2; Heb 3:13). 

Uma das primeiras das 95 teses de Lutero foi que o arrependimento (penitência) é um estado de espírito constante no cristão e não uma mortificação pontual feita no confessionário ou na hora da missa – ou na virada do ano, se posso acrescentar uma palhinha...

Apesar de tudo, podemos aproveitar o momento cultural de maneira positiva, para render graças a Deus pelas bênçãos derramadas no ano findo. E pedir que Ele nos abençoe no ano que se inicia. Aqui vai minha sugestão de uma oração a ser feita na virada do ano: 

“Senhor, te dou graças por todas as bênçãos recebidas em 2014. Peço perdão de todo coração por todas as coisas erradas que fiz e pelas certas que deixei de fazer neste ano que finda [talvez aqui fosse bom fazer uma lista para deixar claro que não é só conversa]. Suplico a tua graça e misericórdia para que eu possa andar nos teus caminhos em 2015, para que eu possa me arrepender e me corrigir imediatamente após meus erros, e para que eu não fique achando desculpas e adiando aquilo que eu sei que devo fazer, de maneira que na virada para 2016 eu não tenha que vir fazer esta oração de novo. Em nome de Jesus, amém”.

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Fonte: O Tempora! O Mores!

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Por Rev. Augustus Nicodemus Lopes


Como eu gosto de escrever com base em textos bíblicos estou meio que sem inspiração para escrever sobre o ano novo. Onde nas Escrituras eu poderia encontrar uma passagem, uma narrativa, um salmo ou qualquer outra referência que me desse o apoio para escrever que a passagem de um ano para o outro representa um novo começo, uma vida nova, a hora de tomar resoluções, uma espécie de momento mágico de virada onde as coisas que deram errado em 2014 ficaram para trás e tudo se faz novo em 2015?

Eu sei que não preciso de um versículo explícito sobre um assunto para poder falar dele biblicamente, se tão somente eu puder derivar de vários textos o conceito em foco. Mas mesmo assim continuo com problemas. Não encontro no Antigo Testamento nenhuma referência de que a mudança de um ano para o outro tivesse qualquer significado meio que miraculoso. Ao que parece, os judeus marcavam a passagem de um ano para o outro (que acontecia no primeiro dia do sétimo mês, aparentemente) com uma convocação ao som de trombetas para uma reunião solene, onde eram oferecidos sacrifícios ao Senhor (cf. Lev 23:23-25; Num 29:1-6). 

Existe muita polêmica entre os estudiosos sobre o Ano Novo judaico, quanto à data e à maneira como era celebrado. A razão principal é a falta de maiores informações sobre o evento, diante da enorme quantidade de informações sobre as festas religiosas como Páscoa e Pentecostes, o que mostra que a festa de Ano Novo não era tão importante assim. De qualquer forma, o Ano Novo era celebrado em Israel como um memorial ao Senhor, com direito a sacrifícios e convocação com trombetas. Não encontro nada que diga que os israelitas prometiam que naquela convocação fariam no novo ano aquilo que não fizeram no ano findo. Na verdade, o que encontro é que os israelitas tinham que amar a Deus e fazer a vontade dele o ano todo, cada ano de suas vidas. A celebração era provavelmente de gratidão a Deus.

No Novo Testamento não encontramos absolutamente nenhum sinal de que os cristãos celebravam a passagem de ano. Mas, tem uma reclamação de Paulo de que os crentes da Galácia, seguindo costumes judaicos, estavam guardando “dias, e meses, e tempos, e anos” (Gal 4:10).

Posso entender os cultos e festividades do Ano Novo como expressões culturais dos cristãos que aproveitam a oportunidade para fazer um balanço espiritual de suas vidas e igrejas no ano findo e propósitos e alvos para o ano que chega. Mas sempre fica a pergunta: se eu não estou andando com Deus em 2014, devo esperar a virada do ano para prometer fazer em 2015 aquilo que não fiz o ano todo? O que a Bíblia me diz é que “hoje” é o dia da salvação e que “agora” é o tempo de arrependimento e retorno a Deus, e que devo buscar ao Senhor “enquanto” eu posso achá-lo (Isa 55:6; 2Cor 6:2; Heb 3:13). 

Uma das primeiras das 95 teses de Lutero foi que o arrependimento (penitência) é um estado de espírito constante no cristão e não uma mortificação pontual feita no confessionário ou na hora da missa – ou na virada do ano, se posso acrescentar uma palhinha...

Apesar de tudo, podemos aproveitar o momento cultural de maneira positiva, para render graças a Deus pelas bênçãos derramadas no ano findo. E pedir que Ele nos abençoe no ano que se inicia. Aqui vai minha sugestão de uma oração a ser feita na virada do ano: 

“Senhor, te dou graças por todas as bênçãos recebidas em 2014. Peço perdão de todo coração por todas as coisas erradas que fiz e pelas certas que deixei de fazer neste ano que finda [talvez aqui fosse bom fazer uma lista para deixar claro que não é só conversa]. Suplico a tua graça e misericórdia para que eu possa andar nos teus caminhos em 2015, para que eu possa me arrepender e me corrigir imediatamente após meus erros, e para que eu não fique achando desculpas e adiando aquilo que eu sei que devo fazer, de maneira que na virada para 2016 eu não tenha que vir fazer esta oração de novo. Em nome de Jesus, amém”.

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Fonte: O Tempora! O Mores!

Educar na Disciplina do Senhor




Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo... E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor. (Efésios 6.1,4)

O filho está debaixo da autoridade dos pais e lhe deve obediência. O filho deve ser obediente aos pais porque Deus mandou e porque é justo. Ser pai, segundo os versos 2 e 3 significa ter o direito a ser honrado, portanto ser pai é um privilégio também. E mais, Deus também prometeu abençoar o filho que honrasse a seus pais.

Há dois ensinamentos claros nesse texto sobre como podemos educar nossos filhos na disciplina do Senhor:

I. NÃO PROVOCAR NOSSOS FILHOS À IRA.

Quando é que provocamos nossos filhos à ira? (1) Exigir mais do que pode fazer. (2) Brigar com eles na frente dos outros. (3) Não reconhecer o seu trabalho quando bem feito. (4) Compará-los com outros, diminuindo-os. (5) Não deixá-los escolher, mas escolher sempre por eles. (6) Desconsiderar as suas opiniões. (7) praticar disciplina com violência humilhante em vez da disciplina bíblica.

II. EDUCÁ-LOS NOS PRINCÍPIOS DE DEUS.

a) Ensinar e aplicar a disciplina.

A disciplina é positiva no ensinamento quando nosso filho é nosso discípulo (aluno) dentro de casa e negativa na aplicação de castigos. O ensino acerca do que é certo e do que se espera precisa vir sempre antes e após o castigo para surtir efeito duradouro. Instruir de como fazer certo e cumprir o discipulado da criança evita o castigo.

Para crianças, o método da disciplina negativa é a vara. Contudo a própria Bíblia nos diz como usa-la a fim de que não haja violência, mas apenas disciplina educativa. “Tu a fustigarás com a vara...”. Fustigar é bater com uma vara fina de forma a doer, mas não a machucar. Mesmo assim, a vara só deve ser usada em casos de desobediência deliberada, da rebeldia e da teimosia. Atos de irresponsabilidade e falta de destreza devem ser tratados de outra maneira.

b) Corrigir segundo a verdade e não por capricho.

Admoestar é trazer à memória da criança o que é certo para voltar a praticar o que é correto e abandonar o que é errado. A Admoestação pressupõe a aplicação de ensino prévio. Não se admoesta sem se ter a consciência de como deveria ter sido feito.

As crianças devem aprender assentadas em casa, andando pelo caminho, quando se deitam e quando se levantam (Dt 6.7). Por isso, devemos ensinar e encorajar nossos filhos a lerem a Bíblia todos os dias. Devemos ensiná-los e encorajá-los a orar sempre. Devemos orar com eles e por eles cotidianamente. Devemos deixar que vejam o nosso exemplo, porque os filhos imitam primeiro os pais. Uma verdade que tem de estar estampada em nossos corações firmemente é: Nossos filhos precisam de Deus porque são pecadores como nós (Sl 51.5).

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Autor: Rev. Hélio de Oliveira Silva
Fonte: Anunciando Todo o Desígnio de Deus
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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Distorcendo Mateus 18 - Por Donald Carson


Anos atrás, escrevi uma crítica bastante moderada ao movimento da igreja emergente como então existia, antes de se transformar em suas atuais configurações diversas. Esse pequeno livro me rendeu alguns dos mais furiosos e amargurados e-mails que eu já recebi – sem falar, claro, das postagens nos blogs. Houve outras respostas, claro – algumas de aprovação e gratidão, outros reflexivos, querendo dialogar. Mas os que mostraram a maior intensidade foram aqueles cuja indignação era tamanha por eu não ter primeiro abordado em particular aqueles cujas opiniões eu critiquei no livro. Que hipócrita eu era – criticando meus irmãos com fundamentos bíblicos ostensivos quando eu não estava seguindo o mandamento bíblico de observar um determinado procedimento muito bem definido em Mateus 18.15-17. 

Sem dúvida esse tipo de acusação está se tornando mais comum. Está normalmente ligado ao “Peguei você!”, mentalidade que muitos blogueiros e seus leitores parecem alimentar. Pessoa A escreve um livro criticando algum elemento ou outro do confessionalismo histórico Cristão. Alguns blogueiros respondem com mais calor do que luz. Pessoa B escreve um blog com algum conteúdo, em resposta à pessoa A. A blogosfera se acende com ataques à pessoa B, muitos deles perguntando à pessoa B de forma bastante acusadora: “Você conversou com a pessoa A, em particular, primeiro? Se não, você não é culpado por violar o que Jesus nos ensinou em Mateus 18?” Esse padrão de contra ataque, com algumas variações, está prosperando.

A esse respeito, pelo menos três coisas devem ser ditas:

(1) O pecado descrito no contexto de Mateus 18.15-17 ocorre em pequena escala daquilo que transparece uma igreja local (sem duvida é o que se presume nas palavras “comunique à igreja”). Não está falando de uma publicação de ampla divulgação designada a afastar um grande número de pessoas de muitas partes do mundo do confessionalismo histórico. Esse último tipo de pecado é bem público e já está trazendo danos; precisa ser confrontado e seus danos desfeitos de maneira igualmente pública. Isso é bem diferente, digamos, de quando um crente descobre que um irmão esteve quebrando seus votos matrimoniais por dormir com uma pessoa que não é sua esposa, e vai a ele em privado, depois junto de outra pessoa, na esperança de provocar genuíno arrependimento e contrição, e só então trazer o caso à igreja.

Colocando de outra forma, a impressão que deriva da leitura de Mateus 18 é que o pecado em questão não é, em primeiro lugar, publicamente notado (diferente da publicação de um tolo, mas influente, livro). É relativamente privado, observado por um ou dois crentes, mas sério o suficiente para chamar a atenção da igreja se o ofensor se recusar a parar. Por outro lado, quando os escritores do Novo Testamento têm ter que lidar com falso ensinamento, outra ideia chama atenção: o ancião piedoso “apegue-se firmemente à mensagem fiel, da maneira como foi ensinada, para que seja capaz de encorajar outros pela sã doutrina e de refutar os que se opõem a ela”. (Tito 1.9)

Sem dúvida, pode-se imaginar algumas situações contemporâneas que inicialmente podem fazer alguém coçar a cabeça e pensar qual seria o rumo mais sensato – ou, para enquadrar o problema no contexto das passagens bíblicas citadas acima, se deve ser respondida à luz de Mateus 18 ou de Tito 1. Por exemplo, um pastor da igreja local pode ouvir que um professor em seu seminário denominacional ou faculdade teológica está ensinando algo que ele julga estar fora da confissão dessa denominação e possivelmente claras heresias. Deixe-nos tornar a situação mais desafiadora postulando que o pastor tem um punhado de jovens em sua igreja que freqüentam esse seminário e estão sendo influenciados por esse professor em questão.  O pastor está de acordo com Mateus 18 ao falar com o professor antes de contestá-lo em público?

Essa situação é complicada no que o suposto falso ensinamento é publico em um sentido e privado em outro. É público no sentido de que não é meramente opinião privada, por estar certamente sendo promulgada; é privado no sentido de que o material não é publicado na arena pública, mas está sendo disseminado em uma sala de aula fechada. Parece-me que o pastor seria sensato em ir ao professor primeiro, mas não em obediência a Mateus 18, pois realmente não há relação, mas para determinar exatamente quais são realmente as visões do professor. Ele pode chegar à conclusão, afinal, que o professor é um judaizante; outra alternativa é que o professor foi mal interpretado (e qualquer professor com integridade vai querer tomar as dores de não ser mal interpretado no futuro da mesma maneira); ou ainda, que o professor é dissimulado. Ele pode sentir que tem que ir ao superior direto do professor ou alguém de maior autoridade. Meu argumento, no entanto, é que esse percurso de ação não está realmente traçando as instruções de Mateus 18. O pastor está indo ao professor, em primeira instância, não para reprová-lo, mas descobrir se há realmente um problema quando o ensino cai nessa categoria ambígua de não tão privado e não tão público.

(2) Em Mateus 18, o pecado em questão é, pela autoridade da igreja, passível de exclusão – em pelo menos dois sentidos.

Primeiro, a ofensa pode ser tão séria que a única decisão responsável que a igreja pode tomar é excluir o ofensor da igreja e vê-lo como uma pessoa não convertida (18.17). Em outras palavras, a ofensa é motivo de exclusão por causa de sua gravidade. No Novo Testamento como um todo, há três categorias de pecados que alcançam esse nível de gravidade: grande erro doutrinário (1 Tim 1.20), grande falha moral (1 Co 5) e discórdia divisiva e persistente  (Tito 3.10). Esses constituem o lado negativo dos três “testes” positivos de 1 João: o teste da verdade, o teste da obediência e o teste do amor. Em todo caso, embora não saibamos qual seja, a ofensa em Mateus 18 é passível de exclusão por causa de sua gravidade.

Em segundo lugar, a situação é tal que o ofensor pode efetivamente ser excluído da assembléia. Em outras palavras, a ofensa é passível de exclusão porque, organizacionalmente, é possível excluir o ofensor. Veja bem, suponha que alguém, digamos, na Filadélfia, estivesse afirmando ser um cristão devoto enquanto escrevia um livro que era, em certos aspectos, profundamente anticristão. Imagine que uma igreja em, digamos, Toronto, Canadá, decidiu que o livro é herege. Tal igreja pode, suponho eu, declarar o livro como equivocado ou herético, mas eles certamente não poderiam excluir o escritor. Sem dúvida, eles poderiam declarar o ofensor persona non grata em sua própria assembléia, mas isso seria um gesto fútil e provavelmente sem proveito. Afinal, o ofensor pode ser perfeitamente aceitável em sua própria assembléia. Em outras palavras, esse tipo de ofensa pode levar à exclusão no primeiro sentido – por exemplo, o falso ensinamento pode ser julgado tão grave que o ofensor merece ser excluído – mas não é passivel de exclusão no segundo sentido, por ser a  realidade organizacional de tal forma que exclusão não é praticável. Um ponto a observar é que, seja qual for, a ofensa em Mateus 18 é passível de exclusão em ambos sentidos: o pecado tem que ser grave o suficiente para justificar a exclusão, e a situação organizacional deve ser de tal forma que a igreja local pode ter uma ação decisiva que realmente exprima alguma coisa. Onde o primeiro e o segundo sentidos não se aplicam, não se aplica Mateus 18.

Pode-se, claro, argumentar que é sabedoria prudente escrever aos autores antes que você os critique em sua própria publicação. Posso pensar em situações em que pode ser uma boa ideia ou não. Mas tais tipos de raciocínio não fazem parte do argumento de Mateus 18.

(3) Há um aroma de justiça encenada, de indignação desproporcional, por trás dos atuais jogos de “peguei você!”. Se a pessoa B acusa a pessoa A de ter escrito um livro a favor de um entendimento revisionista da Bíblia, com erro grave e possivelmente com heresia, não é sábio fazer “tsc tsc” para a mente tacanha da pessoa B e sorrir com condescendência e desdém por tal julgamento. Isso pode funcionar bem entre aqueles que acham que a maior virtude no mundo é a tolerância, mas com certeza não pode ser o caminho mais honroso para o cristão. Heresia genuína é uma coisa execrável, uma coisa horrível. Desonra Deus e leva as pessoas a se perderem. Deturpa o evangelho e seduz as pessoas a acreditarem em coisas falsas e agir de maneiras repreensíveis. Claro, a Pessoa B pode estar totalmente enganada. Talvez a acusação que a Pessoa B está fazendo seja inteiramente equivocada, ou mesmo perversa. Nesse caso, deve-se revelar o fato, não esconder atrás de uma questão processual. O ataque da Pessoa B na séria argumentação bíblica deve ser analisado, não dispensado em um procedimento ilusório e um apelo errôneo a Mateus 18.
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Heresia genuína é uma coisa execrável, uma coisa horrível. Desonra Deus e leva as pessoas a se perderem.
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Traduzido por Carla Ventura | iPródigo.com | Original aqui
 Fonte: [ Ipródigo ]

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Culto Familiar - Por A. W. Pink



Existem algumas ordenanças exteriores e meios de graça muito importantes que estão nitidamente implícitos na Palavra de Deus – mas para a prática destes nós temos pouco, quando algum, direcionamento e preceitos positivos; mas, nos é dado a obtê-los a partir do exemplo de homens santos e a partir de diversas circunstâncias secundárias. Uma importante finalidade é respondida por este arranjo: desta forma é feito o julgamento do estado de nossos corações. Isto serve para fazer evidente, se por um comando expresso não possa ser exigido o seu cumprimento, cristãos professos negligenciarão um dever claramente implícito. Deste modo, mais do estado real de nossas mentes é revelado, e isto torna manifesto se temos ou não um amor ardente a Deus e ao Seu serviço. Isto se aplica tanto ao culto público quanto ao familiar. Ainda assim, não é de todo difícil comprovar a obrigação da piedade doméstica.

Primeiro considere o exemplo de Abraão, o pai da fé e o amigo de Deus. Foi através de sua piedade doméstica que ele recebeu a bênção do próprio Jeová, “Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo” (Gênesis 18:19). O patriarca nisto foi elogiado, por instruir seus filhos e servos nos mais importantes de todos os deveres, “o caminho do SENHOR” – a verdade sobre a Sua Gloriosa Pessoa, Seu direito Supremo sobre nós, o que Ele exige de nós. Observem bem as palavras “para que [ele] ordene”, ou seja, ele usaria a autoridade que Deus lhe dera como pai e cabeça de sua casa, para aplicar os deveres da piedade familiar. Abraão também orou com, bem como instruiu a sua família – Aonde quer que fixasse a sua tenda, ali ele “edificou um altar ao Senhor” (Gênesis 12:7; 13:4). Agora, meus leitores, bem podemos perguntar-nos, somos nós a “descendência de Abraão” (Gálatas 3:29) – se nós “não fazemos as obras de Abraão” (João 8:39) e negligenciamos o importante dever do culto em família?


Os exemplos de outros homens santos são semelhantes ao de Abraão. Considere a piedosa determinação de Josué, que declarou a Israel, “porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24:15). Nem mesmo a elevada posição que ocupava, nem a urgência dos deveres públicos que o pressionavam, distraíram sua atenção do bem-estar espiritual de sua família. Novamente, quando Davi trouxe de volta a arca de Deus para Jerusalém com júbilo e ações de graça, depois do exercício dos seus deveres públicos, ele voltou “para abençoar a sua casa” (2 Samuel 6:20). Além destes eminentes exemplos, podemos citar os casos de Jó (1:5) e de Daniel (6:10). Limitando-nos à somente um [caso] do Novo Testamento, lembramos da história de Timóteo, que foi criado em um lar piedoso. Paulo trouxe à memória a “fé sincera” que havia nele, e acrescentou: “a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice”. Há aqui uma admiração tal que o apóstolo poderia dizer “E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras” (2 Timóteo 3:15)!


Derrama a tua indignação sobre as nações que não te conhecem e sobre os povos que não invocam o teu nome!” Jeremias 10:25. Nós imaginamos quantos de nossos leitores tem ponderado seriamente nestas temíveis palavras! Observem que terríveis ameaças são pronunciadas contra aqueles que negligenciam o culto familiar! Quão inefavelmente grave é descobrir que as famílias que não oram são aqui comparadas aos pagãos, que não conhecem ao SENHOR. Mas, isto não deve nos surpreender. Por que, existem muitas famílias pagãs que se reúnem em adoração aos seus falsos deuses. E eles não envergonham milhares de cristãos professos?


Quão ruidosamente estas palavras deveriam falar a nós. Não é suficiente que oremos individualmente em nossos quartos; também é exigido de nós que honremos a Deus em nossas famílias. A cada dia, todos os familiares devem estar congregados juntos para curvarem-se diante do Senhor – para confessar seus pecados, para dar ações de Graças pelas Misericórdias Divinas, para clamar por Seu auxílio e bênção. Nada deve ser permitido interferir neste dever: todos os demais compromissos domésticos devem ser submetidos a este. O chefe da família deve ser aquele que dirige as devoções – mas se ele estiver ausente – ou gravemente enfermo – ou se não for convertido, então a esposa pode substituí-lo. Sob nenhuma circunstância o culto familiar deve ser omitido. Se pretendemos desfrutar das bênçãos de Deus sobre nossa família – então, façamos com que os membros reúnam-se diariamente para louvar e orar. “Honrarei aqueles que me honram” é a Sua promessa.


Um antigo escritor bem disse, “Uma família sem oração é como uma casa sem telhado, aberta e exposta a todas as tempestades.” Todo o nosso conforto doméstico e misericórdias temporais, emanam da Benignidade do SENHOR. O melhor que podemos fazer em retribuição, é reconhecer agradecidos juntos, Sua bondade para com a nossa família. Desculpas contra o cumprimento deste dever sagrado – são indolentes e inúteis. De que servirá, quando nós prestarmos contas a Deus quanto à mordomia de nossas famílias – dizer que nós não tínhamos tempo disponível, trabalhando muito da manhã até a noite? Quanto mais urgentes são os nossos deveres temporais – maior é a nossa necessidade de buscar auxílio espiritual. Nem tão pouco cristão algum pode alegar que não estava capacitado para tal serviço – dons e talentos são desenvolvidos pelo uso – e não pela negligência.


O culto familiar deve ser realizado reverente, sincera e simplificadamente. Para que então, os pequeninos recebam as suas primeiras impressões e formem a sua concepção inicial a respeito do Senhor Deus.


Precisa-se ter grande cuidado para não dar a eles uma falsa ideia sobre o Caráter Divino, e para isto, deve-se preservar o equilíbrio ao comunicar sobre a Sua Transcendência e imanência, Sua Santidade e Sua Misericórdia, Seu Poder e Sua Ternura, Sua Justiça e Sua Graça. O culto pode ser iniciado com breves palavras de oração invocando a Presença e bênção de Deus. Pode-se seguir com uma pequena passagem da Sua Palavra, com breves comentários sobre a mesma. Dois ou três versos de um Salmo ou hino podem ser cantados. Encerra-se com uma oração de entrega nas Mãos de Deus. Ainda que possamos não ser capazes de orar com eloquência, podemos orar sinceramente. As orações breves são as que geralmente prevalecem. Cuidado para não cansar os mais jovens.


As vantagens e bênçãos do culto familiar são incontáveis.


Primeiro, o culto em família prevenirá muitos pecados. Ele gera temor na alma, transmite um senso da majestade e autoridade de Deus, determina solenes verdades diante da mente, e derrama bênçãos de Deus sobre o lar. Piedade pessoal no lar é um meio mais influente, abaixo de Deus, para estimular a piedade aos pequenos. Crianças são, em grande parte, criaturas de imitação, dedicando-se a copiar o que observam nos outros.


Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes; para que pusessem em Deus a sua confiança e não se esquecessem dos feitos de Deus, mas lhe observassem os mandamentos.” (Salmo 78:5-7).


Atualmente, quanto das terríveis condições moral e espiritual das multidões, poderiam ser provenientes da negligência de seus pais neste dever? Como estes que negligenciam o culto a Deus em suas famílias – esperam por paz e conforto nelas? Oração diária em casa é um abençoado meio de graça para dissipar aquelas tristes corrupções das quais nossa ordinária natureza é sujeita.


Finalmente, a oração em família obtém para nós a presença e a bênção do Senhor. Aí está uma promessa de Sua Presença que é particularmente aplicável a este dever, “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.” Mateus 18:20. Muitos têm encontrado no culto familiar, aquele auxílio e comunhão com Deus os quais eles têm buscado, com menor eficácia, na oração particular.


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Tradução: Camila Rebeca Almeida
Revisão: William teixeira
Via: O Estandarte de Cristo

O Blog Bereianos recomenda o site O Estandarte de Cristo, o qual disponibiliza periodicamente excelentes artigos traduzidos de autores clássicos reformados. Inclusive esse artigo de A.W. Pink você poderá baixar gratuitamente em PDF aqui!


sábado, 26 de dezembro de 2015

Deus se fez Homem




Deus se encarnou como prova de amor e o incrível é que foi um amor por inimigos (“Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Rm. 5.8).

Este amor se revelou em uma encarnação que promoveu paz, Paz com Deus acima de tudo (Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; Rm. 5.1).

No Natal nos lembramos que Deus se fez homem, a Segunda Pessoa da Trindade assumiu a natureza humana para que, através da sua obediência, tanto ativa (cumprindo toda a lei de modo perfeito em nosso lugar), quanto passiva (sofrendo a maldição da lei em nosso lugar), fôssemos reconciliados com Deus.

Porém, não se trata apenas de paz com Deus, uma vez que a paz com Deus se revela na paz com nossos semelhantes. 

Deus nos amou e por causa do seu amor somos levados a amá-lo (Nós amamos porque ele nos amou primeiro. 1 João 4:19) e não só a ama-lo como também a amar uns aos outros (Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros. 1 João 4:11).

Quem não ama o próximo, na verdade, não ama a Deus (Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. 1 João 4:7), e Não tem paz com Deus, pois Deus não está nele (Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado. 1 João 4:12).

Declarar amor a Deus sem haver verdadeiro amor ao próximo é mentira (Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão.” 1 João 4:20, 21).

Logo, podemos dizer que Cristo veio para colocar todo aquele que nele crê em paz com Deus, inimigos são feitos amigos de Deus e que esta paz se evidencia na paz com os irmãos, de tal modo que, se não amo não conheço a Deus (Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. 1 João 4:8), se não busco ter paz com todos enquanto depende de mim (se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens;” Rm. 12.18), não tenho paz com Deus e que devo perseguir a paz com todos e a santificação, pois sem ela não verei a Deus (Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, Hebreus 12:14.)

Celebramos todos o Natal? Celebramos o que? Se há ódio, rancor, amargura, indiferença não há o que celebrar, o momento é de contrição, de confissão de pecado, pois sem paz com o semelhante, enquanto depende de nós, não há paz com Deus e sem paz com Deus a encarnação de Cristo não salva, condena.

Mude de vida e prepare-se para ter o que celebrar no próximo Natal, mas não precisa esperar até lá para celebrar, celebre a nova via hoje.

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Autor: Rev. Welerson Duarte
Fonte: Perfil do autor no Facebook

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Os perigos que devemos evitar no Natal




O dia 25 de dezembro em quase todo o mundo é uma data muito especial, a qual se comemora popularmente o nascimento de Jesus. Mas, por onde passamos vemos casas e estabelecimentos comercias com árvores enfeitadas, luzes e um Papai Noel que parece transmitir certa alegria. E não é somente isso que o Natal, supostamente, nos proporciona. Ele também faz com que as pessoas tenham um “espirito natalino” que dura, em média, 48 horas.
 

Mas esses não são os únicos perigos que o Natal pode nos levar. Uma volta em qualquer shopping center da cidade, veremos um local extremamente enfeitado, com o velhinho de roupa vermelha e barba branca, rodeado de criancinhas querendo tirar foto com ele. E, se já não bastasse isso, muitos entram no embalo e ensinam os seus filhos que este velhinho de barba branca mora no Polo Norte, que têm ajudantes (elfos ou duendes) e que no dia 25 de dezembro ele sairá por todo o mundo presenteando as boas criancinhas.

No entanto, a enganação não para por aí. Pois, além de propagar essas mentiras, tais pessoas fazem com que o foco do Natal seja mudado – de Cristo para Noel – ensinando que: 

• O Papai Noel é onipresente: Porque quando der a meia-noite do dia 24 para o dia 25, este bom velhinho estará em todo mundo presenteando cada criança; 

• O Papai Noel é onisciente: Pois tais criancinhas que receberão os presentes são aquelas que se comportaram bem, obedecendo ao papai e a mamãe, e que fizeram a lição de casa. E o Papai Noel sabe quem são cada uma; 

• O Papai Noel é especial (único): Este bom velhinho tem um trenó com renas que voam e um saco que contém presentes para todas as boas criancinhas. Mas não é somente isso. O Papai Noel recebe cartinhas (como se fosse orações) de pedidos para serem atendidos. 

Não, isso não é uma teoria da conspiração! O que eu quero mostrar é que até aquilo que pode fazer uma ligação com uma verdade bíblica, se for usada para substituir Jesus, é pecaminoso. Pois estaremos trocando a realidade de Cristo por um folclore. 

Não obstante, devemos ensinar às nossas crianças que o verdadeiro sentido do Natal não é somente dizer que Cristo nasceu, mas que o Seu nascimento teve um propósito, para que fôssemos salvos da escravidão do pecado. Ele sofreu na cruz a nossa morte - o Inferno que era para nós - para que tivéssemos vida e vida com abundância diante de Deus. 

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Autor: Denis Monteiro
Fonte: Bereianos

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A essência singular da fé - 1/2




Tendo visto o objeto da fé, partamos agora em direção à forma ou à essência singular e natureza da fé. A essência de algo é aquilo que faz com que este algo seja o que é. A essência de uma coisa a identifica e a distingue de todas as demais coisas. Uma coisa pode possuir apenas uma única essência. Logo, se há duas essências, há também duas coisas. Portanto, de semelhante modo, a fé possui uma essência que lhe é exclusiva.

Neste ponto, devemos notar em que consiste (e também em que não consiste) a natureza essencial da fé.

Em primeiro lugar, a fé não consiste em amor, que é aquilo que os papistas e os arminianos afirmam. O amor não é a essência da fé, pois 1) fé e amor são duas virtudes distintas: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor” (1Co 13:13). É demasiado óbvio que uma virtude não pode ser a essência de uma outra. 2) O amor é o fruto da fé. Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor” (Gl 5:6). A fé, portanto, não extrai sua eficácia do amor, antes, a fé é eficaz para a operação do amor, assim como a prática de toda virtude por meio do amor. Atentem também para o ímpeto da palavra ἐνεργέω (energeo) (cf. Rm 7:5; Cl 1:29). O resultado de algo não pode ser sua essência.

Em segundo lugar, a fé não consiste na obediência e observância dos mandamentos de Deus, que é algo que as partes supramencionadas afirmam. Pois a fé se distingue expressamente das obras (1Co 13:13). E também: Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia” (1Tm 1:5). Sim, na questão da justificação, as obras e a fé são contrastadas. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm 3:28). Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras” (Tg 2:18).

A fé verdadeira é a fonte das boas obras. Estas são frutos e característica da fé, tornando-se evidente, portanto, que onde as boas obras estão ausentes, também a fé verdadeira está ausente. “Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tg 2:26). Certamente o corpo está morto, caso a respiração tenha cessado. Semelhantemente, tal fé está morta, isto é, a verdadeira fé não está presente quando ela não se manifesta.

Mesmo se sustentarmos que o amor e a observância dos mandamentos não são a forma ou natureza essencial da fé, longe esteja de nós sustentar que a fé pode existir sem o amor. Quando um homem torna-se um crente, ele não apenas recebe iluminação aos olhos do entendimento e em certo grau se torna familiarizado com o Mediador e os benefícios da aliança, mas também se torna, desse modo, amorosamente cativo. O crente se regozija no fato de que há salvação, perdão de pecados e um Espírito que o santifica. Ele se regozija no fato de que há um Cristo e que Ele lhe é oferecido. Ele tem amor pela verdade (2 Ts 2:10). Tendo agora recebido e tendo sido unido a Cristo pela fé, seu amor para com Deus e Cristo é inflamado, e com toda sua disposição ele deseja ser obediente. Nós amamos porque ele nos amou primeiro (1Jo 4:19).

Em terceiro lugar, a essência mesma da fé não consiste em confiar que Cristo é meu Salvador, uma vez que:

(1) Cristo não morreu por todos os homens. Todo indivíduo precisaria, portanto, de fundamentos sólidos a partir dos quais seria capaz de concluir que Cristo morreu por ele e é, pois, seu Salvador.

(2) Deus de fato ordenou que todos que ouvissem Sua palavra cressem, mas Ele não ordenou que todos cressem que Cristo é seu Salvador. Não há um único texto na Bíblia para apoiar isso, de maneira que é simples imaginação afirmar que todos devem crer que Cristo é seu Salvador. Se assim fosse, ele creria numa mentira e iria para o inferno ao aderir a tal ilusão.

(3) Crer que Cristo é meu Salvador pertence à certeza, que é um fruto da fé, o qual pode variar em grau e pode, pois, estar inteiramente ausente. Portanto, a fé verdadeira permanece, e aquele que a possui permanece um verdadeiro crente.

(4) Vários indivíduos que creram temporariamente estão plenamente seguros de si mesmos e não possuem a menor dúvida de que Cristo é seu Salvador e morreu por eles. Eles, todavia, não possuem fé verdadeira e irão se encontrar em engano. Segue, pois, que a fé verdadeira não consiste em confiar que Cristo morreu por mim.

Em quarto lugar, a essência da fé não consiste em desejar ter Jesus como Salvador. Desejar, ou se dispor, pode ser considerado como um ato interno. Uma pessoa percebe a verdade, a necessidade e a excelência de ter Jesus como seu Salvador, e assim deseja tê-Lo como tal. Esse desejo interno incide no objeto em si, mas não nas circunstâncias concomitantes – tais como a necessidade de se abandonar a vida mundana, de buscar Cristo em verdade (agindo assim frequentemente), de entrar verdadeiramente em aliança com Cristo, encontrando somente n'Ele seu deleite. Também é necessário ao crente tomar o mundo como seu inimigo, testemunhando e batalhando contra ele, e estar disposto, por amor a Cristo, a suportar toda pobreza, nudez, perseguições e zombaria. Isto, contudo, não condiz com tais pessoas, e, portanto, eles abandonam por aquilo que Ele é, cedendo, portanto, às suas concupiscências. Destarte, o desejo deles nada mais é do que o desejo de Balaão: Que eu morra a morte dos justos, e o meu fim seja como o dele” (Nm 23:10).

Tal desejo pode ser também de uma natureza extrovertida, isto é, o ser que se expande em direção a Cristo, por meio do qual determinada pessoa demonstra ao Senhor Jesus seu desejo vertical por Ele e Seus benefícios, com o esquecimento de tudo o mais. Uma vez que seu coração não o condena, isso lhe dá liberdade para ir a Cristo e recebe-Lo pela fé como seu Salvador. Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap 22:17). Desse modo, visto que o desejo não precede o exercício da fé, na medida em que se considera a natureza da questão, embora onde quer que exista um desejo tão expansivo, existe também a verdadeira fé.

Em quinto lugar, a essência da fé não consiste num assentimento da verdade do Evangelho. Uma pessoa pode ter uma compreensão bastante clara de todos os mistérios da fé, na medida em que diz respeito tanto às suas verdades quanto à sua excelência. Deixemo-lo aquiescer com plena confiança a essas verdades como verdades, bem como à excelência delas – mesmo isto não é verdadeira fé. De fato, é verdade que os crentes também possuem conhecimento e assentimento, contudo, não podem se apoiar nisso. Eles sabem e têm experiência que esses elementos não os levam a se tornar participantes de Cristo, e, portanto, eles vão além e se apropriam de Cristo. Eles se apoiam n'Ele, confiando seus corpos e almas a Cristo, para que Ele possa justificá-los, etc. Portanto, se um homem não possui nada mais do que o conhecimento e assentimento, ele pode estar certo de que possui meramente a fé histórica ou temporal. Porém, se um indivíduo percebe dentro de si mesmo o exercício real da confiança em Cristo, considerando-a como um fruto de seu assentimento (tomando-o como o ato essencial da fé), ele de fato possui a verdadeira fé. Contudo, ele está equivocado ao considerar que o conhecimento é a natureza essencial da fé. Ilustraremos isto mais adiante na questão que se segue. A essência singular ou forma da fé não consiste, pois, nessas seis questões supramencionadas. Devemos, portanto, considerar agora em que consiste o ato singular e essencial da fé.

Questão: O ato essencial da fé consiste em assentir às verdades divinas e às promessas do Evangelho, ou, antes, consiste numa confiança sincera em Cristo para ser justificado, santificado e conduzido, por Ele, à felicidade?

Resposta: Antes de respondermos, queremos afirmar que:

(1) Não entendemos esse confiar em Cristo como equivalente à certeza – a convicção de que se é pessoalmente um participante de Cristo e todas Suas promessas, ou a paz e quietude resultantes dentro da alma, pois todas estas são frutos da fé, que são mais evidentes em um, e menos em outro. Pelo contrário, entendemos por confiar o ato expansivo [dinâmico] do coração por meio do qual o homem, ao se render e receber a Cristo, Lhe confia corpo e alma, a fim de que Ele possa salvá-lo. Podemos compará-lo a um credor que confia seu dinheiro a alguém, dando-o. De semelhante modo, podemos também compará-lo a alguém que, colocando-se sobre os ombros de um homem robusto a fim de ser carregado através de um rio, confia nele, inclinando-se e fiando-se nele, permitindo-se, desse modo, ser conduzido ao local designado.

(2) Afirmamos que um conhecimento das verdades do Evangelho e o assentimento às mesmas são os pré-requisitos necessários para tal confiança. Sustentamos, ainda, que, posteriormente, a fé também se foca continuamente sobre e é ativada pelas promessas.

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Autor: Wilhelmus à Brakel
Fonte: The Christian's Reasonable Service
Tradução: Fabrício Tavares
Divulgação: Bereianos

sábado, 19 de dezembro de 2015

A vontade de Deus pode ser resistida?




Nada pode ser resistido se não estiver nos planos de Deus. O homem não é uma deidade semelhante a Deus para que passe por cima de seus planos quando quiser, pois se fosse assim, o homem agiria independentemente de Deus e cuidaria de sua própria vida.

Escrevo isso pelo fato de eu ter lido um breve texto dizendo que nós, os calvinistas, "não entendemos que a Graça pode ser resistida", entretanto, ignorante são os próprios arminianos, os quais não entendem que todas as coisas foram criadas por Deus, que a história e o tempo estão todos submetidos ao Soberano Senhor, e cremos como dizem nas Escrituras Sagradas, que tudo Ele determinou; ninguém resiste a sua vontade, "pois querendo Ele quem impedirá?".

A cada dia que se passa, muitos homens falam e dizem mil palavras afirmando que amam a Deus, que servem e Ele e etc, mas o que está maquinado em seus corações é o ego. Estão endurecidos em suas vontades carnais, lutam por coisas humanas e a satisfação de suas vontades, sem saber que estas são as suas sentenças.

Lembrem-se, a graça só é resistida se estiver nos planos de Deus, e Ela só é aceita se também estiver em seus planos. Portanto, saibamos que tudo acontece por meio d'Ele, conforme Ele determinou.

Eu posso dizer dessa maneira porque um dia eu fui um arminiano e graças a Deus pude enxergar através do viés das Escrituras, e, iluminado pelo seu Santo Espírito, entendi que "Livre Arbítrio" é ilusão. Pois, segundo o entendimento, quem possuí esse atributo age e escolhe sem alguma influência de um agente determinante, que não tenha alguém dirigindo a sua vida (Leia Sl 139.16; Pv 19.21; Pv 21.1). Por este fato, compreendo que quem possuí esse atributo é somente Deus, sendo notório o por que Ele é a vida, é o poder, é a misericórdia, é o tempo (passado, presente e futuro; perfeitamente Eterno) e que Ele também é o próprio amor encarnado.

Não vejo algumas dessas qualidades no ser humano, e no amor e misericórdia, nestas, também somos imperfeitos. Por estes fatos não possuímos "livre arbítrio"; se possuíssemos este atributo valeria a pena Deus ter criado o inferno? Desde quando alguém que possuí esse atributo iria querer ir para lá? Já que é assim, Deus está sendo injusto em condenar os que estão lá, pois houve uma violação do "Livre arbítrio" de muitas pessoas.

Acredito que muitos arminianos não concordarão com isso, e outros serão iluminados e entenderão. Seja como for, posso ficar tranquilo sabendo que cada detalhe foi minunciosamente arquitetado pelo Senhor Jeová (Deus), a quem eu amo. Pois, se não fosse por meio de Cristo eu jamais conheceria a sua salvação e propiciação pelos meus pecados, n'Ele sou justificado.

Antes que eu encerre, duas coisas irei aqui escrever:

1- Deus é soberano, e, por meio d'Ele tudo foi predeterminado, entretanto, somos agentes responsáveis por nossos atos. Se você estudou sobre paradoxos, com certeza você me entenderá. Mais a frente passarei outros textos falando sobre isso detalhadamente;

2- A Graça salvadora não é preveniente, como disse antes, e falo isso sabendo do que se refere "preveniente". Pois, se fosse assim, ao analisarmos esta soteriologia, vários textos bíblicos como Jonas 2.9; João 6.37,44; João 10.27,28; Rm 9; Ef 1.3-14; João 1.12-13; Ef 2.8-10 estariam equivocados. Por isso fico com a Eleição Incondicional, a qual tange toda a Escritura, sem nela fazer alguma deturpação; os atributos imutáveis de Deus e a Expiação Limitada.

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Autor: Klarystone P. Leal
Divulgação: Bereianos

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Projeto Sola - musicalidade reformada de qualidade




OS 5 SOLAS


O que são os cinco solas? O que eles representam? Por que colocamos o nome do nosso trabalho de "Sola"? É realmente necessário falar sobre isso nos dias atuais ou estamos tratando apenas de uma maneira cool de voltar às origens da reforma através de uma linguagem retrô ou um modismo hipster?

Os cinco solas foi o meio que a igreja reformada encontrou para determinar suas bases. Com o estabelecimento dos cinco solas a reforma rompeu com a hierarquia católica romana, com as heresias daquela época, e fez um vibrante e robusto caminho de volta à ortodoxia bíblica. São cinco estacas bem firmadas da fé cristã, baseadas na história de Deus revelada a nós, que servem de farol até hoje para a Igreja Cristã como um todo. Sola, em latim, significa somente, apenas. Os solas são:
        • Sola fide – Somente a fé
        • Sola scriptura – Somente a escritura
        • Solus Christus – Somente Cristo
        • Sola gratia – Somente a graça
        • Soli Deo gloria – Somente a Deus a glória
Somente a Deus toda a glória, que nos traz a redenção pela da graça mediante a fé. Fé esta somente em Cristo Jesus, a expressão exata de Deus, Verbo Vivo feito em carne, revelado somente na Escritura que o próprio Deus nos deixou. Pelo Espírito podemos entender tudo isso, e como Filhos do Pai, somos incluídos em seu Reino de amor, que é hoje e para sempre.

Projeto Sola procura se firmar nessa fé ortodoxa, cada vez mais antiga e ainda assim nova a cada manhã. Procuramos uma fé bíblica no Filho do Amor. Sabemos que Ele é infinitamente maior que nós, o Deus poderoso, capaz de nos livrar de nós mesmos para uma nova vida plena de alegria nEle. Cremos que Ele e tão somente Ele, nos trouxe a redenção, e assim temos a esperança viva, e em vida. Cremos nEle, estamos firmados nEle, e em Sua graça podemos sempre descansar. 

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Autor: Guilherme Iamarino
Revisão: Lucas Freitas
Divulgação: Bereianos

Músicas que glorificam a Deus, são fieis às Escrituras e edificam a Igreja, nós recomendamos! O Projeto Sola é o encontro de dois Guilhermes (Guilherme Andrade e Guilherme Iamarino).