domingo, 31 de maio de 2015

"O Senhor te repreenda!" ou "Eu te repreendo!" ? Augustos Nicodemos


..."A razão pela qual discordo do uso do termo "repreender" pelos cristãos de hoje, para cercear a atuação demoníaca, não é somente a falta de evidência explícita. Existem razões teológicas. Repreender os principados e potestades é prerrogativa de Cristo somente, pois foi ele quem os venceu por sua morte e ressurreição. Além disso, ele é Deus e Senhor sobre os elementos, podendo, por isso, repreender os ventos, o mar, as tempestades. Ele é o criador e o Senhor e por isso diz ao demônio, "cala-te, sai dele, vai para tal lugar...!" Ele é DEUS! Se as pessoas vão usar o Senhor Jesus como modelo para "repreender" demônios e doenças, deveriam também passar a repreender tempestades e a fúria dos elementos - mas até onde sei, ninguém tem reivindicado ser capaz de fazer isso com sucesso.

Para mim este ponto fica claro na narrativa que Judas nos dá acerca do incidente entre o anjo Miguel e Satanás:
"O arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo contrário, disse: O Senhor te repreenda!" (Judas 9)
Nós estamos falando do arcanjo Miguel, que é o mais poderoso dos anjos de Deus. Lemos isso no Velho e Novo Testamentos. É o chefe das hostes espirituais angélicas de Cristo. Esse ser perfeito, sem pecado, muito mais poderoso do que os humanos e que assiste na presença de Deus, em certa ocasião, quando disputava o corpo de Moisés com Satanás (parece que Satanás queria tomar o corpo de Moisés para, talvez, levar Israel a pecar, idolatrando o seu corpo morto), não se atreveu a pronunciar juízo infamatório contra Satanás. Isso é o oposto do que muita gente hoje está fazendo (e não se comparam nem de longe com Miguel em poder). Miguel se limitou a dizer: "O Senhor te repreenda!"
Assim, não vejo nas Escrituras que foi dada autoridade aos crentes para repreender as hostes malignas, pois isso é prerrogativa de Cristo e do Pai. Entretanto, podemos orar e dizer: "Ó Senhor, repreende a Satanás, que procura perturbar a tua obra entre nós, afasta suas tentações, tem misericórdia, livra-nos do mal..." Não vejo problemas em que oremos assim. Na realidade, esta oração me parece bem mais bíblica do que decretos de determinações por parte de alguns. Quando os crentes da Igreja do período apostólico se viram encurralados pelos líderes religiosos em Jerusalém, simplesmente se dirigiram a Deus e suplicaram que o Senhor olhasse para aquelas ameaças. Entregaram-se ao Senhor e Juiz de todos, esperando que ele fizesse justiça e juízo na terra (At 4.29).


Autor: Augustus Nicodemus Lopes
Fonte: O que você precisa saber sobre batalha espiritualAugustus Nicodemus Lopes, Ed. Cultura Cristã, 4 edição, pg 124, 125, São Paulo, 2006.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

O ministério da futilidade


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Funciona mais ou menos assim:
Uma pessoa que se converte – pela graça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo – logo se envolve com as pessoas e rotina de sua igreja local. De cara esse envolvimento é benéfico. Pois, ao mesmo tempo em que tira a pessoa de uma má rotina de conversas e costumes, o coloca dentro de um novo grupo acostumado a trocar assuntos relacionados a cultura evangélica. Parece muito bom.
Pouco tempo depois a rotina dessa pessoa gira em torno desse grande pacote evangélico, ao ponto de muitas pessoas desejarem viver “só para o ministério” – querendo dizer com isso que o trabalho ordinário é quase que uma profanação da própria vida. Porém, esse novo estilo de vida trás no pacote: cultos semanais, cultos especiais, acampamentos e retiros, shows de evangelismos e congressos, reuniões de departamentos, reuniões de planejamentos, visitas a outras igrejas, arrumação, decoração, personalização, compras, vendas, etc. Enfim, tudo o que parece ser necessário para fazer da igreja local um grande ambiente agradável.
Uma pausa.
Como já escrevi em outras oportunidades, nasci e cresci dentro do ambiente igreja. Tive a oportunidade de presenciar algumas mudanças de costumes e modelos, o nascimento de novas denominações e o surgimento de alguns estrelas. Devido a todas essas eventualidades não tive como escapar da confrontação de minha fé prática pela essência do evangelho de Cristo. Inevitavelmente também passei a questionar o modelo e prática de muitas igrejas modernas.
Antes também é necessário dizer que fiz parte de todo esse cenário e, que também me esforço para não me tornar um refém desse sistema. É necessário dizer que creio que existem muitas pessoas bem intencionadas, pois com muita sinceridade se empenham para fazerem as coisas de uma maneira correta. Então a questão não está em torno da sinceridade das pessoas, mas dos preceitos e dos modernos modelos de igreja e ministérios e o resultado disso tudo – se não tomarmos devido cuidado. Tenho que dizer que somente as boas intenções não resultam em glória – digo a de Deus.
Continuando.
Dentro dessa nova rotina e pacote, vem um tipo de evangelho diferente do que os apóstolos haviam anunciado. O evangelho do comércio. Aprende-se o preceito dízimo e as muitas maneiras para justificar-se dos abusos de pedir dinheiro através de inúmeras campanhas e eventos especiais, porém sem nada devolver para os necessitados de sua própria comunidade. Os eventos são cobrados com o argumento de cobrir custos, as cantinas e cafés funcionam a todo vapor e as livrarias vendem seus livros, CDs, DVDs, camisetas e outras coisinhas a mais, com o objetivo de arrecadar mais recursos. Até polo comercial já existe, a famosa rua Conde de Sarzedas, cheia de produtos evangélicos apoiados por dezenas de cartazes de celebridades gospels – mas se quise-los em sua igreja, terá que pagar o cachê.
Por exemplo, enquanto estou escrevendo este texto já recebi em minha caixa de e-mails dois convites para participar de cultos/eventos especiais. Obviamente pagos. Um deles diz mais ou menos assim:
“A todos, boa tarde!
Estamos para fechar uma noite de ministração com Fulano de Tal que estará excepcionalmente uma noite em São Paulo e gostaria de saber quantos de vocês, meus amigos, participariam deste evento. Ouço dizer que haveria uma enormidade de gente para este evento. Por isso gostaria de ter mais ou menos a dimensão do numero de pessoas. Provavelmente será na quarta-feira dia XX de novembro com o custo estimado de R$ 30,00 por pessoa para cobrirmos os custos de sua vinda [e assim por diante].”
Minha resposta:
“… na real, esse é um cara que gostaria de ouvi-lo pessoalmente, pela boa música que ele faz e que também acredito ser pelo sentido certo das coisas. Mas velho, cada vez mais me proponho ir contra esse mercado evangélico. Parece o nosso governo, sempre tomando do cidadão comum e quase nunca devolvendo em benefícios. A igreja local deveria, ao menos, devolver um pouco para sua comunidade – dar de graça. Mas se houvesse uma prestação de contas ou um objetivo missionário, poderia pagar e ir. Agora, pense bem, pagar para ser ministrado, para adorar, para… Eu penso que cada vez mais a essência do evangelho de Cristo tem sido esquecida – anunciar as Boas Novas aos perdidos, de graça.
Que ele e a igreja local tenham seus custos, mas é que sempre só me apresentam custos, nada mais.
Nada pessoal. Apenas liberdade de expressão como todos os que a usam, mas a usam apenas para cobrar.”
Ainda pergunto, qual a finalidade de tantos eventos e produtos “evangélicos”?
Será que nosso modelo e estrutura se tornaram tão caros ao ponto de se tornarem ineficientes para a obra de Cristo? Por acaso alguém entende qual é a missão da Igreja? Sabemos o que significa ser missional, não departamental? Poderíamos nos tornar mercenários ao invés de missionários? É possível?
Ainda hoje, logo pela manhã, eu estava assistindo ao jornal e vi o ressurgimento do caso “corrupção de Edir Macedo, Igreja Universal e Rede Record” que ∆já acumulou em nesses últimos anos algo em torno de 8 bilhões de reais. Impressionante! Dentre muitas acusações, uma questão/acusação é a de que eles não usam o dinheiro, arrecadado dos fiéis, para aplicar em obras sociais e assistenciais, mas para enriquecer de maneira ilícita. Existe uma condição imposta pela lei que isenta igrejas de impostos para que assim estas possam usar os recursos na ajuda aos necessitados através de trabalhos sociais. Infelizmente, mau sabem eles que a grande maioria das nossas igrejas não faz nenhum trabalho social ou de ajuda aos necessitados na dimensão e proporção em que se arrecada dinheiro. Não sabem eles que muitas de nossas igrejas nem ao menos prestam contas para seus membros, que em minha opinião já é grande falta de respeito aos que entregam suas ofertas. Para a nossa vergonha ainda têm alguns que se justificam dizendo que os necessitados – órfãos, viúvas, presos, doentes e pobres – são somente na dimensão espiritual, não humana ou material.
Deus nos diz que o importante é o final e não o início das coisas. Ou seja, começar bem nessa nova vida com Deus, em Jesus Cristo, é bom; mas a questão é o que temos nos tornado depois, dia após dia dentro de nossas igrejas locais. O que temos aprendido é sobre a missão da igreja – anunciar as Boas Novas aos pobres e necessitados, de graça – ou, sobre como fazer eventos? Temos aprendido a ter piedade ou a manter prédios a todo custo, ainda que seja em detrimento de outras vidas? Será que deixamos de lado o papel missionário para assumirmos o papel de mercenários?
Temos que tomar o devido cuidado para que não nos tornemos fúteis pelas estratégias que adotamos. Ser fútil é o mesmo que ser vazio da vida verdadeira que está em Cristo e em seu verdadeiro sentimento. Em minha opinião, são muitos os que se tornaram sem nenhum conteúdo, pois fizeram da piedade uma grande fonte de lucro. Temos que tomar cuidado, pois essa prática de comercialização da fé poderá ser bem disfarçada e, quando menos percebermos, já estaremos vendidos a isso tudo. Tomem cuidado ao planejarem em suas igrejas locais. Percebam, com muita sinceridade e honestidade qual a finalidade de tais eventos. Acima de tudo saiba também que plano missionário, ajuda aos pobres, vida simples, evangelização, piedade, etc. diz respeito ao nosso papel pessoal e não o de uma igreja local. Pois isso só terá sentido como evento de uma igreja local, quando primeiro tiver para nós, na prática.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Lúcifer: quem ou o quê? Por Robert L. Alden




A única menção de Lúcifer na Bíblia está em Isaías 14:12. As notas marginais de muitas Bíblias dirigem a atenção para Lucas 10:18, onde lemos as palavras de Jesus: “Eu via Satanás, como raio, cair do céu”. Eu não aprovo tal relação e buscarei mostrar o motivo nos parágrafos seguintes. A tradução da frase helel ben shachar em Isaías 14:12 não é fácil. O bem shachar não é o problema.[1] A frase significa “filho da alva” ou similares. A estrela da manhã é o filho da manhã. O termo hebraico ben – “filho” significa algo muito próximo, dependente ou descrito pela palavra seguinte no estado absoluto.[2] Mas helel é um nome? É um substantivo comum? É um verbo? A palavrahelel aparece em Zacarias 11:2 em paralelo com um verbo cujas letras radicais são yll. Assim, ambos significam “uivo” ou “berro” e são aparentemente onomatopéias. Em Ezequiel 21:12 (v. 17 em hebraico) temos uma situação similar. Ali helel é paralelo az’q, que significa “gritar”. Jeremias 47:2 tem uma forma relacionada (hiph’il) e ali a palavra é traduzida como “lamento”. A versão síria, entre outras, entende assim a palavra em questão: “Como caíste do céu! Uivo na manhã…”.[3]

Todavia, muitos tradutores e comentaristas escolhem traduzir a palavra como um substantivo. O grego tem heosphoros e o latim lucifer. Os dois termos significam “portador de luz”. As traduções da Septuaginta e da Vulgata, juntamente com os principais rabinos e a maioria dos antigos escritores cristãos entendiam a palavra como um derivativo de hll, “brilhar”. Por conseguinte, ela significa “aquele que brilha” ou “aquele que resplandece”. Isso, sem dúvida, se encaixa melhor com o restante da fraseben shachar, “filho da alva”. 

Tertuliano, comentando sobre Isaías 14:12, disse: “Isso deve significar o diabo…”.[4] Orígenes, também, prontamente identificou “Lúcifer” com Satanás.[5] O Paraíso Perdido de John Milton contribuiu para a disseminação dessa noção errônea:

               … Cidade e corte do infernal tirano,
               Que Lúcifer chamado foi outrora
               Por se lhe assemelhar da tarde a estrela… [6]

Disso surgiu a perversão popular do belo nome Lúcifer para significar o Diabo.[7]

O argumento para entender helel como uma forma substantiva derivada do verbo significando “brilhar” é forte. Pelo menos três idiomas semíticos em adição ao hebraico têm uma forma dessa palavra e todas significam “brilho” ou “luz”. Há o acadiano ellu, o ugarítico hll e o árabe halla. “Lua nova” em árabe é hilal.[8] A forma feminina do acadiano é ellitu e é um nome para a deusa Ishtar. Ela é chamada também de mushtilil, “aquela que resplandece”.[9] Ela é Ashtar em fenício e ugarítico.[10] Os árabes chamam Vênus de zahra, “o brilho resplandecente”.[11] Considere também o germânico Helle, “brilho”.

Há uma observação adicional com respeito à estrela da manhã e a deusa.[12] Isaías 14:12 tem “filho” da manhã, não um feminino como esperaríamos. Além do mais, a tradução grega é uma palavra masculina.[13] Como sabemos agora, as estrelas da manhã e da noite são as mesmas, embora os antigos semíticos viam-nas como gêmeas. Albright julga a partir da evidência acadiana que esse deus era originalmente bi-sexual, sendo macho de manhã e fêmea de noite.[14] Na literatura ugarítica os nomes das crianças seduzidas pelo deus El são shchr e shlm.[15] Dessa forma, elas representam o nascer-do-sol e o pôr-do-sol. Temos sachar em árabe, seru em acadiano e sachra em aramaico para a manhã e shalam shamshi em acadiano para a noite.[16] A palavra germânica “Morgenröte” pode descrever melhor shachar, sendo ela aquele breve momento antes do romper da aurora.[17]

Por causa da conexão das palavras em Isaías com aquelas que descrevem a mitologia não-israelita, muitos têm sido rápidos em fazer a associação. Eissfeldt, por exemplo, diz que isso e Ezequiel 28:1-19 sobressaem excepcionalmente como mitos reais, isto é, eles não foram transformados ou convertidos ao padrão de pensamento teológico hebraico.[18] Tal conexão é desnecessária. Primeiro, não temos nenhuma evidência de uma história do Oriente Médio lidando com a rebelião de um deus mais jovem contra um deus principal. Em segundo lugar, Isaías poderia muito bem ter feito referência à glória da alva e usado à estrela da manhã para ilustrar seu ponto puramente em e de si mesmo.

Discutimos o significado das palavras helel ben shachar e descobrimos ser melhor traduzi-las como “aquele que brilha, filho da manhã” ou similares. “Lúcifer” é perfeitamente bom também (especialmente para o povo de fala latina), exceto pelo fato de ter sido mal-interpretada tão grandemente que é melhor evitarmos a mesma.

Mas a pergunta permanece – por que isso não pode ser o Diabo? Consideremos o contexto. Os capítulos 13 e 14 de Isaías lidam com Babilônia. Lemos em Isaías 13:1: “O oráculo com respeito à Babilônia, que viu Isaías, filho de Amós”. O capítulo 13 lida com a nação como um todo. O versículo 19 resume o capítulo:

E Babilônia, o ornamento dos reinos, a glória e a soberba dos caldeus, será como Sodoma e Gomorra, quando Deus as transtornou.

O capítulo 14 abre com as palavras confortantes em prosa à casa de Jacó (vv. 1-3). Então Deus os instruiu a cantar esse cântico sarcástico contra o rei da Babilônia (v. 4). Os versículos 7 até o 20 são um lamento zombeteiro. Primeiro as terras regozijam-se, especialmente as árvores, pois o lenhador não vem mais cortá-la – isto é, o rei está morto. O inferno é o cenário dos versículos 9-26. O fantasma daqueles que já estão lá expressam surpresa diante dos recém-chegados. “Tu também”, dizem eles (v. 10). O versículo 12 é uma citação dos indivíduos no inferno.

               Como caíste desde o céu,
               ó Estrela da Manhã, filho da Alva!

Eles continuam, lembrando o rei das suas ostentações de igualdade e mesmo superioridade a Deus, mas conclui observando que sua morte foi muito vergonhosa, tendo sido “lançado da tua sepultura…”. Resumindo, esse lamento nos fala da queda de uma Babilônia tirana. Seu reino de terror terminou e ele não deve ser mais temido. Isso descreve Satanás também? O acusador caiu de uma posição de poder? O adversário cessou de governar o mundo com “golpes incessantes e perseguição dura” (v. 6)? Pelo contrário, Satanás tem muito poder. Ele é o deus deste mundo (2Co 4:4) e o príncipe do poder dos ares (Ef 2:2). Em nenhum sentido ele caiu de uma posição de reinado neste mundo. O rei da Babilônia se foi e não é mais ouvido. Não é assim com Satanás! Sua “queda” marcou o início do seu reinado perverso. A queda do rei da Babilônia marcou o fim do seu reinado perverso. Lúcifer não pode ser Satanás. Isaías não está falando de Satanás no capítulo 14.[19]

Antes de concluir, seria interessante examinar as expressões bíblicas relacionadas a isso em Isaías 14:12.[22] Estrelas e em particular a estrela da manhã (que é na verdade um planeta) são algumas vezes usadas para o Messias, bem como para Satanás. Em Números 24:17b lemos: uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel.

Lemos em 2 Pedro 2:19: “E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações”. Ao anjo da igreja em Tiatira, João foi ordenado a escrever o seguinte (Ap. 2:28): “E dar-lhe-ei a estrela da manhã”. Apocalipse 22:16 é mais conclusivo: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã”.

Não negamos a conexão de Satanás com a luz. Nem negamos que ele teve um certo tipo de queda.[23] Observe Lucas 10:18 novamente: “Eu via Satanás, como raio, cair do céu”. Em adição, encontramos 2Co 11:14: “E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz”. Em nenhum desses exemplos a luz é algo mau. No último o termo é especialmente algo bom. No livro apócrifo de Eclesiásticos (50:6), lemos que Simão o filho de Onias era “como a estrela da manhã no meio de uma nuvem e como a lua nos dias de lua cheia” quando ele saiu do santuário. Finalmente, havia o falso messias Bar Kochba. Seu nome significa “filho de uma estrela”.

Para resumir e concluir, observemos simplesmente esses fatores salientes. Lúcifer é perfeitamente uma boa tradução de hll em Isaías 14:12. O significado “portador de luz” ou “estrela da manhã” é apropriado. Mas o capítulo lida somente com a queda do rei de Babilônia e esse versículo em particular. Que Satanás inspirou o rei perverso enquanto ele governava todos os homens degenerados é inegável, mas isso é muito diferente de dizer que Lúcifer é Satanás. A estrela da manhã é algo belo de contemplar e tem uma tarefa mui notável nos céus, aquela de anunciar o novo dia. O rei ostentava ser tão grande quanto Deus, e Isaías assemelha o mesmo àquela estrela que é bela por um momento, mas rapidamente é eclipsada pela glória do próprio sol. Que Satanás fez tal ostentação não é conhecido.[21] Não temos justificativa para tal identificação aqui, assim como não temos em Ezequiel 28, onde o rei de Tiro está em vista. Lúcifer é somente o arrogante, porém agora caído rei da Babilônia.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

O grande "pecado" pregado hoje é a falta de estima por si mesmo!




A essência do pecado é “Brincar de Deus” – viver não para Deus, mas para si mesmo, vendo Deus como parte do todo no qual estamos no centro e para qual mesmo Deus se inclina.  O mundo está mergulhado em auto-absorção.

Que imagem é essa senão a do diabo, já que seu pecado, orgulho auto-exaltado, foi o pecado dele muita antes de existirmos? Qual é o espírito do culto de nosso geração? Em torno do que ele está? O grande pecado pregado hoje, espelhando nosso mundo, não é a falha de em tudo honrar a Deus e lhe ser grato em todas as circunstâncias da vida, mas a falta de estima por si mesmo.

A geração que “cultua” a Deus em nossos dias ( cultua a si mesma) achando que a ideia de auto-humilhação (Lc 9.23, 1Pe 5.6) é um mal supremo, prefere então não se ofender  com a atitude oposta, o que podemos chamar de Deus-humilhação, ou seja, o rebaixamento de Deus em favor do ego e estima humana. É de novo e de novo cair da tentação do Éden de “ser como Deus” (Gn 3.5). Um culto que repudia a auto-humilhação e nossa indignidade, expressa a mente descrita por Paulo em Romanos 8.7: “o pendor da carne  é inimizade contra Deus” – é o retrato da mente do homem não regenerado. Esse pendor manifesta o profundo descontentamento do coração humano com o governo de Deus, ressentimento contra suas reivindicações e hostilidade para com a Sua Palavra. De tal forma isso se tornou comum que é só a Palavra ser proclamada que logo vozes se levantam: “mas isso é muito duro...” – Por causa disso o grito de libertação de nossos dias – ecoando o mundo, não é mais, “miserável homem que sou... quem me livrará...” – mas: “Que homem digno eu sou, quem me ajudará a ver melhor a minha dignidade?”

E onde entram as águas de Kheled-zâram nisso tudo? Na obra de Tolkien,O Senhor dos Anéis, já perto do fim da primeira parte – A Sociedade do Anel – depois que a companhia atravessa as perigosas minas de Moria,  com muito custo chegam do outro lado, tendo “perdido” Gandalf na atravessia, o grupo está arrasado. Há um grande lamento, Gandalf é o líder... como ficarão sem ele? Há grande sofrimento e incredulidade, ele era o mais poderoso entre eles.

No meio desse grande lamento por Gandalf e ainda temendo por suas vidas, Gimli ( o representante dos anões na sociedade ), insiste para que Frodo ( o portador do Anel ) e o inseparável amigo, Sam, se juntem a ele enquanto olha as águas de Kheled-zâram.

A principal maravilha do Lago-espelho é que ele reflete apenas as montanhas e as estrelas: “Das sombras dos próprios corpos inclinados não se via nada” – Ele tira, em seu reflexo, a pessoa do centro, ela não se vê, ela pode ver tudo sem ter ela no centro, sem ter ela como perspectiva central da cena. Ela então pode ver coisas que jamais poderia ver com ela no centro. Coisas fundamentais que parecem periféricas quando vistas ao redor apenas. Coisas maiores que nossas alegrias, triunfos ou tragédias aqui. Coisas que sobreviverão quando nenhum de nós estiver mais neste planeta. ( Ver coisas que durarão para sempre, como diz Paulo).

Não é essa nossa grande necessidade? As “águas de Kheled-zâram”, o lago espelho que nos tira totalmente da perspectiva central nas alegrias, triunfos e tragédias, e nos faz enxergar coisas eternas?

Sem a libertação da grande característica do pecado que os Reformadores chamaram de homo incurvatus in si, estamos presos em nossos egos, em auto-absorção, e todo culto, e todo nosso cristianismo não passa de farsa, pois ainda estamos brincando de deus.

Hoje, o primeiro grande mandamento de nossa geração, o primeiro mandamento que tem moldado nosso cultos é “amarás a ti mesmo” – explicamos todos os problemas com base na baixa auto-estima. Não gostamos de nada na Palavra de Deus que julguemos que provocará isso. Décadas de sermões, livros... inculcando isso na mente de uma geração fez um estrago enorme. Temos de fato o culto do Eu. O culto para o mundo, o culto relevante, o culto para o jovem, o culto para os casamentos, o culto...  O foco é o homem e não Deus, e sequer nos envergonhamos mais de tão grande distorção. Não há oposição quase nenhuma a tão grande afronta a Deus. Não cultuamos Deus, cultuamos nossa auto-estima.

A atitude corrente é a de autodeificação, dela só poderia brotar atos de autodeterminação contra Deus, Sua Palavra... tendo que o que é eterno e imutável, se “moldar” ao que é mortal, finito e mutável. Já não conseguimos olhar mais nada sem ver nossa face no centro da perspectiva. Era exatamente isso que as águas de “Kheled-zâram”, o lago espelho, fazia, tirava o homem da perspectiva.

Sem esse “milagre” de Kheled-zâram, o homem não pode sequer esbarrar nas doutrinas fundamentais sobre ele, pois, por não estarem indo na direção do culto a auto-estima, serão descartadas como absurdas, não porque a Bíblia não as ensina, mas porque ofende a sensibilidade do ego adorado. Por exemplo, todo homem além do trabalho regenerador de Deus é totalmente depravado, ou seja, ele não é capaz de nenhum ato ou pensamento sagrado, santo, aceitável... diante de Deus. Paulo diz que “tudo que não é por fé é pecado” (Romanos 14.23) – Portanto, tudo que um homem irregenerado faz é pecado, mesmo que ele dê todos os seus bens para alimentar o pobre ou o seu corpo para ser queimado (1 Coríntios 13.3) – O motivo verdadeiro para qualquer ato só pode ser definido devidamente com referência a honra de Deus, sua santidade,  sujeição a Ele, sua honra... qualquer coisa feita sem essa referência e que não confia tão somente em sua misericórdia e em nada de bom no homem, não são boas, portanto: "Não há ninguém que faça o bem nem um sequer" - Romanos 3:12. É óbvio que isso é uma pedra de tropeço intransponível para o coração irregenerado.

Vida cristã é uma vida que consiste em seguir a Jesus, e segui-lo está no estremo oposto ao culto da auto-estima: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!” – Hoje vivemos numa geração que quer seguir a Cristo com muito do mundo e de si mesmo, e muito pouco de Cristo em suas vidas, porque culto a auto-estima e cruz são antagônicos.

Ele diz que primeiro negue-se e só depois siga-me.

Primeiro – Renuncie a si mesmo.
Segundo – Tome a sua cruz.
Terceiro – Siga-me.

Essa é a ordem das coisas. Mas o Ego está no caminho juntamente com o mundo e suas milhares de atrações. O culto a auto-estima e o “para mim o viver é Cristo... e não mais vivo eu mais Cristo vive em mim”, são incompatíveis. O que Paulo está dizendo é que “para mim o viver é obedecer a Cristo, é servir a Cristo, é honrar a Cristo...” – é isso que significa. Tomar a cruz significa obediência, consagração, rendição... uma vida colocada à disposição de Deus para Sua glória – significa morrer para o Ego. “Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte” –Filipenses  1.20 – Fomos mandados para o mundo para viver com a cruz estampada em nós, não há outra forma para que de fato a vida de Cristo seja mostrada em nós: “Trazendo sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo” – 2Coríntios 4.10.

Tudo isso é fábula sem as “águas de Kheled-zâram”, ou seja, sermos levados a uma visão da vida em que não estamos mais no centro, podendo ver então tudo que é eterno, tudo que em nossos triunfos e tragédias aqui, glorifiquem a Deus: “Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.” 2 Coríntios 4:18 – Ele não põe ele mesmo no centro da perspectiva, mas o plano eterno de Deus – ao não estar centrado em si, tudo que era eterno tomava um lugar que não podia ser visto antes. Era o que as águas de  Kheled-zâram  faziam.

Nós não desanimamos porque os nossos olhos estão fixos no que é invisível e eterno.

Podíamos ver tantos exemplos na vida de Paulo, mas encerremos com um apenas. Paulo podia ver as correntes que o prendiam aos soldados romanos dia e noite. Mas seus olhos não estavam sobre elas e eles. Cada corrente foi forjada por Cristo e seria usada para Cristo. Se o ego estivesse no centro da perspectiva, isso seria impensável, mas Paulo pensava: “como posso usar essa cela de prisão e essas correntes para a glória de Cristo? Como honrar aqui, nesta situação o Senhor do Céu!”

Ele nunca fez das coisas deste mundo o alvo do seu olhar, ele podia ver longe, ele não se via no centro da perspectiva. Se ele fosse adepto do culto da auto-estima de nossa geração, teria ficado oprimido ali, paralisado por sua própria mortalidade, obcecado pelos triunfos aparentes dos inimigos, ou desestabilizado pelo pequeno apoio das igrejas. Mas ao não se ver no centro da perspectiva, ele pode fixar os olhos sobre o que era invisível.

Como dissemos antes, a principal maravilha do Lago-espelho, Kheled-zâram - era que refletia tudo, a obra das mãos de Deus, sem mostrar a face de quem estava olhando: “Das sombras dos próprios corpos inclinados não se via nada!” – Naquele momento de tragédia e dor, onde parecia que tudo iria perecer, não havia lugar melhor para Frodo e Sam olhar, e foi isso que Gimli os incentivou fazer.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Eleitos para a Santidade! - Thomas Watson (1620-1686)




O que é a santidade dos eleitos
Esta aplicação nos leva a uma pergunta: Se devemos ser como Deus em santidade, em que consiste nossa santidade? Em duas coisas: em nossa adequação em relação à natureza de Deus e em nossa sujeição à sua vontade.
Nossa santidade consiste em nossa adequação para com a natureza de Deus. Pois os santos são participantes da natureza divina, o que não significa ser participante de sua essência, mas de sua imagem (2Pe 1.4). Nisto está a santidade dos santos, quando são a imagem viva de Deus. Eles carregam a imagem da humildade divina em Cristo, de sua misericórdia, de sua celestialidade; de sua apreciação dos valores celestiais, de sua disposição para Deus e de amar o que Deus ama e odiar o que ele odeia.
Nossa santidade consiste também em nossa sujeição à vontade de Deus. Assim como a natureza de Deus é o padrão de santidade, assim sua vontade é a regra de santidade. A nossa santidade tem relevo quando fazemos sua vontade (At 13.22) e quando suportamos sua vontade (Mq 7.9); ou seja, quando o que ele sabiamente nos inflige, de bom grado, nós o sofremos. Nossa grande perspectiva deveria ser nos assemelhar a Deus em santidade. Nossa santidade deveria ser qualificada como a santidade de Deus; assim como sua santidade é real, a nossa também deveria ser. "Justiça e retidão procedentes da verdade" (Ef 4.24). Não deveria ser uma imagem de santidade, mas vida; não como os templos egípcios, embelezados, mas sem pureza. Deveria ser como o templo de Salomão, dourado por dentro: "Toda formosura é a filha do Rei no interior do palácio; a sua vestidura é recamada de ouro" (SI 45.13).
         O valor da santidade dos eleitos
A fim de fazer você se assemelhar a Deus em santidade, gostaria que considerasse o valor da santidade dos eleitos:
i.  A dignidade que se aplica aos santos. Quão ilustre cada pessoa santa é. É como um vidro limpo em que alguns dos raios da santidade de Deus brilham. Lemos que Arão vestiu suas roupas para glória e beleza (Êx 28.2). Quando vestimos a roupa bordada de santidade é para glória e beleza. Um bom cristão é avermelhado, pois foi aspergido com o sangue de Cristo; e branco, pois foi adornado com santidade. Assim como o diamante está para um anel, está a santidade para a alma; a qual, como Crisóstomo diz, "aqueles que a opõem só podem admirá-la".

ii.      A grandeza do propósito da santificação. É um grande propósito que Deus executa no mundo fazer uma pessoa à sua semelhança em santidade. O que são os respingos das ordenanças senão gotejos de justiça sobre nós para nos fazer santos? Para quê servem as promessas senão para encorajar à santidade? Para que o Espírito foi enviado ao mundo senão para nos ungir com a santa unção? (Uo 2.20). Para que servem todas as aflições senão para nos fazer participantes da santidade de Deus? (Hb 12.10). Para que servem as misericórdias senão para nos atrair à santidade? Qual é a finalidade da morte de Cristo senão que seu sangue pudesse nos purificar em nossa falta de santidade? "O qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade, e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu" (Tt 2.14). Assim, se não somos santos, crucificamos o grande propósito de Deus no mundo.
iii.     Nossa santidade atrai o coração de Deus. A santidade é a imagem de Deus e ele não pode fazer outra coisa senão amar sua imagem onde a vê. Um rei ama ver sua efígie sobre uma moeda. "Amas a justiça" (SI 45.7). E onde a justiça cresce, senão em um coração santo? "Chamar-te-ão Minha-Delícia ... porque o SENHOR se delicia em ti" (Is 62.4). Foi sua santidade que atraiu o amor de Deus a ela. "Chamar-vos-ão Povo Santo" (Is 62.12). Deus valoriza alguém não pelo nascimento rico, mas pela santidade pessoal.
iv.     A santidade distingue os cristãos no mundo. A santidade é a única coisa que nos distingue dos ímpios. O povo de Deus tem seu selo sobre si. "Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor" (2Tm 2.19). O povo de Deus é selado com um selo duplo: a eleição: "O Senhor conhece aqueles que são seus" e a santificação: "Afaste-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor". Como um nobre é reconhecido por outra pessoa pela sua estrela prateada; como uma mulher virtuosa é diferenciada de uma prostituta por sua castidade; assim a santidade é reconhecida entre os homens. Todos os que são de Deus têm Cristo por seu capitão e a santidade é a cor branca que vestem (Hb 2.10).
v.      A santidade é a honra dos cristãos. A santidade e a honra são colocadas juntas (lTs 4.4). A dignidade caminha com a santificação. "Àquele que nos ama e, pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai" (Ap 1.5). Quando somos lavados e feitos santos, então somos reino e sacerdotes para Deus. Os santos são chamados vasos de honra; são chamados jóias pelo brilho de sua santidade, pelo enchimento com o vinho do Espírito. Isso faz deles anjos terrenos.
vi.     A santidade nos dá ousadia diante de Deus. "Se afastares a injustiça da tua tenda... levantarás o teu rosto para Deus" (Jó 22.23 e 26). Levantar a face é um símbolo de ousadia. Nada pode nos envergonhar tanto ao nos aproximar de Deus quanto o pecado. Um homem ímpio pode levantar suas mãos na oração, mas não pode levantar sua face. Quando Adão perdeu sua santidade, perdeu sua confiança, escondeu-se. Porém, a pessoa santa vai até Deus como uma criança vai até seu pai; sua consciência não o censura com a possibilidade de qualquer pecado, portanto pode ir ousadamente ao trono da graça e ter a misericórdia para ajudá-lo em tempo de necessidade (Hb 4.16).
vii.    A santidade traz paz aos cristãos. O pecado levanta uma tempestade na consciência: onde há pecado, há tumulto. "Para os perversos, diz o meu Deus, não há paz" (Is 57.21). Justiça e paz são colocadas juntas. A santidade é a raiz que sustenta esse doce fruto da paz. A retidão e a paz se beijam.
viii.   A santidade conduz o cristão ao céu. Ela é a estrada do céu do Rei. "E ali haverá bom caminho, caminho que se chamará o Caminho Santo" (Is 35.8). Havia em Roma o templo da virtude e o da honra, e todos deveriam passar pelo templo da virtude para chegar ao templo da honra; assim, devemos ir do templo da santidade para o templo do céu. A glória começa na virtude. "Nos chamou para a sua própria glória e virtude" (2Pe 1.3). A felicidade não é nada mais que a essência da santidade; a santidade é a glória militante e a felicidade a santidade triunfante.
Como os eleitos devem buscar santidade
O que devemos fazer para nos assemelharmos a Deus em santidade? Ou como devemos buscar nossa santidade?
i.       Buscando refúgio em Cristo. Busque socorro no sangue de Cristo pela fé. Isso é o lavar da alma. As purificações da lei eram tipos e emblemas disso (1 Jo 1.7). A Palavra é o espelho que mostra nossas manchas e o sangue de Cristo é uma fonte para lavá-las.
ii.      Pedindo um coração santo. Orando a Deus lhe pedindo um coração santo. "Cria em mim, ó Deus, um coração puro" (SI 51.10). Derramem o coração diante de Deus e digam: "Senhor, meu coração está cheio de lepra, contamina tudo que toca. Senhor, eu não posso viver com tal coração, pois não posso te honrar; nem morrer com tal coração, pois não poderei te ver. Cria em mim um coração puro, envia-me o teu Espírito, refina-me e purifica-me, para que eu possa ser um templo apropriado para ti, ó santo Deus, habitar".

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Providência em tudo da vida


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A maioria dos cristãos que conheço fala de providência quando algo bom e incomum lhes acontece. Alguém parece arrumar seu pneu, e você chega em seu encontro exatamente no horário marcado. Quando você teme que perderá o pagamento do seu aluguel, um cheque (com precisamente a quantia que você necessita) chega via correio. Você ora pela cura de alguém amado e um pouco depois você encontra um tratamento médico que tem sucesso, quando tudo o mais falhou. Estas coisas acontecem, e nestas ocasiões frequentemente a palavra “providência” aparece em nossas línguas.  Assim, providência se torna a alternativa cristã para “sorte”. Quando alguém diz “boa sorte”, alguns cristãos advertirão que não cremos em sorte, mas somente na providência de Deus. Sorte é algo impessoal, um tipo de destino ou acaso. A providência está nas mãos do nosso Deus amoroso.  Usar a palavra “providência” para descrever bênçãos divinas especiais e coincidentes é perfeitamente correto. Nós experimentamos tais bênçãos, e providência é tão boa quanto qualquer outra palavra para descrevê-las. Mas deveríamos estar cientes de que a definição teológica de providência é muito mais ampla do que isto. A definição de providência é, certamente, teológica. A palavra é raramente, se é que alguma vez, encontrada nas traduções portuguesas da Bíblia, de forma que o conceito de providência é, até certo ponto, a tarefa de teólogos. Estes teólogos agruparam várias idéias bíblicas sob o nome de providência, e será útil para nós olharmos para tais idéias.  Catecismo Menor de Westminster define providência na resposta à pergunta 11: “As obras da providência de Deus são a sua maneira muito santa, sábia e ponderosa de preservar e governar todas as suas criaturas, e todas as ações delas”. Primeiro, note que a providência de Deus é universal. Ela se estende a todas as criaturas de Deus e a todas as ações delas. Assim, Efésios 1:11 fala do Deus que “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade”. É correto vermos a mão de Deus nas bênçãos especiais da vida. Mas é importante vermos a mão de Deus em nossas provas, dores e sofrimentos; até mesmo em nossas próprias decisões. A mão amorosa de Deus opera em tudo que acontece comigo e em tudo que faço. Assim, Paulo nos chama a sermos gratos em tudo (1 Tessalonicenses 5:18).  Frequentemente ouvimos que deveríamos ser gratos pela misericórdia de Deus em meio aos problemas. Mas é duro ver a mão de Deus em nossas decisões pecaminosas e ignorantes. Reconheçamos, contudo, que a mão de Deus na providência está nestas decisões também. Lembra-se que os irmãos de José o venderam como escravo? Mais tarde ele lhes disse: “Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós” (Gênesis 45:5) e “vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem” (Gênesis 50:20). Os irmãos fizeram uma decisão pecaminosa. Mas aquela decisão pecaminosa era parte da providência de Deus, para manter a família de Jacó viva. O relacionamento entre a providência de Deus e o pecado humano é de fato misterioso. Mas é sempre verdade que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8:28). Não deveríamos agradecer a Deus pelo pecado, mas deveríamos agradecê-lo de todo coração por usar o pecado para promover seus bons propósitos.  O Catecismo também nos diz que na providência Deus “preserva” e “governa”. Governar aqui não é tanto uma metáfora política quanto é a ideia de um piloto dirigindo um navio a bombordo. Quando Hebreus 1:3 diz que Jesus “sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder”, o retrato não é tanto aquele de Atlas sustentando o mundo sobre os seus ombros, mas de um corredor de revezamento levando um bastão até a linha de chegada. O governo de Deus é um conceito dinâmico, um que dá direção à natureza e história. O progresso do mundo está se dirigindo para um objetivo, para o cumprimento de todos os propósitos de Deus no retorno de Cristo. A história não é apenas uma coisa após a outra. Ela é uma narrativa maravilhosa, que levará a uma conclusão plenamente satisfatória (algumas vezes surpreendente).
“Preservação” é outro aspecto da providência mencionada no Catecismo. Ela significa várias coisas:  (1) Deus preserva a existência do mundo. Sem sua permissão (e especificamente aquela de Jesus Cristo), o mundo feneceria (Colossenses 1:17).  (2) Deus também preserva o mundo postergando o julgamento final até seus propósitos serem completados. Assim, ele prometeu a Noé que não destruiria o mundo através de outro dilúvio (Gênesis 8:21-22). Até então, os dias e estações sucederam um após o outro de uma maneira regular. Um dia, certamente, haverá outro desastre – desta vez com fogo (2Pedro 3:7) – como nos dias de Noé, quando Deus virá no julgamento final. Entre o dilúvio e o julgamento, contudo, Deus se detém. Por que? Para dar tempo à igreja, para que esta pregue o Evangelho a todo o mundo, e dê a oportunidade para pessoas se arrependerem de seus pecados e se voltarem para Cristo (2Pedro 3:9).  (3) Preservação também se refere ao modo como Deus nos protege do perigo durante todas as nossas vidas. Como Deus usou o pecado dos irmãos de José para providenciar alimento para eles no Egito, assim Deus regularmente “preserva o fiel” (Salmos 31:23). Outro Salmo diz “que [ele] preserva com vida a nossa alma e não permite que nos resvalem os pés” (Salmos 66:9). Isto é o que usualmente pensamos quando usamos o termo “providência”. Ela inclui todas as coincidências preciosas às quais me referi no começo deste artigo. Deus frequentemente intervém e nos resgata, quando mais precisamos de sua ajuda. Certamente, este tipo de providência tem um limite. A menos que vivamos até o retorno de Cristo, nós todos morreremos. Mas, certamente, até mesmo então a mão de Deus nos sustenta. Se você pertence a Cristo, nem mesmo a morte pode te arrebatar da mão de Deus (João 10:29). O Senhor cumpre sua promessa de vida longa (Efésios 6:3), ultimamente, na vida eterna. E esta vida eterna começa na vida presente. Todo mundo que confia em Cristo já possui a vida eterna (João 5:24).
Assim, a providência envolve muito mais do que algumas vezes pensamos. Sim, Deus nos dá pequenas surpresas durante a vida, e é uma bênção maravilhosa saber isso. Mas a providência também se estende a tudo o que acontece. Ela abarca todo o tempo e espaço. Ela nos conduz desde a criação até a eternidade futura. Tal providência merece nosso louvor extasiado: “Aleluia! Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom; porque a sua misericórdia dura para sempre” (Salmos 106:1).
***Fonte: Monergismo
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Eventos Imprevisíveis - Por Vern Poythress





O Primeiro Livro dos Reis, capítulo 22, contém um caso impressionante. Micaías, falando como profeta do Senhor, prediz que Acabe, o rei de Israel, cairia na batalha de Ramate-Gileade (1Rs 22. 20 – 22). Acabe disfarça-se na batalha para evitar ser um alvo especial para o ataque inimigo (v. 3). Mas o plano de Deus não pode ser frustrado. A narrativa descreve o evento crucial:
Então um homem armou o arco, e atirou a esmo, e feriu o rei de Israel por entre as fivelas e as couraças; então ele [o rei] disse ao seu carreteiro: Dá volta, e tira-me do exército, porque estou gravemente ferido. (v. 34)
“Um homem armou o arco, e atirou a esmo”. Ou seja, ele não mirou em qualquer alvo em particular. Uma tradução alternativa seria que ele puxou seu arco “em sua inocência” (ESV[1], leitura à margem). Uma tradução alternativa poderia ser que um homem acertou Acabe, mas ele não sabia que havia feito (ele era “inocente” de saber que era o rei). Qualquer que seja a interpretação que tomemos deste detalhe, devemos observar que a flecha atingiu o lugar correto. Acabe estava vestido de armadura. Se a flecha tivesse atingido a couraça de Acabe, simplesmente ele poderia ter ricocheteado. Se tivesse atingido as fivelas da armadura, a flecha não o teria ferido. Mas, aconteceu haver um pequeno espaço entre as fivelas e a couraça. Talvez, por apenas um momento, Acabe virou ou dobrou de tal modo que uma fina abertura apareceu. A flecha foi certeira, exatamente no lugar certo. Ela o feriu fatalmente. Ele morreu no mesmo dia (1Rs 22.35), tal como Deus o tinha dito.
Deus mostrou naquele dia que ele estava no comando dos eventos aparentemente aleatórios. Ele controlou quando o homem tirou o seu arco. Ele controlava a direção de seu alvo. Ele controlou o momento em que a flecha foi lançada. Ele controlou o voo da flecha. Ele controlou a maneira que Acabe colocou sua armadura no início do dia e a posição que Acabe ficou quando a flecha se aproximava. Ele controlou a flecha quando ela atingiu o exato lugar e entrou fundo o suficiente para produzir dano fatal os órgãos. Ele trouxe Acabe para sua morte.
Para não se sentir muito triste por Acabe, devemos lembrar que ele era um rei perverso (1Rs 21. 25, 26). Além disso, ao ir para a batalha, ele desobedeceu diretamente o aviso que o profeta Micaías dera em nome de Deus. Deus, que é Deus de justiça, executou justo juízo sobre Acabe. A partir deste julgamento deveríamos aprender a reverenciar e honrar a Deus.
A morte de Acabe era um evento de significado especial. Ele tinha sido profetizado de antemão, e o próprio Acabe era uma pessoa especial. Ele foi rei em Israel, um líder proeminente, uma pessoa importante em conexão com a história do povo de Deus no Reino do Norte de Israel. Mas, o evento ilustra um princípio geral: Deus controla os eventos aparentemente aleatórios. Um evento excepcionalmente único, como uma flecha voar em direção a Acabe, não foi narrado como uma exceção, mas como um peso particularmente importante do princípio geral, que a Bíblia ilustra em passagens onde ensinam o controle universal de Deus.
Coincidências
Nós podemos encontrar outros eventos na Bíblia onde o resultado depende de uma aparente coincidência ou causalidade.  
Em Gênesis 24, Rebeca, que pertencia ao grupo de parentes de Abraão, aconteceu de ela sair [para buscar água] justamente depois que o servo de Abraão chegou [ao local]. O servo estava orando e esperando, procurando uma esposa para Isaque, filho de Abraão (Gn. 24.15). O fato é que Rebeca veio justamente no momento certo, era claramente a resposta de Deus à oração do servo. Rebeca, mais tarde, casou-se com Isaque e deu à luz a Jacó, um ancestral de Jesus Cristo.
Anos mais tarde, Raquel, que pertencia à mesma família, aconteceu de sair [para levar as ovelhas] exatamente depois que Jacó chegou (Gen. 29.6). Jacó a encontrou, caiu de amor por ela e casou-se com ela. Ela se tornou a mãe de José, a quem Deus mais tarde levantou para preservar a família inteira de Jacó durante os sete anos de fome (Gen. 41 – 46). Quando Deus preparou Raquel para Jacó, ele estava cumprindo sua promessa que ele cuidaria de Jacó e o traria de volta a Canaã (28.15). Além disso, ele estava cumprindo sua promessa de longo alcance que ele abençoaria os descendentes de Abraão (vv. 13, 14)
Na vida de José, depois que os seus irmãos o tinham jogado em um poço, aconteceu de passar uma caravana de Ismaelitas que estava viajando para o Egito (Gen. 37.25)
A falsa acusação da esposa de Potifar levou José a ser jogado em uma prisão (Gen. 39.20). Aconteceu de Faraó ter se irado com seu copeiro-chefe e seu padeiro-chefe, e aconteceu de eles serem lançados na prisão onde José agora tinha uma posição de responsabilidade (40.1 – 4). Enquanto eles estavam repousavando, aconteceu de o copeiro-chefe e o padeiro-chefe terem um sonho especial. A interpretação de seus sonhos por parte de José o levou, mais tarde, à oportunidade de interpretar os sonhos de Faraó (Gen 41). Esses eventos conduziram ao cumprimento o antigo sonho profético que Deus tinha dado a José em sua mocidade (37.5 – 10; 42.9)
Depois que Moisés nasceu, sua mãe o pôs em um cesto feito de junco e o colocou entre os juncos à margem do Nilo. Aconteceu da filha de Faraó descer ao rio e sucedeu de ela notar o cesto. Quando ela abriu o cesto, aconteceu do bebê chorar. A filha de Faraó teve compaixão e adotou Moisés como seu próprio filho (Êx. 2.3 – 10). Como resultado, Moisés foi protegido da sentença de morte aos filhos machos das hebreias (1.16, 22), e ele “foi instruído em toda a sabedoria dos egípcios” (At. 7.22). Assim, Deus executou seu plano, de acordo com o qual Moisés seria, finalmente, o libertador dos israelitas do Egito.
Josué enviou dois espias a Jericó. Fora de todas as possibilidades, aconteceu de eles irem à casa de Raabe, a prostituta (Js. 2.1). Raabe escondeu os espias e fez um acordo com eles (vv. 4, 12 – 14). Consequentemente, ela e seus parentes foram preservados quando a cidade de Jericó foi destruída (6.17, 25). Raabe, então, tornou-se uma ancestral de Jesus (Mt. 1.5).
Aconteceu de [Rute] ir para a parte do campo que pertencia a Boaz” (Rt 2.3).[2] Boaz observou Rute, e então uma série de eventos levaram Boaz a casar-se com Rute, que se tornou uma ancestral de Jesus (Rt 4.21, 22; Mt. 1.5).
Durante a vida de Davi, lemos o seguinte registro do que aconteceu no deserto de Maon:
E Saul ia deste lado do monte, e Davi e os seus homens do outro lado do monte; e, temeroso, Davi se apressou a escapar de Saul; Saul, porém, e os seus homens cercaram a Davi e aos seus homens, para lançar mão deles. Então veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa-te, e vem, porque os filisteus com ímpeto entraram na terra. Por isso Saul voltou de perseguir a Davi, e foi ao encontro dos filisteus; por esta razão aquele lugar se chamou Rochedo das Divisões” (1Sm 23.26 – 28).
Davi escapou por pouco de ser morto, porque aconteceu dos filisteus conduzirem um ataque em um determinado momento, e o aconteceu de o mensageiro chegar a Saul quando ele estava pronto para atacar a Davi. Se nada tivesse acontecido para interferir na perseguição de Saul, ele poderia ter tido sucesso em matar Davi. A morte de Davi teria extirpado a linhagem de descendência que levaria a Jesus (Mt. 1.1, 6).
Quando Absalão articulou sua revolta contra o rei Davi, aconteceu de um mensageiro vir a Davi dizendo: “O coração dos homens de Israel tem seguido a Absalão” (2Sm 15.13). Davi, imediatamente fugiu de Jerusalém onde, se ficasse, teria sido morto. Durante a fuga de Davi, aconteceu de Husai, o arquita, vir encontrar com ele, “com roupa rasgada e cabeça coberta de terra” (v. 32). Davi falou a Husai para ele voltar a Jerusalém, alegando apoiar Absalão e derrotar o conselho de Aitofel (v. 34). Como resultado, Husai foi capaz de persuadir a Absalão a não seguir o conselho de Aitofel sobre a batalha, e Absalão morreu na batalha que, finalmente, aconteceu (18.14, 15). Assim, as coincidências contribuíram para a sobrevivência de David.
Quando Ben-Hadad, o rei da Síria, havia sitiado Samaria, a cidade foi privada de alimento. Eliseu predisse que no dia seguinte, a cidade de Samaria teria farinha e cevada (2Rs 7.1). O capitão permaneceu em expressa descrença, e então Eliseu predisse que ele “veria aquilo...mas...não comeria” (v. 2). No dia seguinte, aconteceu de o capitão ser atropelado, na porta, pelo povo que saiu e saqueou o acampamento atrás de alimento (v. 17). “Ele morreu, como o homem de Deus havia dito” (v. 17), vendo o alimento, mas não vivendo para participar do mesmo. Sua morte foi um cumprimento da profecia de Deus.
Quando Atalia estava prestes a usurpar o trono de Judá, ela se comprometeu em destruir  todos os descendentes da família de Davi. Aconteceu de Jeoseba estar ali, e ela pegou Joás, o filho de Acazias e o raptou e o escondeu (2Rs 11.2). Assim, a linhagem da descendência de Davi foi preservada, o que tinha de ser o caso se o Messias deveria vir da linhagem de Davi, como Deus havia prometido. Joás foi um antepassado de Jesus.
Durante o reinado do rei Josias, aconteceu de os sacerdotes encontrarem o Livro da Lei, quando eles estavam reparando os recintos do templo. Josias o tinha lido e, então ele foi estimulado a inaugurar uma reforma espiritual.
A história de Ester contém muitas coincidências. Aconteceu de Ester estar entre as jovens mulheres que foram levadas ao palácio do rei (2.8). Aconteceu de ela ser escolhida para ser a nova rainha (v. 17). Aconteceu de Mardoqueu descobrir os planos de Bigtã e Teres contra o rei (v. 23), e aconteceu de o nome de Mardoqueu ser incluído nas crônicas do rei (v. 23). A noite antes de Hamã planejar enforcar Mardoqueu, aconteceu de o rei perder o sono (6.1). Ele pediu para um assistente ler as crônicas, e aconteceu do assistente ler a parte onde Mardoqueu tinha descoberto o plano contra o rei (v. 1, 2). Aconteceu de Hamã ter entrado no pátio do rei exatamente naquele momento (v. 4). Toda uma série de acontecimentos operou para conduzir a Hamã a ser enforcado, os judeus resgatados e Mardoqueu ser honrado.
O livro de Jonas também contém eventos que agiram juntos. O Senhor enviou uma tempestade no mar (Jn. 1.4). Quando os marinheiros lançaram sorte a fim de identificar a pessoa culpada, “a sorte caiu sobre Jonas” (v. 7). O Senhor deu ordens ao peixe para que engolisse Jonas (v. 17). O Senhor deu ordem ao peixe para que a planta crescesse (4.6), ao verme que atacou a planta (v. 7), e em seguida, a ardência do sol e do “vento oriental abrasador” (v. 8).
Aconteceu de Zacarias, o sacerdote, esposo de Elisabete, ser escolhido pela sorte a oferecer incenso no templo (Lc 1.9). O tempo era extremamente oportuno, pouco antes da concepção de João Batista e da vinda de Jesus (v. 24 – 38).
Quando Dorcas morreu em Jopa, aconteceu de Pedro estar próximo em Lida (At 9. 32, 38). Aconteceu de os discípulos em Jopa ouvir que ele estava ali. Então, eles enviaram a Pedro e, como resultado, Dorcas foi trazida de volta à vida.
Quando o Apóstolo Paulo estava na prisão, aconteceu de o filho da irmã de Paulo ouvir sobre os planos dos judeus para matar Paulo (At. 23.16). Ele transmitiu a notícia ao comandante romano, da tribuna, que tinha seus soldados levado Paulo para Cesárea. Paulo foi salvo de morto por causa uma causalidade.
Poderíamos multiplicar exemplos deste tipo. A tempestade e o peixe que o Senhor enviou a Jonas podem ser considerados miraculosos, mas a maior parte temos nos concentrado sobre incidentes em que um espectador pode notar nada de extraordinário. Em cada caso, a narrativa como um todo mostra que Deus estava realizando seu propósito. Ele esta no controle desses eventos aparentemente “coincidentes”. Poderíamos listar muitos incidentes na Bíblia de tipos muito mais extraordinários, onde Deus exerceu poder miraculoso. Ele enviou as pragas sobre o Egito, dividiu as águas do Mar Vermelho, deu maná no deserto.
Vemos uma suprema exibição do controle de Deus quando olhamos algumas dos eventos aparentemente “coincidentes” durante a crucificação e morte de Jesus.
Quando Jesus foi crucificado, aconteceu de os soldados lançarem sorte para dividir suas vestes. Eles, assim, cumpriram a Escritura,
Repartiram entre si as minhas vestes, E sobre a minha vestidura lançaram sortes.” (João 19.24; Sl 22.18)
Quando Jesus morreu, aconteceu de um dos soldados perfurar um lado com uma lança, cumprindo a profecia:
Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. (Jo. 19.34)
E outra vez diz a Escritura: Verão aquele que traspassaram. (Jo. 19.37, citado de Zac. 12.10)
Depois da morte de Jesus, José de Arimatéia, um homem rico (Mt 27.57), levou o corpo de Jesus e o colocou em seu próprio sepulcro, que aconteceu de ser ali próximo e que estava vazio. Ele, então, cumpriu a profecia:
E José, tomando o corpo, envolveu-o num fino e limpo lençol, e o pôs no seu sepulcro novo.” (Mt 27. 59, 60)
E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte;” (Is 53.9)
Em Atos, os crentes tomaram coragem quando eles refletiram sobre como Deus tinha controlado os eventos da crucificação de Jesus (At. 4. 25 – 28). Eles oraram para que Deus continuasse a agir com poder em suas vidas:
Agora, pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a ousadia a tua palavra; enquanto estendes a tua mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Filho Jesus. E, tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a palavra de Deus.” (At. 4. 29 – 31)
Deus é o mesmo hoje. Podemos inferir que Deus está no controle em todos os eventos aparentemente coincidentes em nossas vidas. Todos nós temos de encarar eventos que não temos controles: “tempo e acaso acontecem a todos” (Ecl 9.11). É um grande conforto saber que Deus controla tais coisas, por Deus saber o que ele está fazendo. Romanos 8.28 relembra-nos que “para aqueles que amam a Deus, todas as coisas cooperam para o bem, para aqueles que foram chamados segundo seu propósito”. Louvemos a Deus por sua majestade. E confiemos o futuro a Deus, incluindo as “coincidências” e as “causalidades”.

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Notas:
[1] English Standard Version.
[2] A Almeida 21 traduz: “por coincidência, aquela parte da plantação pertencia a Boaz”. A Almeida Fiel traduz: “caiu-lhe em sorte...”

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Fonte: POYTHRES, Vern. Chance and the Sovereignty of God: A God-Centered Approach to Probability and Random Events. Wheaton, Ill: Crossway, 2014, p. 31 – 39).
Tradução: Rev. Gaspar de Souza