sábado, 30 de agosto de 2014



Os Perigos do Sectarismo Religioso - Por Thomas Magnum


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O Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns se desviarão da fé e darão ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios, sob a influência da hipocrisia de homens mentirosos, que têm a consciência insensível.” I Tm 4.1,2. A admoestação do Apóstolo Paulo ainda é pertinente para nossos dias, é de considerável urgência uma reflexão séria e bíblica sobre o sectarismo religioso.
Introdução
Sectário - Pertencente ou relativo a seita. sm 1 - Membro ou aderente de uma seita religiosa. 2 - Pessoa que segue outra no seu modo de pensar, ou lhe obedece cegamente; partidário, sequaz. 3 - Membro de um partido, que o segue e defende com facciosismo. 4 - Partidário apaixonado, intransigente, faccioso.[1]
Diante de tal definição, compreendemos como sectarismo a atitude decorrente de um indivíduo ou grupo sectário.
Entendemos como seita, um grupo dissidente e divergente do que comumente se prega em doutrinas religiosas ou filosóficas. Diante de tal realidade, a multiplicação de pensamentos religiosos, decorrentes do cristianismo ortodoxo, iremos abordar os efeitos maléficos de grupos separatistas que saíram da igreja cristã por conta de heresias.
Deve ficar claro que não estamos tratando aqui de denominações evangélicas que tem comunhão nos pontos centrais do cristianismo, como: A trindade de Deus, A divindade de Cristo, A divindade e pessoalidade do Espírito Santo, na inspiração, inerrância e suficiência das Escrituras, na segunda vinda de Cristo.
O Impacto Sociológico
Ao observarmos a aderência e a permanência de pessoas em grupos sectários, é notório o fator de isolamento. Quando o individuo é levado a “fé” no que o grupo ensina, ele é doutrinado a crer que somente seu grupo está correto e que os ensinos ali passados são realmente o que Deus quer para seu povo. Ligado a isso, vem à questão afetiva dentro do grupo, o adepto é agora inserido em um novo contexto social que realmente existe "amor", inexistente em outas religiões. Então, o próximo passo ao doutrinamento do novato é oafeto. Um terceiro ponto que podemos observar no sectarismo de tais grupos é o legalismo. A obediência cega aos líderes é fundamental para o "desenvolvimento" espiritual do fiel. Nessa submissão, incluímos a proibição ou recomendação, como dizem eles, de lerem algo que esteja fora dos ensinos da organização religiosa pertencente. Geralmente, isso inclui até a Bíblia, alegando a velha falácia romana de que somente os sacerdotes podem interpretar os ensinos sagrados ao povo. O que tais grupos sabem da Bíblia são versículos soltos, que aprenderam em treinamentos internos para evangelizarem os "pagãos". O carisma é outro fator que devemos destacar do ponto de vista social das seitas. Tais grupos possuem liderança carismática; com isso falamos de retenção de poder profético e gigantismo espiritual, através de gurus que se camuflam com nomenclaturas cristãs como: Profetas, Apóstolos, Bispos, Patriarcas e uma quantidade imensurável de títulos.
O Efeito Camaleão
As seitas tem efeitos camaleônicos e se infiltram entre os verdadeiros cristãos. Dr. Walter Martin, certa vez, relatou a presença de Testemunhas de Jeová nas cruzadas de Billy Graham, para enlaçarem os convertidos no evento e levarem para os Salões do Reino.[2] Outros exemplos claros são grupos musicais de seitas heréticas, que arrebatam muitos evangélicos com propósitos proselitistas, como grupos e cantores adventistas e o grupo Voz da Verdade que é unicista. Diante de tudo isso, vemos o crescimento de grupos sectários e a multiplicação de heresias dentro dos arraiais evangélicos, por três motivos básicos:
          • Imaturidade Espiritual          • Subversão Espiritual          • Soberba Intelectual
As ideias sectárias atingem mais as personalidades sugestionáveis, instáveis, sem fundamento doutrinário e sem sentido crítico. A seita é como um ramo que se desprendeu da árvore; originou-se como um protesto que considerava errado na igreja mãe. Para as seitas as igrejas perderam o sentido autêntico e o conhecimento verdadeiro das Escrituras.[3]
O Aspecto Doutrinário
Podemos identificar alguns aspectos doutrinários em grupos sectários:
          • Afirmam uma nova revelação dada por Deus          • Reivindicam poder espiritual          • Pregam a apostasia da igreja cristã          • São proselitistas          • Rejeitam as principais doutrinas da fé cristã histórica
Esses são apenas alguns pontos listados aqui, podemos apontar também os aspetos antropológicos.
Aspectos Antropológicos
O grupo exerce domínio sobre a mente do indivíduo, seus líderes pensam por ele, dirigem sua vida. Se o adepto resolver abandonar o grupo, ele corre o risco de perder amigos, família, ou seja, perde sua vida social. Esse é o fator mais traumatizante para quem abandona um grupo herético. São conhecidos vários fatos de pessoas que foram ameaçadas e torturadas psicologicamente em tais grupos, que infelizmente não estão distantes de nós, inclusive em igrejas que professam serem evangélicas, reivindicam exclusividade de salvação e se orgulham exageradamente do nome de sua denominação. Pessoas que são oprimidas por costumes legalistas e que não tem respaldo nenhum nas Escrituras, mas, são fruto de delírios de homens, como disse Paulo: 
Sabe, porém, que nos últimos dias haverá tempos difíceis; pois os homens amarão a si mesmos, serão gananciosos, arrogantes, presunçosos, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem afeição natural, incapazes de perdoar, caluniadores, descontrolados, cruéis, inimigos do bem, traidores, inconsequentes, orgulhosos, mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus, com aparência de religiosidade, mas rejeitando-lhe o poder. Afasta-te também desses. Porque entre eles estão os que se intrometem pelas casas e conquistam mulheres tolas carregadas de pecados, dominadas por várias paixões; que estão sempre aprendendo, mas nunca podem chegar ao pleno conhecimento da verdade. E à semelhança de Janes e Jambres, que resistiram a Moisés, eles também resistem à verdade. São homens de entendimento corrompido e reprovados na fé. Mas eles não irão adiante, pois sua insensatez será revelada a todos, assim como aconteceu com aqueles.” 2Tm 3.1-9.
Conclusão
Além de todos os danos listados aqui, não poderíamos deixar de incluir os psicológicos e espirituais. Existem pessoas que saíram de seitas ou de grupos neopentecostais que, mesmo depois de anos, sofrem os efeitos maléficos de tais mestres da mentira. Pessoas que tiveram suas personalidades assaltadas e suas vidas emocionais destruídas, seus afetos destroçados e suas mentes controladas. Muitas vezes, o motivo do avanço das heresias é o comodismo e descompromisso de igrejas cristãs, com membros fracos ou sem nenhum ensinamento Bíblico. Portanto, precisamos voltar às Escrituras, cultos de doutrina, treinamentos Bíblicos, seminários de doutrinas, fóruns e debates sobre seitas e heresias.
Antes, reverenciai a Cristo como Senhor no coração. Estai sempre preparados para responder a todo o que vos pedir a razão da esperança que há em vós. Mas fazei isso com mansidão e temor, tendo boa consciência, para que os que caluniam o vosso bom procedimento em Cristo fiquem envergonhados naquilo de que falam mal de vós.” I Pe 3.15,16
_________Notas:[1] Dicionário Michaelis[2] O Império das Seitas - Walter Martin[3] Resistindo as Tempestades das Seitas – Tácito da Gama Leite 
***Divulgação: Bereianos

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A PRIORIDADE DA PREGAÇÃO NO MINISTÉRIO PASTORAL




“Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1 Timóteo 5.17).
Recentemente participei da ordenação de um amigo ao Sagrado Ministério. Como ex-tutor do ordenando, foi-me dada a honra de dirigir-lhe a parênese, que nada mais é do que um breve discurso exortativo. Na ocasião, exortei-o a que tivesse bem definidas diante de si as prioridades do ministério, a saber, a oração e a pregação da Palavra. Creio que tal conselho é mais urgente hoje do que nunca, visto que o pastor de uma igreja local é obrigado a cumprir vários tipos de atividades ligadas ao pastorado, como por exemplo, estudos bíblicos, pregações, atos pastorais em congregações, visitas, discipulado, evangelismo, aconselhamento, administração e etc. Em muitos casos, encontramos pastores que tomam para si o encargo de mestres-de-obras.
Como consequência, as prioridades do ministério têm, paulatinamente, deixado de serem prioridades. Atividades legítimas, porém não prioritárias, acabam tomando o lugar da oração e da pregação da Palavra. Minha intenção aqui é discorrer um pouco a respeito de uma destas duas prioridades – a pregação do evangelho –, e a sua desconsideração por parte de muitas igrejas, que priorizam mais as visitas pastorais. R. Albert Mohler, Jr., afirma que, “a prioridade da pregação simplesmente não é evidente em grande número de igrejas”. [1]
O caráter prioritário da pregação da Palavra pode ser percebido, visto que ela é a primeira marca de uma igreja verdadeira. Não reconhecemos uma verdadeira igreja pelo número de visitas que o seu pastor faz, mas sim por sua fidelidade à exposição de todo o desígnio de Deus. Creio veementemente que, antes de qualquer outra coisa, é a fiel pregação que deve ser buscada em uma determinada igreja, como acertadamente pontua Mark Dever:
Se você está procurando uma boa igreja, esta é a coisa mais importante que deve ser levada em conta. Não me importo se você acha que os membros devem ser bastante agradáveis. Não me importo se a música é boa ou não. Estas coisas podem mudar. Mas o compromisso da igreja com a centralidade da Palavra que vem do púlpito, do pregador, daquele a quem Deus dotou de modo especial e chamou ao ministério – este é o fator mais importante que você deve procurar em uma igreja. [2]
Não é à toa que o pastor é chamado de Ministro da Palavra ou Ministro do Evangelho. Isso porque o seu grande chamado é para pregar, para expor a Palavra inspirada, autoritativa e inerrante de Deus. Creio também que é esse o padrão apresentado na Palavra de Deus.
As chamadas epístolas pastorais do apóstolo Paulo a Timóteo são bastante elucidativas a este respeito. Em todo o seu escopo encontramos a pregação da Palavra e o ensino da vontade de Deus como a grande função do pastor. Por exemplo, ao apresentar as qualificações necessárias para o episcopado, Paulo elenca, dentre elas, a aptidão para ensinar as Sagradas Escrituras (1 Timóteo 3.2). Se observarmos bem, não encontraremos que aquele que aspira ao episcopado deve ser um bom visitador. Ele deve ser irrepreensível, monogâmico, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar, não dado ao vinho, não violento, cordato, inimigos de contendas, desapegado dos bens materiais, bom marido, bom provedor e bom pai, experimentado e deve possuir bom testemunho diante de toda a sociedade (vv. 2-7). Porém, quão dificilmente encontramos uma comunidade que julgue a “empregabilidade” [3] dos seus pastores pelos critérios apresentados por Paulo.
No capítulo 4 de 1 Timóteo, encontramos outra evidência da primazia da pregação: “Expondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido” (v. 6). De que maneira Timóteo seria, verdadeiramente, um bom ministro de Cristo? Pelo número de visitas que viesse a fazer? Não! Pela exposição da bondade da criação de Deus em oposição àqueles que exigiam o ascetismo como regra de vida? Sim! O critério era a exposição da vontade de Deus. Ainda no verso 11, vemos o seguinte: “Ordena e ensina estas coisas”. No verso 13: “Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino”. Logo em seguida, o apóstolo acrescenta uma exortação a Timóteo: “Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério. Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto”. Timóteo seria negligente se não desse à pregação e ao ensino a primazia em seu ministério. Ele não poderia trocar a pregação por nenhuma outra faceta ministerial. Em vez disso, ele deveria ser diligente na proclamação da vontade do Senhor. Dessa forma, o seu crescimento e progresso seriam manifestos diante de todas as pessoas. Tudo passava pela pregação, não pela visitação.
Quando chegamos a 2 Timóteo, vemos que o padrão permanece inalterado. Logo no capítulo 1, falando acerca do evangelho, Paulo afirma que foi designado por Cristo como “pregador, apóstolo e mestre” (v. 11). Três ofícios inextricavelmente ligados à pregação. Em 2 Timóteo 2.14-15, está escrito: “Recomenda estas coisas. Dá testemunho solene a todos perante Deus, para que evitem contendas de palavras que para nada aproveitam, exceto para a subversão dos ouvintes. Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”.
O texto áureo da primazia da pregação é 2 Timóteo 4.1-2: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina”. A colocação feita por Mark Dever a respeito deste texto é extraordinária:

Essa foi a razão porque Paulo disse a Timóteo que “formasse um comitê”. Certo? É claro que não. Paulo nunca disse isso. No Novo Testamento, você nunca achará um pregador sendo instruído a formar um comitê. “Faça uma pesquisa”? Não! Paulo também nunca disse que alguém fizesse uma pesquisa. “Gaste seu tempo fazendo visitas”? Não! Paulo também nunca disse que um pregador fizesse isso. “Leia um livro”? Não! Paulo jamais disse ao jovem Timóteo que fizesse qualquer dessas coisas. Paulo disse a Timóteo, de modo direto e claro: “Prega a palavra” (2 Tm 4.2). Este é o grande imperativo. [4]
Fiz questão de deixar por último a passagem que encabeça a nossa reflexão. Eis o que o apóstolo Paulo disse ao jovem pastor Timóteo: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1 Timóteo 5.17). Como este texto tem sido desprezado pela grande maioria das congregações! O termo “honorários” (timês) significa literalmente “estipêndio, salário”, mas não apenas isso. Significa também “honra, reverência, deferência, respeito, reconhecimento”. [5] O que o apóstolo Paulo está dizendo, é que os presbíteros que se afadigam na palavra e no ensino, com especialidade, devem ser tratados pela igreja onde servem com respeito dobrado, deferência duplicada. John Stott afirma o seguinte: “Os presbíteros que atuassem bem deveriam receber tanto o respeito como uma remuneração, ou seja, as duas coisas: honra e honorários”. [6] Não obstante, o que encontramos muitas vezes são pastores criticados e difamados porque não são bons [7]visitadores, mesmo que sejam fiéis pregadores da Palavra, homens que se afadigam, perdem noites de sono e muitas vezes se privam do convívio com suas famílias estudando e se preparando para oferecer às ovelhas do Senhor alimento de qualidade.
Para finalizar o apanhado bíblico sobre a prioridade da pregação, gostaria de citar apenas Hebreus 13.7: “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram”. De quem os crentes hebreus deveriam lembrar? Dos líderes que eram bons visitadores? Não! Eles deveriam recordar dos líderes que lhes haviam pregado a Palavra de Deus!
Em momento algum desejo que alguém entenda que estou afirmando que a visitação pastoral não é importante, ou que não deve ser feita. Visitar é legítimo e importante. Contudo, estou apenas tentando deixar claro que ela não é a prioridade ministerial de nenhum pastor, não importando o tamanho da sua igreja ou o desejo dos membros. O próprio apóstolo Paulo que era constante na visitação aos lares dos efésios (At 20.20), sempre que se referia a si próprio, o fazia em termos que destacavam a pregação do evangelho (1 Co 2.1-16; Cl 1.24b-29; 1 Tm 2.7; 2 Tm 1.11; cf. At 17.18). Também não estou ignorando o ministério e os sábios conselhos de homens, como Richard Baxter em Kidderminster. Só não entendo como aquilo que realmente é a prioridade é tão desvalorizado no meio evangélico.
Devemos considerar também que, muitas vezes, pessoas que dirigem críticas mordazes e ácidas aos seus pastores por conta da ausência de visitação, nem sempre precisam de visitas. Em muitas ocasiões se trata apenas de desejo, não de real necessidade. Ademais, mesmo que visitemos pouco, geralmente, as pessoas mais críticas são justamente aquelas que mais foram visitadas por nós.
Para finalizar, gostaria apenas de mencionar o pensamento do sábio Dr. David Martyn Lloyd-Jones. Para ele, a fiel pregação da Palavra de Deus poupa muito tempo e trabalho pessoal ao pastor. Para ele, a verdadeira pregação aborda problemas pessoais. A consequência disso, é que a poderosa e fiel pregação usada pelo Espírito Santo pouparia o pastor de muitas visitas e de outros trabalhos de natureza pessoal. Eis as palavras de Lloyd-Jones:

Voltamo-nos agora para o terreno dos problemas pessoais. Este é um argumento familiar em nossos dias, conforme já indiquei. As pessoas dizem que os pregadores sobem aos púlpitos e pregam os seus sermões, mas ali mesmo, à frente deles, há indivíduos com problemas e sofrimentos pessoais. E o argumento prossegue: você deve pregar menos e dedicar mais tempo ao trabalho pessoal, aconselhando e conversando. Minha resposta a esse argumento consiste em sugerir, uma vez mais, que a solução é colocarmos a pregação na posição primordial. Por quê? Porque a verdadeira pregação aborda os problemas pessoais, de tal modo que poupa muito tempo ao pastor [...] A pregação do evangelho a partir do púlpito, aplicada pelo Espírito Santo aos ouvintes, tem sido o meio de tratar dos problemas pessoais a respeito dos quais eu, na qualidade de pregador, nada sabia, até que as pessoas viessem falar comigo [...] Não me compreendam mal. Não estou dizendo que o pregador jamais deve realizar qualquer trabalho pessoal; longe disso. Mas o meu argumento é que a pregação sempre deve vir em primeiro lugar e não deve ser substituída por coisa alguma. [8]
A partir do que as Escrituras ensinam, podemos concluir que não podemos relegar a pregação a um lugar secundário. Quando isso acontece, uma determinada igreja local é prejudicada e o pastor acaba perdendo o foco do seu ministério. Não importa o quão bom administrador alguém seja. Não importa o quão bom visitador algum pastor. No final das contas, o que será requerido dele é a fidelidade dedicada ao evangelho e à exposição de todos os desígnios de Deus.
Como pastor de uma igreja local, como eu gostaria que nossas igrejas compreendessem esta verdade. Mas, quem sabe, um dia... quem sabe, um dia...
Louvado seja o Senhor pela pregação do evangelho!
NOTAS:
[1] R. Albert Mohler, Jr., “A Primazia da Pregação”, In: Don Kistler, et. al. Apascenta o meu Rebanho: Um apaixonado apelo em favor da pregação. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 17.
[2] Mark Dever. Nove Marcas de uma Igreja Saudável. São José dos Campos: Fiel, 2007. p. 54.
[3] Vem do inglês Employability. Significa o conjunto de conhecimentos, habilidades e comportamentos que tornam um profissional importante não apenas para sua organização, mas para toda e qualquer empresa. São características que transcendem a organização, pois atendem às necessidades do mercado como um todo. Extraído do sitehttp://blog.kombo.com.br/candidato/2009/01/28/o-q-e-empregabilidade/.
[4] Mark Dever. Nove Marcas de uma Igreja Saudável. p. 55.
[5] Thayer’s Greek Lexicon in BIBLEWORKS 6.0.
[6] John R. W. Stott. A Mensagem de 1 Timóteo e Tito. São Paulo: ABU, 2004. p. 138.
[7] Para a maioria das pessoas um bom visitador é aquele que é frequente na casas dos membros da igreja, não importando o propósito da visita.
[8] D. Martyn Lloyd-Jones. Pregação e Pregadores. 2. ed. São José dos Campos: Fiel, 2008. pp. 38-39.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

ADÃO E A QUEBRA DOS DEZ MANDAMENTOS - Um Excerto de Edward Fisher



Nota Introdutória do Cristão Reformado
Edward Fisher foi um puritano londrino acerca de quem pouco se sabe, e morto por volta de 1655. De acordo com o Dr. Joel Beeke, “foi convertido ao pensamento puritano depois de conversar com Thomas Hooker”.[i] Fisher não era ministro ordenado, sendo, antes, um leigo “bastante versado nos temas teológicos”.[ii] É de sua autoria um livro intitulado The Marrow of Modern Divinity, publicado pela primeira vez em 1645 na forma de um diálogo entre quatro personagens: 1) Evangelista, que através das suas respostas a objeções levantadas apresenta a medula ou o cerne (“marrow”) da teologia reformada; 2) Neophytus, um cristão novo convertido; 3) Nomista, um legalista; e 4) Antinomista, alguém que não via razão para se falar em obediência à lei de Deus.
A obra de Edward Fisher teve ampla influência sobre um acontecimento denominado “Controvérsia do Cerne” (“Marrow Controversy”), entre os teólogos escoceses, de 1717 a 1723.[iii] Esta controvérsia teve início por conta do legalismo e neonomismo que ameaçava a Igreja da Escócia, porém, posteriormente, girou em torno “da defesa da necessidade da livre oferta do evangelho”.[iv] O livro em si apresenta grandemente aquele que é o pensamento reformado, tendo recebido o apoio entusiasmado dos irmãos Erskine (Ebenezer e Ralph), e de Thomas Boston, que se empenhou na publicação da obra em 1726, adicionando numerosas notas ao texto de Fisher. Interessantemente, os Erskine, Thomas Boston e outros que se posicionaram favoráveis ao livro ficaram conhecidos como The Marrow Men. É digno de nota que, de acordo com Joseph Hall, a controvérsia em torno do livro de Edward Fisher “é, em si, indicativa do declínio da ortodoxia teológica escocesa".[v] O testemunho de outro erudito, Michael D. Makidon, é o seguinte: “É lamentável, mas muitos dos críticos da obra estavam grosseiramente desinformados a respeito do seu conteúdo, no entanto, condenaram-no como heresia. Logo, aqueles que os subscreveram também foram condenados”.[vi]
Como Adão Quebrou os Dez Mandamentos? Eles Não Existiam – Ainda Introdução
Ninguém deve imaginar que Edward Fisher propôs que a quebra dos Dez Mandamentos por parte de Adão foi algo consciente. O Decálogo ainda não havia sido entregue de maneira formal e explícita. Contudo, isso não significa que os mesmos, como expressão da Lei Moral de Deus, que é eterna, ainda não existissem. Não havia ainda duas tábuas de pedra com os Dez Mandamentos, porém, a norma da lei, o seu cerne, já fora gravado no coração humano. É interessante a opinião de Francis Turretin, teólogo genebrino e professor da Academia de Genebra, instituição fundada por João Calvino. Discutindo o Pacto da Natureza[vii], Turretin afirma que o dever que o homem tinha para com Deus consistia num aspecto geral e noutro, especial. O geral “era o conhecimento de Deus e o culto devido a ele, justiça para com o seu próximo e todo tipo de santidade [...] O primeiro estava fundado na lei da natureza não escrita em um livro, mas gravada e estampada no coração”.[viii] Turretin fundamenta sua afirmação na passagem de Romanos 2.14-15: “Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se”.
O mandamento registrado em Gênesis 2.16-17 não era a única lei existente. Turretin diz que este mandamento era de cunho especial e simbólico. A árvore do conhecimento do bem e do mal era um sacramento, “um símbolo e prova da obediência do homem. Pois nela, como uma matriz, toda a lei natural estava incluída”.[ix]
Justifica-se, portanto, o arrazoado de Edward Fisher.
O Texto de Edward Fisher
O trecho traduzido abaixo é uma seção do primeiro capítulo na qual Evangelista explica a Nomista as sérias e graves implicações do pecado de Adão. Evangelista apresenta a Nomista quatro razões pelas quais a desobediência de Adão foi uma grande ofensa. Ele pergunta logo em seguida: “Poderia haver pecado maior do que o de Adão, visto que num piscar de olhos ele quebrou todos os Dez Mandamentos?”[x] Nomista, aparentemente assustado, diz: “Você diz que ele quebrou todos os Dez Mandamentos? Senhor, peço que me mostre onde!”
Eis a resposta:
1. Ele escolheu a si mesmo como outro deus quando seguiu o demônio.
2. Ele idolatrou e deificou o seu próprio ventre, como disse o apóstolo: “o deus deles é o ventre”.
3. Ele tomou o nome de Deus em vão, quando não acreditou nEle.
4. Ele não guardou o descanso e o estado em que Deus o colocou.
5. Ele desonrou seu Pai que estava no céu; e, portanto, seus dias não foram prolongados na terra que o Senhor Deus lhe havia dado.
6. Ele massacrou a si mesmo e a toda a sua posteridade.
7. De Eva, ele era virgem, mas com seus olhos e sua mente ele cometeu fornicação espiritual.
8. Como Acã, ele roubou o que Deus ordenara que fosse deixado de lado, e este roubo é a razão dos problemas de todo o Israel e de todo o mundo.
9. Ele deu um falso testemunho contra Deus, quando acreditou no testemunho que o diabo deu diante dele.
10. Como Amnom, ele cobiçou um mal, que cobiçado, custou-lhe a vida e a toda a sua descendência. Agora, quem considera que um ninho de males foi aqui cometido com um só golpe deve, necessariamente, como Musculus, ver o nosso caso como tal, que somos compelidos de todas as formas a bendizer a justiça de Deus, e condenar o pecado dos nossos primeiros pais, dizendo a respeito de toda a humanidade, como o profeta Oseias disse a respeito de Israel: “A tua ruína, ó Israel, vem de ti” (13.9).



[i] Joel R. Beeke e Randall J. Pederson. Paixão pela Pureza. São Paulo: PES, 2010. p. 323.

[ii] Ibid.

[iii] Para uma exposição interessante da Controvérsia do Cerne, remeto o leitor à obra já mencionada de autoria de Joel R. Beeke e Randall Pederson. Paixão pela Pureza. pp. 324-328.

[iv] Joseph H. Hall. “The Marrow Controversy: A Defense of Grace and the Free Offer of the Gospel”,“Mid-America Journal of Theology, nº 10 (1999). p. 241.

[v] Ibid. p. 243.

[vi] Michael D. Makidon. The Marrow Controversy. p. 73.

[vii] Nomenclatura usada por Turretin para se referir ao que comumente é denominado de Pacto das Obras.

[viii] Francis Turretin. Institutes of Elenctic Theology. Vol. 1. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 1992. p. 577.

[ix] Ibid. p. 579.

[x] Edward Fisher. The Marrow of Modern Divinity. 1991. p. 35. A presente edição é uma reimpressão da edição publicada por Thomas Boston, em 1726.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

DEFININDO SANTIDADE - Por J. I. Packer


O que vem a ser santidade? Precisamos de uma definição completa, e minha próxima tarefa é desenvolver uma.
Em primeiro lugar, consideremos a palavra em si.Santidade é um substantivo que pertence ao adjetivo santo e ao verbo santificar, que basicamente significa tornar santo. Santo, tanto no hebraico, como no grego, significa separado, consagrado e recriado para Deus. Quando aplicada às pessoas, como “os santos de Deus” ou “santos”, a palavra implica em devoção e assimilação: devoção, no sentido de viver uma vida de serviço para Deus; assimilação, no sentido de imitar, conformar-se a e tornar-se como o Deus a quem se serve. Como cristãos, a implicação é que precisamos assumir a lei moral de Deus como a nossa regra e o Filho encarnado de Deus como o nosso modelo. É aqui que a nossa análise de santidade deve começar.
Em seu grande livro Santidade, (lançado em 1879, e ainda largamente vendido), o bispo anglicano, John Charles Ryle, desenvolve, em termos simples e bíblicos, uma lista clássica de 12 pontos na qual esboça um quadro de uma pessoa santa. Sua descrição diz o seguinte:
1. 1. Santidade é o habito de ser de uma só mente com Deus, de acordo com o que as Escrituras descrevem como sendo a mente dele. É o hábito de concordar com seu julgamento, odiando o que ele odeia, amando o que ele ama e comparando tudo neste mundo com o padrão de sua Palavra.
2. 2. Um homem santo se esforçará para evitar cada pecado conhecido, e guardar cada mandamento revelado. A inclinação de sua mente será decisivamente direcionada para Deus. O desejo do seu coração será o de fazer a vontade do Pai. Ele temerá muito mais a desaprovação divina do que a do mundo e terá o mesmo sentimento que Paulo teve quando disse: “Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus” (Rm 7.22).
3. 3. Um homem santo se esforçará por ser como o Senhor Jesus Cristo. Ele não somente viverá uma vida de fé nele, e dele receberá paz e força para viver o dia-a-dia, mas também trabalhará para ter a mente de Cristo e ser conforme à sua imagem (Rm 8.29). O seu objetivo em relação às outras pessoas será o de andar ao lado delas, perdoá-las... ser generoso... caminhar em amor... ser manso e humilde... Ele guardará no coração as palavras de João: “Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou” (1Jo 2.6).
4. 4. Um homem santo buscará mansidão, longanimidade, bondade, paciência, gentileza e controle de sua língua. Dará um bom testemunho, será muito paciente, tolerante para com os outros, e também não se apressará em exigir os seus direitos.
5. 5. Um homem santo buscará temperança e auto-negação. Lutará para mortificar os seus desejos carnais, crucificar sua carne com suas tentações e lascívias, fugir das paixões e controlar suas inclinações carnais, sempre que elas se manifestam. (Ryle então cita Lc 21.34 e 1Co 9.27).
6. 6. Um homem santo buscará praticar a caridade e a fraternidade. Ele se esforçará por fazer para os outros o que gostaria que os outros fizessem para ele e falará dos outros o que gostaria que os outros falassem dele... Abominará toda mentira, difamação, maledicência, engano, desonestidade e injustiça, mesmo nas pequenas coisas.
7. 7. Um homem santo buscará misericórdia e bondade no trato com os outros... Será como Dorcas, “notável pelas boas obras e esmolas que fazia”, que não somente se propôs a fazer ou falou a respeito das boas obras, mas as praticou (At 9.36).
8. 8. Um homem santo buscará pureza de coração. Temerá toda a corrupção e impureza de espírito e tentará evitar todas as coisas que podem levá-lo a se contaminar. Ele sabe que o seu coração facilmente se inflama, e tentará cuidadosamente evitar a brasa da tentação.
9. 9. Um homem santo buscará o temor a Deus. Não me refiro ao temor de um escravo, que somente trabalha para evitar a punição que receberá, caso seja descoberto sem fazer nada. Ao contrário, penso no temor de uma criança, que deseja viver e se locomover como se estivesse sempre com o seu vigilante pai por perto, porque sabe que ele a ama.
110. Um homem santo buscará humildade. Desejará, em sua mente simples e caridosa, ter os outros em mais alta estima do que a si mesmo. Também perceberá mais o mal existente em seu coração do que em qualquer outro neste mundo.
111. Um homem santo buscará fidelidade em todos os seus deveres e relacionamentos. Por seus motivos serem os mais sublimes, e contando com o adicional da ajuda divina, ele não se contentará apenas em cumprir suas obrigações, mas, melhor ainda, tentará ajudar aqueles que não se preocupam com a sua alma. Pessoas santas devem, em todos os momentos, desejar praticar o bem, e devem se envergonhar se algo de mal acontecer a alguém que elas poderiam ter ajudado. Elas devem lutar por ser boas esposas e bons maridos, bons pais e bons filhos, bons patrões e bons empregados, bons vizinhos, bons amigos, bons cidadãos, bons em particular e em público, bons no local de trabalho e no ambiente familiar. O Senhor Jesus perguntou ao seu povo algo que exige reflexão, quando diz: “Que fazeis de mais?” (Mt 5.47).
112. Por fim, um homem santo encherá a sua mente com coisas espirituais. Tentará se concentrar inteiramente nas coisas do alto, não se apegando às coisas deste mundo... Ele buscará viver como alguém cujos tesouros estão no céu e cuja permanência nesta terra é vista apenas como a de um peregrino, que viaja para casa. Sua maior fonte de prazer está na comunhão com Deus por meio da oração, da leitura da Palavra e da reunião do seu povo. Ele dará valor à cada coisa, lugar e relacionamento, uma vez que esses fatores o trazem mais para perto de Deus.
FONTE: J. I. Packer. A Redescoberta da Santidade. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. pp. 16-18.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Conhecendo o Gigante do Avivamento - Por Pr J Miranda



Jonathan Eduards
  • Jonathan Edwards nasceu em 1703, sendo filho de um consagrado ministro congregacional. Precoce e piedoso desde a sua meninice, aos 12 anos ele escreveu a uma de suas irmãs: "Pela maravilhosa misericórdia e bondade de Deus, tem ocorrido neste lugar uma extraordinária atuação e derramamento do Espírito de Deus... tenho razões para pensar que isso diminuiu em certa medida, mas espero que não muito. Cerca de treze pessoas uniram-se à igreja num estado de plena comunhão." Depois de dar os nomes dos convertidos, ele acrescentou: "Acho que muitas vezes mais de trinta pessoas se reunem às segundas-feiras para falar com o Pai acerca da condição das suas almas."
  • Edwards obteve o seu grau de bacharel no Colégio de Yale em 1720, onde continuou seus estudos teológicos e trabalhou como professor assistente por algum tempo. Após um breve pastorado numa igreja presbiteriana de Nova York, em 1726, aos 23 anos de idade, ele foi auxiliar o seu avô, Salomão Stoddard, o famoso pastor da igreja de Northampton, Massachusetts.
  • No ano seguinte, Jonathan casou-se com Sarah Pierrepont, então com 17 anos de idade, filha de um pastor bem conhecido e bisneta do primeiro prefeito de Nova York. Os historiadores destacam a harmonia, amor e companheirismo que sempre caracterizou a vida do casal. Eles gostavam de andar a cavalo ao cair da tarde para poderem conversar e antes de se deitarem sempre tinham juntos os seus momentos devocionais.
  • Jonathan e Sarah tiveram 11 filhos, todos os quais chegaram à idade adulta, fato raro naqueles dias. Em 1900, um repórter identificou 1400 descendentes do casal Edwards. Entre eles houve 15 dirigentes de escolas superiores, 65 professores, 100 advogados, 66 médicos, 80 ocupantes de cargos públicos, inclusive 3 senadores e 3 governadores de estados, além de banqueiros, empresários e missionários.
  • Em 1729, com a morte do seu avô, Jonathan tornou-se o pastor titular da igreja de Northampton, na qual, através de sua poderosa pregação, ocorreu um grande avivamento cinco anos mais tarde (1734-35). O Grande Despertamento tivera os seus primórdios alguns anos anos entre os presbiterianos e reformados holandeses na Pensilvânia e Nova Jérsei, cresceu com as pregações de Edwards e atingiu o seu apogeu no ano de 1740, com o trabalho itinerante do grande avivalista inglês George Whitefield (1714-1770). [Sobre o avivamento entre os presbiterianos, ver o recente artigo do Rev. Frans L. Schalkwijk, "Aprendendo da História dos Avivamentos," em Fides Reformata II-2.]
  • Em 1750, após 23 anos de pastorado, Jonathan Edwards foi despedido pela sua igreja, a razão principal sendo a sua insistência em que somente pessoas convertidas deviam participar da Ceia do Senhor, em contraste com a prática anterior do seu avô. No seu sermão de despedida, depois de advertir a igreja sobre as contendas que nela havia e os perigos que isto representava, ele concluiu: "Portanto, eu quero exortá-los sinceramente, para o seu próprio bem futuro, que tomem cuidado daqui em diante com o espírito contencioso. Se querem ver dias felizes, busquem a paz e empenhem-se por alcancá-la (1 Pe 3:10-11). Que a recente contenda sobre os termos da comunhão cristã, por ter sido a maior, seja também a última. Agora que lhes prego o meu sermão de despedida, eu gostaria de dizer-lhes, como o apóstolo disse aos coríntios, em 2 Co 13:11: "Quanto ao mais, irmãos, adeus! Aperfeiçoai-vos, consolai-vos, sede do mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz estará convosco."
  • No ano seguinte, Edwards foi para Stockbridge, uma região remota da colônia de Massachusetts, onde trabalhou como pastor e missionário entre os índios. Em 1757, a sua excelência como educador e sua fama como teólogo e filósofo fez com que ele fosse convidado para ser o presidente do Colégio de Nova Jérsei, a futura Universidade de Princeton. Um mês após a sua posse, Edwards faleceu devido a complicações resultantes de uma vacina contra varíola.
Fontes:
  • D.M. Lloyd-Jones, Jonathan Edwards e a Crucial Importância de Avivamento (São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas)
  • Mark A. Noll, A History of Christianity in the United States and Canada

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O SIGNIFICADO DE "MINISTÉRIO" NA TRADIÇÃO REFORMADA - Por Dr. Michael S. Hort


Embora tivesse “ido à frente” aceitar a Cristo somente há um mês atrás, Bob, que recentemente encerrara sua carreira na NFL (Liga Nacional de Futebol Americano), tinha acabado de informar seu grupo de discipulado que havia sido chamado para o ministério. De fato, na semana seguinte ele se juntaria a um comerciante que também decidira que havia sido chamado para o ministério. Juntos, eles formariam uma equipe evangelística para o meio esportivo.
Uma história familiar para aqueles dentre nós que foram criados num círculo evangélico, este relato fictício ilustra a importância prática da pergunta “O que é ministério?”
O verbo “chamar”(kalein) e o substantivo “chamado” (klesis) têm uso abundante e, até certo ponto, variado no Novo Testamento. Ser “chamado” é ser afetuosamente convidado por Cristo a vir e receber vida eterna. Mas nem todo o que ouve esse convite universal responde; o Espírito Santo deve conduzir o eleito a Cristo através de um verdadeiro despertar da morte espiritual. Lázaro nunca poderia ter saído do túmulo simplesmente pelo convite de Cristo, à parte da ação poderosa de Deus internamente, restaurando vida. Da mesma forma, “ninguém pode vir a Mim”, disse Jesus, “a menos que o Pai, que Me enviou, o traga; e Eu o ressuscitarei no último dia” (Jo. 6:44).
Jesus não somente chamou pecadores ao arrependimento (Mt. 9:13); Ele chamou os doze para serem Seus discípulos (Mt. 4:21). Ele não somente chamou e justificou os que foram predestinados (Rm.8:30), mas chamou alguns do Seu povo para serem seus representantes e supervisores da sua igreja.
Mas o que dizer do sacerdócio de todos os crentes?
Um dos temas centrais da Reforma, claro, era o feliz anúncio no Novo Testamento que, nas palavras de Lutero, “O nome e ofício de sacerdote são comuns a todos os cristãos”. No Éden, Adão era ministro de Deus, mas falhou em preservar o templo de Deus do engano do maligno. No deserto, Deus separou entre os de Israel, sacerdotes que O serviriam e O representariam junto ao povo. Deus disse a Moisés “Ajunta-me setenta homens dos anciãos e superintendentes do povo; e os trarás perante a tenda da congregação, para que assistam ali contigo. Então descerei e ali falarei contigo; tirarei do Espírito que está sobre ti, e o porei sobre eles: e contigo levarão a carga do povo, para que não a leves tu somente.” (Nm. 11:16-17). E ainda assim, há o anseio por algo maior: “Tomara todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o Seu Espírito” (vs. 29). Desde cedo na história vemos o destino futuro de Israel como “reino de sacerdotes e nação santa” (Ex. 19:6).
Mais tarde, através dos profetas, Deus puxa a cortina ainda mais: “E acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias” (Jl 2:28-29). Cumprido no Pentecostes, como Pedro proclamou em seu sermão (At. 2:17), esta profecia refere-se ao dia quando toda a Igreja será cheia com o Espírito e cada crente será um sacerdote, de modo que o mundo saberá que Jesus é o Cristo.
Assim, a promessa feita a Israel não é inválida mas é, na verdade, cumprida na Igreja do Novo Testamento: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz, vós, sim, que antes não éreis povo, mas agora sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia” (1 Pd. 2:9-10).
Portanto, o sacerdócio do Velho Testamento está revogado, como a sombra é substituída pela realidade sólida: Cristo sendo o único mediador entre Deus e os homens (1 Tm. 2: 5). Unidos com Cristo, o definitivo Profeta, Sacerdote e Rei, todos os crentes compartilham do sacerdócio do Salvador na medida em que proclamam o Cordeiro de Deus e o perdão uns para com os outros. Assim, os crentes são ordenados, “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados” (Tg. 5:16). Todos os crentes são “chamados” e “sacerdotes” desde que a cortina do templo foi rasgada de alto a baixo e agora cada crente se encontra no Santo Lugar. Porque está coberto com a justiça de Cristo, o crente agora se encontra onde antes somente o Sumo Sacerdote poderia permanecer. Assim como o Espírito Santo estava sobre Moisés, e depois sobre os setenta anciãos e profetas através dos quais Ele deu a revelação de Deus em Cristo, assim hoje o Espírito está sobre e verdadeiramente dentro de cada um de nós. O verdadeiro Israel de Deus tornou-se testemunha de Cristo “em Jerusalém e em toda Judéia e Samaria, e até os confins da Terra” (At. 1:8).
Quando os reformadores acusaram o sacerdócio romano de um retorno as sombras do Velho Testamento (infância), entendendo que a realidade tinha vindo em Cristo (maturidade), eles estavam, em essência, expondo novamente o Livro de Hebreus.
Lutero bradou, “Cada cristão verdadeiro deveria saber que não existe nenhum sacerdote externo, visível, exceto aqueles aos quais o diabo tem levantado e exaltado através de mentiras de homens”.
Mas embora esta doutrina libertadora tenha sido usada para subverter o sacerdotalismo romano, ela tem sido adulterada para distorcer o conceito bíblico de ministério. Nós freqüentemente esquecemos que a Reforma foi um conflito contra dois movimentos: Roma e os Anabatistas ou “sectarismo”.
Embora criticando noções de uma casta sacerdotal com status e poderes elevados em virtude da ordenação deles, os reformadores eram, da mesma forma, severos nas suas críticas de um “livre-para-tudo” no qual, como Calvino colocou, “tudo está em confusão”. Os pregadores ambulantes, auto nomeados, e seus entusiastas foram “misturando-se aqui e ali, de forma incerta, sem designação, concentrando-se em um lugar e abandonando suas igrejas a bel-prazer”. Sobre tais “fanáticos” Calvino acusou: “em seu orgulho, eles desprezam o ministério dos homens e até as próprias Escrituras, para conseguir o Espírito. Eles então, orgulhosamente, tentam espalhar todos os enganos que Satanás lhes sugere, tais como revelações particulares do Espírito”. Tais são os libertinos e indivíduos desvairados como eles. Quanto mais ignorante um homem é, maior é o orgulho com o qual ele está cheio. “Assim, pessoas com nenhuma qualificação, que se impõem sobre a Igreja, são fanáticos, guiados por um espírito maligno. Existem muitos, por exemplo, que se ufanam de serem movidos a agir pelo Espírito, e se vangloriam de um chamado particular de Deus, quando o tempo todo eles são incultos e totalmente ignorantes”. Nós temos confundido sacerdócio com ministério, como se o sacerdócio de todos os crentes significasse que todos os crentes são ministros. Assim, juntamente com o sacerdotalismo romano, o sectarismo fanático foi também evitado a todo custo.
Mas se todos os crentes são sacerdotes, isto não significa que não há diferença entre um ministro ordenado e uma pessoa leiga? A esta questão os reformadores responderiam “sim e não”. Sim, não há diferença em termos de pessoa. Um ministro e uma pessoa leiga são igualmente justificados e chamados para a vida eterna, co-herdeiros com Cristo em igual medida.
Tornadas eficazes mais pelo ministério de Cristo do que por qualquer virtude da ordenação, as orações dos ministros não são mais poderosas do que aquelas de uma pessoa leiga. Deus não concede atenção especial aos ministros. Eles não têm um telefone vermelho em seus gabinetes, nenhuma linha direta especial com Deus, que o resto do rebanho de Cristo não usufrua. Não obstante, existe uma diferença entre ofício e vocação. Assim como um médico não é um advogado, a pessoa leiga não é um ministro
Aqui é onde, na minha opinião, nós temos nos afastado neste assunto. Temos confundido sacerdócio com ministério, como se o sacerdócio de todos os crentes significasse que todos os crentes são ministros.
Certamente este não é o entendimento de Lutero e Calvino sobre o sacerdócio de todos os crentes.Outra vez, diz Lutero:
Pois embora todos sejamos sacerdotes, isto não significa que todos nós possamos pregar, ensinar e governar. Certamente alguns da congregação devem ser eleitos para tal ofício. E aquele que tem tal ofício não é um sacerdote por causa de seu ofício, mas um servo de todos os outros, que são sacerdotes. Quando ele não mais estiver habilitado para pregar e servir, ou se ele não mais quiser fazê-lo, ele uma vez mais, se torna parte da congregação comum de cristãos. Seu ofício é transferido para outra pessoa e ele se torna um cristão como qualquer outro. Este é o modo de se distinguir entre o ofício da pregação ou ministério, e o sacerdócio geral de todos os cristãos batizados.
A distinção reside não por causa da pessoa do ministro, mas por causa do serviço da Palavra e sacramentos. Calvino diz, “Cristo age pelos ministros de tal maneira que Ele deseja que suas bocas sejam reconhecidas como Sua boca, e seus lábios como Seus lábios”.
Como as confissões reformadas nos lembram, o ministério não depende da integridade do ministro. Mesmo se eventualmente descobrir-se que ele era um incrédulo, ele foi usado por Cristo como um agente de redenção para seu povo. De fato, até Judas exerceu um ministério efetivo como um discípulo de nosso Senhor. É o Espírito Santo agindo através da Palavra e dos sacramentos, não o próprio ministro, que é responsável pelo sucesso do ministério.
Assim, em oposição às seitas que seguiram após os antigos donatistas, combatidos por Agostinho, a segunda confissão Helvética declara: “Mesmo ministros maus devem ser ouvidos. Além disso, nós detestamos fortemente o erro dos donatistas que consideram a doutrina e administração dos sacramentos eficazes ou não, de acordo com a boa ou má vida dos ministros (XVIII)”.
Será então, que retornamos à época em que se fazia diferença entre vocação sagrada e secular?
O pietismo evangélico tem criado um ambiente não muito diferente do paralelo medieval, separando os cristãos em “trabalho secular”e “serviço cristão de tempo integral”. Adivinhe qual é mais importante! Como a vasta rede de comunicação das comunidades monásticas da Idade Média, a identidade evangélica dos nossos dias parece determinada por uma rede de ministérios paraeclesiásticos e por uma multidão de personalidades carismáticas que freqüentemente recebem poder quase ilimitado e incontestável enquanto são bem sucedidos. Como o monasticismo medieval estava freqüentemente em conflito com a igreja e autoridade institucional (somente para ele próprio se tornar institucionalizado), o evangelicalismo contemporâneo parece, da mesma forma, possuir um aspecto anti-igreja. Criados como supostos “movimentos do Espírito”, em oposição ao “igrejismo”, seitas e ministérios paraeclasiásticos também acabam se tornando instituições. E, uma vez mais, como o monasticismo medieval, vocações verdadeiramente significantes, são consideradas como aquelas associadas aos interesses religiosos.
Foi deste tipo de dualismo que muitos de nós foram libertados nas recentes décadas. “Tudo na vida é sagrado”, ouvimos. “Todo cristão é um ministro”. Adotando a teologia reformada como uma saída das suposições da subcultura evangélica sobre a superioridade do “serviço cristão de tempo integral”, muitos estão começando a fazer distinções cuidadosas não somente entre sacerdócio e ministério, mas também entre o secular e o sagrado. Dizer que limpar uma casa ou defender um caso judicial não é um ministério e é então, uma atividade secular, ao invés de sagrada, faz de tais trabalhos inferiores ou não espirituais, somente se aceitarmos o dualismo que sustenta as versões de espiritualidade medievais e evangélicas contemporâneas. O que a Reforma restabeleceu foi a apreciação bíblica pelo comum tanto quanto pelo santo, pelo secular tanto quanto pelo sagrado, não um conflito dos dois. Calvino encorajou artistas a acharem temas na natureza, ao invés de tentarem imaginar o mundo invisível, e a contribuição do movimento para as artes e ciências é amplamente reconhecida. É bom ser um construtor, um pintor, um doutor, ou um zelador. Estes são chamados divinos, então como podemos chamá-los de inferior?
Enquanto o dualismo pietista, como seu antecedente medieval, transforma “secular’ e “sagrado” em categorias “inferiores” e “superiores”, e a crítica popular contemporânea deste dualismo nega a distinção completamente, a reforma considerou as duas como diferentes em seu significado, não em seu objetivo.
Cavar uma vala ou pregar um sermão, se bem feitos, glorificam a Deus, mas o primeiro é bem feito porque Deus tem dado ao trabalhador comum, dons gerais que ele também dá aos incrédulos. O primeiro pertence à esfera da criação, graça comum e o reino da cultura. O último é bem feito não somente por causa de dons comuns de eloqüência e intelecto, mas por causa da iluminação especial do Espírito. Está na esfera da redenção, graça salvadora e do reino de Cristo.
Até que os reinos deste mundo sejam transformados imediatamente em reino de nosso Deus e Seu Cristo, no retorno de nosso Senhor, estas duas esferas são distintas. O reino da cultura floresce quando homens e mulheres são fiéis aos seus chamados seculares, enquanto o reino de Cristo prospera quando seus ministros estão pregando a Palavra fielmente, administrando os sacramentos e guiando o rebanho no caminho da justiça.
As duas tarefas têm lugar neste mundo, glorificam a Deus e conduzem a fins proveitosos, mas são diferentes em vários aspectos.
A igreja não consiste somente de oficiais, mas da totalidade de seus membros. É este grupo de crentes, sacerdotes por batismo e ainda trabalhando em vocações seculares, que escolhem ministros para servi-los. Então os ministros são tratados com dignidade por causa de seu dever sagrado, não por causa da sua pessoa. “Cristo designa pastores para sua Igreja”, disse Calvino, “não para dominar mas para servir”. Porque nós somos tão lentos para crer e porque nossa razão, consciência e vontade não oferecem nenhum vestígio de esperança, é que precisamos de uma Palavra externa pregada a nós.
Como mencionado antes, Calvino e os outros reformadores criam que o próprio Cristo fala através da Palavra pregada e dos sacramentos. Isto é o que significa a maravilhosa promessa do nosso Senhor: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra (a confissão de Pedro de que Cristo é o Filho de Deus) edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus” (Mt. 16: 17-19).
“Ministros do Evangelho” Calvino escreveu, “são porteiros do reino dos céus, porque carregam suas chaves. A chave está posta nas mãos dos ministros da Palavra”. Calvino até recomenda confissão privada de pecado para os ministros, não por causa de supertição concernente a sua pessoa, mas porque isto é parte do ministério da Palavra.
Qualquer crente pode ouvir confissão de seus irmãos de fé e anunciar-lhe o perdão divino no nome de Cristo, mas o ministro é especialmente escolhido por Deus e Sua Igreja para esta função.
Enquanto o legalismo da confissão auricular (a prática de confessar pecados em particular para um padre como uma condição necessária para ser absolvido) foi rejeitada por Calvino, o costume em si era encorajado como um ministério privado da Palavra pelo qual a graça e o Evangelho de Deus poderia ser “confirmado e selado” (ver Institutas 3.4.1-23).
De acordo com o historiador John T. McNeil, “Calvino interpreta Mateus 16:19 (“Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus”) e João 20:23 (“Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos”), como autorizando ministros a perdoar pecados e absolver almas. “O penitente deveria tomar vantagem disto”.
Esta absolvição era normalmente declarada no culto público depois da confissão pública, mas também poderia ser feita em privado com o ministro se pudesse ajudar a trazer consolação. Pública e privadamente, os ministros carregam as chaves do reino e, pelo exercício fiel de seus ofícios, abrem prisões.
Todos os documentos confessionais reformados, como o luterano, concordam neste ponto. A Confissão de Westminster declara “A esses oficiais estão entregues as chaves do Reino do Céu. Em virtude disso eles têm, respectivamente, o poder de reter ou cancelar pecados" (Capítulo 30). Eles não têm este poder em si mesmos, mas em seus ofícios enquanto proclamam o evangelho e administram os sacramentos. O aspecto adicional deste ministério, na visão reformada, é a disciplina eclesiástica. Mesmo a censura, a prática da instrução privada, a admoestação e a advertência ao crente impenitente e ao incrédulo, são designados não para condenar, mas para abrir as portas do Reino dos Céus. Quando os ministros ignoram a condição espiritual de seus membros, eles não estão “deixando isto para o Senhor”, mas estão falhando em exercer o ministério do Senhor.
Ao mesmo tempo, ao invés de “dominar sobre seu povo”, eles devem servir “sem opressão e contenda” como a Segunda Confissão Helvética apresenta, no seu capítulo 18: “Pois o apóstolo testifica que a autoridade na Igreja foi dada a ele pelo Senhor para edificação e não para destruição (2 Co. 10:8). E o próprio Senhor proibiu que se arrancassem as ervas daninhas da seara do Senhor, porque o trigo poderia ser arrancado junto com elas (Mt. 13:29)”.
Isto não significa, é claro, que somente ministros podem advertir e evangelizar incrédulos e seus companheiros de ministério. Na verdade, a boa nova do Pentecostes é que o Espírito nos fez testemunhas de Cristo, uma nação de evangelistas. E também, Paulo encoraja Timóteo especificamente “Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério” (2 Tm. 4:5). O ministério formal da Palavra é confiado àqueles que são chamados exclusivamente para esta tarefa, mas todos somos igualmente chamados para sermos cristãos e nossa identidade missionária é inerente a nossa união com Cristo, a “Luz do mundo”. Somos preparados pelos ministros para sermos responsáveis agentes cristãos neste mundo, preparados para dar resposta da nossa esperança para qualquer pessoa. Isto entretanto, não significa que devemos desprezar nosso chamado secular e buscar ministérios evangelísticos, pois este é o trabalho da igreja e seus oficiais eleitos.
Talvez a defesa mais freqüentemente citada da posição “todo crente é um ministro” seja Ef. 4:11-16. “E ele (Cristo) mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor”.
Como o pastor reformado e professor T. David Gordon claramente demonstra, esta passagem tem sido muito mal usada na abordagem contemporânea do ministério. 1 Isto é devido, em parte, a uma tradução infeliz da Nova Versão Internacional (NIV), a Nova Versão King James (NKJV) e outras traduções recentes ou paráfrases. Enquanto as traduções mais antigas, especialmente a Versão Autorizada Inglesa (KJV), traduz o versículo 11 “E Ele concedeu uns, apóstolos; e uns, profetas; e uns, evangelistas; e uns, pastores e mestres”, as traduções mais recentes dificilmente deixam de conter as suas pressuposições sobre a natureza do “ministério”. O Professor Gordon demonstra cuidadosamente a superioridade da tradução mais antiga. Considerando o sujeito implícito em todas as três orações (“os dotados”), o uso de katartismon (“unindo ou organizando em uma comunhão visível”, e não “equipando”), e o uso de ergon diakonias ("a obra do ministério"), não há base para a noção de que Paulo vê a importância do ministério em termos da preparação do leigo para a “verdadeira obra” do ministério. Além disso, esta posição se opõe a muitas passagens que claramente distinguem o chamado de um ministro do chamado cristão geral que pertence a todos os crentes. Pelo contrário, ministros são concedidos por Cristo de forma que eles possam edificar o rebanho pelo fiel exercício de seus ofícios.
Creio que é totalmente justificado o alerta que o Professor Gordon faz aqui, contra os efeitos práticos do igualitarismo americano. “Aqueles que se preparam para o ministério (e as instituições que os preparam)”, ele escreve, "estão desviando seus esforços daquelas habilidades associadas com o ministério distintivo da Palavra (a exegese da linguagem original) e dirigindo-as para habilidades organizacionais, administrativas e motivacionais (coercivas?)."
O resultado das concepções evangélicas contemporâneas de ministério é que, ironicamente, elas são unânimes em conceder o poder ao ministro ao invés de ao ministério.Como o padre católico romano, o ministro contemporâneo do evangelho é freqüentemente considerado como o instrumento efetivo da redenção.
Os papéis litúrgicos podem divergir vastamente, substituindo o “apelo” da missa romana por aquele substituto evangélico, mas em ambos os casos, o profissional se torna um meio de graça pessoal (ou, pelo menos, um meio de entretenimento, informação ou exortação). Como B.B. Warfield sugeriu ao se referir aos pregadores que seguiam o evangelismo pragmático de Charles Finney, “o evangelista torna- se o sacramento”.
O teólogo reformado alemão John Williamson Nevin (1803-86) queixou-se que no reavivalismo, a transformação do púlpito e da mesa da ceia num palco é um desvio teológico. “O pregador sente a si mesmo’, escreveu Nevin, “e está disposto a fazer com que a congregação também o sinta; mas Deus não é sentido na mesma proporção”. Chega de sugerir que nós podemos ter uma genuína teologia reformada enquanto adotamos um estilo evangélico! Se sua igreja tem um palco e o púlpito e a mesa da ceia estão subjugados por projetores suspensos, filmes, bateria, isso já é uma declaração da teologia do ministério que adotam, mesmo antes do culto começar! “A ação” não pode ser dissociada de sua base teológica.
Ao menos Roma, de algum modo, associa seu “sacerdotalismo” ao ministério sacramental, mas formas ilegítimas de evangelicalismo consideram o "ministério" da miss, do ex-zagueiro, da antiga celebridade e dos animadores de auditório como um meio efetivo de graça, por causa do poder do “ministro”. Ao invés do ministro ordenado ser tratado como um intermediário, como em Roma, cada crente se torna “um ministro” e lhe é permitido exercer seu ministério baseado em critérios mundanos (carisma, talento musical, familiaridade com a última novidade na cultura pop) em lugar de num sadio conhecimento da Palavra de Deus. Não é de se admirar que o resultado seja uma igreja mundana.
Muito freqüentemente, o poder tem pouco a ver com a mensagem e tudo a ver com o carisma, fama, personalidade ou outra característica puramente humana. “Ele é um orador poderoso”, nós ouvimos; “puxa, que testemunho poderoso!”; “Ela cantou uma música poderosa!” . Teria sido tão poderoso se o orador fosse o apóstolo Paulo, que reconhecia que ele não era tão eficaz no discurso público como os “super-apóstolos”? Será que o testemunho teria sido tão eficaz se o ex-zagueiro tivesse dito, com o apóstolo “Ainda encontro na minha vida cristã que as coisas que odeio faço com freqüência?! desventurado homem que sou!” . E a música teria sido tão “ungida” se tivesse sido cantada por uma daquelas pessoas bem-intencionadas, mas singularmente mal dotadas, da pequena igreja do interior, ao invés do artista famoso que visitou a igreja central da cidade, semana passada?
Muitos realmente crêem, nestes dias, que o poder reside no assim chamado “ministro”, não no ministério da Palavra e do sacramento. Um “grupo de ministério musical” vem cantar na nossa igreja enquanto está numa turnê e rapidamente o culto se torna “comovente” e o “Espírito realmente age”, o culto se torna “avivado”. Mas quando o pastor, se levanta no domingo seguinte e simplesmente prega e administra a ceia, juntamente com a pública leitura das Escrituras, o cântico congregacional, a pública confissão de pecados, a declaração de perdão, o credo e as orações, tudo volta ao normal. Superlativos à parte, o que está implícito aqui é que Deus esteve lá semana passada quando o ministério “verdadeiro” (ênfase do tradutor) aconteceu.
Como ministros, nós encorajamos este tipo de coisa quando adotamos “testemunhos” e “músicas especiais” no nosso culto, tirando a atenção dos meios ordinários de graça. No final das contas, isto separa o Espírito da Palavra, apesar da sinceridade da confissão das pessoas.
Basta ler os anúncios de “precisa-se’” para pastores nos periódicos cristãos ou a lista das qualificações exigidas pelo comitê encarregado da contratação do pastor. A pessoa deve ser amigável, extrovertida, cheia de habilidade para tratar com pessoas. Deve ser motivadora, líder e uma "equipante" (o que realmente significa um administrador e programador), e ter uma esposa que possa preencher o papel de “primeira dama”. Muito melhor se ela tocar órgão. Entretanto, o que dizer sobre a sua profundidade teológica e a confissão de fé que subscreve? Ele realiza um trabalho de exegese do original nos seus sermões, ou ele confia nas notas e referências de outros? Ele gasta bastante tempo estudando e de joelhos? Será que ele é apto para cuidar das necessidades espirituais específicas de seus membros?
No fim da contas, nós queremos uma celebridade, técnico, ex-zagueiro, animador, orador, terapeuta,diretor executivo, tudo embrulhado em uma só pessoa. Não admira que o índice de desemprego entre pastores esteja tão fora de controle! Em outras palavras, nós realmente cremos, a despeito daquilo que professamos, que o que conta é o ministério do pastor Bob ao invés do ministério de Cristo através da Palavra e dos sacramentos. A eficácia, mensurada em termos mundanos, repousa agora sobre o ministro, ao invés de no ministério. Embora mais insidiosa, esta é uma forma de sacerdotalismo tão perigosa quanto a proposta por Roma. Esvaziando a importância do ministério da Palavra e sacramentos, nós não salvamos o sacerdócio de todos os crentes; nós simplesmente substituímos uma forma de sacerdotalismo por outra.
O que significa então ser “chamado” para o ministério?
Na tradição reformada, bem como na luterana, uma pessoa não é chamada para o ministério somente tendo como base um chamado interno do Espírito. Contrário ao “entusiasmo” anabatista, que não somente atacava o sacerdotalismo romano, mas tendia a negar os meios físicos e terrenos em favor das intuições diretamente dirigidas pelo Espírito, os reformadores insistiam que Deus falava nesta instância, tanto quanto em todas as outras, através de tais meios. Enquanto a religião sectária faz diferença entre o indivíduo e a igreja, como categorias de “carne” e “espírito” respectivamente, a fé evangélica histórica rejeita esta anarquia e insiste em relacionar o individual ao corporativo (e não somente o invisível, mas também ao visível) corpo de Cristo. Nesta posição, uma pessoa não é verdadeiramente chamada para o ministério até que haja uma satisfação das qualificações da igreja, explicitamente preceituada nas Escrituras. Pois a igreja é “a coluna e o baluarte da verdade” (1 Tm. 3:15), e os ministros tem o ofício sagrado de ser aio para a noiva de Cristo através da sua jornada terrena. “Até a minha chegada”, Paulo instrui o jovem Timóteo, “aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino. Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério. Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1 Tm. 4:13-16).
Isto é tão legítimo para diáconos e presbíteros, quanto para ministros. Presbíteros devem ser irrepreensíveis e sóbrios, “apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem” (Tt. 1:5-9). Como isto está longe da prática freqüentemente usada de eleger presbíteros por razões mundanas.
Calvino também se preocupou com esta ameaça nos seus dias: “Isto claramente contradiz a ordem e as regras básicas do cristianismo, crer que as pessoas ricas e importantes por suas posições e nome, deveriam ser eleitas para oficiais da igreja”. Também com freqüência, igrejas elegem oficiais por causa de suas experiências em negócios ou habilidade na área de marketing, editoração, finanças e assim por diante. Depois eles se perguntam porque suas igrejas se tornam corporações e o gabinete pastoral se torna seu escritório. Se queremos seguir as instruções de Paulo para selecionar nossos oficiais, nossas igrejas terão de prosperar sob o ministério da Palavra.
Mas Deus não somente chama presbíteros como ministros leigos para cuidar da condição espiritual da igreja; Ele indicou diáconos para serem ministros leigos no atendimento das necessidades físicas da congregação. Os diáconos foram escolhidos, primariamente, para liberar os apóstolos do peso das tarefas financeiras e administrativas. Os doze apóstolos conheciam o chamado deles quando disseram “Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da Palavra” (At 6:1-4). À medida que os apóstolos foram substituídos neste dever, “crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (vs.7).
Ministros, portanto, são chamados para serem inteiramente dedicados ao ministério da Palavra e sacramentos. Este é o motivo pelo qual eles se esforçam para aprender as línguas originais das Escrituras e a entender sua mensagem essencial, com a ajuda de seus mentores eruditos, da antiguidade e contemporâneos. Presbíteros, e mesmo diáconos, devem ser também treinados, mas eles são leigos com vocações ordinárias no mundo. Mas todos os oficiais somente são genuinamente “chamados” para o ministério quando a voz do Pastor é ouvida através de sua igreja. Ou seja, quando um candidato que foi preparado para tal serviço recebe um “chamado” de uma congregação particular e do presbitério regional, ele é finalmente chamado para o ministério por Deus. Sectários podem consideram isto como apagar o Espírito, mas é o desígnio de Deus claramente descrito nas Escrituras. Longe de inibir a liberdade, este padrão na verdade preserva contra a tirania de pregadores carismáticos que reivindicam autoridade apostólica ou uma “unção” separada da supervisão da igreja.
E Bob?
Por fim, voltamos a nossa cena inicial, com Bob anunciando ter sido chamado para o ministério. Geralmente me acho envergonhado pelo zelo dos novos convertidos que têm seus pés preparados com prontidão para pregar as boas novas. Mas, da mesma forma como o conhecimento nunca deve servir para encobrir a falta de zelo, assim também o zelo nunca deveria ser a capa da ignorância. O desejo de Bob em compartilhar o Evangelho é encorajador, mas será que ele não se deixou levar por uma visão errônea de ministério?
Recentemente, um amigo meu me disse quantos casos ele tem de membros de sua igreja que lhe pedem conselho sobre se deveriam entrar para o ministério. “Eu realmente quero servir ao Senhor e buscar os perdidos”, eles dizem. “Eu não quero ficar na periferia; eu quero ser um discípulo verdadeiramente compromissado”. Meu amigo responde “parabéns, você é um cristão!”. Freqüentemente, nosso senso de “chamado” para o ministério nada mais é do que o senso de nosso chamado para pertencer a Cristo. Em outras palavras, é um chamado para a fé, e não para uma vocação particular. Todos nós somos chamados para uma contínua santificação e crescimento em Cristo. Todos nós somos ordenados a aprender mais de Deus e de Sua obra salvadora em Cristo, crescendo em nosso conhecimento. Nenhum crente está isento da obra do Espírito de mortificar o velho homem e ressuscitar seu ser para uma nova vida. E todo cristão, se genuinamente chamado para pertencer a Cristo, deseja ver o perdido reconciliado com Deus. Estas não são qualificações exclusivas dos ministros; elas são características do cristão! Ministros não são pagos para ser discípulos de Cristo por nós, mas para nos guiar na verdade e justiça.
É possível que Bob seja chamado para o ministério da Palavra e do sacramento, mas isso não significa que esteja agindo corretamente. Primeiro, ele deve consultar seu pastor e procurar cuidado de seu presbitério (ou em um regime congregacional, dos presbíteros simplesmente, ou em um regime episcopal, o bispo).
Sob o cuidado da igreja, ele será guiado através de anos de treinamento teológico requerido para o exercício responsável deste chamado e após a conclusão bem-sucedida, ele será testado. Paulo requer isto, mesmo de diáconos, quanto mais de pastores! Depois de passar no exame, ele estará então disponível para o convite de uma igreja. Uma vez que receba esse convite, a convicção inicial que ele tinha do chamado do Espírito é confirmado pela igreja e ele é, verdadeiramente, chamado para o ministério.
Mas este procedimento é bastante diferente do cenário descrito no parágrafo inicial. Lá, Bob estava convencido de que seu chamado para o ministério significava que ele e outro leigo, um homem de negócios, poderiam começar um ministério evangelístico. Mas, como vimos, isto não é determinado em parte alguma das Escrituras.
Cada crente é chamado para evangelizar, assim Bob e seu amigo não precisam abandonar suas vocações com o objetivo de evangelizar. Além disto, a igreja é a instituição ordenada de Deus para o evangelismo. Note a distinção aqui entre indivíduos e instituições: cada crente evangeliza individualmente, mas nem toda instituição é evangelística. Cristo tem muitos irmãos e irmãs, mas somente uma igreja. Cristãos, trabalhando numa linha de montagem, podem ganhar seus parceiros de trabalho para Cristo, com o passar do tempo, mas a fábrica não se tornará uma instituição evangelística.
Da mesma forma, as atividades evangelísticas de Bob não justificam a criação de uma instituição que não seja a igreja. Ele e seu amigo são livres, tanto para seguirem suas vocações seculares e expandir o reino através do evangelismo, como outros cristãos, quanto para abandonar suas vocações seculares e começar o processo de serem chamados para o ministério da Palavra e do sacramento.
Embora este entendimento de ministério pareça mais complicado, ele simplifica em grande parte nossas questões práticas. Ele não somente liberta muitos que pensam que o zelo cristão que possuem tenha de ser expresso através do ministério, para seguirem suas vocações seculares, mas também nos encoraja a olharmos para nossos ministros como verdadeiros representantes de Cristo, guardados do servir às mesas, para que possam dedicar-se a oração e ao ministério da Palavra.
Notas:
1 T. David Gordon, Journal of the Evangelical Theological Society 37/1 (March 1994), 69-78.
Nota sobre o Autor:
Dr. Michael Horton é vice presidente do Conselho da Aliança Evangélica Confessional e professor adjunto de Teologia Histórica do Seminário Teológico de Westminster na Califórnia. Dr. Horton é graduado pela Biola University (B.A.), Westminster Theological Seminary in California (M.A.R.) and Wycliffe Hall, Oxford (Ph.D.), escritor de vários livros já traduzidos para o português, como "A Face de Deus", "O Cristão e a Cultura" e autor de artigos para livros em coletâneas como: "Religião de Poder" e "Reforma Hoje".