terça-feira, 31 de dezembro de 2013


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Agora é comum entre pessoas reformadas que, quando se confessa a eleição de Deus de alguns para a salvação, o amor especial de Deus pelos eleitos e o desejo exclusivo de Deus de salvar os eleitos, a confissão é imediatamente contestada por um apelo a João 3:16:
"Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que n'Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna."
Na verdade, essa é quase a regra. Aquele que assim apela a João 3:16 tem a intenção de afirmar que Deus ama todos os homens, sem exceção, e que Deus deseja salvar todos os homens, sem exceção. O pressuposto básico subjacente a este apelo a João 3:16, como um argumento contra a eleição, é que a palavra, mundo, em João 3:16 significa "todos os homens, sem exceção"
Nós anunciamos, declaramos e proclamamos aqui que essa suposição é falsa. É antibíblica. E ela leva a um ensino que fundamentalmente se desvia do Evangelho.
A palavra "mundo", em João 3:16 não significa "todos os homens, sem exceção".
Rogamos a nossos irmãos e irmãs reformados que insistem em conceber"mundo" em João 3:16 como "todos os homens, sem exceção", e utilizam este texto contra a confissão do amor particular de Deus pelo eleito, a enfrentarem a posição doutrinária que têm tomado. Esta é a posição deles:
Deus ama todos os homens, sem exceção, com um amor que dá o seu Filho unigênito para a salvação, isto é, com um amor (salvífico) que deseja que eles sejam salvos do pecado e tenham a vida eterna no céu.Deus deu o seu Filho unigênito por todos os homens, sem exceção, ou seja, Jesus morreu por todos os homens, sem exceção. No entanto, muitas pessoas que Deus ama, que Deus deseja salvar, e por quem Jesus morreu, perecem no inferno, não salvas. Portanto:1 - muitas pessoas estão separadas do amor de Deus; 2 - o desejo de Deus de salvar é frustrado no caso de muitas pessoas; 3 - a morte de Jesus não conseguiu salvar muitos por quem o Filho de Deus, de fato, morreu.razão para este triste estado das coisas é que tais pessoas se recusaram a crer em Jesus, embora eles fossem capazes de fazêlo em virtude de seu livre arbítrio.Por outro lado, a razão pela qual os outros são salvos não é porque Deus os amou, desejou a sua salvação, e deu Seu Filho para morrer por eles (pois Ele também amou os que perecem, desejou a salvação deles, e deu Seu Filho por eles), mas que, por meio de seu livre arbítrio, escolheram crer.Concluindo, a condenação dos ímpios é a derrota e decepção de Deus, ao passo que a salvação dos crentes é a própria obra deles. 
Quando homens defensores de "todos os homens, sem exceção" citam João 3:16, esta é a forma como eles estão lendo:
"Porque Deus amou todos os homens, sem exceção, que deu o seu Filho unigênito para morrer por todos os homens, sem exceção, com o desejo de que todos os homens, sem exceção, sejam salvos, para que todo aquele que crê, por seu livre arbítrio, não pereça, mas tenha a vida eterna."
Sempre que alguém desafia a confissão do amor particular e exclusivo de Deus pelos Seus eleitos, citando João 3:16, devemos concluir com pesar que ele defende a posição doutrinária estabelecida acima e deseja confessá-la publicamente, a fim de, assim, derrubar a doutrina reformada da predestinação, expiação limitada, depravação total, graça eficaz e a preservação dos santos (o que é apenas uma forma elaborada de dizer, a salvação pela graça somente o Evangelho).
A palavra mundo no Evangelho de João não significa "todos os homens, sem exceção" . Comprove:
João 1:29: "Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!"Por acaso Cristo por meio de Sua morte tirou o pecado de todos os homens, sem exceção? Se ele tirou, todos os homens, sem exceção, serão salvos.João 6:33. "Pois o pão de Deus é aquele que desceu do céu e dá vida ao mundo". Por acaso Jesus dá vida (não, inutilmente oferece vida, mas eficazmente dá vida) a todos os homens, sem exceção? Se ele dá, todos os homens, sem exceção, têm a vida eterna.João 17:9: "Eu [Jesus] não estou rogando pelo mundo". Jesus se recusa a orar por todos os homens, sem exceção? 
Este último texto aponta que a palavra, mundo, no Evangelho de João, nem sempre têm o mesmo significado. Em João 3:16, o mundo é amado por Deus, com um amor que dá o Filho de Deus por sua causa; em João 17:9, o Filho de Deus se recusa a rogar pelo mundo. Os santos não devem chegar a um entendimento do mundo de João 3:16 por meio de uma suposição rápida, mas pela interpretação cuidadosa da passagem à luz do resto da Escritura.
Qual é então a verdade sobre o mundo de João 3:16?
Amado por Deus com um amor divino, todo poderoso, eficaz, fiel e eterno, mundo é salvo. Todo ele! Todos eles!Redimidos pela preciosa, digna, poderosa e eficaz morte do Filho de Deus, o mundo é salvo. Todo ele! Todos eles!
A salvação de todas as pessoas incluídas no mundo de João 3:16 é devido unicamente ao amor eficaz de Deus e a morte redentora de Cristo por eles; enquanto que aqueles que perecem nunca foram amados por Deus, nem redimidos por Cristo, ou seja, eles não fazem parte do mundo de João 3:16.
mundo de João 3:16 [2] é a criação feita por Deus no princípio (agora desordenado por causa do pecado) juntamente com os eleitos de todas as nações (agora por natureza filhos da ira tanto quanto os outros) como sendo o cerne do mesmo. Com respeito às pessoas dele, o mundo de João 3:16 é a nova humanidade em Jesus Cristo, o último Adão (Cf. 1Co 15:45). João chama esta nova raça humana "o mundo", a fim de mostrar e enfatizar, não só o povo judeu, mas todas as nações e povos (Cf. Ap 7:9). As pessoas que compõem o mundo de João 3:16 são todos aqueles, e só aqueles, que se tornarão crentes aquele que crê; e é o eleito que crê (Cf. At 13:48).
Esta explicação de João 3:16 não é uma nova interpretação estranha sonhada por hipercalvinistas contemporâneos, mas a explicação que foi dada no passado pelos defensores da fé que chamamos reformada, ou seja, por aqueles que confessavam a graça soberana de Deus na salvação dos pecadores.
Esta foi a explicação dada por Francis Turretin[3]:
"O amor tratado em João 3:16 [...] não pode ser universal para todos e para qualquer um, mas especial para alguns [...] porque a finalidade do amor de Deus é a salvação daqueles a quem Ele busca com tal amor [...] Portanto, se Deus enviou Cristo para esse fim, que por meio d'Ele o mundo fosse salvo, Ele necessariamente ou falhou em Seu objetivo, ou o mundo precisa ser salvo, de fato. Mas é certo que não é o mundo inteiro, mas somente aqueles escolhidos do mundo que são salvos; logo, a menção deste amor é devidamente aos escolhidos [...] Por que então o mundo não deveria ser entendido aqui, não como universal para indivíduos, mas indefinidamente para qualquer um, tanto judeus quanto gentios, sem distinção de nação, língua ou posição social, para que se possa dizer que Ele amou a raça humana; enquanto que Ele não desejava destruí-la completamente, mas decretou salvar certas pessoas, não somente de um povo como anteriormente, mas de todos os povos indiscriminadamente, embora os efeitos desse amor não seja estendido a cada indivíduo, mas apenas para algumas, ou seja, os escolhidos do mundo?"[4]
Sobre a palavra, mundo, na Escritura, Abraham Kuyper escreveu: 
"Porque, se há alguma coisa que é certa a partir de uma leitura um pouco mais atenta da Sagrada Escritura, e que pode ser defendida como firmemente estabelecida, é, realmente, o fato irrefutável, que a palavra mundo na Sagrada Escritura apenas significa 'todos os homens' em raríssimas exceções, e quase sempre significa algo completamente diferente. 
Em uma explanação, mais específica, sobre o "mundo" de João 3:16, Kuyper chegou a dizer que a menção é ao "próprio cerne" da criação, o povo eleito de Deus, "o qual Jesus arrebata de Satanás".
"[...] a partir deste cerne, desta congregação, deste povo, um 'novo mundo', uma 'nova terra e novo céu', um dia surgirão, por uma obra maravilhosa de Deus. A terra não serve apenas para permitir com que os eleitos sejam salvos, para em seguida, desaparecer. Não, os eleitos são homens; esses homens formam um todo, um acervo, um organismo; esse organismo está fundamentado na criação; e porque esta criação é agora o reflexo da sabedoria de Deus e da obra de suas mãos, a administração dela por Deus não pode se tonar em nada, mas no Grande Dia a vontade de Deus para esta criação será perfeitamente realizada."[5]
Essencialmente, esta é a mesma interpretação de Arthur W. Pink[6]:
"Passando agora para João 3:16, deveria ser evidente, a partir das passagens que acabamos de citar, que este versículo não vai suportar a construção que é costumeiramente colocada sobre ele. 'Porque Deus amou o mundo de tal maneira'. Muitos supõem que isto significa, toda a raça humana. Mas 'toda a raça humana' inclui toda a humanidade, desde Adão até o fim da história da Terra: alcança o passado bem como o futuro! Considere, então, a história da humanidade antes de Cristo nascer. Incontáveis milhões de pessoas viveram e morreram antes do Salvador ter vindo à terra, viveram aqui 'não tendo esperança e sem Deus no mundo', e, portanto, foram para uma eternidade de aflição. Se Deus os 'amou', onde se encontra uma prova, a menor prova que seja, disso?""A Escritura declara: 'No passado [a partir da torre de Babel até depois do Pentecostes] Ele [Deus] permitiu que todas as nações seguissem os seus próprios caminhos' At 14:16. A Escritura declara que 'Visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam'. Rm 1:28. Para Israel Deus disse: 'Escolhi apenas vocês de todas as famílias da terra' Am 3:2. Levando em conta estas claras passagens, quem será tão tolo a ponto de insistir que Deus no passado amou toda a humanidade?! O mesmo se aplica com igual força para o futuro [...] Mas o objetor volta para João 3:16 e diz: 'Mundo significa mundo'. É verdade, mas nós mostramos que 'o mundo' não significa toda a família humana. O fato é que 'o mundo' é usado de maneira geral [...]." "Agora, a primeira coisa a se observar em conexão com João 3:16 é que nosso Senhor estava falando ali com Nicodemos, um homem que acreditava que as misericórdias de Deus eram restritas à sua própria nação. Cristo ali anunciou que o amor de Deus em dar o Seu filho tinha um objeto maior em vista, que fluía além do limite da Palestina, chegando aos 'confins da terra'. Em outras palavras, este foi o anúncio de Cristo que Deus tinha um propósito de graça para com os gentios bem como para com os judeus. Portanto, 'Porque Deus amou o mundo de tal maneira', significa que o amor de Deus é internacional em seu escopo." "Mas isso significa que Deus ama cada indivíduo entre os gentios? Não necessariamente, pois, como vimos, o termo 'mundo' é geral e não específico, relativo e não absoluto [...] o 'mundo' em João 3:16, em última análise, refere-se necessariamente ao mundo do povo de Deus. Somos obrigados a dizê-lo, pois não há nenhuma outra solução alternativa. Não pode significar toda a raça humana, pois metade da raça já estava no inferno quando Cristo veio à Terra. É injusto insistir que significa cada ser humano que está vivendo agora, pois todas as outras passagens no Novo Testamento, onde o amor de Deus é mencionado, é limitado a Seu próprio povo pesquise e veja!" "Os objetos do amor de Deus em João 3:16 são, precisamente, os mesmos objetos do amor de Cristo em João 13:1: 'Um pouco antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que havia chegado o tempo em que deixaria este mundo e iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim'. Podemos admitir que a nossa interpretação de João 3:16 não é um romance inventado por nós, mas um que nos foi dado, quase uniformemente, pelos reformadores e puritanos, e muitos outros depois deles.[7]"
Nós apenas podemos estranhar que os reformados tenham tão rapidamente se afastado da verdade do soberano, particular e eletivo amor de Deus em Jesus Cristo; verdade a qual não foi só confessada "pelos reformadores e puritanos" antes deles, mas também tem sido confessada pela própria igreja reformada em seu credo, os Cânones de Dort.
Quem os enfeitiçou?
Quanto a nós, estamos determinados, por causa do amor à verdade, a se opor à mentira sobre o amor de Deus em Jesus Cristo por todos os homens, sem exceção; a tentar resgatar aqueles que tem sido levados cativos por esta doutrina; e a pregar e testemunhar, perto e longe, a tempo e fora de tempo, o amor de Deus pelo mundo que salva o mundo, a morte do Filho de Deus que redimiu o mundo, o propósito de Deus para a salvação de pecadores a qual está consumada, e a salvação dos pecadores escravizados por meio do soberano poder da graça de Deus somente, para o conforto de todo cristão e para a glória de Deus.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013


Por Martyn McGeown


Rev. Derek Dunn, no Ballymena Times (15 February, 2006), repetiu o mito que Deus ama todo o mundo. Deus ama o mundo, mas na Escritura isso raramente significa toda a raça humana (João 7:4; 12:19; Atos 17:6; 1Co. 11:32). No Antigo Testamento, Deus amava somente a nação de Israel (Dt. 7:7), mas mesmo então nem todo israelita, pois "nem todos os que são de Israel são israelitas" (Rm. 9:6). No Novo Testamento Deus ama pecadores de todas as nações, por conseguinte o termo "mundo". O que é geralmente negado é que Deus odeia alguns pecadores, tanto eles como os seus pecados. Por exemplo, Deus odiou Esaú (Rm. 9:13) e ele "odeia a todos os que praticam a maldade" (Sl. 5:5).

Cristo veio para salvar somente aqueles a quem Deus ama, não Judas, Herodes, Pilatos ou outros "cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo" (Ap. 17:8). Antes, Cristo veio para salvar aqueles que o Pai tinha lhe dado (João 6:37-39; 17:2). Cristo, "como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim" (João 13:1), não a todos no mundo. Em Cristo, pecadores eleitos são amados (Ef. 1:4-6), mas fora de Cristo, pecadores são odiados por Deus, pois Deus "não tem prazer na iniqüidade" (Sl. 5:4), mas"ama a justiça" (Sl. 11:7). Cristo em amor morreu por suas amadas ovelhas, mas não morreu nem orou pelos bodes (João 10:26-27; 17:9).

O amor de Deus é eficaz. Ele salva de fato os objetos de seu amor. Deus busca aqueles a quem ama, e faz com que os recipientes desse amor O amem (1 João 4:19). Visto que Deus não é obrigado a amar ninguém, mas escolhe livremente a quem amará, o homem não pode se queixar (Rm. 9:13-20). Ensinar que Deus ama todo o mundo (mesmo aqueles que terminam no inferno) é roubar o filho de Deus do conforto e é "encorajar os ímpios a não se desviarem dos seus maus caminhos para salvarem a sua vida" (Ez. 13:22, NVI).

Alguns podem perguntar: se Deus não ama todo o mundo, por que a Bíblia usa linguagem universal, tais como o Senhor não "quer que nenhum pereça" (2 Pedro 3:9, RA) ou "todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo" (Rm. 10:13). Tais objeções desconsideram o contexto e mostram ignorância da linguagem. Freqüentemente usamos linguagem universal. Quando o professor pergunta,"Todo o mundo tem uma caneta?", ele quer dizer apenas a sua classe. Quando um pai diz, "Todo o mundo entre no carro!", ele refere-se somente à sua família.

Considere Mateus 10:22 ("odiados de todos sereis"), João 3:26 ("e todos vão ter com ele"), Atos 19:19 ("trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos") e Romanos 16:19 ("quanto à vossa obediência, é ela conhecida de todos"). Nessas passagens, "todos" não pode ser tomado como significando a raça humana inteira. Similarmente, "todo o que" significa "todos aqueles que …" Não significa todo o mundo. "Todo o que nele crê" (João 3:16, RA) significa todos aqueles que crêem, ou "todos os crentes."

2 Pedro 3:9 foi escrito como uma resposta a escarnecedores e para dar conforto com respeito à demora percebida do retorno de Cristo. O Senhor não tinha retornado, pois Deus é longânimo para "conosco". Deus não é longânimo para com todo o mundo. Deus não quer que seu povo ("nós," no "conosco") pereça, e visto que a "longanimidade de Deus é salvação" (2 Pedro 3:15, KJV),2 todos aqueles a quem Deus é longânimo serão salvos.

Similarmente, "todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" (Rm. 10:13) não significa que todo o mundo pode ou invocará o nome do Senhor. A Palavra de Deus ensina que os pecadores odeiam a Deus (Rm. 8:7) e não invocarão o seu nome. Isaías lamenta que "ninguém há que invoque o teu [i.e., de Deus] nome" (Is. 64:7) e Paulo escreve: "não há ninguém que busque a Deus" (Rm. 3:11). O fato de alguns invocarem a Deus é obra do Espírito de Deus, que graciosamente dá fé e arrependimento a alguns (Atos 11:18; Ef. 2:8; Fp. 1:29), mas cega e endurece a outros (Js. 11:20; Mt. 11:25; João 12:40; Rm. 9:18).

Notas:
[1] ACF: "E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor." NVI: "Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação."

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Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto em outubro/2007.
Via: Covenant Protestant Reformed Church

sábado, 28 de dezembro de 2013

Podemos ordenar que os demônios manifestem e conversar com eles?





Obs: Neste artigo, eu me detive a analisar apenas a questão do exorcismo e da verdadeira “possessão” maligna, uma vez que existem casos parecidos com a “possessão” maligna que, de fato, não é “possessão maligna, antes, são pessoas com diagnósticos de problemas mentais e distúrbios de múltipla personalidade que muitas vezes desconhecem que possuem tal problema de saúde bem como os pastores que atribuem tal problema à “possessão” maligna”.  
O exorcismo, que é simplesmente o ato de libertar uma pessoa “possessa”, demonizada ou sob o domínio de Satanás, é uma prática bastante antiga não somente vista no Cristianismo, mas, também, em outras religiões. Os xamânicos, por exemplo, acreditavam em pessoas “possessas”, demonizadas ou sob o domínio de Satanás. Os xamãs, portanto, realizavam exorcismos.
A primeira referência sobre pessoas “possessas”, demonizadas ou sob o domínio de Satanás foi descrita pelos sumérios, um povo oriundo da Suméria, que é considerada a civilização mais antiga da humanidade. Os principais registros que temos acerca de pessoas “possessas”, demonizadas ou sob o domínio de Satanás e de exorcismos está descrito nos evangelhos através do ministério de Jesus e com apenas um relato escrito no livro de Atos através do ministério dos apóstolos. Logo, no inicio do século II, no período pós-apostólico, o exorcismo ou a prática do mesmo alcançou certa proeminência de acordo com alguns registros do Cristianismo histórico. Em vista disso, como, então, saber como era a prática do exorcismo? Quem eram as pessoas que podiam realizar os exorcismos? Como era o processo? Se ordenava que o demônio manifestasse e quem realizava o exorcismo conversava com ele? Como não é o meu objetivo me deter na parte histórica e ter como regra base o método em que as outras religiões empregam na realização do exorcismo, todavia, quero enfatizar o método correto de exorcismo baseado no que as Escrituras ensinam sobre o assunto.
Não obstante, o primeiro relato que temos na Escritura sobre “possessão”, demonização ou alguém sob o domínio de satanás pode ser visto em Marcus 1.21-26, onde Jesus, entrando numa sinagoga para ensinar às Escrituras, se depara com um homem “possesso” ou sob o domínio de um espírito maligno que, talvez no meio ou no final do discurso de Jesus, diz: Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para destruir-nos? Sei quem és tu, o Santo de Deus(vs.24). [Almeida Século 21] Jesus, porém, repreende os demônios, dizendo: Cala-te e sai dele (vs.25). [Almeida Século 21] E, imediatamente, Marcus diz, que o espírito (os) maligno(s) saiu do homem (vs.26). Note que, neste caso, Jesus não ordenou que o demônio MANIFESTASSE; ele apenas REPREENDEU o demônio ordenando-o que saísse do homem. Podemos observar também que, ainda, no capítulo 1.34, é dito que Jesus, ao realizar exorcismos, não “permitia que os demônios falassem, porque eles sabiam quem ele era”. [Almeida Século 21]
Outro caso relatado no evangelho de Marcus é de dois homens gerasenos (Mt 8.28-34; Mc 5.1-20; Lc 8.26-39). De acordo com o relato de Marcus 5.7-13, que descreve apenas um homem, é dito que, ao ver Jesus de longe, ele correu e se prostrou de joelhos aos seus pés, porque Jesus dissera ao demônio que saísse daquele homem (vs.6-8). Em seguida, Jesus pergunta qual é o nome daqueles demônios, que se chamava legião, porque eram muitos [uma legião romana de soldados era composta por cerca de 6000 soldados] (vs.9 para mais detalhes do diálogo, leia os vs.10-12). Portanto, neste evento observamos duas atitudes de Jesus em relação ao exorcismo:
(1) Jesus não ordenou que os demônios MANIFESTASSEM no homem ou nos homens sob o domínio deles. Os demônios simplesmente quando viram Jesus logo MANIFESTARAM.
(2) O diálogo de Jesus com a legião de demônios, além de ser o único evento em que Jesus conversa com um ou vários demônios, não é um ensinamento e nem sequer uma base para se conversar e entrevista-los no momento do exorcismo como vemos nos “cultos” de libertação nas igrejas/seitas neopentecostais, onde se fazem os mais variados tipos de perguntas e, sobretudo, perguntas irrelevantes e patetas aos “supostos demônios”.
O diálogo de Jesus com aquela legião de demônios perguntando seu nome não era porque ele não sabia quem eram aqueles demônios. Jesus, como Deus que é, Onisciente e Soberano sabia quem eram aqueles demônios, entretanto, o diálogo e a pergunta revela-nos o seu poder superior sobre o poder dos demônios. Adolph Pohl corrobora que Jesus não perguntou o nome daqueles demônios por não saber, mas para demonstrar que tudo tem de ser entregue a ele.[1]
O fato de Jesus ter conversado com os demônios neste evento é algo singular na história!
No evangelho de Mateus é descrito no capítulo 9.32-34, logo após Jesus curar dos cegos (Mt 9.27-31), que levaram até Jesus um homem mudo sob o poder de Satanás, isto é, o demônio fez com que aquele homem ficasse mudo. Em seguida, é dito que Jesus expulsou o demônio daquele homem e ele falou. Novamente não vemos nenhuma menção de Jesus ter ordenado que o demônio manifestasse ou que ele conversou com o demônio. Ainda, em Mateus 15.21-28, no caso da filha da mulher cananeia, que também estava sob o domínio ou poder do demônio, Jesus simplesmente proferiu uma palavra para a mãe desta menina que a sua filha estava liberta e, assim, aconteceu imediatamente (veja o paralelo em Mc 7.29-30).
Retornando ao evangelho de Marcus 9.14-29, podemos observar o evento de um garoto que estava sob o poder do demônio, que o fazia ter convulsões, de modo que ele espumava pela boca, rangia os dentes e, por muitas vezes, tentou matá-lo lançando-o no fogo e na água (vs.18, 20, 22). Ao se deparar com este garoto, Jesus liberta-o do poder do demônio não ordenando que ele se manifeste e, tampouco, conversa com ele, mas, simplesmente, dizendo: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai dele e nunca mais entre! Almeida Século 21
No livro de Atos, por sua vez, vemos apenas um único relato acerca de um exorcismo realizado por Paulo, ou seja, no caso em pauta, em Atos 16.16-18, onde o apóstolo repreendeu, [não ordenando que ele se manifestasse e nem conversou com ele] o espírito maligno de uma jovem adivinha, dizendo: Eu te ordeno (ao espírito maligno) em nome de Jesus Cristo que saias dela. E na mesma hora ele saiu. Almeida Século 21 Certamente pode ter ocorrido alguns outros casos de exorcismos realizados pelos demais apóstolos, porém, tais eventos não foram registrados por Lucas por vontade divina em virtude dos eventos de exorcismos já contidos nos evangelhos serem suficientes.
Portanto, concluímos, então, que a prática de ordenar que o demônio manifeste e conversar com ele conforme é visto nos cultos de libertação nas igrejas/seitas neopentecostais não é coerente com o tipo de exorcismo que as Escrituras ensinam. Tal prática é uma crença pagã antiga onde se acreditava que o conhecimento do nome de uma entidade espiritual que estava possuindo uma pessoa conferia poderes mágicos ao exorcista que era capaz de expulsá-la do corpo da pessoa possessa e até destruí-la. Champlin ressalta que os nomes de vários deuses pagãos nunca eram proferidos, e eram mantidos em segredo por temor que, conhecidos esses nomes, ficaria prejudicado o poder dessas divindades entre o povo, pois algo de sua distinção era prejudicado.[2] Jesus nem sequer os apóstolos utilizavam tal prática pagã no exorcismo, mas, simplesmente, repreendiam o demônio da pessoa que estava sob o seu poder e domínio ordenando-o que fosse embora. O que passar disso no exorcismo não é do agrado de Deus e, sobretudo, fora dos padrões estabelecidos por ele nas Escrituras.
___________________NOTAS:1 Comentário Esperança. Marcus, pág 122.2 Russel Norman Champlin. Marcus, pág 696.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

"Erga a voz:" A violência, a ideologização do debate e uma oportunidade para a igreja cristã - Por Franklin Ferreira







“A terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência” (Gn 6.11).
“Eis que clamo: violência! Mas não sou ouvido; grito: socorro! Porém não há justiça”(Jó 19.7).
“O Senhor põe à prova o justo e ao ímpio; mas ao que ama a violência a sua alma o abomina” (Sl 11.5). 
“Vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos”(Ec 4.1).
“Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita”(Hb 1.2-3).
Dando nome à tragédia
A melhor forma de abordar o tema da violência é começar por relembrar reverentemente as vítimas – que, pelo menos nesta vida, não receberão a justiça e vindicação que elas merecem. Em 29 de novembro de 2005, ocorreu o impensável no país. Cinco pessoas, inclusive uma criança de um ano e dois meses de idade, morreram queimadas dentro de um ônibus na Penha, subúrbio norte do Rio de Janeiro.[1] Esse bárbaro assassinato elevou a violência a um novo e assustador patamar no Brasil, qual seja, o da banalização da vida humana e da crueldade sem limites. No ano seguinte, em 28 de dezembro de 2006, sete pessoas morreram carbonizadas em um ônibus da Viação Itapemirim que foi incendiado no viaduto que liga a Rodovia Washington Luiz à Avenida Brasil, no município do Rio de Janeiro.[2] Em 7 de fevereiro de 2007 o menino João Hélio, que tinha seis anos de idade, foi assassinado após um assalto. Os assaltantes (inclusive um menor de idade) arrastaram o menino preso ao cinto de segurança pelo lado de fora do veículo. Em 9 de abril de 2013, um adolescente de 17 anos matou o universitário Victor Hugo Deppman durante um assalto na região do Belém, em São Paulo. A dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza foi queimada viva durante um assalto dentro de seu consultório, em São Bernardo do Campo, na grande São Paulo, em 25 de abril de 2013. Um dos criminosos era um menor de idade. Em 3 de junho, faleceu o dentista Alexandre Peçanha Gaddy, queimado durante um assalto em seu consultório no dia 27 de maio de 2013, em São José dos Campos, interior paulista. 
Outros casos e nomes de vítimas poderiam ser mencionados. Mas esses são centenas de milhares. E esta violência não está circunscrita a credo religioso, etnia e classe social – ou, neste último caso, quase, como veremos abaixo. E a maioria dos criminosos fica impune, seja pela ineptidão da policia, fria morosidade do sistema judiciário (cf. Sl 82.1-8; Ec 8.11),[3] falência do sistema carcerário ou mesmo pela indiferença do legislativo, que não apresenta uma resposta à altura a esta onda crescente de barbárie e violência. Os impostos altíssimos consomem, em média, 40% da renda bruta do trabalhador, o governo é perdulário e os serviços públicos são completamente ineficientes. Constata-se que o establishment se tornou incompetente e obtuso, podendo bem ser chamado de “sociedade incivil”, pois produziu no país uma classe governante que perpetua seus privilégios e coloca seus interesses acima do povo, recompensando a lealdade e punindo tudo o mais.[4] Nesta conjuntura, instalou-se no país uma síndrome do medo associada à violência, e, por conta da omissão do Estado, não se tem perspectiva alguma de melhora nessa conjuntura em curto ou médio prazo.
A espiral da violência: 1980-2010
Os registros do Subsistema de Informação sobre Mortalidade (Ministério da Saúde) mostram que, entre 1980 e 2010, 799.226 cidadãos no Brasil morreram por disparos de algum tipo de arma de fogo. Nesse período, as vítimas passaram de 8.710 em 1980, para 38.892 em 2010, num crescimento de 346,5%.[5] Numa tentativa de chamar a atenção para a violência no país, os coordenadores do Mapa da Violência fizeram um quadro comparativo da realidade nacional com as mortes ocorridas nas principais guerras dos últimos anos.


O número de assassinatos no Brasil, entre 2004 e 2007, é maior que as baixas em doze dos maiores conflitos militares no mesmo período: as guerras provocaram a morte de 169.574 pessoas, enquanto no Brasil 192.804 pessoas foram assassinadas a tiros. Como diz o coordenador do Mapa da Violência 2013, Julio Jacobo Waiselfisz, “no Brasil, país sem disputas territoriais, movimentos emancipatórios, guerras civis, enfrentamentos religiosos, raciais ou étnicos, morreram mais pessoas vítimas de homicídios que os 12 maiores conflitos armados do mundo”.[6] Ainda que precisem ser levadas em conta as diferenças demográficas entre estes países, os números de mortos no Brasil são escandalosos.
Segundo dados do Ministério da Justiça, a população carcerária no Brasil é de 548 mil pessoas, sendo que os presídios e cadeias dispõem de apenas 310 mil vagas.[7] E segundo dados obtidos a partir dos mutirões carcerários desenvolvidos pelo Conselho Nacional de Justiça, os índices de reincidência variam entre 60% e 70%, um dos maiores do mundo. Na atualidade há no país 75.000 pessoas cumprindo pena em regime semiaberto, sendo que, no ano de 2012, 5,1% dos que tiveram direito à saída temporária não retornaram às celas.
Ideologia e a interdição do debate
O que se conclui da crescente violência é que nosso sistema legal/penal é voltado para a defesa e proteção do criminoso.[8] O sistema político sequer representa adequadamente o desejo da população por segurança, e a maioria dos governantes adere ao ideário esquerdista e segue incapaz de enxergar a individualidade da culpa. Mesmo as igrejas cristãs, que poderiam fazer a diferença, estão, em parte, infectadas pelo pensamento dito “progressista”, que não permite o avanço ou aprofundamento do debate.
Historicamente faz parte da essência de partidos esquerdistas associarem a ideologia ao crime: o traficante é vítima (do capitalismo), o menor assassino é vítima (da sociedade), o assaltante é vitima (da desigualdade social), os “mensaleiros” do PT são vítimas (de uma armação de reacionários). Mas a explicação para essa mentalidade é simples: desde a revolução soviética de 1917 isso acontece. Os comunistas chamavam os criminosos da época de “socialmente próximos” (sotsialnoblizkii).[9] A mesma visão é replicada na atualidade pelos esquerdistas dos trópicos.
Neste contexto, a culpa parece ser sempre da vítima. O bandido se tornou o herói em nossa cultura, e a polícia é vista apenas como o aparelho repressor do Estado. Numa reedição do antigo conflito de classes, quem trabalha, estuda e leva uma vista honesta é visto por ideólogos e partidários da esquerda como alguém que deve ser punido pelos criminosos e pela indiferença estatal – ou seja, para esses, o bom é ser bandido e/ou depender do dinheiro público fornecido generosamente pelo Estado.[10] Os esquerdistas têm as desculpas prontas para justificar a leniência da justiça brasileira e os atenuantes para os perpetradores de crimes bárbaros, pois para esses os crimes são interpretados como “luta de classes”, não se pode mudar o código penal no “calor da comoção” e a redução da maioridade penal é “quase” cláusula pétrea constitucional.[11] 
Vive-se um paroxismo absurdo onde o debate sobre a violência foi interditado pela adesão religiosa a uma ideologia. Não se pode nem se deve discutir a questão da maioridade penal sob o impacto da comoção e, portanto, não se deve discutir a garantia de que o autor de um “ato infracional” estará em liberdade em pouco tempo, porque é isso que lhe garantem a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente.[12] Para os esquerdistas, prontos para livrar os indivíduos do peso da responsabilidade ética e transferi-la integralmente para a sociedade,[13] propostas de mudança no Código Penal ou a discussão da maioridade penal são “oportunistas”. Mas, num país onde se cometem cerca de 40.000 assassinatos por ano e onde um assassino “assessorado por um advogado medianamente competente volta para a rua depois de cumprir um sexto da pena”, vai ser difícil, como conclui Sandro Vaia, “achar um momento que não seja ‘oportunista’ para debater a eficácia das leis”.[14] 
Infelizmente a discussão é bem mais ampla e poucos em nossa sociedade estão dispostos a dela participar. Alguns que tentam são logo silenciados pelos esquerdistas e “cristãos progressistas” (curiosamente, assim eram conhecidos os católicos poloneses que apoiavam o fascismo, no período entre-guerras, e o comunismo, no pós-guerra),[15] ou apelando-se para a necessidade de não se ter debate no “calor da comoção” ou por se rotular os oponentes como “fascistas”.[16] Os que têm certo destaque nos meios de comunicação geralmente são os pró-bandidos “coitadinhos”, “oprimidos” por um sistema social injusto e opressivo que os deixou sem escolha a não ser matar, torturar e estuprar. 
Mas a pergunta se impõe: haverá algum avanço na área de segurança pública com essa mentalidade no poder? Dificilmente, pois a classe política e aqueles que servem no aparelho estatal são a elite intocável, a “sociedade incivil”, andando em carro blindado, protegida por seguranças, abrigada em suas capitanias hereditárias, enquanto a maior parte da população do país vive refém da violência.[17] Esta casta superior de um país partido leva uma vida burguesa, enquanto posa de esquerdista com “consciência social”, asseverando que a sociedade deve criar condições plenas para que o homicida seja feliz para somente depois puni-lo por assassinar uma pessoa indefesa. 
Como não se resolve como chegar à sociedade plenamente justa, harmônica e feliz, pois esta está oculta nos “arcanos ideológicos” que inspiram esse pensamento, deixam-se os crimes impunes e as vítimas sem justiça. Se criminalidade diminuísse por uma questão de melhor educação, bem-estar social (welfare state) ou desenvolvimento econômico os países do primeiro mundo não teriam violência e crime. Portanto, as raízes da violência e criminalidade precisam ser procuradas em outra fonte, isto é, na maldade intrínseca aos seres humanos, que polui o meio onde este se encontra.
Nos Estados Unidos, Reino Unido e Europa a punição de um crime não se dá pela idade do autor, mas de acordo com a gravidade e crueldade do crime que ele cometeu.[18] Mas, como vão afirmar aqueles que se acham detentores das boas intenções,[19] mas que desprezam punir assassinos, deixar bandidos sem punição, soltos nas cidades, é “justa violência revolucionária”.[20] Mas que ninguém se engane: o sangue das vítimas está nas mãos destes, e Deus irá requerer isso deles (cf. Ez 35.6).
Em termos bíblico-teológicos, a segurança é obrigação legítima do Estado (cf. Rm 13.1-7). Só que o mesmo Poder Público que impede que o cidadão se defenda,[21] não lhe dá a devida segurança e nem desestimula o crime por meio de punições severas. Portanto, a mentalidade esquerdista rebaixou a política de segurança – e a política em geral – ao nível mais baixo da história da República. Os números de assassinatos anuais não decrescem, só aumentam; os números do desarmamento são usados ideologicamente;[22]  pelas fronteiras entram armamentos militares que rapidamente chegarão às mãos dos traficantes; no Rio de Janeiro, a pacificação iniciada em 2011 não acabou com os bandidos, eles somente mudaram de cenário; na Bahia, em fevereiro de 2012, foram assassinadas 153 pessoas durante dez dias de greve das forças de segurança, etc. As manchetes sobre o aumento da violência se sucedem, numa dança da morte que vai se tornando monótona e, por assim ser, dessensibilizando a sociedade.
Deve-se lamentar profundamente que os governantes sequer venham a público para explicar o inexplicável ou, pelo menos, se colocar ao lado dos que sofrem. Embora se saiba das especificidades constitucionais no trato da segurança pública, deve-se lamentar que os governantes municipais, estaduais e da federação não ofereçam uma palavra oficial de indignação. Isso é revoltante! Com tal indiferença, sugerem, ainda, que a vida das pessoas comuns pouco ou nada vale, e nem diz respeito a ninguém da esfera pública. Lamenta-se que aqueles que têm desempenhado funções no Legislativo e no Executivo revelem questionável competência  para governar os municípios, os estados e o país, espelhando um triste legado que insiste em se perpetuar na política brasileira.
Por fim, até recentemente a população brasileira parecia conformada, sem esboçar reação diante da violência e corrupção. Mas, desde o início de junho deste ano estão ocorrendo as maiores manifestações no Brasil desde os protestos de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil, em 1984, e o impeachment de Fernando Collor da presidência da República, em 1992. Estas manifestações começaram em São Paulo e se espalharam por vários estados, e atos em solidariedade foram realizados em cidades na Europa, Reino Unido e Estados Unidos, desencadeando uma crise social e política como há muito tempo não se via.[23] Embora haja uma pluralidade de ideais e objetivos nestes protestos, todos têm um denominador comum: repulsa ao desrespeito do ente estatal para com as pessoas, isto é, a completa falta de retorno que há para os cidadãos que, ao pagar inúmeros impostos, recebem em troca corrupção, insegurança, educação e saúde de má qualidade.  Ainda que partidos políticos e movimentos sociais de esquerda e extrema-esquerda tentem controlar (Gleichschaltung) as manifestações, estas, parece, assumiram no país inteiro um caráter apartidário, mas não antipartidário – e deve-se sempre lembrar que partidos e políticos são vitais ao regime democrático. No entanto, precisamos de mais atitudes que afetem de forma significativa nossa rotina, como passeatas pacíficas, suspensão de eventos festivos, e outras ações que deixem bem claro que algo muito grave está acontecendo no país. Os cidadãos deste país devem continuar protestando e clamando: “Chega de impunidade, chega de violência, chega de incompetência!”
A igreja diante da violência
Diante deste quadro, deve-se perguntar: diante desta conjuntura, os cristãos devem agir individualmente ou por meio da igreja local? Qual é exatamente o papel da igreja diante da violência?
Deve-se começar por enfatizar que não podemos alternar “igreja” e “cristãos”, usando essas palavras como sinônimas. Precisa-se, portanto, distinguir entre as formas de ministério e serviço em que a igreja cristã – enquanto igreja – se envolve e as formas de ministério e serviço em que os cristãos – que pertencem a essas igrejas – se envolvem. Ao definirmos “igreja”, pode-se lembrar de que, em termos confessionais, duas marcas caracterizam a verdadeira igreja cristã: a Palavra de Deus pregada e ouvida em toda a sua pureza e a correta administração dos sacramentos do batismo e da ceia do Senhor. Como ensina o artigo sobre a Igreja (VII), na Confissão de Augsburgo (1530):
Ensina-se também que sempre haverá e permanecerá uma única santa igreja cristã, que é a congregação de todos os crentes, entre os quais o evangelho é pregado puramente e os santos sacramentos são administrados de acordo com o evangelho.
Portanto, devemos distinguir a missão da igreja e o dever dos cristãos. Se a igreja permanecer igreja cristã, os cristãos, ouvindo a pregação do evangelho, entenderão que é sua tarefa demonstrar misericórdia, cuidar dos pobres, preocuparem-se com questões de justiça, fazer “o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gl 6.10).
A igreja cristã precisa voltar a ser igreja cristã. A verdadeira igreja é alicerçada pela e na Palavra de Deus. E a igreja cristã, que é comunidade da Palavra e do sacramento, será comunidade da cruz. Portanto, diante da cacofonia de vozes que se instalou entre os evangélicos no Brasil, isso precisa ser dito, com toda a seriedade: se uma comunidade que se quer ser igreja abandona estas marcas — a pregação da Palavra e a correta administração dos sacramentos – deixa de ser igreja cristã, se tornando, quando muito, uma ONG piedosa. Mas não mais igreja cristã, sob Cristo, sob a cruz. Como disse o Papa Francisco I em sua primeira homilia:
Podemos caminhar o que quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo, está errado. Tornar-nos-emos uma ONG sócio-caritativa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor. (...) Quando não [se] confessa Jesus Cristo, confessa[-se] o mundanismo do diabo, o mundanismo do demônio. (...) Quando caminhamos sem a cruz, edificamos sem a cruz ou confessamos um Cristo sem cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, (...) não discípulos do Senhor. (...) Eu queria que (...) todos nós tivéssemos a coragem, sim a coragem, de caminhar na presença do Senhor, com a cruz do Senhor; de edificar a Igreja sobre o sangue do Senhor, que é derramado na cruz; e de confessar como nossa única glória Cristo crucificado. E assim a Igreja vai para diante.[24]
A igreja cristã deve permanecer igreja cristã. E assim, se permanecer fiel ao seu chamado, chamado este feito pelo próprio Deus-Trindade em sua santa Palavra, esta igreja deve moldar todas as áreas da vida do cristão por meio do anúncio do evangelho.
O conceito de “soberania das esferas” criado por Abraham Kuyper pode nos guiar nesta questão. Ele enfatizou que, enquanto a igreja permanece igreja, esta capacita os cristãos a que se dediquem, para a glória de Deus, ao entretenimento, educação, política, família, tudo isso de maneira distinta da missão da igreja. Portanto, uma igreja cristã, radicalmente fundamentada nas Escrituras, produzirá pessoas que mudam a sociedade, ainda que a igreja –enquanto igreja – não se engaje diretamente nesses empreendimentos. Devemos, então, reafirmar a distinção entre a igreja — enquanto ajuntamento definido pela Palavra e sacramentos — e o papel dos cristãos no reino de Deus, onde esses agem no mundo como indivíduos e por meio de agências e organizações voluntárias, fazendo “o bem a todos” (cf. Gl 6.10).
Portanto, as igrejas, sob a direção de seus pastores, devem assistir aos seus próprios membros e de outras igrejas coirmãs (cf. 1Co 16; 2Co 8-9), e os cristãos, estimulados por tal procedimento, devem demonstrar misericórdia aos seus bairros e cidades, como forma de revelar ao mundo o reino de Deus.[25] E, quando os cristãos estiverem diante de projetos de reforma social, devem trabalhar com associações e organizações, e não diretamente com a igreja, a comunidade da Palavra e dos sacramentos. Mas alguns cristãos devem trabalhar por uma reforma social mais ampla.[26] Aplicando a distinção de esferas à temática da violência, Tim Keller escreve:
Dissemos que há três ‘dimensões’ de fazer justiça e ajudar os necessitados. Além de assistência e desenvolvimento (tanto individual quanto corporativo), existe a reforma social. Essa reforma vai além de assistência às necessidades imediatas e dependência; ela busca transformar as condições e estruturas sociais que agravam ou causam essa dependência. Imagine uma sequência para a parábola do bom samaritano. Os meses passam, e, toda vez que viaja pela estrada que vai de Jerusalém a Jericó, o samaritano encontra alguém que foi roubado na estrada todo machucado, sangrando. Um dia, ele pergunta: ‘Como vamos dar fim a essa violência toda?’. A resposta seria fazer algum tipo de reforma social — instituir um novo acordo social que interrompa o fluxo de vítimas por meio de mudança nas condições sociais. Às vezes, a reforma social que funciona é simplesmente colocar mais policiais nas ruas. (...) Essa abordagem vai além de simplesmente ajudar pessoas. Busca mudar acordos e instituições sociais. Em alguns casos, envolve até mudança de leis.[27]
O Grupo de Clapham, cuja figura de maior destaque foi William Wilbeforce, afirmou a fé cristã com vigor e engajou-se vitoriosamente em lutas importantes e necessárias no Império Britânico, no século XIX. A partir da noção de separação de esferas, este grupo trabalhou pela abolição da escravatura, fundação de escolas cristãs para os pobres, reforma das prisões, combate à pornografia, realização de missões cristãs no estrangeiro e ênfase na liberdade religiosa. Este movimento permanece como um modelo para cristãos que queiram se engajar na reforma social.
À igreja cristã é exigido dar uma palavra sobre a violência – especialmente quando se leva em conta o quanto as Escrituras tratam deste pecado: “Assim diz o Senhor: executai o direito e a justiça, e livrai o oprimido da mão do opressor; não oprimais ao estrangeiro nem ao órfão, nem à viúva; não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar” (Jr 22.3). Mas a igreja só conseguirá fazer isso com fidelidade à Palavra de Deus, se voltar a ser igreja cristã – e pastores precisam voltar a ser pastores, edificando o corpo de Cristo (cf. Ef 4.11-16), para que este de fato expanda o reino de Deus neste país.
A igreja cristã se quer ser igreja cristã precisa reintroduzir noções bíblicas como pecado original e pecado pessoal no discurso público, ao mesmo tempo em que se fala do pecado nas estruturas sociais e políticas, assim como da responsabilidade moral que toda pessoa criada à imagem de Deus (cf. Gn 1.26-27) tem diante dele e de seus semelhantes. Isso deve ser dito com seriedade: Deus está irado com aqueles que permanecem em seu pecado (cf. Jo 3.36). Somente a afirmação pública do realismo bíblico sobre a tragédia do pecado, da transgressão e da iniquidade será capaz de refutar o utopismo ingênuo dos esquerdistas.[28] 
Se o pecado é um poder desfigurador, a igreja também deve enfatizar o poder renovador da aliança, da graça e da justiça de Deus. Pois será o ensino cristão sobre o sacrifício vicário de Cristo na cruz e sua ressurreição dentre os mortos, assim como a justificação concedida pela fé a pecadores que pode estabelecer uma cultura de paz (shalom) verdadeira (cf. Rm 4.24-25; 5.1), também para as vítimas e os perpetradores de violência, que se evidenciará por meio de arrependimento, conversão, reconciliação e perdão.[29] E a ênfase na obra do Espírito Santo poderá conduzir os cristãos a se dedicarem a obras de compaixão entre as vítimas da violência.
Os temas bíblicos da aliança e do federalismo podem ajudar os cristãos a despertar a sociedade civil a buscar ações de reparação de danos contra o Poder Público, acionando o Ministério Público para interpor uma Ação Civil Pública em casos relacionados à segurança pública ou mesmo propor uma Ação de Improbidade Administrativa de governadores e prefeitos. Também precisa ser enfatizada nas igrejas a necessidade do voto consciente, opondo-se ao “voto de cajado”, e aos arranjos institucionais entre igrejas (ou denominações) e políticos (ou partidos políticos), que é causa de corrupção em nosso meio. Na verdade, é constrangedor o modelo de políticos evangélicos brasileiros que, em geral, são populistas, amadores e despreparados. Sua permanência no poder tem se dado em função do uso e abuso de clichês cristãos, da prática do assistencialismo, bem como do desprezo pelo nome de Deus, usado com fins eleitoreiros. Também se criou uma visão reducionista de causas políticas cristãs, restritas apenas à luta contra a homossexualidade e o aborto. A corrupção e a violência parecem ser temas que não entraram na agenda desses políticos. Assim sendo, eles traem uma importante herança da tradição evangélica: políticos cristãos comprometidos com a glória de Deus e com a promoção do bem-estar na sociedade. Isso ocorre, parece, porque as exigências do evangelho de Cristo foram banalizadas, reduzidas a um moralismo seletivo (cf. Cl 2.18-23), a serviço ou da mensagem da prosperidade, ou cativa à ideologia esquerdista.
As igrejas cristãs devem, em cultos públicos, confessar seus pecados e iniquidades, assim como as transgressões cometidas no país, suplicando pelo derramamento do Espírito Santo sobre o corpo de Cristo. De acordo com as Escrituras, Deus tem prazer em atender as orações de seu povo, inclusive para mudar os rumos de um país ou região (cf. 2Cr 7.13-14). Pode-se aprender isso na história da Europa Central em 1980-1989: o cardeal Stefan Wyszyńskiconduziu a Igreja Católica na Polônia durante os anos negros do comunismo naquele país, pregando “não apenas sobre justiça social e dignidade do trabalho (...), mas também sobre valores morais absolutos e universais, a inviolabilidade da consciência individual, e a fé na encarnação de Deus em Cristo como alicerce do humanismo genuíno”;[30] o bispo da Igreja Reformada na Romênia László Tőkés, por meio de suas pregações contra a violência e a pobreza na cidade de Timişoara, foi essencial na queda do totalitarismo comunista naquele país; o pastor da Igreja Evangélica (Luterana), Christian Führer dirigiu durante quase dez anos reuniões de “orações pela paz” às segundas-feiras, na Igreja de São Nicolau, em Leipzig, fundamentais na derrubada pacífica do regime comunista no leste da Alemanha.[31] Como diz a Escritura: “‘Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito’, diz o SENHOR dos Exércitos” (Zc 4.6 NVI).
Por fim, diante de Deus, o justo juiz, deve-se reintroduzir o ensino de que haverá descanso e conforto eterno para aqueles que estão em Cristo pela fé somente, e punição eterna para aqueles que permanecem em seus pecados,  inclusive pelo uso da violência: “Quanto, porém, (...) aos assassinos, (...) a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte”. Cristãos estão obrigados à esperança. Portanto, esperam a ressurreição do corpo e “novo céu e nova terra”, onde “estará o trono de Deus e do Cordeiro”, quando serão feitas “novas todas as coisas”, e aqueles que ali estiverem terão enxugadas “dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram”. Podem ter confiança nestas promessas por causa da palavra régia: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida” (Ap 21.1, 4-6, 8; 22.3).
Portanto, os pregadores do evangelho são instrumentais para que os membros de uma igreja cristã, fundamentada e obediente à Palavra de Deus dada aos profetas e apóstolos (cf. Ef 2.20; 3.5; 4.11), sejam despertados para a reforma social. Esta mensagem deve ser dirigida não a um establishment surdo, mas à sociedade mais ampla, de forma apartidária. Pois o que se precisa é de uma transformação que comece não de cima, da perspectiva dos poderosos ou pelo uso de instrumentos políticos de poder, mas de baixo, da fraqueza, da súplica, da identificação sofredora com as vítimas e com os que sofrem.
Em tudo isso, a igreja cristã deve reafirmar seu compromisso de interceder em favor de todos, também por aqueles que foram atingidos pela violência, assim também por aqueles que “se acham investidos de autoridade” a fim de que sejam chamados à responsabilidade, “para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito” (1Tm 2.1-2). E que os cristãos alcancem mais sabedoria na escolha dos próximos governantes, objetivando ter, nesta posição, políticos que, de fato, sirvam ao país.
Que Deus desperte os pastores para que esses honrem seu chamado sagrado, pois estes são instrumentais na edificação de uma igreja cristã que se postará contra um Estado que quer ser total, que almeja dirigir todas as esferas da existência, ao mesmo tempo em que trai a nação ao não ser a autoridade instituída por Deus, ministro para o bem, e que castiga “o que pratica o mal” (cf. Rm 13.4). Como Karl Barth escreveu:
Por isso a igreja e a teologia não podem entrar em hibernação quando há um Estado total, conformando-se com uma moratória e alguma adaptação forçada. Elas são a fronteira natural também do Estado total. Pois também no Estado total o povo vive da palavra de Deus, cujo conteúdo é: ‘remissão dos pecados, ressurreição do corpo e vida eterna’. A igreja e a teologia devem servir a essa palavra, em favor do povo. Por isso são a fronteira do Estado. Elas o são para a salvação do povo, para aquela salvação que nem o Estado nem a igreja podem criar, mas que a igreja é vocacionada a proclamar. Ela deve poder ficar fiel e querer ficar fiel a esse seu objeto particular. O teólogo deve permanecer vigilante, em sua atribuição específica: um pássaro solitário no telhado, portanto sobre a terra, mas sob o céu aberto, ampla e incondicionalmente aberto. Ah, que o teólogo evangélico (...) queira permanecer vigilante ou, se porventura tenha estado dormindo, que queira ficar vigilante hoje, hoje de novo![32] 
Se pastores honrarem seu chamado a serem ministros da Palavra de Deus, podemos ter esperança de uma renovação da pregação da lei e do evangelho que reforme a igreja, que a torne cristã. Podemos ter esperança de que, cristãos amparados por estas igrejas cristãs, lancem-se a frear a espiral de violência que assola este país, e que, se Deus renovar a igreja brasileira por meio de sua Palavra, haverá real unidade e concórdia cristã também quanto a erguer a voz contra a violência (Confissão de Augsburgo, artigo VII):
Porque para a verdadeira unidade da igreja cristã é suficiente que o evangelho seja pregado unanimemente de acordo com a reta compreensão dele e os sacramentos sejam administrados em conformidade com a palavra de Deus. E para a verdadeira unidade da igreja cristã não é necessário que em toda a parte se observem cerimônias uniformes instituídas pelos homens. É como diz Paulo em Efésios 4: ‘Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo’.
O retorno à pregação e ensino da pura Palavra de Deus é urgentemente necessário para uma igreja cristã que almeja relevância no país hoje. Que muitos ouçam o chamado de Dietrich Bonhoeffer: “[A igreja] não nos será tomada – seu nome é decisão, seu nome é o discernimento dos espíritos... Venha... você que foi abandonado, você que perdeu a Igreja; retornemos às Sagradas Escrituras, busquemos juntos a Igreja... Pois aqueles momentos, quando a compreensão humana se desintegra, podem muito bem ser uma grande oportunidade de edificação... Igreja, permaneça igreja! ... confesse, confesse, confesse”. [33]
“Ó Deus, da violência tu me salvas” (2Sm 22.3).
“Ele tem piedade do fraco e do necessitado, e salva a alma aos indigentes. Redime as suas almas da opressão e da violência, e precioso lhe é o sangue deles” (Sl 72.13-14).
“Levanta-te, ó Deus, julga a terra” (Sl 82.8).
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Para ler as notas deste artigo, acesse a fonte original aqui.
Sobre o autor: Franklin Ferreira é Bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. É diretor e professor de teologia sistemática e história da igreja no Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos, São Paulo, e consultor acadêmico de Edições Vida Nova. Autor dos livros Teologia Cristã e Teologia Sistemática (este em coautoria com Alan Myatt), publicados por Edições Vida Nova, e Gigantes da Fé e Agostinho de A a Z.
Fonte: Teologia Brasileira
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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A Glória do Natal - Por R.C. Sproul






Na noite em que Jesus nasceu algo espetacular aconteceu. As planícies de Belém se tornaram um teatro para uma das mais espetaculares apresentações de som e luz na história humana. Todo o Céu apareceu.
Lucas nos relata o que aconteceu:
Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo:  é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura.E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem. (Lucas 2:8-14)
O visitante angelical foi cercado pela glória de Deus. A glória estava brilhando. Essa glória não pertencia ao próprio anjo. Era a glória de Deus, significando Seu modo divino de Ser. Era o esplendor divino que envolveu o mensageiro celestial, um visível brilho divino.
Quando os pastores de Belém tremeram de medo, eles foram admoestados pelo anjo: “O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor.”( Lucas 2:10-11).
Todo ser humano anseia por um salvador de algum tipo. Nós olhamos para alguém ou algo que irá resolver os nossos problemas, aliviar a nossa dor, ou conceder o objetivo mais esquivo de tudo, a felicidade. Da procura de sucesso nos negócios até a descoberta de um companheiro perfeito ou amigo, nós fazemos nossa busca.
Mesmo na preocupação com o esporte, mostramos uma esperança de um salvador. Quando uma temporada desportiva termina com perdedores muito mais do que vencedores, ouvimos o grito de cidades de todo o país – “Espere até o próximo ano” Depois vem o projeto ou uma nova safra de novatos, e os fãs depositam suas esperanças e sonhos sobre o novo garoto que trará glória para a equipe. O novato, o novo cliente, a nova máquina, a notícia de que vai chegar ao correio de amanhã – todos estão investidos com mais esperança do que qualquer criatura pode eventualmente entregar.
A explosão de luz que inundou os campos de Belém anunciou o advento de um Salvador que foi capaz de, de fato, cumprir a tarefa.
Notemos que o Salvador recém-nascido é também chamado de “Cristo, o Senhor.” Para os pastores espantados esses títulos estavam carregados de significado. Este Salvador é o Cristo, o Messias esperado de Israel. Todo judeu se lembrou da promessa de Deus de que um dia o Messias, o ungido do Senhor, viria para libertar Israel. Esse Messias-Salvador é também Senhor. Ele não só vai salvar o seu povo, mas ele será seu rei, seu Soberano.
O anjo declarou que esse Salvador-Messias “vos” nasceu. A proclamação divina não é um oráculo de julgamento, mas a declaração de um presente. O Rei recém-nascido nasceu para nós.______________________Por: R. C. Sproul. Extraído do site ligonier.org. © 2012 Ligonier Ministries. Original: The Glory of ChristmasTradução: www.voltemosaoevangelho.com. Original: R. C. Sproul – A Glória do Natal

domingo, 22 de dezembro de 2013

O Egocentrismo na Família - Por - Rev. Richard Phillips



."Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus." - Filipenses 2.3-5
"Como podemos ser tão egocêntricos se somos uma família cristã?" Este lamento tem sido proferido em quase todo lar cristão, e com boa razão. Toda família, cristã ou não cristã, é afligida com as corrupções do pecado. Assim como todo casamento envolve dois pecadores que dizem "Sim", todo filho nascido dessa união é afligido com a doença da família. Portanto, impreterivelmente uma mãe cristã puxará os seus cabelos enquanto as crianças contendem para saber quem sentará em que lugar, quem usará o controle remoto, quem brincará com o brinquedo e todas as outras formas da categoria de pecado que equivalem a "eu, eu, eu".
Todos na família
Não são apenas as crianças que estão no jogo do egocentrismo no lar cristão. O egocentrismo pode ser visto no pai, que exige que seus sonhos de carreira tenham prioridade sobre o bem-estar da família. O egocentrismo acontece quando a necessidade da mãe por controle age como um chicote que mantém os pequenos escravos de Faraó dançando nas poças de lama do Egito. No que concerne ao egocentrismo, há um lugar para todos: é uma atividade verdadeiramente "familiar". Avós egocêntricos exigem atenção e manipulam emocionalmente; pais egocêntricos impõem expectativas não saudáveis sobre as crianças; e meninos e meninas egocêntricos tornam a sala da família em um Afeganistão social, pelo menos até que saiam para um abrigo egocêntrico em seus livros, celulares e grupos de colegas absorvidos consigo mesmos.
Esta descrição talvez pareça bastante cética. Na verdade, está bem distante da única dinâmica que opera nas famílias cristãs. Mas, se minha experiência como pastor é correta, a maioria dos pais que estão lendo este parágrafo não reagirão com um condenatório "como ele ousa dizer isso sobre nós", e sim com um aliviado "graças a Deus não somos os únicos".
O egocentrismo é predominante, porque é a própria essência do pecado. O pecado exige a autonomia do ego, em vez de submissão a Deus; a satisfação do ego, em vez do amor a Deus e ao próximo; e a glória do ego, em vez da exaltação da glória de Deus. Na primeira sessão de aconselhamento familiar, Adão deu a primeira desculpa egocêntrica de uma transgressão, lançando em Deus e em sua esposa a culpa por quebrar a aliança de Deus (Gn 3.12). Para piorar as coisas, pelos menos sob uma perspectiva humana, a maldição de Deus sobre o pecado injetou ainda mais egocentrismo na família humana. A mulher foi amaldiçoada com uma obsessão egocêntrica que garantiu conflito no relacionamento conjugal: "O teu desejo será para o teu marido, e ele te governará" (v. 16). O homem foi amaldiçoado com uma obsessão egocêntrica por trabalho e atividade: "No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra" (v. 19).
Tudo que temos realmente de fazer para ver a condenação de nosso próprio egocentrismo é meditar na jornada terrena de Jesus Cristo. Na vida de Jesus, vemos servidão autossacrificial como a definição viva do amor de Deus. Jesus resumiu todo o seu estilo de vida quando disse: "O Filho do Homem... não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mt 20.28).
Às vezes, faz-se a pergunta: "Como é o amor na família divina da Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo?" A resposta pode ser achada, se examinarmos a pessoa e a obra de Deus Filho, que veio como "a imagem do Deus invisível" (Cl 1.15) e "a expressão exata do seu Ser" (Hb 1.3). A vida de Jesus foi uma exposição viva de 1 João 4.8: "Deus é amor". Em Jesus, vemos o próprio oposto da vida egocêntrica, especialmente quando ele se submeteu voluntariamente à morte na cruz. Jesus sacrificou-se a si mesmo, impelido por amor a Deus, o Pai ("para que o Filho te glorifique a ti") e a toda a família de Deus ("a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste" – Jo 17.1-2).
Cristo, a única cura
Entender o egocentrismo como o fruto de uma raiz de pecado mais profunda deixa claro que um verdadeiro remédio não pode ser aplicado à superfície do problema. A questão não é meramente de comportamento, como podem dizer todos os pais que têm procurado vencer o egocentrismo usando uma "jarra de elogios" ou punições severas para repelir as contendas "eu, eu, eu". Egocentrismo, como todo pecado, é, em última análise, uma questão do coração. E o único remédio que pode tratar o coração do homem caído e seus frutos amargos é o Salvador, Jesus Cristo.
De acordo com a Bíblia, experimentar a salvação realizada por Cristo e seus resultados práticos no lar exige que, primeiramente, recebamos, somente pela fé, a obra salvífica de Cristo em nosso favor e, depois, que imitemos a Cristo em obediência prática. A afirmação clássica do amor autossacrificial de Cristo foi dada em Filipenses 2.6-8:
Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.
A cura do pecado, incluindo tanto o perdão como o novo nascimento espiritual, resulta de confiarmos em Jesus e sua morte salvadora por nós. Somente a união com Cristo, por meio da fé, é capaz de redimir-nos de nossa escravidão a todo pecado, incluindo o egocentrismo.
Como crentes espiritualmente capacitados, somos chamados a participar da vida e do amor de Cristo por meio da obediência prática. Por isso, Paulo prefaciou o seu resumo do amor sacrificial de Cristo com uma chamada à renúncia da vida egocêntrica:
Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus (Fp 2.3-5).
Uma família centrada em Cristo
A experiência prática logo ensinará aos cristãos que a transformação de nossa vida é uma obra de Deus gradual e progressiva. A justificação ocorre imediatamente quando cremos. Todo crente é instantaneamente perdoado e justificado por meio de Cristo. Mas a santificação envolve toda uma vida de diligência e aplicação fiel. Por esta razão, mesmo famílias cristãs, em que cada membro professa a fé em Cristo, não exibem automaticamente a ética do amor de Cristo. Temos de parar resolutamente de ser uma família egocêntrica para sermos uma família cristocêntrica.
Quais são algumas das características de uma família que renunciou o amor ao ego em favor do amor sacrificial de Cristo? Eu diria que uma família cristocêntrica é uma família norteada por três compromissos, cada um dos quais iniciados pela letra "d": doxologia, discipulado e deleite.
Doxologia significa adoração, e uma vida cristocêntrica é uma vida motivada, acima de tudo, pela glória e louvor de Deus. Se eu sou um membro de uma família cristã, por que eu deveria ceder alegremente o melhor lugar ao meu irmão, entregar o brinquedo com um sorriso, tolerar alguma bagunça na sala da família ou desligar o computador para ler um livro para meu filho? As respostas são abundantes: benefício mútuo, evitar conflitos, sentir melhor quanto a mim mesmo e escapar de punição – todas as quais são boas razões no seu devido lugar. Mas o verdadeiro motivo para amarmos a servidão, o motivo que nos manterá em transformação é a gratidão pelo sacrifício de Jesus Cristo e o desejo de que ele seja louvado em minha vida. Este é o motivo que deve ser incutido nos corações cristãos – novos e velhos – de uma família cristocêntrica. Oh! Como é maravilhoso louvar e agradar o Senhor! E quão digno ele é de que sigamos seu exemplo de amor!
Discipulado significa seguir deliberadamente a Jesus Cristo por meio do estudo de sua Palavra, oração e membresia na igreja. Em uma família cristocêntrica, a Bíblia é aberta antes de o computador ser ligado, a Palavra e a oração são recebidas para o fortalecimento na graça, juntamente com o alimento que dá vigor ao nosso corpo, e a família é comprometida com o corpo de Cristo, no qual ele habita por meio de seu Espírito. O discipulado flui da doxologia, que enfatiza a importância da adoração em família e de atender diligentemente aos meios da graça no lar e na igreja.
Deleite significa regozijar-se em olhar para os outros da maneira como Cristo olhou para nós. Doxologia e discipulado promovem este deleite, à medida que embebemos o Espírito de nosso Senhor. Paulo disse: "Nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne... Assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2 Co 5.16-17). A ênfase de Paulo estava não somente no modo como vemos a nós mesmos, como pessoas nascidas de novo, mas também em como vemos agora os nossos irmãos em Cristo. Que deleite há em compreender que vivemos em uma família cristã, na qual Cristo está operando para a sua glória! Em uma família centrada em Cristo, há um senso de admiração do que Deus está fazendo em nossa vida que é mais cativante do que Barbie ou Star Wars. João escreveu: "Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros" (1 Jo 4.11). Isto é algo desagradável? Não, é um deleite, quando compreendemos como Deus nos amou por meio do serviço sacrificial de seu Filho. Quanto mais claramente vemos a Cristo e a maravilhosa graça de Deus em operação em nós, por meio de Cristo, tanto maior é o nosso deleite em sacrificar a nós mesmos para a glória de Deus na vida de nossa família e, depois do lar, na igreja e no mundo.
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Sobre o autor: O rev. Richard D. Phillips é o pastor principal da First Presbyterian Church of Coral Springs (Flórida) e o autor de Faith Victorious: Finding Strength and Hope from Hebrews.
Fonte: Editora Fiel.