domingo, 27 de março de 2011

Desejos Inflamados por Deus – Richard Baxter (1615 - 1691)

               O cristão vivo é o consagrado. É nossa distância do céu que nos torna tão insípidos: é o fim que vivifica todos os meios, e mais vigoroso será nosso movimento, se observamos esse fim com freqüência e de forma clara. Como os homens trabalham de forma incansável e se aventuram sem medo, quando pensam em um prêmio proveitoso! Como o soldado arrisca sua vida, e o marinheiro enfrenta tormentas e ondas; como eles, cheios de alegria, circundam a terra e o mar, e nenhuma dificuldade os intimida, quando pensam em um tesouro incerto e perecível! Quanta vida seria acrescentada nos esforços do cristão se ele antecipasse com freqüência esse tesouro eterno! Corremos devagar, e esforçamo-nos de forma indolente, porque nos importamos muito pouco com o prêmio!
Quando o cristão saboreia constantemente o maná velado, e bebe dos rios do Paraíso de Deus, como esse manjar e néctar divinos acrescentam vida a ele! Como, em suas orações, seu espírito será fervoroso, quando ele considerar que ora por nada menos que o céu! Observe o homem que passa muito tempo no céu e verá que ele não é como os outros cristãos. Algo do que ele viu lá em cima aparece em suas responsabilidades e em sua conversa; ainda mais, pegue esse mesmo homem logo após retornar dessas visões bem-aventuradas e perceberá facilmente que ele se sobrepuja a si mesmo, e como seus sermões são divinos. Se ele for um cristão comum, ele terá uma conversa divina, orações divinas e atitudes divinas! Quando Moisés esteve com Deus no monte, ele recebeu tanta glória de Deus que seu rosto resplandecia a ponto de as pessoas não conseguirem olhar para ele. Amados amigos, se você apenas se dedicar a isso, essa glória também estará com você.
Os homens, quando conversassem com você, veriam sua face resplandecer e diriam: "Certamente, ele esteve com Deus". Se você tivesse luz e calor, então por que não passaria mais tempo debaixo da luz do sol? Se você tivesse mais dessa graça que flui de Cristo, por que não passaria mais tempo com Cristo para ter ainda mais? Sua força está no céu, e sua vida também está no céu, e ali você deve buscá-las todos os dias, se quiser tê-las. Por falta desse recurso do céu, sua alma é como uma vela apagada, e seu serviço como um sacrifício sem fogo. Para sua oferta queimar, é preciso que busque carvão nesse altar. Para sua vela brilhar, é preciso acendê-la nessa chama e alimentá-la todos os dias com o óleo proveniente dali; fique próximo desse fogo renovador e veja como seus sentimentos ficarão revigorados e fervorosos. Como os olhos alimentam os sentimentos sensuais por meio do olhar fixo nos objetos fascinantes, também os olhos de nossa fé, por meio da meditação, inflamam nossos sentimentos em relação ao Senhor, ao mirar com freqüência essa mais sublime beleza.

Você pode exercitar suas funções de muitas outras formas, mas essa é a forma de exercitar suas bênçãos. Todas elas provêm de Deus, a fonte, e levam a Deus, o fim último, e são exercitadas em Deus, o objeto principal delas, de forma que Deus é tudo em todos. Elas vêm do céu, e a natureza delas é divina, e elas o direcionarão para o céu e o levarão para lá. E como o exercício abre o apetite e dá força e vida ao corpo, o mesmo também acontece com a alma. Pois como a lua é mais gloriosa e fica mais cheia quando fica mais diretamente face a face com o sol, também sua alma ficará mais cheia de dons e de bênçãos quando vir a face de Deus mais de perto. Seu zelo compartilhará da natureza dessas coisas que o impulsionam: portanto, o zelo que é inflamado por suas meditações sobre o céu, provavelmente, será um zelo mais divino, e a vida do espírito que você busca na face de Deus deve resultar em uma vida mais sincera e consagrada.

Se você apenas pudesse ter o espírito de Elias, e na carruagem da contemplação pudesse elevar-se nas alturas até que se aproximasse da vivificação do Espírito, sua alma e seu sacrifício arderiam gloriosamente, apesar de a carne e o mundo lançar sobre eles a água de toda sua inimizade antagônica. Pois a fé tem asas, e a meditação é a carruagem; sua responsabilidade é tornar presente as coisas ausentes. Você não vê que um pequeno pedaço de vidro, quando direcionado para o sol, condensará de tal forma seus raios e calor a ponto de queimar aquilo que está atrás dele, mas que, sem ele, esse objeto teria recebido apenas pouco calor? Oras, sua fé é o vidro que faz queimar seu sacrifício, e a meditação o posiciona diante do sol; apenas não o afaste logo, mas segure-o ali por um pouco de tempo, e sua alma sentirá o venturoso efeito.

Certamente, se conseguirmos entrar no Santo dos Santos, trazendo de lá a imagem e o nome de Deus, guardando-os em nosso coração, bem pertinho de nós, isso possibilitará que façamos maravilhas: toda responsabilidade que realizarmos será uma maravilha, e aqueles que a presenciarem prontamente dirão: "Ninguém jamais falou da maneira como esse homem fala" (Jo 7.46). O Espírito nos dominará e far-nos-á falar a todos sobre as obras maravilhosas do Senhor.

Sua Única Alegria - Richard Baxter (1615 -1691)

              Saiba que o céu é seu único tesouro, e trabalhe para também saber que tesouro é esse. Convença-se, de uma vez por todas, de que não existe outra felicidade e, depois, convença-se da felicidade que existe ali. Se você não acredita que esse é o bem principal de sua vida, você jamais dedicará seu coração a ele; e essa convicção deve ficar imersa em seus sentimentos; pois se for apenas uma noção, ela não será muito útil. Enquanto seu julgamento a menosprezar, seus sentimentos não serão calorosos em relação a esse tesouro. Se seu julgamento algum dia preferir os deleites da carne, em vez dos deleites da presença de Deus, é impossível que seu coração chegue até o céu. Como a ignorância quanto ao vazio das coisas aqui embaixo é o que leva os homens a valorizá-las em demasia, também é a ignorância dos sublimes deleites das alturas que leva os homens a se importar tão pouco com eles. Se você vir uma bolsa cheia de ouro, e acreditar que esse ouro não passa de contas ou pedras, então essa bolsa não instigará seus sentimentos por ela. O que provoca o desejo não é a maravilha em si de algo, mas a maravilha conhecida. Se um homem ignorante vir um livro contendo os segredos das artes, ou das ciências, ele, entretanto, não o valoriza mais que uma peça comum, pois não conhece seu conteúdo; mas aquele que o conhece, o valoriza muito; e sua mente se volta para ele.

Trabalhe para conhecer o céu como a única felicidade, e também para que seja a sua felicidade. Embora o conhecimento da maravilha e da adequação possa incitar aquele amor que trabalha por meio do desejo, ainda assim precisa haver o conhecimento de nosso interesse ou propriedade para estabelecer um trabalho contínuo de nosso amor de complacência. Podemos confessar que o céu é a melhor condição, embora possamos nos sentir desesperados ao desfrutá-lo, e podemos desejá-lo e buscá-lo, se percebermos que a obtenção dele é proveitosa e possível; mas jamais nos regozijaremos de forma deleitosa nele até que sejamos persuadidos de que nossa posição ali está garantida.Ó, cristãos, não descansem, portanto, até que possa dizer que esse descanso é seu; não se sente sem ter certeza; fique sozinho e questione-se; traga seu coração para a corte de julgamento; force-o a responder os interrogatórios que você lhe faz; estabeleça, de um lado, as condições do evangelho e as qualificações dos santos, e, de outro lado, seu desempenho em relação a essas condições e qualificações de sua alma, para depois julgar o quanto elas estão próximas. Você tem diante de você a mesma Palavra, aquela por meio da qual deverá ser julgado no grande dia, para julgar por si mesmo agora; faça essas questões agora para si mesmo. Ali você poderá ler os artigos segundo os quais será julgado. Portanto, estabeleça o fundamento do julgamento de forma sábia e ponderada; prossiga nesse trabalho de forma deliberada e metódica; continue com ele até chegar a um resultado firme e diligente; não permita que seu coração escape e saia antes do julgamento, mas faça-o ficar até ouvir sua sentença. Se uma, duas ou três tentativas não forem suficientes, nem alguns dias de interrogatório não o levarem a um resultado, prossiga nessa responsabilidade de forma diligente e incansável e não desista até que o trabalho esteja completo, até que possa dizer se você é, ou não, um membro de Cristo; se esse descanso lhe está, ou não, garantido. Assegure-se de não descansar em incertezas obstinadas. Se você mesmo não pode realizar bem essa responsabilidade, peça ajuda de pessoas preparadas e habilidosas. Procure seu ministro, se ele for um homem de experiência; ou peça a um amigo capaz e experiente; fale abertamente de seu caso e peça para que eles lidem com o assunto com sinceridade; continue a agir desse modo até que tenha certeza. Observe que podem restar algumas dúvidas; mas, ainda assim, você deve ter tanta certeza a ponto de conhecê-las a fundo para que elas não interfiram em sua paz.

Trabalhe para perceber o quanto ele está perto; pense seriamente na rapidez com que ele se aproxima. O que pensamos está ao alcance da mão, e somos mais sensíveis a isso que ao que olhamos à distância. Quando escutamos notícias de guerra ou de fome em outro país, isso não nos perturba tanto quanto as notícias de casa; quando a praga chegou a uma cidade cerca de trinta quilômetros de distância, nós não a tememos; não tanto quanto se ela tivesse chegado à rua ao lado da minha. Mas se ela chegasse à porta ao lado ou se acometesse alguém de minha família, então começaríamos a pensar sobre o assunto de forma mais emocional. O mesmo que acontece com as misericórdias acontece com os julgamentos. Quando estamos distantes, referimo-nos a eles como maravilhas; mas quando nos aproximamos deles, regozijamo-nos com eles como verdades. Isso faz com que os homens pensem sobre o céu de forma bastante insensível, pois eles presumem que ele está muito distante. Eles olham para o céu como se estivesse distante cerca de vinte, trinta ou quarenta anos; e é isso que embota os sentidos deles. Certamente, leitor, você está à porta. Não foram os trinta ou quarenta anos de sua vida que passaram rapidamente? Quando olha para trás, não parece que tudo não passou de um breve período de tempo? E todo o tempo que resta também não será breve? Olhe-se no espelho e veja como o tempo voa; olhe para seu relógio e veja como ele anda rápido. É muito breve o tempo que nos separa de nosso descanso; estamos a um passo da eternidade! Enquanto penso e escrevo sobre isso, ele se aproxima rapidamente, e entro nele antes que tome consciência disso. Enquanto você lê isso, ele se apressa, e sua vida desaparecerá como uma história que nos foi contada.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Pecados de Omissão – John Owen (1616 – 1683)

Você não mortificará nenhum pecado a não ser que, sincera e diligentemente, busque lidar com todo pecado.
Para colocar isto de modo bem simples, ao cristão não é dada a opção de decidir qual é o pecado na sua vida que precisa ser mortificado. Se o cristão não estiver comprometido com a mortificação de cada um e de todos os pecados na sua vida não alcançará sucesso na mortificação de um único pecado. Permitam-me explicar o que quero dizer de um modo ainda mais completo.Um cristão é provado por um desejo pecaminoso. Este desejo pecaminoso (pense naquele que melhor se aplica a você) perturba o cristão. Está sempre derrotando-o e rodeando-o de modo que ele aspira por uma libertação completa. Não apenas isso, ele luta, na verdade, contra esse pecado, ora e lamenta quando é derrotado por ele. Ao mesmo tempo, contudo, há outros deveres da vida cristã que ele não leva muito a sério. Pode passar dias sem desfrutar de verdadeira comunhão com Deus. Pode ler sua Bíblia de um modo casual, negligenciando a meditação na Palavra de Deus e gasta pouco ou nenhum tempo em oração. Estes deveres negligenciados ou executados de modo indiferente na sua vida cristã são pecados (pecados de omissão), mas não o perturbam como o pecado do qual deseja ser liberto. Bem, o ponto que estamos procurando enfatizar é que o cristão não deve esperar obter libertação do pecado que o perturba enquanto não começar a tratar os outros pecados com a mesma seriedade.

Por que as coisas são assim? Há duas razões:

a) Esta tentativa de alcançar uma mortificação parcial se baseia num raciocínio falso. Sem ódio ao pecado como pecado (e não apenas ódio das suas conseqüências perturbadoras) e um sentimento do amor de Cristo na cruz, não pode haver a verdadeira mortificação espiritual. Ora, esta tentativa de mortificação não evidencia estar sendo motivada pelo ódio ao pecado como pecado e a um reconhecimento do amor de Cristo na cruz. Antes, o motivo é tão-somente o amor próprio. Certo pecado em particular perturba a paz desta pessoa e o seu bem-estar, e então ela luta contra este pecado simplesmente para obter novamente a paz e o bem-estar.

A esta pessoa um pastor fiel precisaria dizer:
Amigo, você tem negligenciado a oração e a leitura da Bíblia. Você tem sido descuidado quanto ao exemplo de vida que dá aos outros. Estas coisas são tão pecaminosas e más como o pecado que você está procurando vencer. Jesus derramou Seu sangue por esses pecados também. Por que você não se esforçou para vencê-los? Se você realmente odiasse o pecado, você seria tão vigilante em relação a tudo que entristece e perturba o Espírito Santo como está sendo em relação a este pecado que perturba sua alma. Acaso você não percebe que sua batalha contra o pecado se volta tão somente para a busca da sua paz e do seu bem-estar? Pensa que pode contar com a ajuda do Espírito Santo para livrá-lo do pecado que lhe perturba quando não demonstra nenhuma preocupação em lidar com outros pecados que O entristecem tanto quanto esse que perturba você?
O que quer que possamos pensar, a obra da mortificação que Deus requer é um comprometimento total com a mortificação de todo pecado. Se um cristão sinceramente pretende fazer o que Deus requer, pode contar com a ajuda do Seu Espírito. Se o cristão está apenas interessado em fazer sua própria obra (ou seja, simplesmente mortificar o pecado que o perturba) Deus o entregará a lutar pela sua própria força. O mandamento é: "purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus" (2 Cor. 7:1). Se fizermos alguma coisa, é mister que tentemos fazer todas as coisas.

b) Às vezes Deus usa um desejo pecaminoso forte e que não foi mortificado num cristão como um meio de discipliná--lo. Quando um cristão fica morno (Apoc.3:16ss.) e descuidado no seu andar com Deus, Ele, às vezes, permite que um desejo pecaminoso cresça, fique forte no seu coração, para que se torne numa chaga e num fardo para ele. Esta pode ser uma das maneiras de Deus disciplinar um cristão por sua desobediência, ou pelo menos despertá-lo para que atente para seus caminhos e seja chamado a uma mortificação total do pecado. Um exemplo semelhante a este se pode ver na maneira de Deus lidar com Israel nos dias dos Juizes (veja, por exemplo, Juizes 1:27 a 2:3 - especialmente 2:3).Nota 1Quando um cristão é atormentado por certo desejo pecaminoso que é tão forte que ele mal sabe como lidar com ele e controlá-lo, isto é geralmente o resultado de um andar descuidado com Deus ou de uma atitude de não levar a sério as advertências das Escrituras.Nota 2Às vezes Deus usa a chaga de certo desejo pecaminoso em particular para evitar ou curar algum outro mal. Foi esse o propósito de Deus ao permitir que um mensageiro de satanás perturbasse Paulo, impedindo dessa maneira que "ele se ensoberbecesse com a grandeza das revelações" que havia recebido (veja 2 Cor. 12:7). De igual maneira, pode ser que o Senhor tenha deixado que Pedro O negasse, como um meio de corrigir a exagerada confiança de Pedro em si mesmo.
Quem quiser mortificar qualquer forma perturbadora de lascívia na sua vida, de modo completo e aceitável, deve cuidar de ser igualmente diligente na obediência a todos os deveres aos quais Deus o chama. Deve, também, saber que todo desejo pecaminoso, toda omissão no cumprimento do dever, entristece a Deus. Enquanto houver um coração enganoso, que esteja preparado para negligenciar a necessidade de lutar pela obediência em cada área, haverá uma alma fraca que não está permitindo que a fé execute toda sua obra. Qualquer alma que se encontre numa condição tal de fraqueza, não tem o direito de esperar o sucesso na obra da mortificação.

A Depravação Humana - John MacArthur

             O pecado domina o coração humano, e se fosse pela sua vontade, condenaria cada alma. Se não compreendermos nossa própria perversidade ou não enxergarmos nosso pecado como Deus o vê, não poderemos entendê-lo ou fazer uso do remédio contra ele. Aqueles que tentam justificá-lo, negligenciam a justificação de Deus. Até compreendermos quão totalmente repugnante nosso pecado é, nunca poderemos conhecer a Deus.
O pecado é abominável a Deus. Ele o odeia (cf. Dt 12.31). “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar…” (Hc 1.13). O pecado é contrário à sua própria natureza (Is 6.3; 1 Jo 1.5). A pena máxima – a morte – é exigida para cada infração contra a lei de Deus (Ez 18.4,20; Rm 6.23). Até a menor transgressão é digna da mesma pena severa: “Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um ponto, se torna culpado de todos” (Tg 2.10).
O pecado suja a alma. Ele rebaixa a dignidade da pessoa. Obscurece o entendimento. Torna-nos piores que animais, pois os animais não podem pecar. Polui, corrompe, suja. Todo pecado é vulgar, repulsivo e revoltante aos olhos de Deus. A Bíblia o chama de imundícia (Pv 30.12; Ez 24.13; Tg 1.21). O pecado é comparado ao vômito, e os pecadores são os cães que voltam ao seu próprio vômito (Pv 26.11; 2 Pe 2.22). O pecado é chamado de lamaçal, e os pecadores são os porcos que rolam nele (Sl 69.2; 2 Pe 2.22). O pecado é semelhante ao cadáver em putrefação, e os pecadores são os túmulos que contêm o mal cheiro e a sujeira (Mt 23.27). O pecado transformou a humanidade em uma raça poluída e imunda.
As terríveis conseqüências do pecado incluem o inferno, sobre o qual Jesus disse: “E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo no inferno” (Mt 5.30). As Escrituras descrevem o inferno como um lugar terrível e medonho onde pecadores são “ atormentados com fogo e enxofre… ” e “A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome” (Ap 14.10,11). Essas verdades se tornam mais alarmantes ainda quando percebemos que são parte da Palavra inspirada de um Deus de infinita misericórdia e graça.
Deus quer que entendamos a excessiva pecaminosidade do pecado (Rm 7.13). Não ousemos encará-lo com leviandade ou rejeitar nossa própria culpa frivolamente. Quando encaramos o pecado como ele é, é nosso dever odiá-lo. As Escrituras vão até mais fundo que isso: “Ali, vos lembrareis dos vossos caminhos e de todos os vossos feitos com que vos contaminastes e tereis nojo de vós mesmos , por todas as vossas iniqüidades que tendes cometido” (Ez 20.43, ênfase acrescentada). Em outras palavras, quando verdadeiramente vemos o que o pecado é, longe de obter auto-estima, nós nos desprezaremos.

A natureza da depravação humana
O pecado penetra no mais íntimo do nosso ser. O pecado está no âmago da alma humana. “Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas coisas que contaminam o homem” (Mt 15.19,20). “O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6.45)
No entanto, o pecado não é uma fraqueza ou um vício pelo qual não somos responsáveis. É um antagonismo ativo e intencional contra Deus. Os pecadores livre e prazerosamente optam pelo pecado. Está na natureza humana amar o pecado e odiar a Deus. “O pendor da carne é inimizade contra Deus” (Rm 8.7).
Em outras palavras, o pecado é rebeldia contra Deus. Os pecadores raciocinam no próprio coração: “Com a língua prevaleceremos, os lábios são nossos; quem é o Senhor sobre nós?” (Sl 12.4, ênfase acrescentada). Isaías 57.4 caracteriza os pecadores como crianças rebeldes que abrem sua enorme boca e mostram a língua para Deus. O pecado destronaria Deus, o destruiria e colocaria o ego no seu lugar de direito. Todo pecado é, em último caso, um ato de orgulho, que diz: “Dê o lugar, Deus, eu estou no comando”. Por isso é que todo pecado, no seu âmago, é uma blasfêmia
Para começar, amamos nosso pecado; temos prazer nele, buscamos oportunidades para praticá-lo. No entanto, por sabermos instintivamente que somos culpados diante de Deus, inevitavelmente tentamos camuflar ou negar nossa própria pecaminosidade. Há muitas maneiras de fazer isso, como observamos nos capítulos anteriores. Elas podem ser resumidas, grosso modo, a três categorias: encobri-lo, justificar-nos e ignorá-lo
Primeiro, tentamos encobrir o pecado : Adão e Eva fizeram isso no Jardim, depois de ter pecado: “Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si” (Gn 3.7) – então se esconderam da presença do Senhor (v.8). O rei Davi tentou em vão encobrir sua culpa quando pecou contra Urias. Ele tinha adulterado com a esposa de Urias, Bate-Seba. Quando ela ficou grávida, primeiro Davi tramou um plano tentando fazer parecer que Urias era o pai da criança (2 Sm 11.5-13). Quando o plano não funcionou, ele conspirou para que Urias fosse morto (vs.14-17). Isso somente agravou o seu pecado. Durante todos os meses da gravidez de Bate-Seba, Davi continuou encobrindo o seu pecado (2 Sm 11.27). Mais tarde, quando Davi foi confrontado com seu pecado, ele se arrependeu e confessou: “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio” (Sl 32.3,4).
Segundo, tentamos nos justificar : O pecado é sempre culpa de alguém. Adão culpou Eva, e a descreveu como “a mulher que me deste” (Gn 3.12; ênfase acrescentada). Isso mostra que ele também culpava a Deus. Ele não sabia o que era uma mulher até acordar casado com uma! Deus, raciocinou ele, era o responsável pela mulher que o vitimizou. Da mesma maneira, nós nos desculpamos pelos nossos erros porque pensamos que a culpa é de outra pessoa. Ou argumentamos ter um bom motivo. Convencemos a nós mesmos que é correto retribuir o mal com o mal. (cf. Pv 24.29; 1 Ts 5.15; 1 Pe 3.9). Ou então pensamos que se os motivos finais são bons, o mal pode ser justificado – raciocínio errado de que os fins justificam os meios (Rm 3.8). Chamamos o pecado de desequilíbrio, rotulamos a nós mesmos de vítimas ou negamos que os nossos atos sejam pecaminosos. A mente humana é de uma criatividade sem-fim quando se trata de encontrar mecanismos para justificar o mal.
Terceiro, ignoramos nosso próprio pecado : Sempre pecamos por ignorância ou presunção. Por isso Davi orou: “Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão” (Sl 19.12,13). Jesus nos advertiu sobre a loucura de tolerar uma trave nos nossos olhos e nos preocuparmos com um argueiro no olho do outro (Mt 7.3). Pelo fato de o pecado ser tão difuso, nós naturalmente tendemos a nos tornar insensíveis ao nosso próprio pecado, do mesmo modo que o gambá não é incomodado pelo seu próprio mau cheiro. Até mesmo uma consciência supersensível pode não saber todas as coisas (cf. 1 Co 4.4).
O pecado não se expressa necessariamente por atos. Atitudes pecaminosas, disposições pecaminosas, desejos pecaminosos e um estado pecaminoso de coração são tão repreensíveis quanto as ações que ele produz. Jesus disse que a ira é tão pecaminosa quanto o homicídio, e a concupiscência tanto quanto o adultério (Mt 5.21-28).

O pecado é de tal maneira enganoso que torna o pecador insensível contra sua própria perversidade (Hb 13.3). É natural desejarmos minimizar nosso pecado, como se ele não fosse de fato uma grande coisa. Afinal de contas, dizemos a nós mesmos, Deus é misericordioso, não é? Ele compreende nosso pecado e não pode ser tão duro conosco, não é mesmo? Mas raciocinar dessa maneira é deixar-se ludibriar pela astúcia do pecado.

O pecado, de acordo com as Escrituras, é “a transgressão da lei” (1 Jo 3.4). Em outras palavras, “aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei”. Pecado, portanto, é qualquer falta de conformidade com o perfeito padrão moral de Deus. A exigência central da lei de Deus é que o amemos: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento” (Lc 10.27). Sendo assim, a falta de amor a Deus é a epítome de todo pecado.
O pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar” (Rm 8.7). Nossa aversão natural à lei é tal que mesmo sabendo o que a lei requer, ela suscita em nós uma ânsia pela desobediência. Paulo escreveu: “as paixões pecaminosas postas em realce pela lei… eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás” (Rm 7.5-7). A inclinação do pecador pelo pecado é tal que este o controla. Ele é escravo do pecado, porém o busca com uma fome insaciável e com toda paixão do seu coração.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Orai e Vigiai - John Owen ( 1616 - 1683 )

a- Esforcemo-nos para compreender e sentir o perigo de entrar em tentação.

Espanta-nos pensar como a maioria das pessoas é descuidada em relação ao perigo de entrar em tentação. Para a maioria é suficiente guardar-se de pecados públicos. Ficar fora do alcance da tentação parece-lhe de pouca importância.
Em muitos lugares a Bíblia nos adverte a respeito do perigo das más companhias (por exemplo, Prov. 2:12-20; 4:14-19; 22:24,25; 1 Cor. 15:33). Quantos, porém, estariam atentando para essa advertência? Quantos -particularmente dentre os jovens - estariam escolhendo as más companhias? Não demora muito para que estejam acolhendo o mal dessas companhias. Em vão pais e amigos advertirão sobre o perigo que elas representam. A princípio é possível que os jovens realmente não gostem de algumas das coisas que os seus amigos fazem, contudo, lamentavelmente, não demora muito antes que também passam a gostar delas.
Mais triste ainda é a tolice de cristãos professos que brincam com tentações que nunca deveriam ter enfrentado. Freqüentemente, nos nossos dias, o ensino bíblico sobre a liberdade cristã é motivo de abuso. Os cristãos se sentem livres para fazer quase qualquer coisa que quiserem.
Estas pessoas se dizem capazes de ouvir tudo e qualquer coisa. Reivindicam sua liberdade cristã. Lêem o que querem e não dão atenção se cristãos mais sábios condenarem o que estão lendo como sendo falsos ensinamentos. Escutarão a qualquer falso professor. Sentem-se muito auto-confiantes de que serão capazes de discernir e que não se deixarão influenciar pelo que lerem e ouvirem. Qual é, comumente, o resultado dessa tolice? Poucos, na verdade muito poucos, saem sem sofrer graves feridas. Muitos têm sua fé e sua sã doutrina destruídas. Ninguém tem o direito de dizer que teme o pecado se antes não teme a tentação para cometê-lo. O pecado e a tentação são apresentados juntos por satanás, e é extremamente difícil para qualquer pessoa separá-los.Mantendo o princípio da liberdade cristã precisamos nunca nos esquecer do princípio igualmente importante que diz: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convém" (1 Cor. 10:23). Será que certos lugares aos quais eu vou, certas companhias de que me cerco, certos alvos que eu tenho traçado, tornam-me frio e descuidado ? Será que impedem minha obediência constante e total a Cristo? Se isso estiver acontecendo, devo exercer minha liberdade e evitá-los. Será que eu desejo evitar entrar na tentação? Preciso, então, ser sensível à minha própria fraqueza e depravação. Preciso, também, estar alerta quanto às artimanhas de satanás, a malignidade do pecado e o poder da tentação.
Devemos gastar tempo diariamente considerando o grande perigo em que nos envolvemos quando entramos em tentação. Pensemos nas prováveis conseqüências! Que coisa terrível é entristecer o Espírito de Deus, perder nossa paz, e colocar em perigo o bem-estar eterno de nossas almas. Tenhamos por bem certo o seguinte: se desprezarmos a tentação, ela nos dominará. Por outro lado, se formos sensíveis e vigilantes, metade do esforço para não entrar em tentação já terá sido feito.

b) Estejamos convencidos da nossa incapacidade para nos guardar de entrar em tentação
Quanto mais claramente percebermos que não há poder em nós para nos guardar da tentação, mais sentiremos nossa necessidade de orar por socorro. Este é outro meio de nos preservarmos. A maior parte das pessoas reconhece sua necessidade de ajuda quando entra em tentação. Nesses momentos poucos confiarão na sua própria força para vencer a tentação. Antes, clamarão ao Senhor para que os socorra. O Senhor nos ensina que é tão importante orar para não entrar em tentação, como o é para pedir socorro depois de termos entrado nela.
Nosso Senhor nos ensina, de duas maneiras, a nossa necessidade de sermos guardados de entrar em tentação pelo poder de Deus. Em primeiro lugar Ele nos ensina a orar: "não nos deixes cair em tentação" (Mat. 6:13a) e nos diz: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação" (Mat. 26:41a). Ensinando-nos a orar dessa maneira Ele está nos mostrando que devemos colocar nossa confiança no poder e na sabedoria de Deus, não na nossa, para nos guardar da tentação. A segunda maneira pela qual Ele nos ensina é pelo Seu próprio exemplo. Ele mesmo ora pelo Seu povo para que seja guardado do maligno (João 17:15). Ele sabe que há muitos modos diferentes de entrarmos em tentação. Ele sabe que podemos entrar em tentação sem que percebamos. Sabe como a tentação é poderosa e como ela pode ser enganosa e sutil. Ele conhece a nossa ingenuidade, a nossa fraqueza e a nossa propensão para sermos descuidados. Tem, por isso, nos orientado no sentido de colocarmos nossa confiança numa sabedoria e num poder superiores àqueles que possuímos, para que sejamos guardados de entrar em tentação.
Precisamos aprender a falar, freqüentemente, conosco mesmos lembrando-nos de coisas tais como: "Eu sou pobre e fraco; satanás é sutil, poderoso, ardiloso e está sempre de olho numa oportunidade adequada para me tentar. O mundo, especialmente quando satanás se vale dele como seu instrumento, é atraente, persistente e cheio de modos enganosos de me tentar. Minha própria natureza pecaminosa é forte e está sempre pronta para me trair na hora da tentação. Tudo ao meu redor é uma variedade provocadora de oportunidades adequadas para satisfazer meus desejos pecaminosos. Sou lento em perceber o que está acontecendo. Se for deixado sozinho serei presa fácil, antes mesmo que perceba. Só Deus pode me guardar de pecar (Judas, versículo 24). Preciso orar, com confiança, Aquele que é capaz de me guardar de entrar na tentação.
Se procedermos fielmente dessa maneira, estaremos constantemente nos entregando aos cuidados de Deus. Nada faremos e nada realizaremos sem, antes, buscar Sua vontade nessa questão. Tal atitude de oração nos dará duas vantagens.

i) Se orarmos dessa maneira receberemos a graça e a compaixão de Deus, Ele que promete ajudar os fracos. Podemos ter a certeza de que aqueles que orarem dessa maneira, por um profundo sentimento de necessidade, nunca serão envergonhados.

ii) Manter um espírito de oração dessa natureza faz parte dos meios que Deus utiliza para nos preservar. Se estivermos cientes de nossa necessidade e olhando para Deus para que Ele nos supra os recursos necessários, seremos cuidadosos na aplicação, a nós mesmos, dos meios que Deus tem apontado para nossa preservação.

c) Exercitemos a fé na promessa divina de nos preservar
Crermos que Deus nos preservará é um meio de sermos preservados. Se confiarmos na promessa de Deus e orarmos pela preservação, Ele nos guardará de entrarmos na tenta¬ção, ou nos dará um meio de escape (1 Cor. 10:13). Deus prometeu que nos guardará em todos os nossos caminhos (Sal. 91:11), que nos guiará, nos conduzirá (Sal. 32:8) e nos livrará do maligno (Rom. 16:20).
Precisamos confiar ativamente nas promessas de Deus e esperar que Ele seja fiel a elas.

2. Uma direção geral à luz do dever da oração
Você quer ser guardado da tentação ou da queda quando tentado? Precisará, então, estar constantemente em oração. Crermos que Deus pode nos preservar não é suficiente. Deus quer que nós oremos por essa preservação e quer que continuemos em oração, "orando sempre" (Ef. 6:18; Luc. 18:1 -8). Se não mantivermos um espírito constante de oração, seremos perturbados por uma avalanche constante de tentações.Cada dia devemos orar especificamente para sermos preservados da tentação. Devemos orar para que Deus preserve nossas almas, e guarde os nossos corações e os nossos caminhos a fim de não cairmos nas armadilhas da tentação. Precisamos orar para que a boa e sábia providência de Deus ordene os nossos caminhos e os nossos negócios de modo que nenhuma tentação imperiosa nos ataque. Necessitamos orar para que Deus nos dê diligência, precaução e atitude vigilante em todos os nossos caminhos. Se aprendermos a orar dessa maneira, com um sentimento real de que precisamos da ajuda de Deus, experimentaremos libertação.



Se nos recusarmos a orar cairemos constantemente no pecado.

Nossa santificação vem pela graça – Abraham Booth – (1734-1806)

Até agora tenho escrito sobre a mudança ocorrida no modo de Deus pensar em relação àqueles que Ele faz Seus filhos. Agora Ele pensa misericordiosamente a respeito deles como Seus filhos escolhidos, justificados e adotados em Sua família.

Entretanto, Deus não apenas pensa de modo diferente sobre eles, graciosamente, Ele também os faz realmente diferentes daquilo que eram antes de serem chamados. Deus os chama enquanto são ímpios, mas não permitirá que eles continuem ímpios. Bondosamente Ele lhes dá amor para com Ele e para com Seus caminhos. A santificação é o processo espiritual pelo qual a imagem de Deus é renovada nos que são justificados. A consequência deste processo torna-os verdadeiramente santos.

A justificação e a santificação procedem da misericordiosa vontade de Deus. Contudo, são realidades diferentes. A justificação é um ato único pelo qual Deus, por Sua graça, declara o ímpio sem culpa. A santificação é um processo contínuo pelo qual Deus, por Sua misericórdia, muda os hábitos e o comportamento do crente, levando-o a praticar obras piedosas. A primeira (a justificação) nos livra da condenação do pecado; a segunda (a santificação) nos livra da contaminação do pecado. A primeira é instantânea; a segunda, progressiva.
As pessoas para as quais Deus outorga a bênção da santificação, são as pessoas justificadas. A santidade é uma maravilhosa bênção do novo concerto, não uma condição para ingressarmos nesse concerto. A santidade é, também, um dom da graça de Deus. Para explicar isto mais claramente, permita-me mostrar que somente uma pessoa justificada pode praticar obras boas e piedosas. Para um ato tornar-se uma "boa obra" aos olhos de Deus, deve ser praticado por um motivo correio, de maneira correta e com um objetivo correio. Deve ser expressão do amor a Deus. Deve ser feito segundo a maneira que Deus ordena. Deve ter como objetivo apenas a glória de Deus. Nenhum ímpio pode praticar uma boa obra com motivo e objetivo corretos, ainda que aja de maneira correta.
As boas obras que o crente faz, não visam à obtenção de sua salvação. Esta já lhe foi dada como um dom da graça de Deus. Por isso, agora, ele deseja guardar as leis de Deus como expressão de sua gratidão e amor para com este Deus misericordioso. Assim, não repudiamos a lei de Deus como irrelevante. É como Jesus disse: "Aquele que tem os meus mandamentos, e os guarda, esse é o que me ama" (Jo. 14:21). A verdadeira obediência procede do amor a Deus; o verdadeiro amor é obediente a Deus.

A santidade nos crentes é resultado deles estarem unidos a Cristo. O Espírito Santo vive neles porque estão unidos a Cristo. E o Espírito usa a Bíblia para influenciar os crentes a serem santos no coração e na vida. Como Jesus orou: "Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade" (Jo. 17:17). E desde que a Bíblia é a base de nossa fé, quanto mais claro entendermos a sua verdade, tanto mais o fruto da santidade será produzido em nossas vidas.
Há certos argumentos nas Escrituras usados para impulsionarem os crentes a buscar a santidade. Ei-los:

1. São eleitos de Deus ou comprados como povo de Deus. Será que o preço pago a favor deste povo — o precioso sangue de Jesus — não é suficiente para persuadi-lo a odiar o pecado e a amar a lei de Deus? Estando ao pé da cruz e vendo os sofrimentos do Salvador, os cristãos devem ser ansiosos para opor-se a todo pecado: "Se alguém não ama ao Senhor Jesus Cristo, seja anátema" (I Cor. 16:22).
2. Eles têm uma chamada celestial: "Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver" (I Ped. 1:15). Deus tem chamado os crentes para que sejam santos. Este fato os encorajará a serem aquilo que devem ser.
3. As compassivas misericórdias de Deus, especialmente a bênção do livre perdão de todos os pecados, produzem uma prazerosa obediência a Deus: "Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Rom. 12:1). Estas misericórdias quando recebidas, mesmo imerecidas, levam o crente a magnificar a graça de Deus.
4. Os crentes são adotados por Deus como filhos e herdeiros.
Desde que o Espírito Santo, que habita no crente, pode ser entristecido quando ele procede impiamente, o mesmo é fortemente induzido a não viver de modo descuidado.

5. As promessas de Deus também estimulam Seus filhos a prosseguirem em busca da santidade: "Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo" (II Ped. 1:4).

6. A disciplina que Deus, como Pai, exerce sobre Seus filhos. É dever de um pai amoroso disciplinar seus filhos quando eles desobedecem. "E, na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um espírito pacífico de justiça nos exercitados por ela" (Heb. 12:11).
É triste quando os crentes só procuram a santidade devido temerem o castigo de Deus; contudo, essa procura nasce do bondoso amor de Deus e o castigo é uma boa razão para persuadir-nos a evitar a desobediência.
Estes argumentos não constituem todos os modos na Bíblia pelos quais os crentes são encorajados a buscar a santidade, porém, talvez sejam os principais. Servem para provar que a santificação é uma parte importante da nossa salvação. A graça de Deus para com os pecadores não é uma desculpa para que eles permaneçam na impiedade. Ainda que a santidade não lhes dê o direito à vida eterna, os filhos de Deus devem lembrar-se sempre de que não haverá evidência de que estão salvos, se faltarem às suas vidas os frutos da santidade.
Desde que nenhuma obra é aceitável a Deus, exceto aquelas que são feitas como expressão do verdadeiro amor para com Ele, é claro também que as melhores boas obras dos incrédulos não são mais do que esplêndidas faltas! É absurdo dizer aos pecadores que façam isto ou aquilo como boas obras para conhecerem a Cristo como seu Salvador. O conhecimento de Cristo como Salvador não é adquirido pelo pecador, mas é graciosamente concedido por Deus.
"Sem isto, tudo aquilo que vocês fazem, ainda que possa agradar às vossas mentes ou tranquilizar as vossas consciências, não é aceito por Deus. Vocês correm e podem fazê-lo sinceramente; contudo, correm fora do caminho. Empenham-se, mas não legitimamente, e jamais receberão a coroa. . . O fundamento da obediência espiritual tem que estar baseado na graça de Deus... Daí tem que proceder as obras da obediência, se quiserem encontrar aceitação diante de Deus".
Portanto, é a graça manifesta naquilo que Deus fez que é o incentivo para a verdadeira santidade. Esforça-te, então, servo de Deus, para ter uma idéia clara do que é a graça divina. A mesma graça que provê, revela e concede as bênçãos da salvação, torna-se a mestra que te ensina e estimula a andar em santos caminhos.

Por que a Graça é bem Sucedida? Abraham Booth (1734-1806)

Nossa salvação é perfeitíssima, porque Jesus Cristo é singularíssimo. Precisamos prestar cuidadosa atenção para compreender Suas naturezas. Cristo tinha duas naturezas, ainda que fosse uma só pessoa. Ele era Deus e homem. O fato dEle ser único neste sentido, é a razão por que a redenção que Ele obteve e oferece gratuitamente é perfeitíssima.

Ele tinha que ser verdadeiro homem. Originalmente a lei de Deus foi dada para os seres humanos a obedecerem, assim alguém poderia mostrar que uma pessoa seria capaz de cumpri-la com sucesso. Adão fracassou. Cristo, porém, foi bem sucedido. Ele nunca falhou em agradar ao Seu Pai. E o cumprimento da lei por Cristo foi aceitável porque Ele era verdadeiro homem. Se Ele fosse um anjo, não teria sido provado que um homem poderia cumprir a lei de Deus. Foi Adão — um homem — que pecou. Por isso, Cristo — um homem — precisava agora oferecer completa obediência. Além disso, a natureza humana de Cristo precisava estar ligada à natureza de nossos primeiros pais. Não seria adequado, se Sua natureza humana fosse repentinamente criada a partir do nada, porque, então, Ele não estaria ligado àqueles a quem veio salvar. O direito de redenção pertence somente a um parente próximo (Lev. 25:48-49).
Por outro lado, é igualmente importante que Sua natureza humana estivesse livre do pecado. Se Ele tivesse sido maculado, mesmo no mínimo grau, pela pecaminosidade que herdamos, então Ele não teria podido guardar a lei de Deus, como também nós não podemos. Como Deus é sábio! Não obstante ter sido necessário ao Salvador nascer de uma mulher, Ele foi concebido de tal maneira que ficou livre da culpa de Adão (Mat. 1:20). Cristo tomou aquela natureza pela qual veio o pecado (em Adão) sem qualquer pecaminosidade inerente nessa natureza.
Era também absolutamente necessário que o Salvador fosse Deus tanto quanto homem. Nós humanos temos de obedecer a Deus, porque dependemos dEle para tudo. Assim, nossa necessidade de obedecer decorre de nossa dependência. Desde que somos totalmente dependentes dEle, precisamos ser totalmente obedientes a Ele. Parte alguma de nós é independente de Deus e, portanto, disponível para obedecer a Deus no interesse de outrem. Toda nossa obediência deve ser apenas em nosso favor. Somente uma pessoa sem necessidade de obedecer a Deus por causa de si mesma, pode obedecer a Deus em favor de outros. Portanto, nosso Salvador deve ser Deus e não dependente de Deus como nós. Só uma pessoa divina que não seja dependente de qualquer outra pessoa, pode praticar atos de obediência desnecessários para ela mesma, e por isso disponíveis em favor de outros.
O pecado é um dano infinito. A maldade de qualquer ato mau é medida pela importância da lei que ele quebra. E a importância de qualquer lei está em proporção com a delicadeza e o status da pessoa que a formula. Portanto, desde que Deus possui beleza infinita, status e autoridade, Suas leis são de importância infinita e devemos obedecê-las inteiramente. Nossa desobediência é infinitamente criminosa. Consequentemente, nosso pecado merece punição infinita. Assim, quem seria capaz de suportar o peso de uma ira infinitamente divina sobre pecados infinitamente perversos, a não ser um Salvador infinitamente divino? Jesus precisa ser Deus tanto quanto homem, para ser um Salvador adequado. E, finalmente, nosso Salvador precisa ser Deus e homem ao mesmo tempo. Ele é o mediador entre Deus e o homem, entre o Soberano ofendido e o pecador ofensor. Se Jesus fosse apenas divino, Ele não poderia representar o povo. Se Jesus fosse apenas homem, não poderia interceder junto a Deus. Só a condição de deidade estaria alta demais para os seres humanos; só a condição de humanidade estaria baixa demais para Deus. Jesus precisava reunir as duas condições simultaneamente para ser a pessoa intermediária, ligando Deus e os seres humanos.
Para cumprir Seus deveres de sacerdote, profeta e rei, Jesus precisava ser tanto Deus como homem.

1. Como sacerdote, Ele precisava ter algo a oferecer (Heb. 8:3). Mas, apenas como divino Ele não teria coisa alguma a oferecer a Deus. Cristo, portanto, teria de ser um homem a fim de possuir uma perfeita humanidade para oferecer. Entretanto, como mero homem, Ele não teria autoridade para dar a Sua vida e tornar a tomá-la. Cristo, portanto, para ter essa autoridade, precisava ser Deus. Ele morreu por causa da pecaminosidade infinita e, por isso, o oferecimento de Sua humanidade deve ter status infinito para ser adequada. Esse status só podia proceder de Sua divindade.
2. Como profeta, Ele precisava ser Deus para poder conhecer a mente de Deus e compreender a diversidade daqueles que, em cada época e nação, necessitariam do Seu ensino. Todavia a fim de revelar a vontade de Deus em Sua vida por modos compreen¬síveis aos homens, Ele precisava ser homem.
3. Como rei, Cristo precisava ser Deus para tornar-Se o Senhor de nossas consciências, o Cabeça da Igreja, o Doador da vida eterna aos Seus seguidores e o Juiz de todos. Contudo, Ele necessitava também de ser homem porque, sem essa condição, Ele não podia ser o Cabeça da mesma natureza do corpo ao qual está unido, nem compadecer-Se dos Seus súditos, como Ele fez — e faz.
Podemos, portanto, ter a mais plena convicção na excelência da obra de Cristo como Redentor, porque Ele está excelentemente equipado para essa tarefa pela Sua pessoa singular com duas naturezas. A salvação que um tal excelente Salvador oferece graciosamente, deve ser a melhor que pode haver. A graça reina!
Diante de tudo isso, que o leitor admire e adore o amor e a sabedoria de Deus! E que ele note quão sério é negar que Cristo é verdadeiramente Deus ou que é verdadeiramente homem. Ambas as negações destroem a Sua excelência como verdadeiro Mediador entre Deus e os crentes. Tanto a deidade como a humanidade de Cristo são essenciais à correta compreensão de toda a Sua obra salvadora.
Oxalá os pecadores corressem para esse Salvador tão adequado! Confiem nEle como poderoso para salvar; olhem para Ele para receberem instrução na verdade; esperem Sua proteção como Rei; rendam obediência a Ele; cultuem-nO, pois Ele é sobre todos, Deus bendito para sempre. Pela Sua excelência, a excelência da graça de Deus é revelada.

segunda-feira, 7 de março de 2011

O Tempo Está Próximo - Pr. J Miranda

O Arrebatamento está mais do que nunca as portas.

A escola de interpretação que honra as Escrituras é o pré-tribulacionismo, pois não há dúvidas de que a Igreja será arrebatada antes da Grande Tribulação (1 Ts 1.10). Jesus disse: “Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar de todas estas coisas que têm de suceder e estar em pé na presença do Filho do homem” (Lc 21.36, ). Note: escapar, e não participar, atravessar.


Em Apocalipse 3.10, Jesus fez uma promessa à igreja de Filadélfia: “Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra”. Esta mensagem é apenas para uma igreja local? Não! Haja vista o que está escrito nos versículos 13 e 22 do mesmo capítulo: “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas”.
Conquanto a igreja de Filadélfia estivesse passando por tribulações, naqueles dias, os seus santos membros não passaram pela “hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo” — todos os mortos em Cristo têm a garantia de que não passarão pela Grande Tribulação, uma vez que ressuscitarão e serão tirados da Terra antes dela.
Todas as mensagens de Jesus registradas em Apocalipse às igrejas da Ásia possuem mandamentos e exemplos para nós, hoje, quanto à manutenção do amor e da fidelidade (2.4,10), às falsas profecias (2.20-22), ao perigo de Jesus estar do lado de fora (3.20), etc. Nesse caso, a promessa de livramento da hora da tentação em apreço é extensiva a todos os salvos — “há de vir sobre todo o mundo” —, assim como o que está registrado no versículo 11: “Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”.
Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo - (Ap 3.9).

A igreja  precisa ter sua fé firmada nas palavras da profecia. É certo o arrebatamento do povo remido pelo sangue do cordeiro. Não se sabe o dia, mas o Senhor não retarda a sua promessa, como alguns ajulgam demorada - II Pedro 3.9.